O Brasil tem excelentes vinhos; o que falta é divulgação de qualidade
07 junho 2016 às 11h55

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No Brasil temos vinhos bons, o que se precisa é de mais divulgação, principalmente da parte dos produtores. A divulgação é escassa tanto por parte dos donos de vinícolas quanto dos lojistas
No Brasil temos vinhos muito bons, o que se precisa mesmo é de mais divulgação, principalmente da parte dos próprios produtores. As divulgações são pouquíssimas tanto pelos donos de vinícolas quanto pelos lojistas. Quando o cliente faz a pergunta: “O que você acha dos vinhos brasileiros?” — costumo dizer que são muito bons. Não conheço todos, o que é natural — é difícil alguém que conheça —, mas procuro transmitir as informações e análises com o máximo de clareza. O que falta no mercado são informações sensatas e precisas. A prova de que o Brasil produz vinhos muito bons são nossas espumantes, que são reconhecidas mundialmente — tanto nos concursos de degustação e quanto pelos mais renomados enólogos, sommeliers e enófilos.
Temos terroirs muito bons no Brasil, embora ainda falte muito conhecimento sobre eles. As vezes têm muitas vinhas sendo cultivadas em solo não adequado, mas já existem muitas pesquisas e estudos para a melhoria dessas vinhas. Os nossos espumantes têm uma qualidade incrível e conseguem ter elegância e equilíbrio, com bom frescor e estrutura. Embora muito se tente no Brasil imitar os champanhes franceses, no meu ponto de vista não há nenhuma necessidade. Até por que, quando tentam amadurecer muito as espumantes, elas perdem um pouco do seu frescor e nisso acabam perdendo a elegância, que é uma das principais características dos nossos espumantes.
No Brasil cultivamos as castas brancas como a rainha das uvas brancas — que é a Chardonnay —, com seus vinhos de boa estrutura, boa cremosidade e bom equilíbrio. Com acidez mais baixa do que sua vizinha Sauvignon Blanc, mas se faz experimento de castas de todo o mundo, inclusive com a grega assyrtico, encontrada em Santorini e na Macedônia, muito versátil em varietais secos, jovens cortes estruturados, vinhos de sobremesa e até no estilo retsina, tipo de elaboração ancestral que tomava a resina do pinheiro dos toneis — casta esta amplamente usada como experimento em uma parceria com algumas vinícolas e a Embrapa.
Temos vinhos tintos maravilhosos no Brasil, embora alguns tentem defender a tese que o Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon são os melhores. Não tenho dúvida que eles são bons, inclusive não só com essas uvas, também com tannat e outras.
Os melhores tintos que já degustei foram com a uva merlot. Encontrei mais elegância e maciez com grande equilíbrio. A merlot é uma uva francesa de Bordeaux, mas precisamente a rainha do pomerol, onde está o chateau pétrus. As quatro uvas mencionadas também são francesas, a cabernet sauvignon fica na esquerda do Rio Gironde e a cabernet franc cultivada nos dois extremos do rio, na direita e na esquerda, mas precisamente são usadas em um grande vinho de St-eMilion, que é o Cheval Blanc. Não esquecendo da uva tannat, essa uva famosa com seus taninos altos que fazem vinhos tão maravilhosos no Uruguai, mas que já tem boa expressão no Brasil, sabendo que seu lar é no sudoeste da França mas precisamente no Madiran.