Por Euler de França Belém
“Exílio e Literatura — Escritores de Fala Alemã Durante a Época do Nazismo” (Edusp, 296 páginas, tradução de Karola Zimber), de Izabela Maria Furtado Kestler, revela que dezesseis mil exilados da Alemanha nazista e da Áustria vieram para o Brasil. Vários eram intelectuais e escritores. O período discutido pela autora é de 1933, ano da ascensão de Adolf Hitler, a 1945, ano de sua queda. A obra apresenta o que escritores e jornalistas exilados publicaram e analisa a literatura escrita no exílio, especialmente obras de autores como Stefan Zweig, Ulrich Becher e Hugo Simon.
Aldo Vannucchi conta, no livro “Alexandre Vannucchi Lemes — Jovem, Estudante, Morto Pela Ditadura” (Contexto, 176 páginas), a história do líder estudantil na USP e militante da esquerda. Aldo é seu tio e biógrafo. O livro é apresentado como um testemunho pessoal, dolorido. Não é uma vingança, e sim uma espécie de esclarecimento.

[caption id="attachment_16266" align="alignright" width="350"] O Pintassilgo é um livro belo e estranho, com misturas de tempo, em termos de narrativas, personagens e hábitos[/caption]
O cartapácio “O Pintassilgo” (Companhia das Letras, 719 páginas, tradução de Sara Grünhagen), da escritora americana Donna Tartt, desconcerta a crítica, mesmo um especialista como James Wood, da “New Yorker”, que não soube apreciá-lo. Os motivos? Aponto um: o romance é uma catedral do século 19 com frequentadores (com hábitos) do século 21. Há um cruzamento hábil, com movimentos rápidos e lentos — simulando um jogo ardiloso, nem sempre visível numa leitura apressada —, da prosa mais convencional do século 19, mais lenta e discursiva, com a prosa experimental do século 20, mais rápida e contida.
Donna Tartt escreve muitíssimo bem, arquiteta e amarra sua história à perfeição, mas deixando que as ambiguidades da vida frequentem suas linhas, com pontos não muito bem esclarecidos, e, ao final, faz um discurso filosófico, à moda mais de Fiódor Dostoiévski filtrado por Nietzsche e, quem sabe, Thomas Bernhard (que não a influencia, diga-se).
As influências literárias de Donna Tartt são espraiadas no romance, às vezes às claras, às vezes de maneira subterrânea. Dickens e Dostoiévski são as influências mais perceptíveis, e em vários trechos. A autora escreveu um romance americano que é filho das literaturas russa e inglesa. O estilo é meio lerdo, como o da prosa russa do século 19, e com personagens (dois meninos, seus pais e um restaurador de móveis) meio dickensianos.
A história é intrincada, às vezes parece não correr, com aparente enrolação (meia russa). Theo Decker visita um museu, nos Estados Unidos, com sua mãe. Há uma explosão, provocada por um ato terrorista, e ela morre. Theo leva do museu o quadro “O Pintassilgo”, do holandês Carel Fabritius (1622-1654) — o pintor morreu na explosão de um paiol —, e recebe de um moribundo um estranho anel.
Inicialmente, Theo vive com uma família rica, em Nova York, e, depois, vai morar com o pai, um escroque, em Las Vegas. Quando o pai morre, num acidente, o garoto volta para Nova York e vai morar com James Hobart, um personagem tipicamente dickensiano, ligeiramente modificado. Há, até, uma espécie de Raskólnikov, o criminoso Boris, um garoto de origem russo-ucraniana. Boris é quase uma Sônia, de “Crime e Castigo”, de calça? Quase é o termo. Porque Sônia, religiosa, não tem uma visão cínica do mundo, ao contrário de Boris. Agora, sem tirar nem pôr, Theo é um “filho” de Dickens plantado por Donna Tartt na América. É uma história policial? Também. Na prática, uma história literária refinada. A relativamente reclusa Donna Tartt é autora de mais dois romances de alta qualidade.

[caption id="attachment_16256" align="alignleft" width="350"] Livro de pesquisadora norte-americana revolve a crise que levou à falência total do socialismo no Leste Europeu[/caption]
Trecho do excelente livro “A Cortina de Ferro — O Fim da Europa de Leste” (Civilização Editora, 697 páginas, tradução de Miguel Freitas da Costa), da historiadora e jornalista Anne Applebaum, ex-professora de Yale e Columbia: “Num epílogo posterior a ‘As Origens do Totalitarismo’, Hannah Arendt escreveu que a Revolução Húngara ‘foi totalmente inesperada e apanhou toda a gente de surpresa’.
“Como a CIA, o KGB, Kruchev e Dulles, Arendt tinha chegado a acreditar que os regimes totalitários uma vez que se infiltrassem na alma de uma nação eram praticamente invencíveis.
“Estavam todos enganados. Os seres humanos não adquirem ‘personalidades totalitárias’ com essa facilidade toda. Mesmo quando parecem enfeitiçados pelo culto do chefe ou do partido, as aparências podem ser enganadoras. E mesmo quando parece que estão totalmente de acordo com a mais absurda propaganda — mesmo quando estão a marchar em paradas, a entoar slogans, a cantar que o partido tem sempre razão —, o feitiço pode repentinamente, inesperadamente, dramaticamente, ser quebrado” (página 584).
O jornalista Alexandre Braga lançou, na semana passada, o jornal “Diário Canedense” (www.diariocanedense.com.br). O “DC” cobre bem a cidade, faz um jornalismo popular, mas não é inteiramente popularesco.
Uma jornalista da CBN Goiânia gagueja, com frequência, ao ler notícias do dia. O editor da rádio deveria encaminhá-la para um fonoaudiólogo. A CBN Goiânia precisa também investir mais em jornalismo e evitar, pelo menos em parte, o popular “gilete press”.
A “Veja” publica uma reportagem exclusiva revelando que o porão dos governos do PT é mais sujo do que se imaginava. Na capa, a revista posta o título: “Exclusivo — O núcleo atômico da delação”. Acrescentando a informação: “Paulo Roberto Costa diz à Polícia Federal que em 2010 a campanha de Dilma Rousseff pediu dinheiro ao esquema de corrupção da Petrobrás”.
Os depoimentos de Paulo Roberto Costa, como ele prometeu, pode mesmo derrubar a República, ainda que seja feita a eleição. Até agora, a presidente Dilma Rousseff “passeava” incólume, mas as denúncias começam a colar na petista, que, breve, pode deixar de ser teflon.

[caption id="attachment_16174" align="alignleft" width="620"] Professor Weslei (à esquerda) ultrapassou Antônio Gomide na última rodada Ibope | Fotos: Reprodução[/caption]
Devido ao possível erro na pesquisa divulgada na quinta-feira, 25 — que apontou o professor Weslei Garcia, candidato do PSOL a governador de Goiás, com 5% (o dado provável é de 0,5%) —, o Ibope dará uma nova pesquisa para a TV Anhanguera, a ser divulgada na quarta-feira, 1º.
A nova pesquisa sugere que, indiretamente, o Ibope sinaliza que errou na intenção de voto de Weslei Garcia. Não se trata de um erro com intenção de elevar um candidato ou prejudicar outros candidatos, como o do PT, Antônio Gomide, que caiu de quarto para quinto lugar. Provavelmente, trata-se menos de um erro de tabulação que de digitação.
Do embate da Prefeitura de Goiânia com a Câmara Municipal para aumentar o IPTU na capital resta pelo menos um aspecto positivo: a impressão de que ainda existem parlamentares independentes e bem preparados para o debate — com capacidade, sensibilidade e criatividade para, ao menos, tentar barrar o rolo compressor do Executivo.
O vereador Virmondes Cruvinel (PSD) deu exemplos de criatividade aos seus colegas durante a votação do IPTU por vários motivos. Primeiro porque levou o assunto às redes sociais para saber o que o seu público pensa sobre a majoração do tributo. Praticamente todos os seus seguidores foram contra o aumento, o que subsidiou seu posicionamento desde então.
Segundo porque, ao votar contra o projeto da prefeitura, gravou um vídeo selfie de sua participação na tribuna e postou imediatamente na internet. Se alguém estava pedindo modernidade na representação política, eis um modelo. Virmondes também votou contra a venda de áreas públicas e a favor do voto aberto para a cassação de parlamentares. Um craque do futuro? Não. Do presente.
Em Brasília, entre ricos e pobres, o deputado federal José Antônio Reguffe (PDT) é chamado de “Rei Guffe” e, às vezes, de são Francisco de Assis. Com estrutura mínima, com o uso mais da fala e de caminhadas incansáveis, sem cabos eleitorais, Rei Guffe faz uma campanha eleitoral absolutamente franciscana, ao contrário de outras campanhas milionárias. A pesquisa do Ibope divulgada nesta semana mostra o Rei Guffe com 37% das intenções de voto (cima da pontuação do candidato a governador do Distrito Federal de sua coligação, Rodrigo Rollemberg). O segundo colocado é o petista Geraldo Magella, com 16%. O senador Gim Argello, do PTB, tem 13%. Sandra Quezado é citada por 3%.
Os principais adversários do Rei Guffe, somados, têm 32%. O candidato do PDT tem 5% a mais do que os três juntos.
O Ibope mostra o Rei Guffe em ascensão. Ele subiu 2%. O PT deve perder o governo do Distrito Federal e possivelmente não fará o senador. Será uma das maiores derrotas do partido no país.
A crise do IPTU está escondendo outra crise. Há pelo menos um grupo que não quer o fortalecimento da tendência liderada por Rubens Otoni e Antônio Gomide

Peemedebistas que frequentam o comitê eleitoral do candidato do PMDB ao governo de Goiás, Iris Rezende, dizem que a primeira ordem do momento é: evitar que Marconi Perillo, candidato do PSDB, seja eleito no primeiro turno.
A segunda ordem é: trabalhar para que, em caso de segundo turno, Iris não chegue lá tão desidratado e, deste modo, leve uma goleada.
A terceira ordem é: combater a tese de que Vanderlan Cardoso está crescendo e tem condições de ir para o segundo turno contra o tucano-chefe.
Se necessário, Iris, que está preservando Vanderlan, vai partir para o ataque, sugerindo que o empresário investe mais em outros Estados do que em Goiás. O peemedebismo também vai sugerir que o candidato do PSB administrou apenas um município pequeno e, portanto, não tem experiência administrativa.
Aliados de Iris têm dito que o peemedebista aceita até perder para Marconi, mas não admite ficar em terceiro lugar.
[Marina Silva e Rodrigo Rollemberg: Brasília é do PSB]
Pesquisa de intenção de voto do Ibope, divulgada na quarta-feira, 24, mostra o candidato do PSB a governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, com 31% (tinha 28% no levantamento anterior). O segundo colocado, Jofran Frejat, do PR, tem 21% (manteve o índice da pesquisa anterior). O governador Agnelo Queiroz, do PT, aparece com 19% (caiu dois pontos). Tecnicamente, o republicano e o petista estão empatados, porém o primeiro está em ascensão, enquanto o segundo está patinando em todas as pesquisas. A possibilidade de Frejat ir para o segundo turno é maior, para disputar com Rollemberg – chamado em Brasília de “Marina Silva de calça” –, é, portanto, maior. O tucano Luiz Pitiman e Toninho, do PSOL, têm 3%. Perci Marrara, do PCO, não foi citado pelos eleitores. 14% não responderam. Brancos e nulos são 9%.
A pesquisa do Ibope, com margem de erro de 2% para mais e para menos, foi feita entre 21 e 23 de setembro, e ouviu 1.610 eleitores. Registro nº: DF-00057/2014.
Segundo turno
No segundo turno, confirmando sua vitalidade no primeiro turno, Rollemberg seria eleito contra qualquer um dos candidatos. Contra Frejat, que teria 25%, Rollemberg teria 47%. Contra Agnelo Queiroz, que ficaria com 20%, o candidato do PSB teria 52%. A pesquisa sugere que Agnelo é o candidato mais fácil de ser batido. Frejat derrotaria Agnelo – por 43% a 27%.
Rejeição
Agnelo é o primeiro colocado em rejeição – com 44%, um dado, aparentemente, intransponível. A rejeição de Rollemberg é a menor – 5%. Frejat tem rejeição de 16%. Pitiman: 10%. Toninho: 9%. Perci: 8%.
Governo mal avaliado
A pesquisa mostra que 47% dos entrevistados avaliam a gestão de Agnelo como ruim ou péssima. Um dado elevado. 32% a avaliaram como regular. 18% admitem que é ótima ou boa. 3% não responderam.
Na avaliação pessoal de Agnelo, 64% disseram que não o aprovam. 27% o aprovam. 9% não responderam.
A avaliação altamente negativa do governo e de Agnelo sugere que o petista dificilmente irá para o segundo turno.
A maioria do PT não queria aliança com o PMDB na disputa pela Prefeitura de Goiânia em 2008. Rejeitava-se a aliança com o candidato Iris Rezende. No entanto, por um milagre quase inexplicável, dois jovens do PT, que inicialmente não queriam a união com Iris, de repente mudaram de posição e passaram a apoiá-la.
O que a Articulação fez para “virar” os votos dos dois jovens – que resultou num apoio apartadíssimo a Iris, com a indicação do petista Paulo Garcia para vice – até hoje não mereceu um esclarecimento definitivo. Aproveitando a crise atual, o vereador Tayrone di Martino – vice na chapa de Antônio Gomide, candidato do PT a governador de Goiás – poderia explicar o que de fato aconteceu. Ele possivelmente sabe como os dois votos foram “virados”.
A adesão envolveu dinheiro? Político sincero e articulado, Tayrone di Martino poderia ajudar o goianiense a entender se o apoio dos dois jovens custou mesmo algum dinheiro? Teria custado módicos 30 mil reais – 15 mil reais para um dos garotos? Não se sabe.
O prefeito de Jataí, Humberto Machado, do PMDB, não apoia a candidatura de Iris Rezende para governador. Mas apoia a candidatura do deputado federal Ronaldo Caiado, do DEM, para senador.
Na terça-feira, 24, Machado hipotecou total apoio a Caiado e participou de uma caminhada nas avenidas Goiás e Dorival de Carvalho. “Vamos enviar para Brasília o melhor senador do País. O Brasil tem grandes nomes na política, mas nenhum é tão capacitado como Ronaldo Caiado. Esse é um momento que o Brasil será passado a limpo e que somente os melhores ficarão. O Ronaldo é um deles”, disse o prefeito, apontado como um dos mais qualificados do Estado.
Machado frisou que Caiado é decisivo na defesa dos produtores rurais e do agronegócio. “Hoje, o agronegócio carrega o Brasil, e muito por causa do trabalho de Ronaldo. Antigamente, enfrentávamos juros altos, dificuldades. Hoje, somos os produtores mais qualificados do mundo graças ao Ronaldo, que levou os nossos problemas para os debates e nos trouxe soluções”, afirma o prefeito.