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Revolta virtual além de inócua, é infrutífera

[caption id="attachment_10386" align="alignleft" width="318"]Luiz Bacci, a subcelebridade desconhecida por jornalistas locais | Foto: Reprodução Luiz Bacci, a subcelebridade desconhecida por jornalistas locais | Foto: Reprodução[/caption] O fato envolvendo Luiz Bacci causou uma reação “déjà vu”, previsível, até óbvia, característica do sentimento das redes sociais: sua frase, com a imagem da “cidade-mato” anexada, foi compartilhada às centenas pelos espaços de discussão. Claro, sobraram adjetivos nada agradáveis ao jornalista. Chegaram a criar uma hashtag (#VoltapraSPLuizBacci) como forma de promover a revolta. Bacci apagou sua postagem no Instagram, mas até sexta-feira, 18, ainda havia no Twitter o texto e o link para a foto. Em postagens seguintes, a nova estrela da Band elogiou a cidade e seu jeito de “hospitaleira”. Mas passou longe da polêmica, sobre a qual mais nada falou durante sua curta estadia. Há uma possível explicação para o ocorrido. A Record de Silvye Alves — aliás, jornalista cotada para voos mais altos, por sua presença de vídeo e a facilidade com idiomas — era a emissora na qual ele trabalhava até maio deste ano. E Luiz Bacci, chamado de “menino de ouro” por Marcelo Rezende, apresentador do “Cidade Alerta”, tinha ligação profissional com a jornalista de Goiás por conta exatamente do programa policial, de grande audiência. Possivelmente, sua intimidade com Silvye por causa do trabalho o levou a postar algo mais descontraído direcionado a ela, como “piada interna” sobre a cidade. A gafe foi isso ocorrer em modo aberto e não por mensagem privativa. Como quase tudo neste mundo em que a informação transita em velocidade alta e cada vez mais alta, há, também cada vem mais, “revoltas” repentinas e esquecimentos precoces. O caso de Bacci talvez nem merecesse maior repercussão, mas serve para ilustrar como a quantidade substitui a qualidade também em relação aos dados que nos chegam. Há pouca apuração e muita divulgação. Criam-se, divulgam-se, popularizam-se factoides. Pessoas, elas mesmas, personificam factoides. Por ironia, o próprio Bacci se torna prova disso. A coluna “Imprensa” perguntou a seis jornalistas goianos bem informados se tinham conhecimento do colega que causou a polêmica. Nenhum disse saber quem pudesse ser Luiz Bacci. Ao mesmo tempo em que há esse desconhecimento da própria classe — o que o faz correr o risco de chegar a uma redação e ser ignorado —, ele é, ao menos, uma subcelebridade (considerando que “celebridade” seja uma pessoa de reconhecimento notório por todos): tem 144 mil seguidores no Twitter, 207 mil no Instagram e 2,2 milhões no Facebook. Mais do que isso: tem até fã-clube — há uma fan page intitulada “Príncipelbacci” (Príncipe Luiz Bacci), em que a criadora (ou criador) anuncia: “página criada para homenagear o príncipe, eu te amo ♥ Luiz Bacci” (sic). Alguém mais purista vai dizer: duvide de um jornalista que tenha um fã-clube. Mas os tempos são outros. Talvez Luiz Bacci tenha competência para se firmar como um grande nome da imprensa — já cobriu eventos como a tragédia do avião da TAM em Congonhas e a morte de Michael Jackson. Talvez. Mas a tendência é de que siga o caminho do entretenimento, como fizeram Fausto Silva e Pedro Bial, entre tantos outros.

Sucesso da Copa frustra negativismo da imprensa e jornais são obrigados a dar braço a torcer

[caption id="attachment_10379" align="alignleft" width="620"]Simpatia dos brasileiros ajudou o País a obter avaliação positiva | Foto: Reprodução/TV Globo Simpatia dos brasileiros ajudou o País a obter avaliação positiva | Foto: Reprodução/TV Globo[/caption] “Imagina na Copa.” A frase virou um mantra na sociedade brasileira depois dos acontecimentos de junho e julho do ano passado, que, por coincidência ou não, se deram simultaneamente à Copa das Confederações, evento preparatório ao Mundial de futebol que o País sediaria um ano depois. Se com um torneio bem menor houve toda aquela confusão, “imagine” o que seria o aporte de todas as seleções, todos os turistas e tudo o mais no ano seguinte. Foi o terreno perfeito para a imprensa brasileira se encher de profetas do apocalipse. Temia-se — e até se torcia por — um fiasco total da organização. As obras inacabadas eram só o mais claro indício de que tudo daria errado. Mas não deu. O megaevento encerrado no domingo, 13, com o título merecido da seleção alemã sobre a da Argentina, fechou aquela que foi considerada a maior e melhor de todas as Copas do Mundo já realizadas. Ou “a Copa das Copas”, como agora comemora, vingado, o Palácio do Planalto. Talvez nem tivesse ocorrido essa surpresa positiva toda se, ao longo dos meses, os veículos de comunicação tivessem monitorado com mais parcimônia e técnica a evolução da estrutura específica para atender aos turistas. Não houve essa avaliação mais acurada de que a Copa poderia, ao contrário que todos diziam até então, ser bem-sucedida. O resultado é que o relatório do Grupo de Estudos Técnicos da Fifa deve apontar, conforme teve de adiantar “O Estado de S. Paulo”, para a melhor edição do Mundial entre todas, em termos de entretenimento e qualidade. Tudo melhorou de um dia para o outro? Não, mas ficou parecendo isso, porque a imprensa não fez o devido acompanhamento. Sobrou discurso pronto — baseado nos puxões de orelha da senhora Fifa, que apenas cumpria seu papel de forçar a execução do que tinha sido acordado — e faltou investigação. Algo que deixou explícita certa torcida da imprensa para tudo dar errado ficou bem claro com a tragédia da queda do viaduto em construção em Belo Horizonte. Os três maiores jornais do País deram destaque colocando a conta nas costas e nos custos da Copa. Senão, vejamos: “Folha de S. Paulo” — Obra inacabada da Copa desaba e mata 1 em BH; “O Globo” — Viaduto de obra da Copa desaba e mata 2 em BH; e “Estado de S. Paulo” — Viaduto planejado para Copa cai e mata 2. Em todas as manchetes, um quê de Copa do Mundo, como se fosse um pedaço ruído de algum estádio. A forma de fazer a responsabilização editorial apostava ainda em algo que mostrasse que o evento era um fracasso, mas esqueceu-se de que a obra não serviria ao futebol. Pelo contrário, o viaduto está no plano de restruturação viária de Belo Horizonte, com sua construção impulsionada pelo fator Copa. O acidente merece ser apurado, assim como a empreiteira precisa dar conta de todas as explicações. O que não pode haver é uma apropriação indevida da obra para efeito de um discurso sensacionalista, como era o movimento que, no começo, parecia estar se insinuando

“O Globo” descobre um goiano com “português impecável”

[caption id="attachment_10364" align="alignleft" width="620"]A jornalista Gabriela Valente entrevistou Bill O’Dwyer e o tomou por um nativo alemão: erro induzido | Fotos: Twitter e Divulgação A jornalista Gabriela Valente entrevistou Bill O’Dwyer e o tomou por um nativo alemão: erro induzido | Fotos: Twitter e Divulgação[/caption] A repórter Gabriela Valente, correspondente de “O Globo” em Brasília, cometeu uma gafe redacional ao cobrir a megafesta na embaixada da Alemanha, por ocasião da final da Copa do Mundo. No evento, ela abordou o cônsul honorário da Alemanha em Goiás, William Leyser O’Dwyer, que, sempre muito simpático, a atendeu. No texto publicado no jornal, ao transcrever a declaração de seu entrevistado, Gabriela fez o fechamento das aspas acrescentando a observação: “declarou em português impecável”. Ocorre que o cônsul é também o secretário de Indústria e Comércio de Goiás, mais co­nhecido como Bill O’Dwyer. Provavelmente seu nome, seu cargo, seu biotipo caucasiano e a circunstância tenham induzido a repórter ao erro, mas o fato é que o entrevistado, apesar dessas observações, é goiano nascido em Ipameri e empresário tradicional em Anápolis. Seu pai, o Waldyr O’Dwyer é neto de irlandeses, mas nasceu no Rio e lutou pelo Brasil na 2ª Guerra Mundial. A descendência alemã de Bill vem da parte de sua mãe, Herta Leyser. Em sua formação quando jovem, Bill viveu por anos na Europa, inclusive na Alemanha, onde conheceu sua mulher, Anne-Lott. De certa forma, Gabriela não errou: o português do “goiano de pé rachado” Bill O’Dwyer é realmente impecável.

Radialista erra palavra. Depois, erra na errata

Em um debate esportivo do horário do almoço, em uma emissora de rádio, o assunto é a saída de um jogador do Vila Nova, por demanda trabalhista. E o comentarista resolver “criar” o termo “interrumpimento” do contrato. Percebendo que cometera um erro, ele retoma a frase e a reelabora, trocando “interrumpimento” por “interrompimento”. Erros de português acontecem no rádio, um meio dinâmico e mais vulnerável a esse tipo de ocorrência, mas estão cada vez mais frequentes. Às vezes, não há preocupação nem mesmo em fazer um “mea-culpa”, o que, em princípio, deveria ser uma obrigação do bom profissional, também humano e sujeito a falhas. Por causa desse e de outros fatores, o rádio sofre queda na audiência. Há um processo acentuado de “interrupção” da boa vontade do ouvinte — cada vez mais exigente e com mais meios para se informar — com a (má) qualidade do serviço prestado.

Internet existe para ser usada, mesmo no rádio

Todas as áreas do jornalismo goiano precisariam de um upgrade. Há comodismo na TV e no impresso, mas no rádio a situação é mais grave. As emissoras parecem não saber lidar com as inovações tecnológicas e estão penando para se manter. Faltam gestão e acerto da linha editorial, e a crise se agrava com o despreparo dos profissionais. Muitos deles têm décadas de profissão, poderiam acrescentar com sua experiência, mas parecem ter parado no tempo: não conseguem entender, por exemplo, que a internet e alguns de seus mecanismos básicos, como o Google e a Wikipedia (uma enciclopédia virtual vista há algum tempo como pouco confiável, mas hoje cada vez mais utilizada e respeitada), estão aí para serem usados de forma rotineira para acesso rápido a dados.

Choro de Fernanda Gentil foi espontâneo, mas também integra o tipo de aposta que a Globo faz

[caption id="attachment_9814" align="alignleft" width="602"]Fernanda Gentil, no dia em que chorou ao vivo na televisão / Foto: Reprodução/TV Globo Fernanda Gentil, no dia em que chorou ao vivo na televisão / Foto: Reprodução/TV Globo[/caption] A repórter Fernanda Gentil, da Rede Globo, é nova — tem 27 anos —, mas já passou por momentos delicados na carreira. Seu início no canal Sportv foi em 2009 e ficou marcada, no ano seguinte, por um “mico” que se propagou de forma viral na internet: ela conduzia um programa do estúdio da emissora na África do Sul, durante a Copa de 2010, e recebeu um convidado deficiente visual. Após apresentá-lo, educadamente estendeu-lhe a mão e, obviamente, não foi correspondida. Já pela TV Globo, Fernanda voltou a ser assunto nas redes sociais no ano passado, quando cantou o sucesso “Evidências” com a dupla Chitãozinho & Xororó, em link ao vivo no programa “Encontros”, de Fátima Bernardes, por ocasião da Copa das Confederações. De quebra, confessou que sonha em fazer uma entrevista com seus ídolos de infância Sandy e Júnior, filhos de Xororó. Competente e bastante espontânea, ela faz parte da aposta da Globo em novos e carismáticos talentos, como o também apresentador Tiago Leifert e o agora narrador (antes fora apresentador, repórter e comentarista) Alex Escobar. Durante a Copa, ela foi escalada para integrar o grupo que acompanhou os treinamentos na Granja Comary, em Teresópolis (RJ). E foi lá que surgiu novamente como motivo de discussão virtual: no dia seguinte à eliminação brasileira do Mundial, não conteve o choro ao ser chamada ao vivo, novamente por Fátima Bernardes e novamente no programa “Encontro”. As lágrimas da repórter foram alvo certeiro da infantaria do Twitter, Facebook e outros fóruns digitais. Acusaram-na de se comover muito com a seleção e muito pouco com os problemas de verdade do mundo. E ela fez questão de dar prosseguimento à polêmica. Na sexta-feira, 11, rebateu os críticos, via Twitter: “Último diaaaa [em Teresópolis]. Queria choraarrr!!!! Mas não posso!!!! Senão aquelas pessoas ocupadas vão dizer, de novo, que não choro pelos problemas do mundo.” (sic) Prosseguiu o desabafo: “Aliássss mamy me proibiu de perder tempo respondendo esses “amigos'', mas como ela não tem Twitter vou dizer porque ela não vai saber lalalalaaaa.” (sic) Para lançar uma pá de cal no assunto, principalmente no argumento “problemas do mundo”, ela aproveitou o microblog para divulgar a entidade de filantropia que mantém: “Pelos problemas do mundo eu não choro, eu ajo! Aproveitem para conhecer a Caslu, minha associação beneficente. Ah e claro, para os que criticaram, faço a mesma pergunta: e vocês, fazem o que pelos problemas do mundo? Choram?!? Não percam tempo chorando queridos, porque quem precisa tem pressa. Com­binado? Muitos beijos!” (sic) Responder internautas, muitos dos quais com certeza franco-atiradores virtuais, certamente não foi a mais madura das atitudes. Mas não deixou de mostrar o que cativou a Globo em Fernanda: a espontaneidade. Assim como parecem não ter nada forçado os dois momentos — um ainda na transição da imagem para o link e outro já em plena resposta à pergunta de Fátima Bernardes — em que ela leva ao rosto a parte posterior das mãos para enxugar os olhos. Em tempo: o conteúdo noticioso que ela deveria transmitir não ficou prejudicado.

Adeus ao jornalista Osmar de Oliveira

[caption id="attachment_9813" align="alignleft" width="620"]Osmar de Oliveira: morte depois de passar por todas as emissoras de TV de São Paulo / Foto: Divulgação/Band Osmar de Oliveira: morte depois de passar por todas as emissoras de TV de São Paulo / Foto: Divulgação/Band[/caption] O ano não está bom para a saúde dos jornalistas esportivos. Especialmente para os da Band, que havia perdido seu principal narrador, Luciano do Valle, vítima de infarto em abril, quando iria para Uberlândia (MG) a trabalho no jogo Atlético Mineiro x Corinthians pelo Campeonato Brasileiro. Nesta sexta-feira, 11, perdeu um segundo integrante do primeiro time: o médico, narrador e comentarista Osmar de Oliveira, de 71 anos, morreu em decorrência de complicações no tratamento de um câncer de próstata. Contestado como comentarista por se declarar corintiano de forma aberta e apaixonada — aliás, como seu colega e ex-jogador Neto —, Osmar era também fumante inveterado, apesar de também ser profissional da área de saúde. Antes da Band, ele já havia trabalhado em praticamente todas as emissoras e foi o primeiro jornalista a atuar em todas as TVs abertas de São Paulo. Em maio, o jornalismo es­portivo tinha perdido outro nome — o também narrador Maurício Torres, o número 1 da Record, vítima de arritmia cardíaca seguida de infecção pulmonar aos 43 anos.

Capas de diários goianos sobre vexame na Copa são elogiadas

[caption id="attachment_9735" align="alignleft" width="620"]Foto: Divulgação Foto: Divulgação[/caption] Apesar dos senões editoriais — que geralmente têm menos a ver diretamente com a área de Arte do que com a cúpula diretiva da redação —, as capas de “O Popular” durante a Copa mantiveram um padrão de bom gosto, em sua maioria. A tradição de boas capas já vem de certo tempo, tendo começado ainda com Wilson Silvestre, veterano jornalista e também ex-integrante da equipe do Jornal Opção, e sido mantida com André Rodrigues. O editor-executivo é o responsável pelo aprimoramento do trabalho iniciado por Silvestre e que resulta frequentemente em boas citações do jornal em sites mundo afora. Foi o que ocorreu com a capa da quarta-feira, 8, intitulada “Furada histórica”, em que a bola Brazuca, um dos ícones do Mundial de 2014, aparece murcha, simbolizando a vergonhosa eliminação brasileira. A primeira página com o grafismo foi uma das dez que obtiveram destaque do Newseum, o Museu da Notícia, nos Estados Unidos. Os goianos mereceram holofote internacional também no site da “The New Yorker”. Em meio a outras seis publicações brasileiras — entre elas “O Globo” e “O Estado de S. Paulo” — e sob o título “Humiliation, honor, and Brazil”, estava a já citada capa do Pop (embora sem aparecer a logo do jornal) e a de “O Hoje”, cujo título foi “Mineirão, 8 de julho de 2014”.

Triste título para um dia nem tão “triste”

[caption id="attachment_9720" align="alignleft" width="300"]Fotos: Reprodução Fotos: Reprodução[/caption] Ainda sobre as capas de “O Popular”: uma única chamada ocupou a metade superior da capa do jornal na quinta-feira, 10. Na verdade, era o principal tema, de fato, da primeira página — a manchete convencional ficou escondida na chamada “dobra de baixo”, menos valorizada, e tratava da liberação de recursos pelo Estado a prefeitos de municípios goianos no limite do prazo legal admitido pela legislação eleitoral. O título da nota tinha um viés depressiva: “Mais um dia triste”. O “mais”, todos entendiam, era uma alusão indireta à manchete do dia anterior, a quarta-feira em que todos os jornais estamparam a “tragédia” da eliminação da seleção da Copa organizada pelo Brasil — “tragédia” deveria ter sempre aspas quando se referisse a futebol. Mas o que poderia seria tão triste nesse dia seguinte a ponto de merecer tal destaque? A despedida de outra personalidade da importância histórica de Plínio Arruda Sampaio, cuja morte ofuscada justamente pela derrota acachapante no Mineirão? Um acidente de grande porte com um ônibus ou um avião? Um terremoto com milhares de vítimas? Nada disso. A foto da chamada mostra jogadores vestidos de azul e branco arrancando para uma corrida em festa. O primeiro à esquerda é Messi e o grupo é o da seleção argentina comemorando a classificação, nos pênaltis, para a final da Copa do Mundo. O texto completo: “Mais um dia triste — O constrangimento da torcida brasileira ao assistir o fracasso da seleção, humilhada por 7 a 1 pela Alemanha, anteontem, teve uma segunda dose de tristeza e dor ontem: a seleção argentina, rival histórica no futebol, vai fazer a final no Maracanã após eliminar a Holanda. Muitos brasileiros já repetem que são ‘Alemanha desde pequenininhos’.” Compreende-se que sair de uma competição de tal envergadura cause abatimento e desolação. O que não pegou bem foi qualificar o dia seguinte de “triste” simplesmente pelo fato de os argentinos terem feito sua parte, ainda que chegando à final da Copa praticando um futebol indigno de sua história e primando pelo antijogo — o que, no entanto, é assunto para outra pauta. Foi uma espécie de humor negro às avessas: em vez de zoar algo sério, fez-se um chiste de seriedade sobre algo que nada mais é que entretenimento. A “gracinha” do jornal talvez caísse bem em uma publicação de linha irreverente, talvez no próprio tabloide “Daqui”, também do Grupo Jaime Câmara, mas ficou desnecessária, forçada e totalmente fora do padrão de sobriedade que “O Popular” evoca. É um risco que corre quem quer descontraído, mas não está acostumado a isso. Foi com certeza uma manchete infeliz na história do jornal, que alguns dias antes havia acertado na mosca ao dividir a página entre a alegria pela classificação diante da Colômbia e a tristeza pela perda de Neymar: “Do riso fez-se o pranto”, o título, foi destaque nacional e apresentado com elogios em programas matutinos de canais esportivos País afora. Nem sempre se pode acertar. Mas é possível evitar desgastes desnecessários. Com seu segundo “dia triste”, o Pop errou duas vezes. Primeiro, por ignorar que há um contingente de argentinos em Goiás e outro, bem maior, de simpatizantes da seleção argentina, e que grande parte deles são leitores do jornal, o maior do Estado; e, em segundo lugar, por fazer troça usando manchete séria para um assunto fútil — embora o futebol seja “a mais importante entre as coisas menos importantes”, como disse o técnico Arrigo Sacchi, quando dirigia a vice-campeã Itália na Copa de 1994.

O Popular encarna o jornalismo pachecão e chuta longe o balde do patriotismo

Um jornal alemão não adaptaria sua logomarca pelo futebol. Mas, se agisse assim, certamente levaria a campanha além das eventualidades de vitórias e derrotas

O volante que parou e provocou expulsão de Pelé

Piazza não deixou o Rei jogar e provocou sua expulsão. Clodoaldo era craque. Falcão talvez tenha sido o maior volante brasileiro

Galvão Bueno não vai se aposentar, mas poderia mudar de função

[caption id="attachment_9142" align="alignleft" width="300"]Galvão Bueno: hora de se dedicar a outra função na TV Globo | Foto: Reprodução Galvão Bueno: hora de se dedicar a outra função na TV Globo | Foto: Reprodução[/caption] Infelizmente, para muitos, é falsa a notícia de que Galvão Bueno vá se aposentar depois da Copa. Ocorre que, independente da turma do contra, ele tem competência para estar na principal equipe de esportes do País. Mas Galvão é mais do que um narrador: ele faz dublê de showman e comentarista e, por isso, acaba se desviando de sua função essencial. Como narradores, Cléber Ma­chado e Luiz Roberto são, hoje, melhores que o criador de bordões. E Milton Leite (do Sportv/ Glo­bosat e que já fez jogos pela emissora em rede aberta também) é melhor do que os três. Todo profissional, em qualquer ramo, tem seu ápice e depois vem a decadência. Ou se recicla ou entra em parafuso. Cid Moreira, depois de anos à frente da bancada do “Jornal Nacional”, ganhou longa sobrevida porque se adaptou. O mesmo ocorreu com Léo Batista no esporte da Globo. Galvão Bueno pode ser um caso desses: superado na narração, pode se dedicar mais à apresentação ou um programa de variedades.

Overdose de mesas redondas

[caption id="attachment_9138" align="alignleft" width="300"]Tiago Leifert: bom humor, mas pouca profundidade no debate | Foto: Globo.com Tiago Leifert: bom humor, mas pouca profundidade no debate | Foto: Globo.com[/caption] Em época de qualquer Copa, os canais que trabalham com esporte têm de se desdobrar para atender à sanha do espectador, que quer se informar— e na verdade, à demanda que eles próprios se impõem. Imagine, então, se a Copa é no Brasil, como ocorre desta vez. Como era de se esperar, há uma overdose de mesas redondas, principalmente nos canais por assinatura. Algumas com teor mais técnico, convencionais, outras totalmente escrachadas. Ou seja, públicos para todos os estilos. Na Globo, o “Central da Copa” o formato de trazer convidados diversos faz com que vire uma espécie de “Altas Horas” sem Serginho Groisman. Como o público geral é pouco exigente com relação à crítica, predominam chistes e amenidades, comandados pelo bom (embora over muitas vezes) Tiago Leifert .

Jornalismo esportivo brasileiro não é o ideal, mas é mais maduro do que o dos países vizinhos

Apesar dos ufanismos à la Galvão Bueno, a imprensa esportiva brasileira está bem à frente da média dos colegas latino-americanos da mesma área de atuação, mais exagerados ainda

“Los brasileños”, não tão “bueníssimos” assim

Faz sucesso na internet um vídeo em que um garoto argentino contradiz uma voz feminina (provavelmente sua mãe), que quer que ele renegue o que insiste em repetir: “Los brasileños son bueníssimos” (os brasileiros são ótimos), comparando o futebol canarinho com o portenho. A situação é inusitada, porque é mais comum que ocorra o contrário — brasileiros gostarem de torcer pela Argentina. Talvez por isso o grande sucesso do filmete de pouco mais de um minuto e que foi reproduzido em vários programas esportivos. Mas ainda bem que o menino guarda essa imagem de “bueníssimo” de nosso futebol. Nós, nativos, não temos tido a mesma opinião convicta.