A Jovem Pan anunciou a demissão do apresentador Tiago Pavinatto nesta quarta-feira, 23. Além dele, o comentarista Rodolfo Mariz também foi desligado. Em nota, a justificativa para o desligamento foi que ambos “cometeram excessos em suas participações no programa Linha de Frente e recusaram a orientação de realizar, ao término do programa, uma responsável retratação”.

Nas redes sociais, Tiago disse que contaria tudo numa live no seu canal do Youtube intitulada “Os tremas nos us”, uma alfinetada a um dos principais programas da Jovem Pan: “Os pingos nos is”. “Eu sei que muitos de vocês estão buscando respostas, e eu quero deixar claro que, diante de qualquer situação que vá contra meus princípios, minha escolha é sempre ficar do lado da decência”, declarou em postagem no Instagram.

Toda a situação que causou a demissão ocorreu no programa Linha de Frente. O apresentador confirmou que sua saída foi motivada por se posicionar contra o comentário de um desembargador sobre uma decisão da Justiça de inocentar um homem acusado de estuprar uma menina de 13 anos. Na ocasião, Tiago ofendeu o magistrado. “Diante da solicitação de retratação por parte da direção do programa, optei por manter minha integridade e meus valores”, declarou Pavinatto.

Em sua conta no X, antigo Twitter, o apresentador também reiteirou seu posicionamento: “Eu jamais, jamais, pediria desculpas por me revoltar contra um desembargador que inocentou um pedófilo septuagenário argumentando que a criança estuprada era prostituta e drogada. Não fui demitido: disse, com paz de espírito, que preferia perder o contrato a perder a decência”.

De fato, as acusações feitas por Pavinatto são graves. E decisão judicial não se contesta, se cumpre, mesmo quando moralmente duvidosas. Não é descredenciando a Justiça que vamos ter um país mais justo. A democracia se fortalece com um judiciário forte e independente, longe de moralismos – falsos ou não – e da religião.

Mas o fato mais interessante sobre tudo isso é que o afastamento de Tiago Pavinatto, um dos maiores defensores de Bolsonaro na Jovem Pan, se dá logo após se ter notícia de que o grupo teria ido à Brasília para se reunir com ministros e outros políticos ligados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A intenção seria “vender” a ideia de que o canal teria baixado o tom e atenuado sua linha editorial em prol de uma relação mais cortês com o governo petista.

Desde o início do ano, a empresa tem feito uma série de reformulações e demissões na tentativa de descolar sua imagem de Bolsonaro. E, agora, a demissão de Pavinatto viria a calhar para atender a esse interesse. O que ainda é preciso aguardar é se a Jovem Pan vai receber o perdão – e o dinheiro – do governo Lula.