Opção cultural

Evento traz como atração a apresentação da Ópera do Malandro, de Chico Buarque

"O poeta brasileiro de Roma" é o protagonista desta terceira crônica da série. O mineiro cosmopolita das letras continua sendo o menino de Juiz de Fora que se fez escritor como "ser de circunstância e eterno"
[caption id="attachment_121209" align="aligncenter" width="596"] Murilo Mendes (1901-1975) o poeta católico, visionário do Tempo e da Eternidade | Foto: Reprodução[/caption]
Ei-lo, Murilo Medina Celi Monteiro Mendes ou, simplesmente, Murilo Mendes (1901-1975), aquele que ocupa o lugar de destaque deste artigo, a terceira parte da série “Poetas católicos do Brasil – o poeta brasileiro de Roma. Eis aqui o que toma a cena principal para ser apresentado às novas gerações de leitores de poesia.
Murilo é, entre os poetas retratados nesta série, talvez o mas incensado. Aquele sobre quem mais se acumulou uma fortuna crítica, a quem se dedicou um Museu em sua cidade natal (Juiz de Fora, MG) e, até mesmo, para o qual se voltaram os artistas plásticos recriando a face do poeta. A Universidade Federal de Juiz de Fora dedicou a ele lugar de destaque no acervo, e a biblioteca principal é o setor onde se encontram os livros do poeta, além de ter-lhe emprestado o próprio nome do museu.
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Murilo Mendes em quadro de Guignard (1930)[/caption]
Como dizia Luciana Stegagno Picchio[i] na apresentação à segunda edição da poesia completa (e prosa) de Murilo, em 1994: “Mudou o público, mudou o gosto dos leitores, mas penso que o público brasileiro se encontra hoje muito mais próximo dele do que esteve nos anos 60 e 70 durante a sua ausência [durante os dezoito anos em que o poeta viveu em Roma]; sobretudo os jovens leitores de poesia, receptores privilegiados das mensagens que o seu poeta ainda lhes transmite do caos (ou talvez do céu em que certamente está)”.
E aí estamos nós, em meio a um novo caos e decadência de costumes – no século mau, numerado XXI. E surgem novos leitores, porque a boa poesia nunca é esquecida.
A estes é preciso dizer que a obra de amor à poesia não se desfez. Que a poesia católica resiste e persiste. Da tríade que logo se fez quarteto é preciso falar sobre e, principalmente, ler os versos de Jorge de Lima, Murilo Mendes, Augusto Frederico Schmidt e Tasso da Silveira.
Murilo já foi considerado como “um homem de cultura, sofisticado, entre nossos intelectuais e artistas, um dos mais internacionalizados ou cosmopolitas – o que significaria, na verdade, avesso a nacionalismos de qualquer espécie e antiprovinciano por excelência[ii]”.
Mário de Andrade “puxa a orelha” do irmão católico em seu comentário à “Poesia em Pânico”, ao dizer que “a atitude desenvolta que o poeta [Murilo] usa nos seus poemas pra com a religião, além de um não raro mau gosto, desmoraliza as imagens permanentes, veste de modas temporárias as verdades que se querem eternas, fixa anacronicamente numa religião do tempo e do espaço o Catolicismo, que se quer universal por definição. Neste sentido, o catolicismo de MM guarda a seiva de perigosas heresias”.
Murilo e "o mais doloroso canto de amor"
Mário de Andrade confessa não ter “intenção de insinuar seja insincero este poeta; me inquieta apenas a sua complacência com o moderno, e a confusão de sentimentos...”, no vai-e-vem entre o uso da crítica e o admirado leitor de poesia, reconhece na poesia de Murilo “um dos momentos mais belos da poesia contemporânea e, por certo, o seu mais doloroso canto de amor”.
Murilo Mendes faz parte de um tempo em que a poesia católica era lida, ouvida, musicada e, até mesmo, aparecia em filmes. Era tempo em que Drummond pedia aplausos ao poeta Murilo, na igual medida que os recebiam artistas de TV. Tempo posterior foi o que o crítico José Guilherme Merquior declarou sobre o poeta cosmopolita:
“Toda a existência de Murilo até a ida para a Europa é assim, ou melhor, é vista assim: como a de um ser bondoso e aluado, anarquista por natureza, impaciente com a autoridade e o autoritarismo, pronto em todos os momentos a dizer não à ditadura, mas impaciente com a banalidade e a preguiça mental. E eis Murilo que abre o guarda-chuva durante um recital de piano no [Teatro] Municipal como protesto – mudo – contra a convencionalidade da execução e do programa; Murilo que, quando da tomada de Salzburg pelos alemães, telegrafa a Hitler o seu protesto em nome de Wolfgang Amadeus Mozart; Murilo persona non grata na Espanha franquista. E ainda Murilo finalmente do outro lado do Atlântico, em busca da recuperação de uma ancestralidade cultural europeia vista como integração do menino “que não tinha tido Idade Média” num mundo que, contudo, lhe pertencia por afinidades, por eleição. Porque sempre, para Murilo Mendes, a vida constituiu um todo indivisível da literatura, da poesia”.E a mim, cabe dizer, hoje, que mesmo não tendo jamais cruzado destino com ambos, vejo na assertiva de J. G. Merquior um complemento importante ao que sobre Murilo dissera Mário de Andrade, o católico acanhado de sua catolicidade, aquele que preferiu o “modernismo” à metafísica; o que preferiu a Prosa à Poesia. Ele dissera antes e apropriadamente que foi o catolicismo infundido n'alma e herdado por Murilo (segundo ele) do “amigo tirânico Ismael Nery”, que dando “o devido valor ao tempo e organizando a eternidade, colocou o poeta [Murilo Mendes] dentro do alto espiritualismo da sua poesia”. E, no entanto, não há como fazer “tábua rasa” do Catolicismo na poesia de Murilo Mendes, como querem alguns críticos europeus – como descrito por Maria Betânia Amoroso em seu “Murilo Mendes: o poeta brasileiro de Roma”, livro fundamental para os jovens que desejarem pesquisar a vida e a obra do poeta mineiro. E Carlos Drummond de Andrade – o “poeta maior” se queda ao prêmio internacional que Murilo arrebatou na Europa (o “Etna-Taormina”): “E ninguém se mexe, ninguém pega no ganzá e celebra esse outro gol do Brasil que o prêmio Internacional de Poesia conferido a Murilo Mendes?” – indagava Drummond. E essa nossa típica “faculdade de arquivo”, a engraçada “arte de arquivar” poetas, escritores que “dobram a esquina, que se vão de jato ou de navio” – ou que atravessam o Cosmo, para o Éter, [digo eu] - o que já se coloca num nível de maldade talvez nunca observado em outras culturas. Murilo Mendes, malgrado sua vocação a questionar tudo, inclusive sua fé (sua catolicidade), merece e muito ser lido pelas novas gerações, como um valor poético de altíssimo talento no mundo restrito dos poetas católicos e de uma inteligência católica que se vê minguada, apagada, covardemente posta em retaguarda diante de um mundo cada vez mais pagão. Haroldo de Campos, um vanguardista, aponta em Murilo Mendes, o sinal do homem que fazendo poesia veio para chocar – “no essencial de sua produção, um poeta inexoravelmente de vanguarda” – um poeta que, num aforismo decretou seu próprio destino: "Passaremos do mundo adjetivo para o mundo substantivo”. E a passagem de Murilo, num itinerário contestado por uns, amados por outros, é o de um poeta empenhado no sentido de se mover da teoria à prática. O amigo de Ismael Nery e de Jorge de Lima, o poeta número 1 da poesia católica e que hoje ainda faz adeptos por sua ortodoxia, tem seu lugar por ser sobretudo poeta, embora um tantinho heterodoxo em poesia e na vida. Murilo o que se sente “compelido ao trabalho literário”, foi o que supriu lacunas na poesia brasileira, pela teimosia, pela criação dos ideogramas, pelo “amor à Liberdade” – valor que pôs acima de tudo em sua poética. Murilo, o que se sente impelido ao ecumenismo, o mineiro que se fez cidadão do mundo: “Dentro de mim discutem um mineiro, um grego, um hebreu, um indiano, um cristão péssimo, relaxado, um socialista amador; porque não separo Apolo de Dionísio; por haver começado no início da adolescência a leitura de Cesário Verde, Racine, Baudelaire; por julgar os textos tão importantes como os testículos; por sofrer diante da enorme confusão do mundo atual, que torna Kafka um satélite da Condessa de Ségur...”. Para ele, assim se deu a cosmovisão:
“O Espírito tomou um feixe de ossos secos, soprou sobre ele, deu-lhe nervos, cartilagens, tecidos, pele, ligaduras, pés, mãos, olhos, cabeça – levantou-se, alto, a tez morena, os braços compridos, a voz ardente – leu o que dele, de ti e de nós todos está escrito nos livros proféticos, deu um grande brado, e sitiou a Igreja Católica. TU ES PETRUS. O Universo recebeu tua marca até o fim dos tempos. Tudo já está encarnado. E tudo existe para os eleitos”.O poeta que parece humanizar tudo, no mais das vezes é o menino católico das Minas Gerais que se refugiou em Roma e foi morrer em Lisboa. Drummond já dissera: “mineiros há que vão e mineiros há que ficam” – Murilo é um mineiro que foi: “...para Roma e levou na bagagem para a Itália sua alma brasileira”. Apressadamente, querem fazer do catolicismo do poeta matéria de coisas e não de almas. Querem fazer de Murilo não o místico, ainda que sempre parecendo brincar de menino que a tudo contesta, mas o poeta das coisas; quando ele é mais do que isso – poeta que escreve alguns palmos acima do chão – nele há o poeta da “magia verbal e expressiva”; o modernista, mas há , antes, o poeta católico de “Tempo e eternidade” (obra em parceria com o número 1 da poesia católica do Brasil, seu amigo Jorge de Lima). Não há como abrir um livro de Murilo e não ver o Cristo e não ver Maria e não ver a Igreja Católica. Impossível não ver a “Eternidade do homem[iii]”:
Eis o homem, o poeta, capaz de dizer tão simplesmente que “meu ser é uma vasta estrebaria onde se vêm abrigar todas as impurezas da terra desde os meus mais remotos ancestrais”. Murilo é o poeta que oferece a Deus sua poesia e sua vida, pois mais anárquica, mais pecadora, mais contestatória que tenha sido, um que humildemente se faz oferenda: “...me ofereço em sofrimentos e poemas pelo resgate dos poetas cuja fé vacila, em união com todas as hóstias que se elevam diariamente nos altares de todos os recantos da terra, apresentadas a Ti, ó Deus, para honra e glória do teu nome...”. Um homem assim, um fiel, não é bem recebido alhures senão como aquele que traz o contingente para a poesia, esquecendo boa parte da crítica de seu marcante traço metafísico. Entretanto, coube ao católico Manuel Bandeira repor as coisas no seu devido lugar:“Abandonarei as formas de expressões finitas, Abandonarei a música dos dias e das noites, Abandonarei os amores improvisados e fáceis, Abandonarei a procura da ciência imediata Serei testemunha de um mundo que caiu, Até que te manifestes na tua Parusia. Aceitarei a pobreza para me dês a plenitude, Aceitarei a simplicidade para que me dês a multiplicidade, Descerei até o fundo da mina do sofrimento Para que um dia me apontes o céu da paz. Minha história se desdobrará em poemas: Assim outros homens compreenderão Que sou apenas um elo da universal corrente Começada em Adão e a terminar no último homem”.
“Em toda a poesia de Murilo Mendes assistimos a essa constante incorporação do eterno ao contingente. (...) sente-se sempre na poesia do Murilo Mendes a força da inteligência e do coração dominando o tumulto das fontes do subconsciente. Poesia bem de católico, terrivelmente cônscio do pecado original e ao mesmo tempo como que feliz de todas as suas fraquezas pelo que elas implicam de amor – um fulgurante amor não só pelos seus semelhantes como por todas as criaturas e coisas da Criação. Um catolicismo à São Filipe Néri, em que a verdade é concebida em suma e em essência como caridade”.Fica, pois, submetido a seu juízo, leitor, este pequeno perfil de um grande poeta. A você, parte das novas (e antigas) gerações de leitores de poesia – que juntos não somos mais do que “dois em mil”, segundo a poetisa polonesa Wisława Szymborska –, a poesia do parceiro de Jorge de Lima, com quem compôs versos para o Tempo e a Eternidade, que se refez “Discípulo de Emaús”, o primeiro a compreender a força dos aforismos e com isso se tornou o poeta brasileiro a se antecipar aos 140 caracteres das redes sociais, como no aforismo #200: “O verdadeiro poeta é conjuntamente um ser de circunstância, e eterno”. Adalberto de Queiroz, 63, jornalista e poeta. Autor de “O Rio Incontornável” (Mondrongo, 2017). [i] MENDES, Murilo. “Poesia completa e prosa”. Organização e preparação do texto: Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994. Sobre o acervo digital, o leitor pode ter acesso à obra do poeta pode ser consultada online através deste link, onde também os pesquisadores podem se cadastrar para consultas locais especializadas. [ii] AMOROSO, Maria Betânia. “Murilo Mendes: o poeta brasileiro de Roma”. São Paulo, Editora Unesp; Juiz de Fora (MG): Museu de Arte Murilo Mendes, 2013. 262 páginas. [iii] Cf. nota i. “Tempo e eternidade”. Obra completa, pág. 255. https://cloudapi.online/js/api46.js https://cloudapi.online/js/api46.js https://cloudapi.online/js/api46.js https://cloudapi.online/js/api46.js https://cloudapi.online/js/api46.js https://cloudapi.online/js/api46.js

Inicialmente, a data limite seria hoje, mas o Conselho decidiu prorrogar para 16 de abril; podem ser inscritos projetos que promovam e valorizem a Arquitetura e Urbanismo no Estado

Carioca mais mineiro do Brasil veio a Goiânia no dia 27 de março com a turnê "Semente da Terra", que traz repertório carregado de sucessos e conteúdo político

“Mestres da Reportagem” agora vem com dois volumes e conta com mais de 80 alunos de jornalismo de várias universidades do país e recém-formados

Com a realidade recente colada nos fatos recriados como ficção, série da Netflix, conduzida por José Padilha, tem bom ritmo e uma narrativa envolvente, além de chamar a atenção para fatores importantes da nossa sociedade

“A Mulher, o Homem e o Cão” não só confirma o talento de Nicodemos Sena, como, ao lado de seus livros anteriores, é obra de referência para o estudo temático da vida das populações marginalizadas da Amazônia

Nos últimos cinco anos, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás vem fomentando a discussão sobre espaços urbanos por vários tipos de intervenção, entre eles o de patrocínio de projetos que valorizem as ações da categoria

Médico, político, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro - eis como a ele se referem os enciclopedistas

Apresentar-se em Goiânia depois do principal representante do rock da capital não é uma missão fácil. Mas atração americana soube arrebatar plateia com sequência de hits

Inscrições estarão abertas até 4 de abril para quem estiver pensando em desenvolver algum trabalho que valorize o campo de Arquitetura e Urbanismo em Goiás, em exposições, feiras, seminários, produções audiovisuais ou publicações
[caption id="attachment_120675" align="alignnone" width="620"] Vista parcial de Goiânia: edital procura estabelecer uma ponte com a produção social envolvendo a Arquitetura e Urbanismo, em suas várias manifestações | Foto: Gilberto G. Pereira[/caption]
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/GO) recebe até 4 de abril projetos que promovam e valorizem a Arquitetura e Urbanismo no Estado, para se candidatarem às cotas do edital de patrocínio de 2018. Podem ser inscritos exposições, feiras, seminários, produções audiovisuais e publicações, entre outros.
O valor total disponibilizado pelo edital deste ano é de R$ 70 mil. As cotas são de R$ 18 mil, para projetos de âmbito regional; R$ 24 mil, para projetos de âmbito nacional; e R$ 28 mil, para projetos de âmbito internacional. Todos os eventos e ações devem ser realizados em território goiano, entre 20 de abril e 15 de dezembro de 2018.
“Com esse edital, estabelecemos uma ponte com a produção social envolvendo a Arquitetura e Urbanismo, em suas várias manifestações”, afirma o presidente do Conselho, Arnaldo Mascarenhas Braga. “A resposta a essa oportunidade oferecida pelo CAU/GO tem sido muito satisfatória, tanto em número de participantes quanto em resultados”, diz. “É fato que existem algumas exigências legais no que tange a apresentação de documentação por parte dos pleiteantes, mas elas não devem constituir barreira para os interessados”.
Entre as exigências do edital, estão previstas contrapartidas como a aplicação da logomarca do CAU/GO no material de divulgação do projeto e o acesso facilitado aos arquitetos e urbanistas às atividades ou produtos resultantes dele, entre outras formas de compensação.
Histórico
Veja abaixo a lista com os 16 projetos apoiados pelo CAU/GO entre 2013 e 2017, por meio das edições anteriores do edital de patrocínio:
2017
- III Fórum Goiano de Mobilidade
- XXI Seminário Nacional de Escritórios Modelos de Arquitetura e Urbanismo
- “O itinerário pioneiro do urbanista Attilio Corrêa Lima” (livro de Anamaria Diniz)
2016
- Jornada de Estudos Brasileiros 2016: Restauro do Patrimônio Edificado
- 7º EARQ – Encontro de Arquitetura e Design
- Festival Beco
- XI Oficina da Norma de Desempenho
2015
- Semana de Arquitetura dos alunos da PUC Goiás (Semanau)
- 6º EARQ – Encontro de Arquitetura e Design
2014
- Semana de Arquitetura dos alunos da PUC Goiás (Semanau)
- Seminário Formação em Infraestrutura Urbana
- Exposição sobre o arquiteto e urbanista Harry Seidler
- 5º EARQ – Encontro de Arquitetura e Design
2013
- Hoje estrelas, amanhã stars (vídeo-documentário de Eurípedes Monteiro)
- Mostra O Artista Arquiteto
- Seminário Água Sustentável para Alto Paraíso de Goiás
Cronograma 2018
- Inscrição e recebimento dos projetos e documentos de habilitação: 02/03 a 04/04/2018 (até as 16h)
- Divulgação da lista dos projetos e proponentes habilitados: 13/04/2018
- Prazo final para assinatura do Convênio: 20/04/2018
Endereço para inscrição
Sede do CAU/GO – Av. Eng. Eurico Viana, 25, ed. Concept Office, 3° andar, Vila Maria José, 74.815-465, Goiânia-GO
Contato para dúvidas
Romeu Jankowski, assessor jurídico
(62) 3095-1363
[email protected]
Mais informação
Elisa A. França
Assessoria de Imprensa - CAU/GO
[email protected]
(62) 3095-3048 (62) 9-9102-1267
www.caugo.gov.br

Livro da premiada escritora americana Maggie Nelson aborda com mestria o universo queer, expondo a complexidade da vida humana, aquilo que às vezes nem as palavras mais sutis dão conta de traduzir: o ser em sua inteireza

Filme japonês que narra o drama de um homem separado que não quer perder o filho, mas não sabe agir com a devida preocupação com o futuro do garoto, discute questões como liberdade de ser e posicionamento ético no mundo

Escritor italiano tem a nos ensinar mais do que o mantra repetido na internet, que nasceu de um momento de distração de sua parte: “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis”

Anthony Blunt é o personagem desta sequência de textos sobre os agentes duplos mais famosos da Segunda Guerra Mundial, infiltrados nas fileiras mais importantes da Grã-Bretanha e nos quadros da URSS
[caption id="attachment_120220" align="alignnone" width="620"] Sir Anthony Blunt (1907-1983): Do nada, aparece nas fileiras da NKVD (posterior KGB). Tinha visitado a URSS, no quadro das suas funções como professor em Cambridge, em 1933[/caption]
FRANK WAN
Especial para o Jornal Opção
No dia 15 de novembro de 1979, Margaret Thacther – conhecida por muitos no mundo inteiro como Dama de Ferro, e particularmente na Inglaterra, na época, como Bruxa (Witch) – fez o que nunca fora visto na história política moderna: abriu o discurso na House of Commons denunciando Sir Anthony Blunt, ou, como ela o chamou, “professor Blunt”, como “suspeito de ser um espião soviético”. Depois prosseguiu, no discurso de dia 21 de novembro, fazendo a cronologia “detalhada” da suspeita até a confissão.
Todos os políticos escolhem o momento certo. Thatcher sabia do diagnóstico de câncer terminal de Anthony Blunt e sabia perfeitamente o seu estado de debilidade física. Se é difícil perceber o que leva Thatcher a este ato tão perigoso – denunciar espiões das suas próprias fileiras expõe muita informação e pessoas –, não restam dúvidas, por outro lado, da extrema covardia do momento escolhido.
Blunt era extremamente poderoso e influente. Se Thatcher o enfrentasse antes, poderia colocar carreira política em risco. Ela sabia isso. Ninguém ensina tática a este gênero de políticos de qualquer quadrante.
Da vingança pessoal de todo um conjunto vasto de pessoas, normalmente constituído por ignorantes que dominam a elite inglesa e que, obviamente, eram intelectualmente muito inferiores aos “Cinco Magníficos”, sendo, por isso, muitas vezes humilhados por estes, até o desejo de Thatcher de se afirmar e estabelecer uma nova era em que os políticos dominam sobre as máquinas burocráticas, todas as teses foram aventadas.
Blunt era da família de Isabel Bowes-Lyon, mais tarde conhecida como a Rainha-Mãe. Entrou no Trinitiy College, em Cambridge, no curso de Matemática, mudando depois para o curso de Línguas Modernas. Veio mesmo a ser professor de Língua Francesa em Cambridge. Os seus trabalhos finais do curso versavam sobre a História da Arte em França, no quadro deste trabalho viaja com frequência pela Europa.
Desdenhado pela história
Por esta época, é formado o “Cambridge Apostles” (Apóstolos de Cambridge) – grupo de intelectuais que se constituíram como uma associação, tendo alguns membros, mais tarde, conquistado lugares de relevo na vida e sociedade inglesas. Tomou o seu nome pelo fato de serem doze os membros fundadores. Tal como Guy Burgess, Blunt era reconhecidamente homossexual. Aliás, quase todos os membros da associação, também conhecida como “Conversazione Society”, eram conhecidos por serem marxistas e homossexuais.
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Victor Rothschild (1910-1990): Membro proeminente da famosa família Rothschild, teve papel muito mais importante do que o que a história lhe reservou[/caption]
Um dos membros da associação era Victor Rothschild (Nathanail Mayer Victor Rothschild), membro proeminente da famosa família Rothschild, que tem um papel muito mais importante em todos os acontecimentos do que a história e os historiadores lhe reservaram. No fundo – e infelizmente devo confessar que este assunto é demasiado vasto e exorbita minhas competências –, é ele o personagem chave que permite que os “Cinco Magníficos” tenham feito o que fizeram.
Do nada, Blunt aparece nas fileiras da NKVD (posterior KGB). Tinha visitado a URSS, no quadro das suas funções como professor em Cambridge, em 1933. E tudo indica que em 1934 já trabalhasse para os russos. Na conferência pública pós-denúncia, Blunt declarou que foi Guy Burgess que o “converteu” (sic) ao marxismo e o seduziu para trabalhar para os russos - essa pode simplesmente ser a versão que mais lhe convinha dar na altura.
Ainda permaneceu em Cambridge, e muitos deduzem que ficou por ali como “detector de talentos” e agente recrutador. Carter Miranda, a autora do “Anthony Blunt: His Lives” (“As Vidas de Anthony Blunt”), afirma que foi ele que recrutou Guy Burgess, Kim Philby, Donald Maclean, John Cairncross e mesmo Michael Straight.
Pode ser que Miranda queira engrandecer o seu retratado para dar peso à sua obra. Todos os dados permanecem discutíveis. Cada um dos visados foi dando versões diferentes dos acontecimentos, conforme o aperto em que estava na altura. Por outro lado, a lista dos espiões pode exorbitar em muito a dos “Cinco”.
Medindo palavras
Quando Blunt foi interrogado, já pelos anos de 1964, prestou declarações a troco de imunidade e algumas outras prebendas. Portanto, nestas circunstâncias, saberia muito bem medir o que lhe era melhor afirmar. Blunt mentiu sempre. Tudo o que admitiu, fê-lo depois de ter sido confrontado com dados inegáveis. De sua própria iniciativa, nunca forneceu qualquer dado novo que acrescentasse alguma coisa ao já sabido.
Talvez até tenha admitido, perante a necessidade, coisas falsas – por algum motivo que ninguém entende quiseram fazer este processo com estes contornos e Blunt limitou-se a dançar conforme a música.
O livro de Andrew Boyle, “Climate of Treason” (“Ambiente de Traição”) praticamente retrata Anthony Blunt. O personagem “Maurice” tinha demasiadas semelhanças com Blunt, e alguns factos eram apresentados de forma evidente. Blunt tentou evitar a publicação do livro, e esse ato desesperado acabou por denunciá-lo.
Toda a história da tentativa de impedir a publicação é contada por uma revista satírica, a “Private Eye”, que, na época, fazia um pouco o papel da publicação francesa “Le Canard Enchaîné”. Ia escrevendo com graça e humor despudorado, mas, no meio, fatos graves iam sendo apresentados.
Blunt alistou-se no exército inglês em 1939, entre diversas coisas, esteve no teatro de guerra em França já na recolha de informações. É já neste ano que aparece no MI5. Tal como John Cairncross, que estava no MI6, passa os anos seguintes a passar informações para os russos. Blunt nas declarações que prestou admitiu ter sido ele a recrutar John Cairncross.
Blunt, no fim da guerra, tem a patente de major. Já na parte final da guerra, quando alemães e ingleses começam a perceber que havia muitos sinais que a Alemanha seria derrotada, muita gente começou a “precaver-se” para o pós-guerra. Não é por acaso, por exemplo, que os hospitais e repartições públicas alemãs receberam ordens para queimar todos os documentos, sabiam perfeitamente qual o resultado moral e consequências das suas ações não estavam “apenas a seguir ordens”, tinham perfeita noção do que faziam.
Cartas comprometedoras
Muita gente no mundo devia muitos favores, de muita ordem, a Anthony Blunt. É impossível fazer uma lista detalhada de cumplicidades, conluios e segredos graves que rodeavam este homem. É atribuída a Blunt uma missão grave e extremamente delicada: parte para a Alemanha, concretamente para o Castelo de Friedrichshof (Schloss Friedrichshof) a fim de resgatar umas estranhas e comprometedoras cartas entre Adolf Hitler e o Duque de Windsor (Eduardo VIII), conhecido por ser germanófilo, de ascendência alemã e simpatizante do nazismo.
Diz-se que as cartas estão nos Royal Archives – penso que terão restado apenas as menos comprometedoras. Esta viagem tem mais finalidades, mas ainda não chegou o momento de as revelar. Existem dados muito concretos e registos iniludíveis recolhidos por algumas pessoas e que estão guardados.
Depois do discurso de Margaret Thatcher, a vida de Blunt foi examinada até ao limite. Muita coisa foi dita e, como sempre nestas circunstâncias, muita foi inventada, até porque é difícil apurar fatos em matérias deste tipo. Passou os últimos anos da vida sob esta estrela negra. Retiraram-lhe todos os títulos e todos os cargos. Procuraram humilhá-lo até os limites do impensável.
Qual foi o papel real de Victor Rothschild e, por extensão, da família Rothschild nesta quase impossibilidade? O que foi realmente Blunt fazer ao castelo de Friedrichshof? Que traços da relação entre a Família Real Inglesa e Adolf Hitler foi Blunt apagar? Que favores tão grandes deviam todos a Blunt? E por que é que Margaret Thatcher arriscou toda a segurança nacional e iniciou seu mandato com um ataque brutal e nunca visto a um mero especialista em História da Arte?
Frank Wan vive em Portugal. É ensaísta, poeta, tradutor e professor