Artigo de Opinião

Haroldo Naves é presidente da Federação Goiana de Municípios e ex-prefeito de Campos Verdes por quatro mandatos

Há uma realidade que precisa ser encarada com clareza: filantropia não é improviso

“A verdade não é o oposto do erro, mas sim algo submetido a regimes de poder” (Michel Foucault)

Abril de 80 anos atrás colocou o Brasil na história dos fortes, dos vencedores, dos que fazem a cobra fumar. No mês seguinte, a Alemanha capitularia, acabando na Europa a 2ª Guerra Mundial, que continuaria na Ásia até o Japão se render, em agosto. Fiquei próximo do embate, com delay de década e meia, dentro de casa, ainda na infância. Tinha um parente queridíssimo, Tio Laurindo, marido de uma familiar da minha mãe, com quem a meninada adorava conversar. Na verdade, entrevistar. A gente o enchia de perguntas e ele, pacientemente, respondia com detalhes sobre sua participação como pracinha da FEB, a Força Expedicionária Brasileira, para livrar a Itália do nazifascismo. Era minucioso, falava devagar e pedíamos para repetir, de tão saborosas as narrativas.
Depois de conquistarem em fevereiro o Monte Castelo e La Serra Cota, e em março Castelnuovo, logo mais, em 9 de abril de 1945, tio Laurindo e seus colegas despedaçaram as linhas alemãs defensoras do que ainda restava do eixo na terra do já derrubado Benito Mussolini. Era a operação Encore, que uma semana depois chegaria ao apogeu com nossos conterrâneos quebrando outras duas etapas da contenção nazista e libertando Montese, cidade vizinha de Bolonha e Modena.
A gratidão daquelas pessoas foi tamanha que todo abril realizam a “Festa ela liberazione”, quando são gravados os vídeos de tanto sucesso no YouTube com estudantes locais cantando em português o hino da FEB. Enchem o peito no refrão:
“Nossa vitória final
Que é mira do meu fuzil
A ração do meu bornal
A água do meu cantil
As asas do meu ideal
A glória do meu Brasil”.
Tio Laurindo nos ensinou a letra e o ritmo da Canção do Expedicionário. Os italianinhos modernos vencem a molecada do meu tempo no quesito entusiasmo, até porque eles aprendem na escola sobre o heroísmo que aqui nos chega em forma de pilhéria. Se não fosse o próprio Tio Laurindo, essa bela página do Brasil com seus feitos passaria em branco para as crianças do meu bairro.
No livro “História oral do Exército na Segunda Guerra Mundial”, o general-de-brigada Thorio Benedro de Souza Lima reclama por seu batalhão, que entre outras proezas libertou Montese, ter sido apelidado de “Laurindo”:
“Essa expressão ‘Laurindo’, que foi música de carnaval, tornou-se uma denominação pejorativa”.
Entre 1934 e 1945, 9 sambas dos maiores compositores citavam Laurindo. Qual Laurindo? Era fictício, o que a imaginação mandasse, como nessa sequência parecida com os desafios de cordel:
Noel Rosa e Hervê Cordovil, em Triste cuíca, gravada por Aracy de Almeida em 1934: “Parecia um boi mugindo/ Aquela triste cuíca/ Tocada pelo Laurindo/ O gostoso da Zizica”.
Geraldo Augusto e João Antônio Pessanha, em Sem cuíca não há samba, cantada por Isaura Garcia, 1942: “Todo mundo cantava sorrindo/ Quando ouvia a cuíca na mão do Laurindo mugindo”.
Herivelto Martins com o Trio de Ouro, Laurindo, 1942: “Laurindo sobe o morro gritando/ Não acabou a Praça Onze, não acabou.”
Em 1944, Ari Monteiro, Arnaldo Passos e Newton Teixeira responderam no feminino, Laurinda: “Depois que a Praça Onze se acabou/ Você nunca mais sambou”.
Outro de Herivelto, mas com Príncipe Pretinho, Quem vem descendo, cantada pelo Trio de Ouro, 1943: “A caravana do Laurindo/ O lamento a gente ouvindo, não pode calar/ Há no seu canto a tristeza/ De lendária beleza que o tempo guardou/ Tristeza que vive num bronze/ Que a sambar na Praça Onze Laurindo ganhou”.
Haroldo Lobo, Jorge de Castro e Wilson Batista saíram-se em 1943 com Lá vem Mangueira! cantada por Déo: “Com harmonia, lá vem Mangueira!/ Vem Laurindo na frente, da bateria/ Perguntei: Conceição, o que aconteceu?/ Laurindo foi pro front, esse ano não desceu”.
O poema seguinte revelou no título a patente, Cabo Laurindo, de Wilson Batista e Haroldo Lobo, com Jorge Veiga, em 1945, já no pós-guerra: “Laurindo voltou coberto de glória,/ Trazendo garboso no peito a Cruz da Vitória./ Oi! Salgueiro, Mangueira, Estácio, Matriz estão agindo/ Para homenagear o bravo cabo Laurindo!/ As duas divisas que ele ganhou, mereceu./ Conheço os princípios que Laurindo sempre defendeu./ Amigo da verdade, defensor da igualdade./ Dizem que lá no morro vai haver transformação. Camarada Laurindo, estamos à sua disposição!”
O carrossel de temas retratou a mágoa do general. Reuniu as várias estrofes dos diversos autores como se fossem apenas um poema e concluiu que recebeu o apelido zombando de uma manobra planejada por ele e corretamente executada por milhares de Laurindos iguais a meu tio ao descerem os Apeninos. Para ele, havia uma relação com a descida de algum morro no Rio de Janeiro. Seguiram-se outros belos sambas mencionando Laurindo, todos exaltando as vitórias de nossos bravos: o Brasil teve a única tropa da 2ª Guerra que venceu uma divisão inteira de nazistas, com mais de 20 mil prisioneiros.
Graças aos sambas e aos batalhões que libertaram cidades mais velhas que o Brasil, o número de bebês batizados de Laurindo passou de 1.644 em 1930 para 2.570 em 1940 e 2.809 em 1950. Ou seja, meu tio estava na moda. Pior aprontaram as autoridades, que simplesmente se esqueceram de nossos heróis. Nos tempos de colégio, passávamos o 1º semestre nos preparando para os desfiles de 7 de Setembro. Encerradas as férias de julho, tínhamos 5 semanas para treinar as coreografias e fazer as vestimentas.
Os meninos sonhavam chegar ao ginásio, atualmente 2ª fase do fundamental, para ter a chance de se mostrar. Os do 1º ao 3º ano iam de short; do 4º ano, de calça. E o melhor: quanto mais evoluído, mais perto dos pracinhas, que abriam o desfile. Meu grande orgulho era ver Tio Laurindo todo garboso com seu uniforme. Excelente músico, ele tocava todos os instrumentos, TODOS, com um detalhe: dos 25.834 pracinhas, 467 morreram em combate, 2.700 voltaram feridos ou mutilados, milhares sofreriam com problemas advindos da guerra. Tio Laurindo retornou são e salvo, mas tinha o hobby de pescar com bomba, uma explodiu em sua mão direita, restou o toco de braço, batia continência com uma tosca prótese de plástico. E a multidão o aplaudia, agradecida. Porém, até a comemoração da Independência rareou. Os heróis que resistem 8 décadas depois devem estar envergonhados do país pelo qual arriscaram suas vidas e o representarem tão bem.

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por Zenilde Nunes Batista*
Vamos. Mas, colega, eu não vou dar meu apoio explícito a ninguém neste primeiro momento. Essa é a minha resposta a qualquer pessoa que me peça voto, a priori. Eu apoio é a disputa, e torço para que ela seja acirrada. Vou esperar pacientemente que as candidatas se posicionem de forma muito clara e objetiva sobre como pretendem tratar as situações de assédio que acontecem na Universidade.
Não existe mais pra mim esse negócio de "a nossa querida UFG", bordão criado e que tem a intenção clara de apelar às nossas emoções, colocando a instituição em que trabalhamos como uma figura, uma personagem, objeto de nossos afetos. Mas isso já deu, se revelou a pior das falácias. Eu já caí nessa cilada no passado, faço o mea culpa.
Entretanto, a UFG hoje pra mim é a repartição, o lugar onde trabalho, com muita dignidade, competência e responsabilidade, dando o meu melhor e de onde, com o meu suor, tiro o meu sustento, e é isso.
Claro que existe uma "querida UFG". Mas para um nicho bem específico e reduzido de pessoas, apenas. Aquelas que vivem há anos penduradas nos figurões, sempre com uma direção aqui, outra acolá, uma bolsa aqui, outra acolá... E voltar para sua posição de soldado de "baixa patente" não se coloca no horizonte. Aí fica fácil bancar essa hipocrisia de "nossa querida UFG".
Um dia, no banco da psicóloga, cheguei à conclusão de que vivi, por anos, em uma bolha na Universidade. Por muito tempo, achei mesmo que assédio e perseguição a agente público era uma coisa que não acontecia em nossa instituição. Posso dizer que conheci um outro universo uefegeano depois que saí desse casulo. Hoje, depois de ouvir relatos e também de ter passado por poucas e péssimas, consigo visualizar, com a lupa distanciada, como as coisas acontecem de fato.
Sempre demonstrei apoio publicamente ao candidato ou à candidata que entendia ser a melhor escolha para a universidade, mas hoje, a decepção é o que me move.
Há bem pouco tempo, quando eu estive em uma situação inadmissível no ambiente de trabalho, que me trouxe intenso sofrimento emocional, o meu apoio não veio, em nenhuma medida, de nenhum dos gestores que sempre ajudei a eleger.
É de conhecimento do público interno da UFG o desarranjo - pra ser generosa com as palavras - que se instalou na Editora UFG, meu órgão de lotação, em agosto/2024, quando o vice-reitor deu voz de exoneração ao então diretor da Editora.
E com a chegada do novo diretor, uma operação foi arquitetada contra mim: fui ameaçada de remoção de ofício, acossada,... e por fim, isolada em uma das livrarias da UFG. Não fui removida porque resisti, sozinha, porém firme, dando conta da violência institucional, no meu caminho tortuoso. Pessoas incríveis me apoiaram sim, MEUS COLEGAS, meu pares de outros Órgãos e Unidades. Mas, do topo do Olimpo, não teve figurão e nem figurinha nenhuma me dando qualquer tipo de apoio, uma conversa, uma carinha de espanto se admirando daquela situação absurda, nada... Enfim, a história é longa e o que importa é que agora estou bem. Quem quiser saber mais, pergunte-me no privado.
Quanto aos meus pares que me ajudaram, adoraria agradecer de público, porque me foi tão caro, tão importante o acolhimento que recebi naquele momento… Mas não o farei, pois os assediadores existem e estão por aí, à solta e precisamos estar atentos, inclusive para não comprometer os colegas. Mas quem gastou tempo conversando comigo sabe, e eu agradeço para sempre.
Bem, para terminar a história, além de mim, outra colega também sofreu perseguição na editora. Foi convidada a se retirar peremptoriamente, sob o eufemismo de “dimensionamento da força de trabalho” (contém ironia) e sem nenhuma justificativa plausível foi colocada à disposição da PROPESSOAS.
À guisa de conclusão, o que quero enfatizar, é que o personagem que engendrou tudo isso foi nomeado pela representação máxima da Gestão Superior. Foi chancelado pela casta dirigente - essa gestão acidental que nos restou desde 2022.
E agora pergunto: Será que uma das chapas aceitará apoio dessa gestão, que nomeia e chancela perseguidores, ao mesmo tempo em que publica uma resolução para prevenção ao assédio (piada pronta)? Isso para mim é um ponto crucial.
No início das minhas considerações, eu me referi às “candidatas” porque, por ora, temos duas candidaturas manifestas, de duas mulheres valorosas, cujas trajetórias têm todo o meu respeito. O que não se sabe ainda é sobre outras possibilidades, sobre o despontar de uma terceira via, uma quarta, por que não? Se a Universidade é um lugar de exercício da democracia, seria salutar que o debate se ampliasse para além de duas chapas.
Por fim, mas não menos importante: a matemática, a meu ver, é bem simples antes de votar - como será a partir do ano que vem? Quem recebe apoio, tem uma “dívida” com os apoiadores. É do jogo político, e é assim que funciona: quanto a isso, nada de novo debaixo do Sol. Mas a minha pergunta é: como a próxima gestão pretende lidar com as figuras que acossam e afligem colaboradores? Os perseguidores continuarão em postos de comando?
Fica o convite à reflexão.
*Zenilde Nunes Batista. Eleitora no processo eleitoral UFG 2025. Negra. Secretária Executiva. Egressa da UFG, onde aprendi a exercer a criticidade.

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