Bernardo Braga Pasqualette é advogado, mas está se revelando um historiador e pesquisador do primeiro time. O livro “Me Esqueçam: Figueiredo — A Biografia de uma Presidência” (Record, 796) resulta de uma pesquisa exaustiva sobre um governo que parecia ter pouco a dizer. O autor mostra que não é bem assim e faz uma radiografia ampla do que aconteceu na gestão do general-presidente carrancudo.

Guilherme de Pádua e Paula Thomaz Peixoto mataram a atriz Daniella Perez | Fotos: Reproduções

Figueiredo era meio tosco, é claro. Mas, ao contrário do que chegaram a prever, conseguiu fazer a Abertura, o que é, sem dúvida, seu maior mérito. O general Ernesto Geisel o escolheu como sucessor para levar a Abertura adiante. Quando ocorreu o atentado do Riocentro, houve um recuo (tanto que Golbery do Couto e Silva decidiu sair do governo), com Figa “submetendo-se” à linha dura. Mas, ao final, tudo indica que foi a linha dura que teve de se submeter para não ser punida pelo presidente. Houve um pacto faustiano, mas que não prejudicou a Abertura. Pasqualette nos oferece as informações, colhidas com precisão, e não deixa de analisá-las com a competência e o distanciamento dos melhores historiadores do período.

Irrequieto, mal terminou uma pesquisa, que lhe deu um trabalho de Hércules, Pasqualette decidiu estudar e descrever um assunto que, digamos assim, ainda é problemático. Um caso que, embora acontecido há 30 anos, permanece atual. Porque, excetuando a atriz assassinada, Daniella Perez, os personagens relacionados aos fatos permanecem vivos, circulando por aí. O ex-ator Guilherme de Pádua se apresenta como pastor da Igreja Batista e sua ex-mulher, Paula Thomaz (novo nome: Paula Nogueira Peixoto), se casou novamente, tem outro filho (e tem um filho do casamento com Pádua) e se formou em Direito. A dupla evita falar com jornalistas e pesquisadores, mas suas versões circulam por aí, em redes sociais, dezenas de reportagens e, sobretudo, nos processos judiciais.

Glória Perez com a filha Daniella Perez | Foto: Reprodução

Ante processos gigantes e personagens que se recusam a falar (e, pergunta-se, falar o quê?), e possivelmente “ameaçadores”, os pesquisadores escapam para temas menos complicados. Não é o caso de Pasqualette, que une sua formação de advogado à de pesquisador rigoroso. O historiador expõe os fatos, torna-os mais objetivos, e é ao apresentá-los de maneira nuançada que vai, ao longo do caminho, expondo suas interpretações (que são mais fortes e relevantes do que meras opiniões). No caso, obviamente, não há como ficar ao lado dos assassinos — duas pessoas de uma crueldade ímpar. Bons livros não precisam ser necessariamente isentos — precisam, isto sim, ser objetivos, nuançados. Conhecer bem um fato — narrá-lo e descrevê-lo com rigor e amplitude — é a maneira mais eficaz de compreendê-lo e, daí, julgá-lo.

Bernardo Braga Pasqualette | Foto: Editora Record

O novo livro de Pasqualette tem o título de “Daniella Perez — Biografia, Crime e Justiça” (Record, 616 páginas). Deve chegar às livrarias em novembro, mas já pode ser pedido nos sites da Travessa, Amazon, Livraria da Vila e Livraria Cultura.

Sinopse da Editora Record

“O mais completo relato investigativo sobre as circunstâncias e motivações do crime hediondo que vitimou a estrela em ascensão Daniella Perez.

“Em agosto de 1992, enquanto no Brasil emergia o movimento ‘caras-pintadas’, na televisão estreava a novela ‘De Corpo e Alma’, escrita por Glória Perez. Em meio a artistas consagrados, estava Daniella Perez, cujo sobrenome revelava se tratar da filha da autora. Bailarina por vocação e engatando o terceiro trabalho seguido na televisão, a jovem atriz se via diante de um enorme desafio: vencer a desconfiança da crítica acerca de seu talento. Dando vida à Yasmin, personagem tipicamente suburbana que gerou forte identificação no público, Daniella conquistou o público.

“O crescimento de sua popularidade, contudo, veio acompanhado de críticas de setores da mídia, que atribuíam seu êxito à influência materna. Guilherme de Pádua, colega de elenco e futuro algoz da jovem estrela, também pensava assim e começou a assediá-la, num movimento silenciosamente percebido nos bastidores da novela. Mesmo após o crime, ele nunca negou que se aproximara da atriz por interesse.

“Escrito sob a forma de uma reportagem literária, Daniella Perez: biografia, crime e justiça é composto de um perfil biográfico de Daniella e uma minuciosa análise do crime que a vitimou. O trabalho se valeu majoritariamente de fontes primárias, além de terem sido analisadas inúmeras reportagens sobre a investigação criminal, o julgamento e a execução das penas dos condenados, além do processo que os condenou por homicídio duplamente qualificado.

“‘Daniella Perez — Biografia, Crime e Justiça’ é a história de uma estrela em ascensão e de sua partida precoce, mas é também o mais completo relato investigativo das circunstâncias e motivações de um crime hediondo, trazendo à luz todas as nuances de um crime bárbaro que causou enorme comoção em todo o país.”

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