“É o fechamento de um ciclo”, diz Valério Luiz Filho sobre condenação de envolvidos na morte do pai

10 novembro 2022 às 13h08

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Dez anos após o assassinato do jornalista e radialista Valério Luiz de Oliveira, morto no 5 de julho de 2012, quatro dos cinco reús acusados de planejar e executar o crime foram condenados. Depois de três dias de julgamento, o júri decidiu nesta quarta-feira, 09, que Maurício Sampaio, Ademá Figueredo, Urbano Malta e Marcus Vinícius Xavier eram culpados pelo homicídio. Apenas Djalma Gomes da Silva foi absolvido no processo.
Atuando como assistente da acusação no julgamento, Valério Luiz Filho, descendente da vítima, conversou com o Jornal Opção sobre o veredito do júri e quais seriam os próximos passos jurídicos. Ele ainda classificou o momento como o “fechamento de um ciclo” e um “divisor de águas” após cumprir a “missão de honrar a memória do pai”.
“Claro que uma condenação, um resultado do tribunal do júri, não é exatamente um motivo de felicidade porque queríamos mesmo é que nada disso acontecesse e que o meu pai estivesse aqui”, disse Valério, relembrando os desdobramentos do caso desde julho de 2012. “Mas, não fomos nós que provocamos isso. Somos vítimas de uma grande covardia, e uma vez que isso aconteceu, estabelecemos uma missão para honrar a memória dele”, completou.
Segundo o advogado, os autores cometeram o crime porque acreditavam que tinham “poder” suficiente para escaparem e saírem impunes.
“Na cabeça dos réus, a vida do meu pai não valia nada, por isso eles teriam o poder para decidir sobre a vida e a morte dele. Precisávamos provar que eles estavam errados nisso e buscar a condenação foi impor o valor da vida que levaram. Mostramos como essa pessoa deixou inúmeros dispostos a gastar tempo, energia e recursos para vencer todos os obstáculos”, contou o filho do jornalista esportivo.
Para Valério Filho, o julgamento pode ser considerado um dos maiores casos envolvendo a liberdade de expressão desde a ditadura militar. “Geralmente crimes contra jornalistas são encomendados pela elite local que possuem muito poder e influência na sociedade. Por isso, comunicadores são executados quando fazem críticas a políticos, empresários e/ou militares”, explicou o assistente da acusação.
Próximos passos
Após o julgamento, todos os condenados já iniciaram o cumprimento das respectivas penas em regime fechado. Entretanto, como destacou o advogado, eles ainda podem pedir recurso, o que é algo normal e que sempre acontece na Justiça brasileira.
“A tendência é que essa condenação seja mantida, e o Ministério Público provavelmente vai tentar aumentar as penas para alguns dos condenados”, explicou Valério. “O julgamento foi conduzido de forma muito sóbria e realizado de uma forma que não quebre nenhuma regra processual. Então não acredito que eles consigam reverter isso em um tribunal de justiça, tampouco no tribunal superior”, afirmou Valério.
O neto do radialista Mané de Oliveira ainda destacou a complexidade em provar a culpa do mandante do crime, além de ressaltar que o trabalho das investigações da Polícia Civil foi fundamental para montar o caso. “É muito difícil, por duas razões: por causa da influência que eles exercem no local onde o crime é investigado e julgado; e provar autoria intelectual é algo complexo no sentido de prova técnica porque quem manda matar não passa recibo, não escreve um ofício”, explicou.
Por fim, a respeito da absolvição de Djalma da Silva, ele também falou que a decisão de recorrer sobre a decisão depende do Ministério Público. Sendo que o órgão ainda precisa avaliar se vale ou não a pena recorrer nessa circunstância.