Obrigado pelo aprendizado, grande irmão, poeta e amigo Gabriel Nascente, ao se candidatar a uma vaga na Academia Brasileira de Letras.

Obrigado por demonstrar que a pureza e a humildade ainda são fracas, mas a constância e a coerência poderão, quem sabe um dia, injetar uma força necessária, para vencer a falsidade daqueles que precisam rever seus conceitos, para não caírem na mediocridade dos modismos demagógicos.

Obrigado por seus poemas, sofridos, belos, persistentes e carinhosos, recheados de meandros que o tempo não esquece.

Obrigado pela humildade e pela coragem de um Teseu enfrentando um Minotauro, criado por circunstâncias convenientes de um tempo confuso.

Obrigado por querer ir até a lua ajudar São Jorge a enfrentar o dragão de fogo. Seu gesto me lembra a canção de Paulo Matricó, que assim nos fala:

Eu viajei pra muito longe
Atrás de um mundo novo
E me realizar
Quanto mais distante eu fui
Mais perto me encontrei
Aqui do meu lugar

Se deita na minha lembrança
A correnteza mansa
Águas do meu riacho
Espelhos nos igarapés
Quando lavava os pés
E a sombra por debaixo.

(Apreço ao Meu Lugar)

Obrigado, poeta querido, por hastear a bandeira da goianidade. Obrigado por reforçar em mim uma tese que procuro defender através do conhecimento adquirido e coerência científica, de que o homem moderno, conhecido como H. sapiens sapiens, ainda não foi capaz de se despojar do egoísmo e da natureza predatória que traz desde os primórdios.

De natureza agressiva, quer seja indígena, zulu, judeu, muçulmano, cristão, australoide, neozelandês, tuaregue, subsaariano, bosquímano, pigmeu, polinésio, italiano, francês, português, russo, ucraniano, inuíte, aleúte, massai e tantas outras raças biológicas ou grupos culturais, todos são resultados da diáspora da humanidade moderna como um todo, que se adaptou em rincões específicos onde lhe permitia a sobrevivência. Um ser estranho, que não mede esforços para conseguir seus objetivos. Predador nato por excelência.

Desde quando se tornou Homo sapiens sapiens, por volta de 60 mil anos antes do presente, ainda na velha África, após sucessivos êxitos evolutivos – ou, melhor dizendo, competitivos –, que levaram um primata superior que vivia em Oldwai, há mais de 2 milhões de anos, a se transformar de Australopithecus em Homo habilis e depois em Homo erectus, em seguida em Homo sapiens arcaico e, logo depois, em Homo sapiens sapiens. Esse ser, aparentemente frágil, saiu pela Terra modificando os ecossistemas por onde passava. No início, começou a matar seus próprios irmãos, para conquistar territórios, onde as fontes de proteínas, vitaminas, açúcares e sais minerais eram mais fartas. Ainda como Homo erectus, aprendeu a dominar o fogo. Este fato brinda-o com a oportunidade de expulsar das cavernas os animais carniceiros, para ocupar como abrigo esse precioso local. Também é nessa fase que conquista o Oriente Próximo e grande parte da Eurásia. Muito tempo depois, chega até a Sibéria e, durante a última glaciação, em levas sucessivas, chega à América do Norte e, alguns milhares de anos depois, à América do Sul, pelo Istmo do Panamá.

A economia dos primeiros H. sapiens sapiens era aparentemente simples, pois baseava-se na caça, coleta de frutos, cata de ovos e moluscos. Por isso, os H. sapiens sapiens eram chamados genericamente de caçadores-coletores, embora muitos fossem, em determinadas épocas do ciclo anual, essencialmente pescadores. Em sua dieta também entravam várias espécies de insetos comestíveis.

Entretanto, essa economia não era tão simples, como o nome sugere: exigia não só um grande conhecimento do ambiente, mas uma complexa estrutura social, não só no sentido hierárquico, mas sobretudo nas divisões etárias e sexuais do trabalho, da mesma forma normas rígidas estabeleciam os laços matrimoniais. Alguns modelos desse sistema de vida ainda persistem até os dias atuais, mesmo que de forma tênue, em alguns bolsões desse planeta, notadamente na África, na América do Sul e em algumas Ilhas isoladas do Pacífico.

É errado pensar que os caçadores-coletores eram seres pacíficos e que viviam em equilíbrio com o meio ambiente mais que a humanidade moderna e seus descendentes. Essa é uma visão enganosa. Assim como nós, usaram seus conhecimentos para explorar o ambiente num grau extremo que suas habilidades permitiam. E assim, onde quer que chegassem ou por onde passassem, um rastro de extermínio ficava.

A megafauna australiana foi extinta, o mesmo aconteceu na Nova Zelândia, na América do Norte, América do Sul etc., característica que foi aumentando de forma análoga às inovações tecnológicas.

Gabriel Nascente e seu periquito Loló | Foto: Sinésio Dioliveira

Sua candidatura desmascarou muita coisa, que precisava ser demonstrada

O homem é um animal estranho que pertence à ordem dos primatas. Tem dentes fracos e boa visão. O polegar das mãos se opõe aos demais dedos, o que lhe permite manipular e transformar a natureza em objeto de sua extensão. Seu cérebro é desenvolvido, o que lhe dá inteligência suficiente para pensar, premeditar e articular. Faz guerra e mata seu semelhante, mas também tem a capacidade de cooperar quando é sensibilizado. Pode ser educado, domesticado ou dominado sempre por seu semelhante. Quando consciente, gosta de ser livre.

Portanto, querido poeta Gabriel, que simboliza o raro ramo humilde da humanidade, que sabe chorar e que nunca buscou a presunção nem as vaidades, talvez tenha sido melhor assim. Sua candidatura desmascarou muita coisa, que precisava ser demonstrada. Só assim perceberemos que o ser humano é um só: camaleão de acordo com os interesses.

Conte sempre com o meu respeito e admiração.