O Jornal Opção obteve com exclusividade a escritura pública de doação de um terreno de 944,446 hectares, em Correntina, na Bahia, para a Sociedade Goiana de Cultura (SGC), mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). O documento é de julho de 1999.

Segundo informações do processo, o ato de doação foi feito por particular para uso de pesquisas e estudos acadêmicos, no entanto, a instituição goiana repassou o terreno para a Diocese de Bom Jesus da Lapa, município baiano a cerca de 140 km de Correntina.

Com poucas atividades de pesquisas no local, as quais foram encerradas pela PUC-GO há muitos anos, de acordo com relatos, a posse das terras foi transferida para a igreja local. Provavelmente, sem o conhecimento do valor arqueológico e ambiental do terreno, que fica às margens do Rio Correntina e da BR-349, importante via escoamento de produção agrícola, a diocese decidiu dar outro destino para a área: dividir em lotes para a venda.

Ao ter conhecimento da alteração da finalidade do terreno, que chamava-se Fazenda Alegre, o doador ingressou na Justiça para requerer de volta a área. O advogado dele, Jeremias de Franca e Silva, contou à reportagem que após a audiência realizada na segunda-feira, 18, aguarda sair uma liminar que possa favorecer o seu cliente. Sobre a menção de sítios arqueológicos e possível participação do Estado brasileiro no caso, a defesa esclareceu, que “por enquanto, o processo só envolve particulares”.

A PUC-GO não se manifestou e informou que a resposta teria que ser dada pela Mitira Diocesana de Bom Jesus da Lapa.

A reportagem procurou a PUC-GO, a Diocese de Bom Jesus da Lapa, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de Brasília, e a instância na Bahia, mas nenhum deles respondeu aos contatos. O espaço segue aberto. A universidade goiana ressaltou que “informações sobre o imóvel devem ser requisitadas diretamente à Mitra Diocesana de Bom Jesus da Lapa”. A advogada da diocese, Maria do Socorro Sobral Santos, apenas rebateu as informações e alegou se tratar de “inverdade”.

Tesouros raros no terreno

O antropólogo Altair Sales Barbosa, ex-professor da PUC-GO, ressalta ao Jornal Opção que chegou a coordenar algumas pesquisas no local. Ele elenca que o que mais lhe chamou a atenção foram quatro raríssimos elementos encontrados no terreno.

O primeiro foi uma planta pré-histórica que, conforme ele, se trata de um mineral. “Uma sílica [mineral dióxido de silício que está presente nas rochas, areias, quartzo, quartzito e em outros materiais] que se reproduz como vegetal”, salienta.

O segundo tesouro é o silexito, uma rocha que originou o arenito urucuia, onde se abriga o aquífero de mesmo nome e responsável pela “alimentação do rio São Francisco”

O terceiro elemento seria um tomate primitivo, um fruto selvagem sem domesticação que teria originado o tomate comercializado atualmente. “Essa descoberta é importante para o estudo da evolução do tomate e cura de possíveis doenças que possam afetar as atuais tomateiras, pois ele é um exemplar raro, sem cruzamentos”, acentua o estudioso.

O sítio arqueológico da propriedade é rico em material do período da pedra lascada, que comprova a ocupação do local há milhares de anos. Altair Sales lamenta que foram poucos anos de trabalho no local, com escavações superficiais e com a necessidade de datação dos achados. No entanto, poucos países contam com equipamentos para mensuração de anos desses materiais. Dentre os quais, ele cita que apenas Estados Unidos, Alemanha e Japão possuem tal tecnologia. 

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