Importadores e donos de adegas e de restaurantes precisam investir mais em informação sobre vinhos. É provável que o comércio tende a se expandir

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No mundo do vinho, sempre multifacetado, nenhuma pessoa que se apresente como sommelier cai de paraquedas. O vinho é um produto fácil de beber, muito gostoso e, digamos assim, é cult. As pessoas que bebem com frequência ou se encontram com amigos para trocar ideias a respeito até entendem os termos técnicos, porém, na hora de elaborar uma explicação técnica com certa lógica, têm dificuldade — o que é natural. O que fazer?

Para saber explicar, com lógica e informação precisa — sem os tradicionais chutes —, para que a pessoa se desenvolva como sommelier, é vital tempo e, sim, dinheiro. É preciso investir em livros de qualidade — comumente caros (uma enciclopédia custa em média 160 reais) — e aprender aos poucos, de maneira detalhada, sobre os vários tipos de vinho. Quem mora no Centro-Oeste do Brasil, notadamente em Goiânia, precisa ter muita vontade e dedicação. Infelizmente, falta, por assim dizer, uma ambiente propício à informação de qualidade sobre vinho. Observe-se que o “Valor Econômico”, no suplemento “Eu&Fim de Semana”, mantém uma coluna semanal de Jorge Lucki, mas em Goiás praticamente não há nenhum especialista (o Jornal Opção é exceção) escrevendo tecnicamente, mas de maneira simples, sobre vinhos. Não há uma movimentação intensa tanto no mundo dos vinhos quanto na gastronomia. O mercado está crescendo, mas ainda é incipiente.

Em Brasília, a 200 quilômetros de Goiânia, o movimento gastronômico — que contribui para ampliar o mercado do vinho — é bem maior, o que resulta, claro, de uma renda per capita superior à da capital goiana. Goiânia é uma cidade quase sem vida no que diz respeito ao que estou comentando. Ressalvando, porém, que está melhorando, ainda que lentamente.

Tempo e sutileza

Para conhecer um vinho de verdade, a pessoa precisa de tempo, atenção e sutileza. Não se trata apenas de pegar um vinho e fazer seus exames: visual, olfativo e de paladar. É preciso muito mais do que isto. É essencial conhecer o país de origem do vinho, as uvas usadas e estruturas, como nuances olfativas e gustativas, e seu produtor, os terroirs com seus comportamentos. Terroir é uma extensão que liga o solo e todos seus nutrientes, os comportamentos climáticos e a mão do homem.

Infelizmente, o interesse por parte do importador, de representantes e donos de adegas, incluindo os proprietários de restaurantes — lembrando, para ser justo, que há exceções —, numa visão de conjunto do vinho, do que é o vinho, do que podemos chamar de “cultura do vinho”, ainda é escasso. Eles precisam promover, juntos ou separados, degustações, organizar eventos, envolver os restaurantes, adegas e profissionais da área. O que se vê é apenas uma visão comercial, com cada um trabalhando por si, sem interação. A própria visão comercial é limitada. Porque, se o vinho for divulgado de maneira mais eficaz, com informações amplas e confiáveis, com a criação de uma “cultura do vinho”, o mercado vai faturar mais dinheiro.

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Sommelier mundial

Acredito que vai demorar a termos um sommelier como representante mundial. Diego Arrebola, que estudou comigo no curso da Wine Spirit Education Trust, é um sommelier ousado e perceptivo. Ele foi campeão do concurso de melhor sommelier do Brasil promovido pela ABS.

Diego Arrebola participou do mundial sobre vinho, na Argentina, este ano, mas não chegou à semifinal. Quem levou o título foi o sueco Arvid Rosengren. O Brasil tem sommeliers de qualidade, mas falta história, uma “cultura do vinho” — o que sobra na Europa, por exemplo. O grau de informação às vezes pode até ser semelhante, mas a cultura, gerada por um ambiente mais favorável ao vinho, gera mais segurança, referência. História é crucial.

Os sommeliers de outros países têm prestígio, alguns se tornaram celebridades internacionais. A profissão é respeitada. Sim, insisto: é uma profissão — não é um “trabalho” para meros diletantes. Muitos no Brasil se esquecem de que se trata de uma profissão — altamente especializada.

Há quem acredite que se possa tornar sommelier sem embasamento técnico-teórico. Não é possível. As pessoas são pouco esclarecidas no mundo do vinho — não há conhecimento básico nem teórico. Não estou criticando as pessoas que participam de confrarias, porque elas contribuem, à sua maneira, para que se refine o conhecimento do vinho e, sobretudo, para que se tome vinho com mais frequência. Os franceses, para ficar num exemplo, tomam vinho com frequência, e não apenas em ocasiões ditas especiais. O que estou dizendo, e é preciso que fique claro, é que as casas que vendem vinhos precisam prestar uma informação de qualidade e segura aos consumidores.

O sommelier progride de que forma? De um vinho a outro — comparando — e de um livro a outro. O saber é ampliado e aprofundado desta forma; não há outra. Quem conhece mais vinhos e sobre vinhos pode apreciá-los melhor. É o fio condutor.

Jorge Lucki

Vale o registro que, depois que escrevi sobre a qualidade do vinho brasileiro, que é uma realidade ainda pouco comentada, o consagrado Jorge Lucki escreveu, no “Valor Econômico”, atestando a sua excelência. É o que se pode chamar de sintonia.