Opção cultural

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Segundo dia do Bananada reúne 16 atrações em seis espaços diferentes

Festival realiza shows nesta terça-feira (9/5) no Shiva alt-bar, Rock, Cafofo Estúdio, Complexo Estúdio & Pub, Teatro Sesc Centro e República a partir das 20 horas

Maratona de sete dias do Bananada começa nesta segunda. Preparados?

Para abrir a 19ª edição do festival, serão realizadas apresentações no Teatro Sesc Centro, Retetê, Rock, República Underground Music (RUM) e Cafofo Estúdio a partir das 20 horas

Editora argentina lança antologia de contos com autores brasileiros

“Língua Rara” será publicada em formato digital, e disponível para download gratuito Nos últimos anos, a literatura contemporânea argentina vem conquistando seu espaço no mercado editorial brasileiro. Traduções de autores como Samanta Schweblin, Diego Vecchio, Andrés Neuman e Selva Almada ganham expressividade através de boas críticas e da formação de um grupo seleto de leitores. O movimento contrário, porém, não se afigura um cenário animador. De acordo com o escritor Bruno Ribeiro, que morou quatro anos em Buenos Aires e fez mestrado de Escrita Criativa por lá, enquanto o Brasil recebe uma literatura argentina mais plural e em maior quantidade, a literatura brasileira ainda é encarada na Argentina por meio de seu viés exótico, figurando nas editoras como um ato de resistência. De maneira então a encurtar essa fronteira e estimular a visibilidade de autores brasileiros em território hermano, Ribeiro organizou a antologia de contos “Língua Rara”. Publicada em parceria com o selo portenho Outsider, o livro traz textos em português e estará disponível em formato digital (epub e mobi), para download gratuito. O lançamento será neste mês, quando também entra no ar o novo site da editora. O organizador conta que a ideia da antologia começou a ganhar corpo no ano passado, partindo da estranheza gerada entre os idiomas dos países vizinhos. “O nosso português é uma língua estranha na América Latina, pois não compartilhamos do espanhol que une o continente. Somos queridos por todos, mas somos incompreensíveis linguisticamente. Somos estranhos em nosso próprio mundo e isso explica muita coisa sobre a relação do Brasil com os nossos hermanos latinos. Meu objetivo foi entregar essa incompreensão para o leitor de língua espanhola, deixando que ele sinta toda a raridade da nossa língua em sua leitura. Uma tensão literária, um desafio, uma overdose de brasilidade linguística”, observa. O mesmo aspecto heterogêneo foi aplicado na escolha dos autores. Partindo da intenção prévia de ter um número equivalente de homens e mulheres, a seleção englobou, segundo Ribeiro, 16 escritores de grandes e pequenos selos, que compartilham uma coesão na linguagem dos contos. Fazem parte do grupo: Adriana Brunstein, André Timm, Camila Fraga, Carlos Henrique Schroeder, Diego Moraes, Eduardo Sabino, Irka Barrios, Letícia Palmeira, Luisa Geisler, Micheliny Verunschk, Noemi Jaffe, Priscila Merizzio, Ricardo Lísias, Roberto Denser, Roberto Menezes e Sérgio Tavares. “Eu queria 16 autores que carregassem consigo a raridade na língua, a estranheza. Em relação a isso, fico feliz em dizer que fomos exitosos, afinal, todos os autores brincam com a nossa língua e invocam seus mundos de forma original, não reproduzindo o que já sabemos, mas nos apresentando novas maneiras de ver o que nos rodeia diariamente”. A temática é um outro exemplo desse olhar multifário presente no livro. O organizador conta que os contos excursionam por assuntos diversos, abrangendo desde os horrores da ditadura militar a relatos absurdos, cômicos e inusitados. Uma diversidade fiel à riqueza da nova literatura brasileira, que se compara ao que hoje é produzido na Argentina, demonstrando que, ao contrário do que vende o mercado do livro no Brasil, temos muito mais em comum com nossos países vizinhos do que com os EUA e a Europa. “A ideia é provocar e tentar refletir sobre essa raridade da nossa língua dentro do nosso próprio mundo latino. Por mais que alguns queiram, saibam que o Brasil não é uma extensão dos EUA. Somos mais gracias do que thank you”, afirma Ribeiro. Antologia Língua Rara (Editora Outsider) Organização: Bruno Ribeiro Para baixar gratuitamente, o leitor pode clicar aqui.   Leia um trecho do conto "Em verdade, em verdade vos digo", de Adriana Brunstein: "Em 1995 eu queria ser a Diane Keaton, mas me casei com um idiota. Minha carta na manga no quesito sedução era: eu choro com notícias tristes na voz do Sérgio Chapelin. Mas o fantástico show da minha vida não acaba por aí. Transar com aquele cara era como passar Grecin no cabelo. Eu passei a denominar a coisa toda de operação pente fino. Eu juro que na hora que ele me olhava e eu sentia a intenção toda eu imaginava o Cid Moreira falando: começa agora a operação pente fino. Ou ainda pior, do naipe da velha zebra da loteria esportiva rindo da minha cara. Mas a gente tem que passar pela merda dos 20 e poucos anos e meter uma aliança no dedo. A gente tem que dizer que soltamos fogos de artifício quando abrimos a porta para a primeira pizza que não foi encomendada pelos nossos pais. A ousadia tinha gosto de cheddar e a porra de um bar de mogno na sala. Mas não tinha a dignidade de uma boa dose de scotch. Era frisante, prosecca, decorada com aqueles malditos guarda-chuvinhas de papel crepom. Mas bem, eu precisava daquilo. Eu ia morar no bairro-sonho-de-consumo de toda minha infame existência até aquele momento. Higienópolis. Eu ia ter farmácias, lojinhas tipo boutique, supermercados chiques pra caramba, com tudo encaixotado e pronto pra consumo. E ia ter um maridinho chegando à noite com uma maleta daquelas com senha. Ah, Sean Connery, se ele tivesse ao menos aquele seu charme 007".

“Punho de ferro” se esforça para ser ruim

A última série da parceria Marvel-Netflix foi, na verdade, um grande desperdício de tempo e dinheiro [caption id="attachment_93725" align="alignleft" width="620"] Finn Jones não consegue mostrar a personagem, que é mestre em kung-fu[/caption] Ana Amélia Ribeiro Especial para o Jornal Opção “Punho de Ferro” é ruim, não há outra definição. É até difícil de acreditar que uma série feita pela Netflix em parceria com a Marvel consiga ser tão ruim quanto essa foi. Um dos motivos dessa crítica ter demorado a sair é esta: não consegui aceitar que “Punho de Ferro” fosse tão ruim quanto foi, assisti a série quatro vezes para que em algum momento eu percebesse um detalhe que desse sentido a todas aquelas cenas intermináveis de reunião, e que me empolgasse de verdade com as lutas, mas foi difícil encontrar esses momentos. O pior de tudo é que “Punho de Ferro” é a série que deveria fechar o ciclo dos heróis da Marvel na Netflix, antes de estrear “Os Defensores”, mas a saga de Danny Rand foi um grande balde de água fria. Imagina um personagem que nos quadrinhos foi inspirado em grandes nomes das artes marciais dos anos 1960, que tem uma pegada no misticismo. Você conseguiu enxergar essas referências na série? Se sim, meus sinceros parabéns. Mas se você, como eu, não conseguiu enxergar no Finn Jones um lutador de Kung-Fu, #tamojunto. O interprete de Danny Rand precisa de um dublê de luta, por isso é necessário que ele use o uniforme. A primeira cena em que ele luta é lamentável – “Mortal Kombat 2: A Aniquilação” têm cenas de brigas melhores; fica claro que Finn nem encosta nos seguranças. “Punho de Ferro” é uma série em que o personagem principal estudou artes marciais por 15 anos, mas que tem cenas de lutas mal coreografadas. É claro que não dá para cobrar a postura de um lutador de Kung-Fu de um ator, então bastava colocar um dublê; seria menos vergonhoso. Outra coisa que deve ser dita: que roteiro difícil de digerir. São tantos flashbacks, que pode ser facilmente confundido com Arrow – série da DC produzida pelo canal de TV norte-americano CW –, que começou indo bem, mas no meio do caminho perdeu o rumo. Claro, colocar 15 anos de treinamento em 13 episódios ficaria pesado, mas não são necessários tantos flashbacks. O roteiro deixa a desejar várias vezes, pois te faz sentir preguiça na construção da história. Quando o enredo entrava em um beco sem saída, o clichê aparecia. A trama não fica presa só em Danny. Eles focam pouco no protagonista e, às vezes, dão destaque maior a outros personagens, como os irmãos Joy (Jessica Stroup) e Ward Meachum (Tom Pelphrey), ou Colleen Wing (Jessica Henwick) e Claire “Nick Fury” Temple (Rosario Dawson). Isso rende enfadonhas cenas dentro da Rand Enterprises, que não são interessantes para quem está assistindo – fora as horas mostrando Danny tentando provar que é ele mesmo, que ele realmente ficou desaparecido numa cidade chamada K’un-Lun, que só se manifesta na Terra a cada 15 anos, e que ele só conseguiu sair de lá porque lutou contra um dragão e recebeu o título de uma entidade chamada Punho de Ferro. Repetem isso em três episódios seguidos tornando difícil continuar vendo aquela série cheia de becos (aparentemente) sem saída. Aí vem a brilhante cena de Joy com o pacote de M&Ms: quem precisa de exame de DNA não é mesmo? Sem contar que, nessa sequência, ela chora sem lágrimas e a cara que Collen Wing faz é minha feição em todos os episódios da série. A trama não flui, não convence. São vários os momentos em que as personagens ficam presos em situações absurdas sem dar conclusão alguma às ações anteriores – criaram, em “Punho de Ferro”, uma narrativa truncada que parece uma montanha russa cheia de altos e baixos ao longo de uma única temporada. Dá a impressão de que a série só enche linguiça por ter que preencher o catálogo com treze episódios. Quando a narrativa da série consegue vencer a barreira do clichê, conseguimos ver o desenvolvimento de todos as personagens centrais, exceto o protagonista. Collen Wing tem boas cenas de luta, e uma história bem clichê; Claire Temple segura a onda bem, apesar do roteiro ruim; Joy e Ward é que demonstram maior transformação ao longo da série. Apesar de Jessica Henwick ser uma atriz pouco expressiva e convincente, no final da série ela até engana bem. Quem é Danny Rand nisso tudo? Ele é o personagem que sofreu um acidente de avião nos Himalaias e perdeu os pais na tragédia; que foi resgatado por monges e treinou para se tornar o Punho de Ferro. Trata-se de um ser humano cheio de falhas, mas que acredita que todas as pessoas são boas, com uma ingenuidade exagerada a ponto de confiar cegamente em tudo que as pessoas dizem a ele. Ele não tem objetivo, é confuso e leviano, quer vingança, mas não sabe de quem quer se vingar. A série não é coesa, a construção do Punho de Ferro é desconexa e confusa – não dá para saber quem é vilão e quem é mocinho. Tudo isso atrapalha o avanço da história, que fica presa na mesmice com tanta coisa para ser resolvida. É uma série de arte marcial, que não tem arte marcial. Se eu quisesse ficar assistindo reuniões, assistiria “The Office” e “Parks and Recreation” – pelo menos elas têm cenas de reuniões divertidas e interessantes. O que quero dizer é que “Punho de Ferro” não é uma série terrível, mas também não é empolgante. “Punho de Ferro” é a definição de “ok”: fez um pouco do que havia se proposto a fazer, que é introduzir a personagem dentro do Universo Marvel da Netflix. Só. Mas, o hype que “Punho de Ferro” levou, o trailer de “Os Defensores” nos trouxe de volta. Dia 18 de agosto o “trem do hype” estaciona na estreia da série que reúne o time Demolidor, Jéssica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Agora só nos resta esperar, pois Finn Jones, durante sua passagem na Comic Con Experience Nordeste, disse que Danny Rand se tornará o lutador místico completo que Punho de Ferro deveria ser apenas no final de “Os Defensores”. Isso se ele conseguir fazer em oito episódios a proeza que não conseguiu em 13. A verdade é “Punho de Ferro” foi um grande desperdício de tempo e dinheiro. Ana Amélia Ribeiro, jornalista, fã incondicional de quadrinhos, DCnauta, Marvete e muito apaixonada pela Turma da Mônica

Dilema vivido pela Europa está entre a “ordem da cidade” e a “ordem da tribo”

Para que a Europa continue a ser, apesar dos problemas recorrentes, um modelo de “mundo civilizado”, é necessário que tenha em vista a preservação da “ordem da cidade”

Guillaume Apollinaire, o prazer e a perversão

Em “As onze mil varas”, as excursões do príncipe romeno Mony Vibescu não apresentam novas paisagens, mas levam o leitor sempre para um mesmo destino: à clausura, ao crime e ao sexo

Os mortos pela ideologia, ou os perigos do desejo de uma “perfeição terrena”

Se tivéssemos aprendido algo com a religião, saberíamos que o homem é propenso ao pecado, que é falho, imperfeito e que o resultado das sociedades “perfeitas”, que foram anunciadas com várias revoluções, estava fadado ao fracasso

A eternidade movediça do tempo nos contos de João Anzanello Carrascoza

“Tempo justo” é constituído de momentos triviais, em que as personagens estão sempre estabelecendo uma ponte entre o presente e o passado

Em busca das raízes no Brasil profundo

Entre a ficção e a reportagem, Nicodemos Sena reconstitui o dia em que fez uma viagem, na companhia de seu pai, às ruínas da cidadezinha amazonense de Belterra

Com Thelonious Monk puxando o bonde, vai aí mais uma lista

Mais um Playlist Opção para a sua noite de sexta-feira! Aperte o play e se divirta. https://www.youtube.com/watch?v=_40V2lcxM7k https://www.youtube.com/watch?v=KDz5wVc-4QI https://www.youtube.com/watch?v=s1Kkl6jd9-Y&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=S_7jacG2KsY https://www.youtube.com/watch?v=D7krrRoJpT0 https://www.youtube.com/watch?v=StYsZqLkuPI https://www.youtube.com/watch?v=AI6nIJ-anYQ  

Com base em texto de Padre Antônio Vieira, espetáculo “Antinomia” entra em cartaz nesta sexta-feira em Goiânia

Renato Mendonça Lucas dá tratamento dramático a texto de Pe. Vieira em que é relatado seu debate com outro padre jesuíta, Jerônimo Cattaneo, ocorrido em 1674,  a respeito do pensamento dos filósofos gentios Demócrito e Heráclito [caption id="attachment_93453" align="alignleft" width="620"] Cartaz de divulgação do espetáculo "Antinomia"[/caption] Nos próximos dias 5, 6, às 21h, e no dia 7, às 20h, ocorrem, no Teatro Goiânia, apresentações do espetáculo “Antinomia”, produzido pelo Gradiva Centro Cultural,  pela Associação dos Amigos do Art Film Festival, de Asolo-Itália (AFA) e pelo Núcleo Freudiano de Psicanálise em Goiânia. A direção está a cargo do psicanalista Renato Mendonça Lucas, que também atuará, junto com Celso Rabelo. O espetáculo tem como base o texto O Pranto e o Riso, ou as lágrimas de Heráclito defendidas em Roma pelo padre Antônio Vieira contra o riso de Demócrito, de autoria do próprio Pe. Vieira, escrito em decorrência do debate travado no palácio da rainha Cristina da Suécia, em Roma, com o padre Jerônimo Cattaneo, em 1674. [caption id="attachment_93450" align="alignleft" width="300"] Padre Antônio Vieira[/caption] Este debate entre dois padres pertencentes à Societas Jesu, Companhia de Jesus, na corte da rainha Cristina Alexandra, foi incitado pela própria rainha. O mote lançado por Cristina aos dois jesuítas na seguinte pergunta: “Qual dos dois gentios andara mais prudente? Demócrito, que ria sempre, ou Heráclito, que sempre chorava?” A questão lançada versava, evidentemente, sobre o modo como cada um dos filósofos gregos pré-socráticos compreendiam a condição humana, sempre temperada pelo finito e o eterno, o contingente e o imutável. Curiosamente, a rainha Cristina solicitou este debate num momento em que havia abdicado do trono de sua nação e abandonado a religião luterana, tendo-se convertido ao catolicismo. A proposta de Renato Mendonça Lucas e do Gradiva Centro Cultural com  “Antinomia” é semelhante àquelas que já foram levadas a cabo com rara maestria em espetáculos como “Laio”, “Entre 4 paredes” e “Entre 5 poetas”, qual seja: apresentar o texto clássico com dramaticidade peneirada pela psicanálise freudiana. A própria escolha da   palavra antinomia, de certa forma, revela esta preocupação, já que significa contradição entre visões doutrinárias ou prescritivas sobre determinado assunto – fenômeno que sempre esteve presente no seio da humanidade, desde os tempos mais remotos. É de se esperar, portanto, um clima inquietante, no qual serão apresentadas reflexões profundas sobre nossa condição. Reflexões estas que serão debatidas com o público, após o espetáculo. Abaixo, disponho um trecho do texto do Pe. Vieira. Em seguida, segue a parte do filme Palavra e Utopia (2000), do cineasta português Manoel de Oliveira, que retrata o referido debate, com o ator Luís Miguel Cintra interpretando  Vieira. Trecho do texto de Pe. Vieira

Há chorar com lágrimas, chorar sem lágrimas e chorar com riso: chorar com lágrimas é sinal de dor moderada, chorar sem lágrimas é sinal de maior dor; e chorar com riso é sinal de dor suma e excessiva... a dor moderada solta as lágrimas, a grande as enxuga, as congela, e as seca... A mesma causa, quando é moderada, e quando é excessiva, produz efeitos contrários: a luz moderada faz ver, a excessiva faz cegar; a dor, que não é excessiva, rompe em vozes, a excessiva, emudece. De sorte a tristeza, se é moderada, faz chorar, se é excessiva, pode fazer rir; no seu contrário temos o exemplo: a alegria excessiva faz chorar e não só destila as lágrimas dos corações dedicados e brandos, mas ainda dos fortes e duros. (...) Pois se a excessiva alegria é causa do pranto, a excessiva tristeza por que não será causa do riso e a ironia tem contrária significação do que soa; o riso de Demócrito, era ironia do pranto; ria, mas ironicamente, porque o seu riso era nascido de tristeza, e também a significava; eram lágrimas transformadas em risos metamorfoseados da dor; era riso, mas com lágrimas;(...).”
Trecho do filme “Palavra e Utopia”, de Manoel de Oliveira https://www.youtube.com/watch?v=Ipi-OwksfTU Serviço Antinomia Dias: 5, 6 e 7 de maio Horários: 21h (dias 5 e 6) e 20h (dia 7) Direção: Renato Mendonça Lucas Local: Teatro Goiânia Obs: Vendas antecipadas na LIVRARIA NOBEL/shopping Bougainville (somente em dinheiro) e no ESPAÇO VIP, rua 18 nº 127, setor oeste - em frente a antiga sede da TV Record - ( em dinheiro e débito automático).          

Em que pele tu habitas?

Novo filme de Olivier Assayas foi vaiado em Cannes, mas aplaudido na première e isso só mostra uma coisa: que quem pretende ver o filme, precisa manter a mente aberta [caption id="attachment_93277" align="alignleft" width="620"] Kristen Stewart dá vida à personagem Maureen Cartwright, uma pessoa que gostaria de ser outra, mas sem a certeza exata de quem[/caption] Numa primeira vista, "Personal Shopper" (2016), o filme mais recente de Olivier Assayas, parece um exercício burocrático de uma aula de roteiro da faculdade. "Faça um roteiro envolvendo o mundo da moda, com fantasmas e colocando uma pitada de drama e thriller psicológico". Mas o roteirista e diretor francês, famoso por nos apresentar "Acima das Nuvens" com Juliette Binoche, em 2014, consegue sair do convencional, entregando uma estória envolvente até o ponto em que consegue ligar esses elementos aparentemente desconexos. Como o próprio título entrega, o filme é inteiramente escorado em Maureen Cartwright (vivida por Kristen Stewart), contratada por uma celebridade francesa local para cuidar de seu guarda-roupas. A única missão de Maureen é percorrer as lojas mais famosas de Paris (aliás, chega a dar um pulo em Londres também) comprando roupas, sapatos e jóias para compor o visual de sua patroa. Sem limites no cartão de crédito. O que pode parecer divertido para muitos, entretanto, é uma tarefa extremamente enfadonha para a garota. Aliás, nesse ponto convém ressaltar a boa atuação de Kristen. Na sua carreira, em geral criticada pela inexpressividade e falta de adensamento psicológico na interpretação de seus personagens, a atriz agora convence no papel de uma jovem inexpressiva e corroída por uma vida vazia (há quem diga que Stewart continua a interpretar a si mesma, algo que demandaria uma análise mais detalhista. O fato é que, aqui, ela funciona até bem). Maureen, entretanto, busca algo mais em sua vida. Gostaria de ser outra pessoa, mas não tem certeza de quem. Coloca um olho comprido para cima dos glamourosos vestidos que compra para sua patroa, mas não se sente bem usando-os. Aliás, os veste escondida, puramente pelo prazer da adrenalina. Comprar um colar Cartier lhe é tão vazio quanto bater o cartão de ponto no final do expediente. Esse algo que falta na vida de Maureen provavelmente tem ligação com a morte de seu irmão Lewis, poucos meses antes, em decorrência de um mal súbito no coração. E aí surge uma dimensão diferente dada por Assayas ao longa – algo que incomodou os mais altos críticos de Cannes, onde o filme foi exibido pela primeira vez, no ano passado. Maureen e seu irmão Lewis possuem o dom sobrenatural de manter contato com espíritos. São médiuns. E combinaram, enquanto vivos, que o primeiro que se fosse enviaria um sinal ao que ficasse. O irmão se foi, e 95 dias depois do passamento, a irmã ainda não havia obtido nenhum sinal do além. Assayas, o roteirista, escolhe flertar com David Lynch e Stephen King, mas Assayas, o diretor, talvez tenha preferido tirar suas influências de Kubrick e Shyamalan. O resultado é um filme que, sem dúvidas, dá uma série de calafrios ao espectador, mas que acrescenta certa reflexão ao suspense. A constante utilização de uma fotografia mais densa, aliada à câmera na mão, traz a sensação de susto eminente. Mas isso não afasta o aprofundamento à crítica social do materialismo e da ostentação como formas de preenchimento existencial. "No fundo, todo mundo acredita em fantasmas, mas damos a eles nomes muito diferentes", declarou Assayas em Cannes, no ano passado. E o que ele quer dizer, basicamente, é que o meio imaterial – o que quer que isso seja – sempre prevalece ao material – qualquer que ele seja. O segundo é mero instrumento do primeiro. A busca de Maureen ao tentar se livrar do que ela é talvez se resolveria com a confirmação de que o irmão está bem, num mundo além. Confirmando essa busca pelo imaterial, aliás, a cena em que Kristen veste-se com as roupas da patroa e deita em sua cama traz um significado especial: a tentativa de despir-se de sua realidade e experimentar outra pele. O que culmina no prazer orgásmico. Aliás, algo interessante que Assayas incorpora em seu filme é a presença da tecnologia. Num contexto em que sua protagonista está se afogando num mar de itens de luxo, com um pé numa vida de ostentação, mas com o resto do corpo perdido num apartamento escuro de subúrbio, a desmaterialização é mostrada também em videoconferências pela internet, pequenos filmes explicativos de YouTube e numa troca de mensagens de celular. A certo ponto, chegamos a acompanhar minutos a fio de um diálogo tenso, sem piscar, vidrados na tela do smartphone de Maureen. O intertexto de mídias acena para a evolução do próprio cinema (é engraçado pensar que, na cena dos vídeos de YouTube, todos os espectadores do filme – inclusive os críticos de Cannes – assistiram a uma micro-projeção diretamente do iPhone 6 de Maureen). De certa forma, todo mundo busca salvação no invisível. Damos um jeito de atribuir ao oculto a origem e a solução de tudo o que não entendemos e, nesse processo, surge a impressão nítida de que a matéria nos prende, limita nossas impressões sobre a realidade. Sendo algo limitador, até quando exerce também interferência? "Quando os monstros da sua cabeça estão muito perto, sua sanidade pode entrar em colapso", declarou a própria Kristen sobre o filme, em Cannes. Apesar de vaiado pelos críticos na competitiva pela Palma de Ouro, foi ovacionado por mais de 4 minutos pelo público, após a première. E se o público e a crítica de Cannes não conseguiram chegar a um consenso sobre a obra, talvez seja esse o melhor conselho sobre o que esperar do filme: não espere nada. Mantenha a mente aberta e deixe-se surpreender. O filme está em exibição no Cine Cultura, na Praça Cívica, e terá uma sessão nesta quarta-feira, 3, às 16h30, e quatro sessões adicionais, de 7 a 10 de maio, também às 16h30.

Três traduções de Spanische Tänzerin, de Rainer Maria Rilke

[caption id="attachment_93257" align="alignleft" width="159"] Rainer Maria Rilke[/caption] A Terça Poética de hoje traz ao público três traduções, feitas por tradutores já consagrados pela crítica, no Brasil, do célebre poema Spanische Tänzerin, de Rainer Maria Rilke (1875-1926), um dos maiores poetas de língua alemã. Os tradutores em questão são: José Paulo Paes, Augusto de Campos e Geir Campos. Quem se arrisca (aqueles que entendem do riscado) a dizer qual delas é a mais fiel ao original, qual a mais fluida? Enfim, apreciem!   Spanische Tänzerin  Wie in der Hand ein Schwefelzündholz, weiß, eh es zur Flamme kommt, nach allen Seiten zuckende Zungen streckt -: beginnt im Kreis naher Beschauer hastig, hell und heiß ihr runder Tanz sich zuckend auszubreiten. Und plötzlich ist er Flamme, ganz und gar. Mit einem Blick entzündet sie ihr Haar und dreht auf einmal mit gewagter Kunst ihr ganzes Kleid in diese Feuersbrunst, aus welcher sich, wie Schlangen die erschrecken, die nackten Arme wach und klappernd strecken. Und dann: als würde ihr das Feuer knapp, nimmt sie es ganz zusamm und wirft es ab sehr herrisch, mit hochmütiger Gebärde und schaut: da liegt es rasend auf der Erde und flammt noch immer und ergiebt sich nicht -. Doch sieghaft, sicher und mit einem süßen grüßenden Lächeln hebt sie ihr Gesicht und stampft es aus mit kleinen Füßen. Rainer Maria Rilke, Jun. 1906, Paris TRADUÇÕES Bailarina Espanhola Como um palito de fósforo na mão, alvar antes de, aceso, estender suas línguas ardentes para todos os lados – a dança circular de junto do espectador começa a alargar seus círculos, clara, célere e cálida sempre. E eis que de súbito se faz chama a dança inteira. Com o olhar, a bailarina inflama a cabeleira e, com a arte ousada, de um só golpe distende o seu vestido todo num rodopiar de incêndio do qual, serpentes, em desnudez e susto vão surgir os braços despertos, num bater de mãos. Depois, como se fosse pouco, ela junta o fogo e o atira para longe, num gesto de arrogo, repentino, imperioso, e contempla, enlevada, ele estorcer-se no chão, sempre, sem perder nada da sua fúria, numa recusa de apagar-se. Triunfante e segura, com um sorriso amável, ela saúda então, ergue o rosto e sem disfarce o esmaga com seus pezinhos implacáveis. (Tradução: José Paulo Paes) Dançarina Espanhola Como um fósforo a arder antes que cresça a flama, distendendo em raios brancos suas línguas de luz, assim começa e se alastra ao redor, ágil e ardente, a dança em arco aos trêmulos arrancos. E logo ela é só flama, inteiramente. Com um olhar põe fogo nos cabelos e com a arte sutil dos tornozelos incendeia também os seus vestidos de onde, serpentes doidas, a rompê-los, saltam os braços nus com estalidos. Então, como se fosse um feixe aceso, colhe o fogo num gesto de desprezo, atira-o bruscamente no tablado e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado, a sustentar ainda a chama viva. Mas ela, do alto, num leve sorriso de saudação, erguendo a fronte altiva, pisa-o com seu pequeno pé preciso. (Tradução: Augusto de Campos) Dançarina Espanhola Tal como um fósforo na mão descansa antes de bruscamente arrebentar na chama que em redor mil línguas lança – dentro do anel de olhos começa a dança ardente, num crescendo circular. E de repente é tudo apenas chama. No olhar aceso ela o cabelo inflama, e faz girar com arte a roupa inteira ao calor dessa esplêndida fogueira de onde seus braços, chacoalhando anéis, saltam nus como doidas cascavéis. Quando escasseia o fogo em torno, então ela o agarra inteiro e o joga ao chão num violento gesto de desdém, e altiva o fita: furioso e sem render-se embora, sempre flamejando. E ela, com doce riso triunfal, ergue a fronte num cumprimento: e é quando o esmaga entre os pés ágeis, afinal. (Tradução: Geir Campos)

Representante do UK82, banda inglesa GBH desembarca nesta segunda em Goiânia

Ao lado dos grupos Death From Above, Lobinho e os 3 Porcão, Ímpeto, Os Cabeloduro (DF) e Desastre, o quarteto de Birmingham se apresenta no Martim Cererê

Pilar del Río e o Juízo de Deus

Se Pilar reclama a certa altura a presença de Saramago como maldição incontornável, talvez interesse muito mais anotar como ela afirma a si mesma biográfica e politicamente [caption id="attachment_93206" align="aligncenter" width="620"] Jornalista e escritora espanhola Pilar del Río[/caption] Thiago Cazarim Especial para o Jornal Opção Na manchete da entrevista Pilar del Rio: “José foi uma maldição”, que pode ser acessada aqui, publicada no último dia 30, o portal português Expresso produz, apenas como fogo-de-artifício, um conflito José Saramago e Pilar del Río – conflito em verdade, que até mesmo uma leitura superficial seria capaz de desacreditar. Pilar, que se nega a ser uma função de Saramago (“Não gosto que me chamem ‘viúva de’ porque ninguém me chamou ‘mulher de’ enquanto Saramago foi vivo. [...] Nunca fui a mulher de Saramago nem serei a viúva dele, por respeito a Saramago e a mim própria.”), Pilar del Río, cuja forma sintática geral “ser-X-de-Saramago” não pode sequer alcançar, não deixa de mostrar como a estatura de Saramago eclipsa um drama personalíssimo e ao mesmo tempo universal: o da mulher sem lugar no mundo. Pilar se constrói, nesta brilhante entrevista, como emblema da falta, dessa marca oca que ainda constitui para tantas mulheres cruz e calvário. Ou seria o oposto? Se Pilar reclama a certa altura a presença de Saramago como maldição incontornável, talvez interesse muito mais anotar como ela afirma a si mesma biográfica e politicamente. Num período vasto, atravessando uma História que vai do franquismo ao presente, Pilar faz atravessar uma segunda História junto com a primeira, por meio da qual precisamente a tríade Deus-Pátria-Família, sustentáculo das ditaduras ocidentais, são roídas por dentro em cada um de seus elementos. Filha mais velha de quinze irmãos, carregou a maldição de dividir com a mãe o cuidado com uma prole que não a sua. Maldição que forjou para si o benefício de uma maturidade prematura. Maldição cujo benefício a jornalista não rejeita – mas que tampouco lhe serve de bode expiatório para explicar a si mesma como mãe: “Fui uma má mãe, porque sempre pensei que seria a vida a educar o meu filho e não eu. Nunca pensei no que queria ser como mãe, tinha outras coisas que fazer”. Nas inúmeras linhas-de-fuga de sua biografia, Pilar dá a entender enfim porque não se pode entender sua relação com Saramago no modelo de família tradicionalmente aceito. Família, esta maldição ainda maior que a de Saramago, esbarra sempre na compreensão equivocada de ser-um, rejeitada de cara quando Pilar diz que “tinham de enfrentar Saramago e tinham de me enfrentar a mim. Cada um de nós é o produto de si próprio. Não somos nem do pai nem do filho. Somos o que queremos ser”. A afirmação de sua independência em relação a Saramago e à Pátria (espanhola ou portuguesa) convergem para evidenciar uma estratégia de existência de rara sagacidade e eloquência. Pilar, que parece se debater contra a constatação de que é uma personalidade sem lugar na memória portuguesa, mulher que também não encontra no pai e na ditadura de Franco qualquer possibilidade de negociação e convivência, tampouco construiu sua vida escapando da História que não lhe concedeu morada. É dessa falta de lugar, é nesse não-lugar, que ela escolhe jogar com todos os lugares delimitados para fazê-los estremecer. Dois vértices dessa convergência são exemplares. O primeiro, político, questiona a ideia de Pátria pela constatação do falseamento histórico-teológico da Espanha sob o regime de Franco, do qual a família participou como cúmplice ativo: “Em criança sabia que vivíamos num país criado por obra e graça de Deus. Sabia que Deus tinha criado Franco para fazer o país preferido dele”; “já o tinha aprendido em casa: Deus criou Franco e Espanha!”. E se Pilar adotou Portugal como seu país ao requerer cidadania portuguesa, o fez não por um sentimento de pertencimento nacional ou simbólico, mas tão somente para escolher a quem deveria pagar seus impostos – o que lhe permitiu, de acordo com ela mesma, adquirir reconhecimento jurídico para opinar sobre os rumos do país. (“Para mim, não existem países. Tenho semelhantes. O que é que herdei do franquismo? A repulsão pela bandeira.”) O segundo pilar da existência de Pilar, biográfico, expressou-se na opção pragmática pelo casamento religioso “para não dar um desgosto à minha mãe, que vivia uma guerra civil e não tinha de suportar as iras do meu pai. Porém, a palavra ‘família’ provoca-me fastio, repugna-me. [...] Fi-lo para não aumentar o conflito entre a minha mãe e o meu pai. Para mim, era igual, queria lá saber da religião. Casei-me pela Igreja porque a religião não me dizia nada. Era como pôr um vestido comprido para ir a uma festa social ou usar uma joia, tanto me fazia. Deus não significa nada para mim”. Casou-se não por convicção religiosa, mas por uma aguda sabedoria prática que compreende seus limites provisórios sem ceder passivamente a eles. Pilar aceita duas vezes as regras de um jogo que ela buscou subverter. Duas vezes, uma pela denúncia da hipocrisia política do nacionalismo, outra por um sentido prático de vida que transborda os limites da família, Pilar põe na mira um mesmo réu: Deus. Ainda que afirme que redescobriu um sentido de religião que preenche sua vida (religião como amor, caridade, partilha, solidariedade), Deus é a figura à qual Pilar não cede, mas de quem tampouco escapa: “Se há um Deus, ele vai perceber que tudo o que inventaram à sua volta é uma merda. Quero que haja um Deus para lhe pedir contas sobre o que fez aos seres humanos, às mulheres”. Quando chama Deus para Seu julgamento, o que ela faz adquire o mesmo sentido de sua relação com Saramago: não aniquilá-Lo, não fundi-Lo com seus pares para aliviar o peso sua singularidade; antes, afirmá-Lo no nível de sua própria existência, fazer com que Ele dê um relato, explique a responsabilidade que Lhe compete por aquilo que outros o incitaram a assumir como Sua obra. Trata-se de se negar a fugir de Deus, desejar que Ele exista para destituí-Lo de sua toga e fazer com se tome assento no banco dos julgados (e isso no momento em que a Ele competiria emitir juízo). Talvez seja o momento também de Portugal prestar contas a Pilar pela parte que lhe cabe na maldição de Saramago. Não simplesmente por tornar Saramago ainda mais insuperável do que de fato pode ser e será um dia. Mas por ainda não conferir a Pilar a dignidade na vida cultural portuguesa que lhe é merecida. Que o Prêmio Luso-Espanhol de Cultura que lhe será entregue em maio em ocasião de seu trabalho na Fundação Saramago faça mais que lhe dar um lugar na memória de Portugal: que ele saiba acolher esse não-lugar e todos os terremotos que a vida pública de Pilar del Río têm dado à cultura da Europa e do mundo. Assim como Pilar não escapa de Deus, talvez também Portugal não deva escapar dessa memória falha: somente afirmando a fragilidade de quem não tem lugar é que se pode exigir que se preste contas pelas faltas cometidas. Thiago Cazarim é bacharel em música e mestre em filosofia.