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Acho difícil acreditar que exista um morador do Parque Amazônia, Nova Suíça ou Setor Bueno que não tenha ouvido o chamado característico do Seu Jorcelin
“Condomínio fechado é uma agressão à cidade”
PAULO GOMES MACHADO JÚNIOR Apesar de morar em condomínio — obviamente que de classe bem mais baixa que este da matéria, não me orgulho, aliás me envergonho disso. É um retrato de um país atrasado, desigual, elitista. E olha que sou de opinião bem oposta a muitos da esquerda, mas condomínio fechado é uma agressão à cidade. Pegam um terreno, cercam-no e cria-se um oásis para que meia dúzia de endinheirados possam usufruir. E graças à falta de segurança pública, muitas vezes as famílias ficam “reféns” dos condomínios. Ou seja, é um processo que tende a piorar. Triste, mas é a realidade. O que aconteceu no Alphaville é ridículo, esdrúxulo, estapafúrdio, vergonhoso. O trabalhador doméstico, seja homem ou mulher, ainda sofre com as características coloniais de um país atrasado e, muitas vezes, da própria lei. [“Revista em empregados domésticos causa revolta em moradora de condomínio fechado”, Jornal Opção Online] Paulo Gomes Machado Júnior é funcionário público.“Um livro difícil de encarar”
JADSON BARROS NEVES Li livro uns três anos atrás. Confesso que passei mal. Em julho do ano passado, passei por Porto Franco, e me lembrei de toda a história. Há certas cenas no livro que nem médico de IML consegue encarar. É um livro difícil de encarar, pois vai fundo em certas vivências do ser humano.[“O pistoleiro brasileiro que matou 492 pessoas e não foi preso pela polícia e condenado pela Justiça”, Jornal Opção 2051, coluna “Imprensa”] Jadson Barros Neves é escritor.“Cuidado e atenção ao retratar nosso hospital”
PAULO CÉSAR VEIGA JARDIM Li a matéria “Atendimento humanizado com mais recursos tecnológicos em sede nova” em versão impressa do Jornal Opção (edição 2132) e também, por meio de link, na internet. Agradeço imensamente o cuidado e a atenção do jornalista Cezar Santos em retratar nosso hospital. Achei a matéria excelente, não obstante meu conflito de interesse. Minhas saudações ao repórter e também ao fotógrafo Renan Accioly, cujas fotos ficaram excelentes. Paulo César Veiga Jardim é cardiologista.“O Brasil não consegue ficar mais de 30 anos sem um golpe”
RICARDO REIS A receita dos golpes no Brasil quase sempre teve e tem os mesmos ingredientes: insatisfação popular; um caso de corrupção bem escabroso amplificado e turbinado pela mídia familiar e seus interesses oligárquicos; autoridades, juízes, promotores e policiais alçados à categoria de semideuses; grupelhos fascistoides insuflando a população contra o “comunismo”, “Cuba”, a política e contra “tudo isso que está aí”, seja lá o que isso signifique. Sobre essa mistura aplica-se o glacê golpista-parlamentar e/ou militar e enfeita-se a coisa com alguma cereja jurídica de ocasião para dar uma tosca aparência de legalidade e está pronto mais um golpe contra a democracia, com o incondicional beneplácito da elite autocrática brasileira. Mesmo conservadores, como o jurista Cláudio Lembo, admitem que agora, na América Latina, o impeachment tornou-se uma versão light para golpes e uma alternativa menos sinistra do que o golpe militar — mas, ainda sim, golpe. O Brasil, assim como países do Oriente Médio e da África, não consegue ficar mais de 30 anos sem um golpe de Estado. O dano à imagem do País é irremediável e em todos os cantos do planeta a imprensa estrangeira fez da cobertura da crise brasileira um show de bizarrice e humor com âncoras fazendo piadas sobre as patetices de um Congresso corrupto depondo uma presidente honesta, dando tom e clima burlesco à farsa. O golpe contra si próprio, um país continental e uma grande economia antes vista como promissora, assusta o mundo civilizado. Ricardo Reis é consultor.“É provável é que Delegado Waldir tire Iris do 2° turno”
GILBERTO MARINHO Em relação ao Editorial “Iris Rezende e Waldir Soares podem ficar fora do 2º turno na disputa pela Prefeitura de Goiânia?” (Jornal Opção 2131), tenho a dizer que, como a campanha eleitoral ainda não começou só é possível cogitar, pois não há dados para uma abordagem mais científica. Mas ressalto que há algo de premonitório na pergunta, pois se há alguém que tira votos de Iris Rezende (PMDB) é justamente Delegado Waldir (PR). Assim, o mais provável é que o delegado tire Iris do 2° turno, repetindo, assim, o que fez com Dona Iris (PMDB) na eleição para deputado federal, pois parcela considerável dos eleitores do casal Iris é da população de baixa renda, mais sensível ao discurso e às práticas populistas. Gilberto Marinho é jornalista.
A morte de um terrorista expõe as ligações perigosas entre o Irã e a administração de Barack Obama
Quando eu for presidente do mundo, meu primeiro ato será colocar aquilo tudo abaixo. E que se dane quem achar ruim.
VALÉRIA RAMOS Quero reclamar da falta de estrutura dos ônibus do Eixo Anhanguera, que é minha linha de uso diário. Minha lamentação, além daquela que já faço em relação aos governantes, é em especial pela falta de educação das pessoas que usam esse meio de transporte. Por toda a concepção do sistema, é compreensível em alguns momentos a selvageria que existe nas plataformas na hora de entrar em uma condução dessas e que, no momento de ir para casa, todos querem embarcar ao mesmo tempo. Mas, esses dias, fiquei me perguntando se em algum momento da vida alguém pensou ou pensa em agir diferente. Em ter um pouco mais de paciência, em ser um pouco mais delicado, em ser um pouco mais solidário. Na segunda-feira, 9, como sempre, me levantei às 5 horas da matina para me ajeitar e tomar o Eixo por volta de 6h15. Mas havia certa mudança na viagem. Meu pai, que nasceu no dia 8 de setembro de 1942 – no dia da Natividade de Nossa Senhora —, um senhor de quase 74 anos, estava comigo. Coitado, experimentou o gosto amargo de viajar de Eixo! E que gosto amargo, para mim e para ele. Às 6h23 entramos. Meu pai sentou-se? Adivinhem: não! Por um milagre, o ônibus não estava daquela forma em que não se consegue nem respirar; estava até com certo espaço a mais. Deu para ficar em pé a viagem toda sem muitos empurrões. Porém, para o meu pai, que mora numa pacata cidade de 30 mil habitantes, foi simplesmente o fim da vida entrar naquele ônibus. Para ele, a quantidade de pessoas era absurda. E inúmeras vezes reclamou: “Deus me livre, como você aguenta?”. Eu respondi: “Nem, eu não aguento isso não!”. Ele retrucou: “Valéria, é a última vez que venho aqui para fazer essa manutenção (referindo-se à manutenção no aparelho do ouvido, pois com a idade ele perdeu quase toda a audição e a cada 6 meses precisa vir a Goiânia fazer ajustes), não volto mais de jeito nenhum! Deus me livre, como você consegue vir cinco dias por semana neste ônibus?” A cada reclamação do meu pai, meu coração cortava. E eu tentava consolá-lo dizendo: “Papai, hoje está bom: nem tem empurrões, eu sempre venho espremida.” Mas isso não amenizou em nada a situação. Com sérios problemas de coluna e dores no joelho, ele não aguenta ficar muito tempo de pé, tampouco caminhar muito. No entanto, todos viram seus cabelos brancos, seu rosto já conta a idade que tem. Mas ninguém, ninguém mesmo, se ofereceu para se levantar e ceder-lhe o assento. E nós também não pedimos. Fomos educados de forma diferente: se virmos alguém que precise se ajuda, não esperamos que nos peça; com isso, também não aprendemos a pedir. Somos do tipo que acha que a pessoa precisa ter “desconfiômetro”. Infelizmente, a maioria não é assim. Eu me senti triste, magoada, impotente. Ainda mais neste momento de crise, essa sensação de impotência é ainda maior. Quando eu olhava para o rosto do meu pai a fazer caretas de dor, eu pensava: meu Deus, quanta falta faz um carro! Não é justo que meu pai, depois de tanto trabalho que teve na vida, não possa ser conduzido com o mínimo de conforto a uma clínica para cuidar da sua saúde. Não é justo meu pai ter tido que levantar às 5 horas para sair comigo. Mas eu não tive alternativa: ou o levava comigo ou o levava comigo. A consulta era às 15 horas, mas como ir para Goiânia trabalhar de manhã e voltar para busca-lo? E, de todo jeito, o buscaria de ônibus. Então, o jeito foi pular da cama cedo. Com relação à atitude das pessoas, penso que estamos precisando rever certos conceitos. No ônibus de hoje, havia muitas pessoas jovens – sentadas nos bancos destinados aos idosos, inclusive. Entre os que tinham direito, não era só o meu pai que estava em pé. É triste isso. Como nossas crianças e jovens estão sendo educados? Ninguém mais ensina a eles que é preciso ser solidário e respeitoso de vez em quando? Dormindo sentados estavam, dormindo sentados permaneceram. E só no terminal do Dergo meu pai conseguiu uma vaga. Na praça A, trocamos de ônibus. E querem ouvir uma novidade? Contarei: é claro que meu pai não se sentou, o que só ocorreu ao chegar à plataforma da Avenida Goiás. Mas no próximo ponto já desceríamos. Mesmo assim, ele disse: “Já serve, não estou aguentando de dor nas pernas e nas costas, qualquer tanto que eu me sentar está bom!”. Tive vontade de desaparecer do mapa naquele momento. Ver meu pai se conformar de se sentar por um segundo foi dolorido demais. Mas, fazer o quê? É a triste realidade do nosso transporte público, que não prioriza nada. É a triste realidade da educação que está sendo dada aos novos. Paciência. Valéria Ramos é secretária.
“Temos de respeitar quem pensa diferente da gente”
ADRIANA ACCORSI
Minha gratidão ao jornalista Euler de França Belém pela gentileza em momento tão difícil. Suas ponderações nos chamam a atenção para o ódio e a intolerância que estão permeando as relações, sobretudo nas redes sociais. Todos nós temos de combater esse ódio e respeitar quem pensa diferente da gente. Muito obrigada, em nome de minha família. [“Desejar a morte da deputada Adriana Accorsi mostra o nível do debate ‘político’ nas redes sociais”, Jornal Opção 2131, coluna “Imprensa”]
Adriana Accorsi (PT) é deputada estadual.
“É provável é que Delegado Waldir tire Iris do 2° turno”
GILBERTO MARINHO Em relação ao Editorial “Iris Rezende e Waldir Soares podem ficar fora do 2º turno na disputa pela Prefeitura de Goiânia?” (Jornal Opção 2131), tenho a dizer que, como a campanha eleitoral ainda não começou só é possível cogitar, pois não há dados para uma abordagem mais científica. Mas ressalto que há algo de premonitório na pergunta, pois se há alguém que tira votos de Iris Rezende (PMDB) é justamente Delegado Waldir (PR). Assim, o mais provável é que o delegado tire Iris do 2° turno, repetindo, assim, o que fez com Dona Iris (PMDB) na eleição para deputado federal, pois parcela considerável dos eleitores do casal Iris é da população de baixa renda, mais sensível ao discurso e às práticas populistas. Gilberto Marinho é jornalista.
Correspondência entre os dois gênios judeus do século 20 revela que o físico e o psicanalista eram amigos e não entendiam suas respectivas profissões. Mas concordavam em um ponto: nas qualidades de Moisés

O restabelecimento da normalidade no país só será possível com a interferência do russo Vladimir Putin
[caption id="attachment_65285" align="alignright" width="620"] Família síria corre para se esconder no meio dos escombros de edifícios destruídos na sequência de um ataque aéreo relatado em Aleppo, em 29 de abril[/caption]
O enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, nasceu na Itália mas foi criado na Suíça. A família dele tem tradição na área diplomática. Mistura seguiu os passos dos pais e construiu uma sólida carreira diplomática, que completa 40 anos em 2016. Staffan herdou a paciência dos suíços e a simpatia sincera dos italianos. E é justamente isso que talvez expliquea determinação do enviado da ONU a continuar, firme, numa missão impossível: manter o cessar-fogo na Síria.
Nos últimos meses, os esforços diplomáticos que vêm ocorrendo em Genebra, onde discute-se a questão Síria, pouco avançou. O acordo foi assinado em fevereiro, e desde então continua sendo apenas um papel assinado.
A morte de centenas de soldados e rebeldes em batalhas como a de Aleppo nas últimas semanas, o bombardeio aéreo da cidade já devastada, a destruição completa de três hospitais, além do cerco por tropas governamentais fizeram da segunda maior cidade da Síria um lugar fantasma, onde, segundo testemunhas, os últimos moradores se escondem no esgoto e comem ratos para sobreviver.
Quando o Hospital Quds foi bombardeado por caças russos ou do próprio regime, 50 pessoas entre pacientes, visitantes, médico e enfermeiros morreram na hora. Outros 80 ficaram feridos. O último pediatra da cidade, Mohamad Moaz, estava entre as vítimas mortas. Naquele dia, ele havia decidido dormir no hospital por causa do grande número de crianças e bebês feridos em outros combates. Morreu com eles. Nos últimos cinco anos, segundo a Organização Médicos Sem Fronteira, 730 profissionais de saúde morreram na guerra civil. Ataques deliberados contra hospitais, clínicas, escolas e mesquitas viraram regra na batalha por Aleppo. Um dia antes do Hospital Quds ser atingido, o setor de emergência de um outro centro médico que trata mais de 2.000 pessoas por dia também foi destruído num ataque. Um dos poucos médicos que ainda restam na cidade disse recentemente numa rede social que o nível de destruição é tão devastador que não há mais nada em Alepo além de ruínas. “É dificil descrever como é viver por aqui. Esperamos pela morte”, disse o médico. Em outro momento ele conta que “os bombardeios são tão ferozes que até mesmo as pedras estão pegando fogo”.
E desabafa: “Cada vez que um avião sobrevoa nossas cabeças sabemos que a morte é o nosso destino. Os alvos não são os rebeldes que estão lutando, mas os civis. Nos sentimos abandonados e sozinhos”.
Depoimentos como esse deveriam acelerar qualquer tentativa de solução para a guerra na Síria. Mas, em Genebra, as negociações andam a passos lentos e ninguém consegue achar uma saída. Há tempos que a chave para resolver a crise está guardada numa gaveta na mesa de Vladimir Putin. Só ele tem poder suficiente para pressionar o ditador Bashar al-Assad a estabilizar o acordo de cessar-fogo. Staffan de Mistura soube que só haverá paz na Síria se o russo interferir. E ao que parece está disposto a continuar o jogo duplo e permitir que Assad toque a carnificina à vontade.

ARNALDO B. S. NETO Vejo muita gente reclamando da qualidade dos nossos deputados. Então, jovens, vamos fazer um pequeno exercício de imaginação e de realismo político. Dois deputados, João e Manuel, se elegem no mesmo ano. João é íntegro e cheio de ideias. Manuel, nem tanto. João permanece crítico ao governo, independente, aferrado às suas convicções. Manuel aproveita cada votação para barganhar cargos, liberação de emendas, ajuda para a campanha, proximidade com o poder, trânsito para resolver problemas de seus eleitores e apoiadores. Manuel até troca de partido para continuar apoiando o governo da vez e mantendo o acesso aos benefícios que a proximidade do poder proporciona. Se não está com o poder federal, Manuel está com o estadual, mas certamente está próximo ao poder, a qualquer poder. Não interessa muito, pois tanto União quanto Estados possuem muitos mecanismos legais de cooptação de deputados. Aderir a um governo estadual, por exemplo, e votar de forma canina a favor do governador, renderá a possibilidade de nomear dezenas de cargos comissionados. João e Manuel vão disputar as próximas eleições. João, dom quixote solitário, vai na cara e na coragem, pegando empréstimo para pagar despesas de campanha. Manuel “nomeou” sessenta comissionados, logo terá sessenta cabos eleitorais. Sua lista de clientes e pessoas que lhe devem favores enche um caderno. Um terá suas ideias e sua integridade. O outro terá dinheiro, cabos eleitorais, favores que poderá cobrar, emendas que liberou e que serão lembradas aos eleitores da sua clientela. Quem vocês acham que terá mais chances de se eleger? Se você teve paciência de ler as linhas acima, vai entender que nosso atual Parlamento é fruto de um largo processo de involução. Quanto mais venal é um deputado, quanto mais aberto for para negociar, mais chances teve e terá de se manter no jogo. Isto vale para todos? Certamente que não. Existem exceções. Mas vale para uma boa parte. No atual momento viram que o Executivo que os alimentou e estimulou por três décadas (todos os governantes da redemocratização agiram assim, sem exceção) está ocupado por uma presidente fraca. Não vai poder dar a eles o combustível de que precisam. Também se assustaram com as manifestações e com a rejeição da opinião pública. Não tiveram dúvidas de votar pelo impedimento. A vida é assim. Você colhe o que planta. Apoiar este sistema de milhares de cargos comissionados de livre nomeação, esta miríade de empresas estatais (são mais de 100 na esfera federal), o sistema de compra de apoios com emendas parlamentares, tudo isso para depois querer um Parlamento mais qualificado? Eu acho um contrassenso. Você quer a quadratura do círculo. Você colhe o que você planta. O presidencialismo de coalizão que temos é isso aí: você vota para deputado em qualquer um. O voto decisivo vai ser para presidente, não é? Em seguida temos um Congresso sem nenhuma responsabilidade com a governabilidade. Um Congresso que está ali apenas para negociar as vantagens que farão seus membros novamente serem reeleitos. Este Parlamento que está aí é fruto de décadas de cooptação pelo Executivo. Funcionou muito bem enquanto o chefe de governo tinha carisma e força política. E desmoronou na primeira onda de impopularidade de uma governante. Você acha que isso se resolve apenas com financiamento público? Ok. Então refaça o exemplo acima, com o João e o Manuel e ponha na equação que os mesmos receberão a mesma quantia de financiamento público. Mesmo assim, diante dos outros fatores, quem terá mais chances de se reeleger? A equação continuará igual. Manuel terá todas as vantagens. E, a cada eleição, mais e mais membros do “baixo clero” estarão dominando o jogo. Isto é Darwin, amigos. O cara que mostrou que seleção tem a ver com adaptação. E adaptação não quer dizer que ocorreu algo para melhor. No caso, escolhemos deliberadamente selecionar sempre os piores. Chegamos ao Congresso kakistocrático. O Congresso dos piores. São as regras que fazem a diferença. Mude as regras e quem sabe daqui a alguns anos tenhamos um Parlamento melhor. Até lá, conformem-se e economizem vossa filosofia moral. A gente colhe somente o que planta. ARNALDO B. S. NETO é doutor em Direito Público pela Universidade Vale dos Sinos (Unisinos/RS) e professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG).
“Por que é a alta a incidência de câncer na próstata?”
FÁBIO COIMBRA Li o artigo, do dr. Rafael Macedo Mustafé, “Ejaculações frequentes diminuem a incidência de câncer de próstata?” (Jornal Opção 2130). De fato, é consistente. O autor expõe as ideias básicas do estudo “Ejaculation frequency and risk of prostate cancer: updated results with an additional decade of follow-up”, publicado no periódico científico “European Urology”, apresentando-as cuidadosa e meticulosamente. Depois, revelando equilíbrio e conhecimento, procede a uma crítica pertinente, quero dizer, ressalvas apropriadas. Como não se trata de um texto extenso, e tem finalidade específica, avaliar um estudo sobre um tema determinado, restou ao menos uma dúvida, que gostaria de ver esclarecida: por qual motivo é alta a incidência de câncer na próstata? No pulmão tem a ver com cigarro, por exemplo. Mas e na próstata? Fábio Coimbra é doutor em Ciências Sociais.“É melhor viver e não se preocupar excessivamente”
RAFAEL MACEDO MUSTAFÉ Em resposta ao sr. Fábio Coimbra, tenho a dizer que as causas do câncer de próstata são os fatores de risco não modificáveis que citei — sendo o principal a idade. Hoje, com as pessoas vivendo mais, aumenta a possibilidade de desenvolver doenças degenerativas e neoplasias. Houve uma época em que as pessoas morriam de doenças infecciosas e não chegavam a desenvolver tantos problemas cardíacos, degenerativos ou neoplasias. Infelizmente, é algo que foge do nosso controle, como muitas coisas na vida. Nossa lógica e necessidade de buscar sempre uma causa bem estabelecida para os fenômenos que observamos têm a ver com o nosso conforto cognitivo de sentir que temos o controle de tudo. Na verdade, não temos. Muitos dos fenômenos que observamos são complexos e não têm uma causa única e de fácil controle. Até o câncer de pulmão não tem a ver apenas com o cigarro. A verdade é que somos todos vulneráveis. Então é melhor viver e não se preocupar excessivamente. Rafael Macedo Mustafé é médico.“E se os comunistas tivessem sido vitoriosos?”
LENA CASTELLO BRANCO Sobre o texto “Livro revela conteúdo de documentos para Fidel Castro e diz que Cuba financiou guerrilha em Goiás” (Jornal Opção 2130), é bom conhecer o depoimento de ex-participantes das guerrilhas que abandonaram ideias e práticas totalitárias. Vê-se que os guerrilheiros não eram jovens românticos lutando pela democracia no Brasil. Tinham treinamento no exterior e recebiam financiamento cubano. Também tinham objetivo definido: a implantação do regime cubano-comunista-marxista no país. E se eles tivessem sido vitoriosos naquele momento histórico? Lena Castello Branco é escritora e professora.“Boa ‘república das bananas’ é a que se assume como tal”
LUIZ SIGNATES Qualquer das soluções postas para tirar Dilma Rousseff implicaria primeiramente alterar a Constituição. Um casuísmo para resolver o problema dos que o criaram. É mais fácil desobedecer a Constituição no mérito, cumprindo o rito constitucional para aparentar legitimidade. Afinal, a questão, na verdade, é tomar o poder. O resto é discussão vazia. Assumir que é golpe é um avanço do retrocesso. Boa “república das bananas” é a que se assume como tal. O tema da “necessidade” é a parte hilária da questão. Pena que humor dessa proporção só tem graça quando a gente não tem que pagar a conta. [“Impeachment nada mais é que um golpe necessário”, Jornal Opção 2130] Luiz Signates é analista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).Faltam poucas semanas para o dia que, provavelmente, entrará na história da Grã-Bretanha. Em 23 de junho próximo eleitores britânicos estão sendo chamados às urnas para votar o Brexit (Breta-nha+exit=Brexit), palavra artificial usada para decidir se os súditos de Sua Majestade, a rainha Elisabeth II, continuarão sendo membros da União Europeia (UE) ou se decidirão andar sozinhos num mundo globalizado, sem apoio ou ingerência dos, por eles, abominados burocratas de Bruxelas. A Grã-Bretanha, mais ainda a UE, bem como o mundo ocidental em geral e o Comonwealth aguardam, alguns com expectativa, outros com apreensão, o desfecho da votação. Caso os britânicos optarem pelo desligamento da UE, a data talvez será o Waterloo do primeiro-ministro David Cameron. Afinal, foi o próprio Cameron que, na campanha eleitoral de 2015, propôs a realização de um plebiscito para terminar com a eterna discussão dos britânicos sobre o permanecer ou não permanecer na UE. Na época o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, recomendou, reiteradas vezes, David Cameron a não transformar o tema em assunto eleitoral e que não propusesse a realização de um referendo popular sobre o assunto. Não dando atenção às recomendações do presidente Obama e, contrariamente as previsões, Cameron conseguiu reeleger-se, inesperadamente, com maioria absoluta. O plebiscito de 23 de junho, portanto, é um cumprimento eleitoral de David Cameron no qual está em jogo tanto o seu próprio futuro político quanto o futuro político, econômico e social do país que governa. A Grã-Bretanha encontra-se numa encruzilhada. É um direito democrático do povo britânico decidir sobre o caminho a tomar nesta encruzilhada, que decidirá sobre o futuro da nação britânica, orgulhosa de ser a mais antiga democracia europeia. Muitos britânicos creem que a Grã-Bretanha terá um futuro promissor em se desmembrar da UE; e há os que receiam que o país marchará ao isolamento, interpretado por muitos como sinônimo de abismo. David Cameron comenta: “O Grexit é um salto no escuro”. Nestas semanas que antecedem a decisão a situação continua ambígua. Segundo as últimas pesquisas de opinião, há uma divisão equânime entre os britânicos a favor e contra o desmembramento, mas 17% dos eleitores ainda continuam indecisos e serão estes que decidirão o resultado final. Ambas facções não poupam esforços para convencer o grupo dos indecisos. Nos pubs britânicos a conversa normalmente gira em torno do futebol; de momento é o Brexit que domina as discussões entre Londres até aos mais escondidos estabelecimentos entre a Cornuália, no sudeste, e os Highlands da Escócia, no nordeste do Reino Unido. Margaret Thatcher (1925-2013), do partido conservador, chefe de governo britânico de 1979 a 1990, sempre às turras com a União Europeia, já conseguira vantagens especiais de Bruxelas conhecidas como “Bônus Britânico” ou “Cheque Britâ-nico” (O jogo ousado da Grã-Bretanha, Jornal Opção, edição n°2.120 de 21 a 27 de fevereiro de 2016). Dando continuidade a política thatcheriana, David Cameron também não poupou críticas em relação à Bruxelas no que, mais do que vantagens especiais, tem pleiteado reformas. Em acirradas discussões em fevereiro passado, os pleitos de Cameron foram atendidos, se bem que só em parte, por Bruxelas; em contrapartida, Cameron passou a defender, no Reino Unido, a permanência da Grã-Bretanha na União Europeia. Desde então Came-ron luta incansavelmente para sair-se vitorioso da proposta que fizera em sua campanha eleitoral de 2015. No entanto ele sofreu um revés, um infortúnio que lhe veio de soslaio, desencadeado por um membro de seu próprio partido e que ameaça transformar o processo democrático do plebiscito em derrota política pessoal de Cameron e um golpe com possíveis consequências para a UE. Uma eventual separação da Grã-Bretanha poderia servir de motivação para outros, especialmente para alguns países do leste europeu, igualmente descontentes com Bruxelas. O responsável pelo revés é Boris Johnson, político do partido conservador, desde maio de 2008, prefeito de Londres. Em virtude de seu reiterado comportamento excêntrico, Bo-Jo, como é chamado por alguns tablóides britânicos, é um dos mais conhecidos e mais controvertidos políticos do Reino Unido. Boris Johnson é um homem culto. Estudou história da Antiguidade Clássica no célebre Balliol College de Oxford. É jornalista, publicista, autor de várias obras e poliglota. Foi editor da revista política “The Spectator” de 1999 a 2005. Deixou o cargo ao ser nomeado ministro da educação, indicado por David Cameron, seu aliado de partido, na época, líder oposicionista. Foi membro do parlamento britânico do qual se afastou ao assumir a prefeitura de Londres. Boris Johnson conhece bem os meandros das instituições em Bruxelas, onde viveu de 1989 a 1994 como correspondente do “Daily Telegraph”. A biografia do prefeito londrino é tão impressionante quanto sua genealogia. Boris Johnson tem ancestrais turcos. Seu bisavô, Ali Kemal, foi o último ministro do interior do Império Otomano. Nesta função autorizou a prisão de Mustafa Kemal Atatürk (1881-1938), fundador da atual República da Turquia, ato pelo qual foi linchado. Em consequência seu avô, Osman Ali, fugiu para Londres onde asumiu o nome de Wilfred Johnson. O neto, Boris Johnson, é parente distante da rainha Elisabeth II e do príncipe Charles através dos remanescentes do não mais existente reinado de Baden-Württemberg, região no sul da Alemanha. Bo-Jo é aficcionado do ciclismo tanto que costuma ir a seu gabinete de trabalho em bicicleta vestido a rigor em traje escuro, camisa branca e gravata. Acrescido a todos estes de-talhes, Johnson é homem de língua solta, característica que lhe deu tanto popularidade quanto aborrecimento. Mesmo assim continua dizendo o que pensa! Tem-se a impressão de que Johnson sente-se feliz sempre que consegue provocar uma discussão com papas na língua que, indubitavelmente, tem. Pior é, quando não diz nada. Assim, por exemplo, não se pronunciou quando David Cameron propôs publicamente a realização do plebiscito. Deixou seu companheiro de partido por meses em dúvida quanto ao seu posicionamento em relação ao assunto. Deu-lhe um golpe à lá Brutus só em 22 de fevereiro passado, quando revelou que votaria a favor do Brexit. Cameron sentiu-se traído, traído por um homem que ajudara a tornar-se ministro. A questão do Brexit transformou Johnson no mais perigoso contraente interpartidário de Cameron que procura, seriamente, preservar a Grã-Bretanha na UE. Como prefeito londrino, Boris Johnson, apesar de ser personalidade conhecida no Reino Unido, politicamente não tem muita influência a nível nacional. Mas ele não se contenta com isto e quer mais. Quer ser primeiro-ministro e quer ser sucessor de David Cameron já que seu mandato como prefeito termina em 5 de maio próximo. Entrementes Johnson já revelou algumas de suas críticas em relação a UE. Algumas são contundentes de forma que o excêntrico prefeito londrino demonstrou ser, de momento, o maior antieuropeu do Continente. “Livrar-se da UE é como fugir de um presídio”, comenta. Com tais comentários Johnson influenciará os debates até o dia 23 de junho e talvez será o fiel da balança que decidirá sobre o Brexit. Enquanto isso David Cameron recebeu apoio de alguém que, no passado, lhe dera bons conselhos que não seguira. Barack Obama veio a Londres por oportunidade dos festejos do 90º aniversário da rainha Elisabeth II. Na oportunidade fez pronunciamentos exortando os britânicos, especialmente os eleitores jovens, a votar contra o Brexit. “A União Europeia deverá permanecer unida. Os Estados Unidos querem e precisam de uma União Europeia forte e unida”, disse o presidente. Seus pronunciamentos foram criticados pelos defensores do Brexit que interpretaram suas palavras como ingerência em assuntos internos, estritamente britânicos. De Londres o presidente estadudinense veio a Hannover onde, junto com a chanceler Ângela Merkel, inaugurou a Feira de Hannover, a maior feira industrial do mundo, neste ano, em parceria com os Estados Unidos. Consciente de que lhe restam poucos meses na Casa Branca e, consciente de que esta tem sido sua última visita oficial à Alemanha, Barack Obama aproveitou a oportunidade para pronunciar impressionante discurso por oportunidade da inauguração. Entre os vários assuntos abordados voltou ao que já dissera em Londres: “Pois, uma Europa Unida, no passado um sonho a menos, é hoje uma esperança e uma necessidade para todos nós”. Além disso, Barack Obama exortou os líderes europeus a não se azucrinarem a vida reciprocamente com detalhes mesquinhos. A Europa tem grandes problemas a resolver e estes só poderão ser resolvidos de forma unida. Resumindo, o discurso do presidente Barack Obama em Hannover foi um tremendo puxão de orelhas aos líderes europeus. É lamentável que foi necessário vir alguém, do outro lado do Atlântico, para dizer o que foi necessário ser dito. Ele fez, no entanto, uma excessão. Referindo-se a chanceler Ângela Merkel Barack Obama comentou: “Ela está no lado certo da história”. l

Prisão de adolescentes se torna cada vez mais comum na eterna briga entre israelenses e palestinos
Sou vilanovense há 40 anos e pela primeira vez na minha vida, senti algo pelo clube que nunca imaginei sentir: vergonha
Adriana Gomes da Silva Depois de muitos anos de estudos e de pesquisa, chegamos a um resultado esperado por muitos: a fosfoetanolamina, a esperança de vencer o câncer. Infelizmente, acham que é um medicamento que não precisa ser testado. Como isso pode estar acontecendo, se todos os medicamentos do mercado são testados, desde um simples analgésico para tirar uma pequena dor? Como podem achar que não precisam testar um medicamento para curar o câncer, sendo esta uma das doenças mais complexas e perigosas que existem? Será que estão “cansados” e não dão conta mais de fazer mais nenhum teste? Ou acham que são os “homens do futuro” e que já sabem do resultado? Se for isso, maravilha, nossos problemas vão ser resolvidos de agora em diante sem precisarmos de tanto esforço e dedicação.
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[caption id="attachment_64233" align="alignnone" width="620"] Presidente dos EUA, Barack Obama, e rei da Arábia Saudita, Salman Al Saud: relações abaladas, mas ainda precisam um do outro | Foto: Pete Souza/ Casa Branca[/caption]
Ao final da segunda guerra mundial, em 20 de fevereiro de 1945, o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt voltava da Conferência de Yalta, um encontro de líderes que discutia o futuro da Europa pós-guerra. A bordo do USS Quincy, no Canal de Suez, no Egito, Roosevelt encontrou-se pela primeira vez com o rei da Arábia Saudita, Abdual Aziz. Começava ali uma aliança que até hoje provém a segurança da Arábia Saudita. Um reino cercado por uma região instável e volátil.
Os sauditas têm nos Estados Unidos a garantia do suporte militar que provém a segurança do reino, cercado por uma região instável e volátil. Desde então, Roosevelt e todos os outros presidentes dos Estados Unidos que vieram depois dele, foram fotografados lado a lado com os reis da Arábia Saudita. As provas incontestáveis de uma sólida relação estratégica entre os dois países estão penduradas nas paredes da Casa Branca em Washington.
Na semana passada, o presidente dos EUA, Barack Obama, fez uma visita oficial ao reino saudita. Há oito meses do fim do mandato, Obama foi recebido pelo rei Salman em Riyad, onde os dois tiveram um encontro privativo.
Os sauditas, acostumados à prosperidade que o petróleo lhes proporciona, estão incomodados e assustados com o que vem acontecendo dentro e nos arredores do reino: milícias que atacam comunidades na fronteira sul do país, a embaixada saudita em chamas em Teerã, e três diferentes guerras civis nos países vizinhos. Com a queda do preço do barril de petróleo, o governo saudita tem dificuldades em lidar com as crises internas e externas, entre elas o Irã, que com o fim das sanções econômicas impostas pela comunidade internacional devido ao programa nuclear, tem se movimentado agressivamente afim de expandir sua influência num mercado até então dominado pelos árabes.
A relação entre os dois países foi profundamente afetada durante os oito anos do governo Obama. Os sauditas, mesmo contra o desejo dos americanos, resolveram agir sozinhos afim de sobreviver numa região que muda rapidamente e pra pior. Os dois governos discordam sobre o acordo com o Irã, como lutar contra o Estado Islâmico, o futuro da Síria e o conflito no Iêmen. A coalizão árabe formada para combater os rebeldes houthis (que têm o apoio do Irã) no Iêmen, já custou milhões de dólares ao país, e até agora teve pouco resultado. Pelo contrário, a falha militar fortaleceu ainda mais a filial da Al-Qaeda no Iêmen. Com o terrorismo batendo à porta, os sauditas aumentaram o número de execuções no país, entre os executados este ano está um clérigo xiita, aliado do Irã. E foi pela mesma causa que eles voltaram atrás numa doação, já anunciada, de bilhões de dólares ao governo libanês, que tem uma aliança estreita com os ayatolás.
Obama chega a Riyad para tentar evitar o colapso com um dos parceiros mais estratégicos para os Estados Unidos no Oriente Médio. A relação é problemática, mas os dois países ainda precisam um do outro. Os Estados Unidos provêm o suporte militar e os serviços de inteligência ao reino, e no encontro ficou acertado o aumento significativo desse “apoio” para ajudar na luta do país contra o terrorismo. Já os americanos esperam que Arábia Saudita continue a ser o segundo maior provedor de petróleo e derivados patra os Estados Unidos.
Ainda não está claro qual o resultado efetivo da visita de Obama à Arábia Saudita. Obama pode até tentar, mas os sauditas veem nele uma das causas de quase tudo que o país está passando. Os monarcas árabes responsabilizam abertamente Obama pelo caos que tomou a região. A confiança foi abalada, a monarquia se enfraqueceu e ninguém sabe, ainda, se o dano provocado poderá ser reparado. A América mudou e a Arábia Saudita também. Na semana que vem, a foto de Barack Obama com o rei Salman estará exposta na mesma galeria na Casa Branca. Mas é a próxima foto que intriga americanos e sauditas.

Valéria Ramos*
[caption id="attachment_63901" align="alignnone" width="620"] Ação de membros da Guarda Civil Metropolitana é elogiada por leitora | Foto: Divulgação/Amigos da Guarda Civil[/caption]
Era uma sexta-feira. Como de costume, entrei no Eixo Anhanguera no centro da cidade com destino a Trindade, por volta das 17h40. Claro, ônibus lotado. Desci do trabalho para a plataforma, rezando, pedindo a Deus que tivesse um banco, afinal, depois de uma semana inteira de trabalho e praticamente em pé todas as viagens, o cansaço é inevitável. E desta vez eu tinha mais um agravante: uma mochila com compras que eu estava levando para casa, o que complica ainda mais a entrada no coletivo.
Entro e, por um milagre, sento. Mas, como alegria de pobre dura pouco, mais uma vez o pneu furou. Na plataforma do HGG [Hospital Geral de Goiânia], tivemos de descer. O ônibus já estava lotado e teve de abandonar a viagem em uma plataforma já lotada de gente.
Diante de tanta gente e nada de ônibus vazio, o jeito foi encarar um cheio mesmo — mas muito cheio. Até tentei falar com uma amiga, para tentar uma carona, mas não obtive sucesso.
E foi nesta hora que os bandidos me “filmaram” e me escolheram para assaltar. A cada plataforma, mais gente entrava. Percebi três pessoas estranhas se esfregando demais em mim, inclusive uma mulher que todos os dias vende chocolate dentro do eixo. Era impossível me desvencilhar deles, tamanha era a multidão que ali estava. De repente, senti que mãos mexiam na minha mochila, mas era impossível até puxar a mochila, não havia espaço pra respirar, quanto mais para acudir uma mochila.
Tanto tumulto, me fez pensar em descer na Praça A e esperar um ônibus mais vazio para conseguir chegar ao Terminal Padre Pelágio. De fato, fiz isso. No que a porta abriu, percebi os bandidos saindo também e antes mesmo de descer, abri a mochila para conferir se o celular estava, pois senti que alguém havia aberto o zíper. Não deu outra. O celular não estava. Comecei a gritar como louca dentro do Eixo e saindo dele para a Praça A. Dizia: “Me ajudem! Segurem esse rapaz para mim, ele pegou meu celular, segurem!”
Em poucos minutos, um monte de gente se aproximou de mim tentando ajudar. De repente, uma senhorinha me disse: “olha, você não pensou em chamar a polícia, mas eu chamei. Me desculpe se fui intrometida, mas não aguentei vê-los ali e não avisar. Outra pessoa me disse que ele se escondeu no banheiro!”. Corri para o banheiro e quando lá cheguei, a Guarda Civil Municipal, já tinha feito uma vistoria no banheiro e nada do tal de ladrão. De repente, outro grita dizendo: “Ele correu para aquele lado!”. Um guarda se aproximou de mim, perguntou como era o rapaz e me disse: “A senhora espere aqui!”. Esperei, afinal ele é autoridade e estava tentando me ajudar, mas não acreditava em momento algum que em algum momento pudesse reaver meu celular.
Os quatro guardas entraram na viatura e saíram como loucos. Eu ali, parada, olhando para o tempo, e gente e mais gente querendo saber o que houve. De repente, em menos de dez minutos, a viatura volta. Dentro de mim pensei: sabia que não conseguiam pegar o ladrão, voltaram rápido demais. Mas, para minha surpresa, o guarda veio falar comigo e disse: “É esse o celular da senhora?”. Eu não podia acreditar no que estava vendo. Eu chorava como criança, tremia como vara verde. Só consegui dar um abraço de agradecimento no guarda. Que coitado, ficou até assustado. Acho que nenhuma vítima tinha sido tão empolgada ao receber de volta um bem tão simples!
Só depois eu acordei para a situação e perguntei: “E o rapaz? Vocês pegaram? A resposta não podia ter sido melhor: “Sim, está na viatura.” Não sei contar o que senti naquela hora. Para mim, era uma chance em um milhão de conseguir tal feito: tanto prender o ladrão quanto recuperar o celular.
Mas o fato é que contei tudo isso apenas para deixar aqui um elogio tamanho família para aqueles guardas. O trabalho realizado por eles naquele dia foi um espetáculo! Não me canso de agradecê-los e de rezar por eles. Tive muita sorte, porque eles haviam acabado de chegar à Praça A para prender outro ladrão e acabaram prendendo o que me assaltou. Mas, independentemente disso, eles foram rápidos demais. Confesso que ainda estou impressionada com a ação deles. E rezo, especialmente para que nunca se corrompam, que trabalhem sempre para servir o cidadão que necessita. Que sejam mesmo defensores daqueles que trabalham, que necessitam do Eixo para esse fim.
Infelizmente não sei o nome deles, mas posso vê-los em qualquer lugar que os reconhecerei. E se um dia isso acontecer, os agradecerei de novo. Mas pretendo ligar no telefone da guarda — diga-se de passagem, para quem precisar, é o 153. Certamente saberão me dizer quais eram os responsáveis naquele dia pelo belo trabalho. Estou feliz que tenham conseguido me ajudar e triste por saber que muitos não tiveram nem terão a mesma sorte, haja vista que esses mesmo guardas me disseram: “O nosso trabalho é muito difícil, porque o efetivo da Guarda Municipal é muito menor que o número de bandidos”. Isso é triste. E é preciso refletir e agir no sentido de conter tanta violência nos ônibus, especialmente do eixo.
Há dias queria ter escrito, mas ainda estou muito abalada. Só me animei neste momento, depois de ter entrado no portal G1 e ler que ontem à noitinha, um adolescente de 15 anos, que faz o mesmo trajeto que eu, reagiu a um assalto e matou o bandido. Ele não teve a sorte que eu tive de ter um guarda perto dele. E muito provavelmente, sua vida se complicou um pouco por ter matado uma pessoa, mesmo que um ladrão. Infelizmente, quem fica preso é o cidadão de bem. Eu sou adulta e minha cabeça ainda ferve por me lembrar do fato; fico imaginando a cabeça desse adolescente.
Sabemos bem que pagamos muitos impostos que deveriam ser revertidos na segurança, no transporte e na educação. Onde está esse dinheiro? Porque não temos nada disso de qualidade... Ressalto aqui que tirei inúmeras fotos do ladrão do Eixo. Mas creio que a história de crime desse rapaz não cabe aqui falar. É uma vida extensa, apesar da pouca idade. Dá mais um texto longo. O que ficou de tudo isso para mim, a lembrança boa que carrego e vou carregar por muito tempo, foi o ótimo trabalho realizado pela Guarda Civil Metropolitana. Parabéns a eles mais uma vez! Mereciam uma digna homenagem pela seriedade do trabalho desempenhado.
*Valéria Ramos é secretária.

Roberth Lutiane
Cresci na Alameda Botafogo e sou totalmente contrário à verticalização daquilo pouco que resta de área verde original na capital, na região do Jardim Botânico, como está sendo proposto na chamada Operação Urbana Consorciada (OUC). Um parque não depende de um conjunto de prédios para servir à população.
Façam o simples. Vamos lá em um domingo e todos verão os moradores dali passeando tranquilamente pela região. Detalhe: temos ali uma faculdade, algumas empresas e residências. Pra que fazer prédio se se pode ter um grande parque que atenda mais gente do que essa vontade desenfreada de verticalizar as margens das poucas áreas verdes e puras da cidade?
Você consegue vislumbrar como seria um luar, o nascer ou o pôr do sol sem aquele monte de prédios ao redor do Parque Flamboyant? Será que já pensaram nisso? A verticalização das margens das áreas verdes vai contra a sustentabilidade, que já é pouca em nossa cidade. O Setor Pedro Ludovico vai perder o restante do seu charme para o capital especulativo dos arranha-céus. Questiono esse viés de pensamento extremamente financeiro e que vai matar literalmente a alma de um dos melhores bairros populares de Goiânia.
Roberth Lutiane é vendedor.
“Marilena Chauí deveria abrir uma ‘portinha’ para sentir os efeitos da crise”
