Votos de indecisos podem definir eleições
29 setembro 2022 às 07h02
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A três dias para o primeiro turno, há eleitores indecisos quanto à escolha dos candidatos em relação aos cargos em disputa. Eles são poucos, mas podem decidir se a corrida ao Planalto termina no próximo domingo, 2, ou segue por mais um mês.
Mesmo com o nível mais baixo de indecisos desde 1989, os 10% que responderam “não sei” na pergunta espontânea para presidente na última pesquisa Ipec são suficientes para mudar as eleições —Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve 52% dos votos válidos, contra 34% de Jair Bolsonaro (PL), e, para não haver segundo turno, o primeiro colocado precisa de 50% dos votos válidos mais um.
Além disso, dados da mais recente pesquisa Datafolha, divulgados na última sexta-feira, 23, mostram que 11% dos eleitores brasileiros dizem que podem mudar de voto para presidente para que o candidato que estiver à frente nas pesquisas vença no primeiro turno.
A pesquisa Datafolha de quinta-feira, 22, aponta que o ex-presidente Lula (PT) lidera as intenções de voto no primeiro turno com 47%, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), com 33%. Ciro Gomes (PDT) aparece em terceiro, com 7%, e Simone Tebet (MDB) em quarto, com 5%. O percentual dos que afirmaram que podem praticar o chamado “voto útil”, para encerrar a disputa no primeiro turno, é maior entre os eleitores de Simone Tebet (22%) e Ciro Gomes (21%).
Em nível estadual, a quinta rodada da pesquisa Serpes, divulgada na noite da última sexta-feira, 23, pelo jornal O Popular, mostra que o governador Ronaldo Caiado (UB) lidera as intenções de voto com garantia de vitória já no primeiro turno. O democrata aparece com 50,6%, enquanto o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (Patriota), conta com 18,5%, já Major Vitor Hugo (PL), vai a 9,2%. Ainda conforme a pesquisa, votos brancos e nulos somam 6,1% e os indecisos, 12%.
Mas quando o assunto é a escolha para a Câmara dos Deputados e deputado estadual, a relação se inverte. Dados da pesquisa Datafolha, encomendada pela Globo e pelo jornal Folha de S.Paulo, divulgada em meados de setembro, apontam que a grande maioria do eleitorado não sabe em quem votará para deputado estadual e federal. Segundo o levantamento, os que ainda não têm candidato para a Câmara dos Deputados são 69%, enquanto 70% dizem não ter decidido o voto para as assembleias legislativas estaduais. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Por que isso acontece? Pode-se argumentar que o sistema presidencialista induz o eleitor a concentrar sua atenção na eleição para o Executivo de modo a deixar na sombra a divisão e autonomia dos poderes, bem como a relevância do Legislativo para o exercício do governo. O argumento ganha peso quando o presidencialismo é comparado ao parlamentarismo – nesse caso o eleitor não escolhe diretamente o primeiro-ministro; seu voto define a composição do parlamento que se torna, na maioria dos países, a instituição com autoridade para constituir e destituir, se for o caso, os governos.
O Jornal Opção foi às ruas ouvir a população. Dos cinco entrevistados, dois já fizeram a escolha completa para os 5 cargos em disputa. Eles estão com mais dúvida em quem vão votar para deputado federal, deputado estadual e senador, enquanto ao governo do estado e presidente a decisão já é dada como concluída.
A pesquisa do Ipec divulgada na segunda-feira, 26, revelou que o índice de indecisos para presidente no questionamento espontâneo é maior entre mulheres (13%) do que entre homens (6%). Também identificou que há mais eleitores sem candidato certo à Presidência com renda familiar de até um salário mínimo (12%) e que completaram apenas o ensino fundamental (12%).
Mãe de dois filhos, separada, corretora de plano de saúde, a “brizolista-raiz” Laurivanda Almeida, de 61 anos, diz ter buscado, sem sucesso, “a pegada do engenheiro” nos candidatos. Domingo, no Rio, Lula disse que, se vivo, “Brizola estaria do nosso lado”. O gaúcho disputou a Presidência contra o petista em 1989 e foi vice de sua chapa em 1998.
“Estou entre Lula e Ciro (Gomes). Baterei o martelo após o debate (da TV Globo, nesta quinta-feira). Para o governo estadual eu já me decidi no Caiado, mas senador, deputado estadual e federal estou em dúvida. Até domingo decido”.
“Pesará [na decisão] se acreditar que meu voto ajudará a derrotar Bolsonaro no primeiro turno. Perdi um irmão pra Covid-19, a resposta dele à pandemia foi terrível”, diz. “E o machismo não dá. Seus ataques às jornalistas e não ter ido à posse da juíza Rosa Weber na Presidência do STF [Supremo Tribunal Federal] foram as gotas d’água”.
Os que dizem que irão votar em um candidato de partido ou coligação diferente da do candidato escolhido para presidente são 9%. Outros 7% não souberam dizer se o candidato a deputado federal é do mesmo partido ou coligação do candidato a presidente, segundo o resultado do Datafolha de meados de setembro.
Como é o caso do aposentado José Soares, de 65 anos. Eleitor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele se diz “simpatizante” de candidatos que defendem o agronegócio. Apesar do petista legitimar pautas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST), o ex-servidor público estadual da antiga Companhia Energética de Goiás (Celg) relembra que o setor foi o único que não parou durante o período crítico da pandemia de Covid-19. “O Lula fez bom governo, mas temos que considerar que o agronegócio foi crucial durante a pandemia e isso ele não pode criticar os grandes fazendeiros”, frisa.
Entre os que têm candidato a deputado federal (31%), a pesquisa do Datafolha, divulgada em meados de setembro, indica que 14% dos eleitores escolheram votar em um candidato do mesmo partido ou da mesma coligação do candidato em que elas irão votar para presidente.
Apesar de pouca experiência acumulada em eleições, o estudante Guilherme Mota, de 19 anos, já definiu para quem vai votar. Resguardando do direito de preservar nomes, ele só adiantou que neste ano escolheu os candidatos de acordo com suas convicções: democracia. “De deputado federal e presidente, o meu critério de escolha foi baseado em políticos que defendem a liberdade de expressão, de imprensa e democracia. É uma aberração em pleno século XXI haver políticos que defendem o ódio e a desunião”.
Pesquisa PoderData realizada de 25 a 27 de setembro de 2022, divulgada nesta quarta-feira, 28, mostra que só 10% dos eleitores dizem que podem não sair de casa para votar no próximo domingo. Como o voto no Brasil é obrigatório, o entrevistado tende a dizer que vai comparecer. Por isso, a taxa de abstenção nas eleições é um dado difícil de captar em pesquisas. Historicamente, a abstenção registrada nas urnas fica em torno de 20%. No pleito de 2018 foi de 20,3%. Em 2020, chegou a 23,14%.
Revoltado com a atual situação política, o assistente administrativo Pedro Henrique Carvalho, de 19 anos, destacou que só vai decidir se vai votar no dia. Ele frisa que os atuais candidatos não o representam. “Apesar de pouca idade eu acompanho a política e sempre vejo os mesmos discursos e nunca houve uma grande mudança para a população. Até lá [domingo] decido em quem voto no menos pior”, brincou.