Por Euler de França Belém
As pesquisas de intenção de voto dos institutos Serpes, Fortiori, Grupom e Veritá sugerem que o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, pode ser eleito no primeiro turno. Mas o candidato do PMDB, Iris Rezende, aposta que, apesar das pesquisas, o Estado terá segundo turno. A disputa, na avaliação dos peemedebistas, será entre Marconi — os que apoiam Iris admitem que o tucano deve ter mais votos no primeiro turno — e Iris.
Se tiver segundo turno, o marketing de Iris deve ser mudado, mas preservando parte do que fez no primeiro turno. O programa tende a ser metade propositivo e metade crítico das gestões de Marconi. O PMDB vai para o “tudo ou nada”.
Para comandar um programa mais hard, o deputado federal Ronaldo Caiado deve assumir a coordenação geral da campanha e o marqueteiro Jorcelino Braga (foto) deve ser convocado. Renato Monteiro, o nome preferido do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, do PT, não quis assumir a campanha no segundo turno.

Comercializando livros com preços mais baixos, a Amazon contribuiu para a falência de livrarias e crise de editoras nos Estados Unidos, mas reinventou a leitura, com o Kindle, e agora deve mexer com a acomodação das livrarias e editoras brasileiras. Entrega rápida de produtos é um de seus principais trunfos
[caption id="attachment_16316" align="alignleft" width="620"] Jeff Bezos, o empresário que criou a Amazon, agora é dono do Washington Post e tem uma fortuna de mais de 25 bilhões de dólares[/caption]
Recentemente, adquiri “Um Homem Torturado — Nos Passos de Frei Tito de Alencar” (Civilização Brasileira, 418 páginas), de Leneide Duarte-Plon e Clarisse Meirelles. Pedido no site da Livraria Cultura, o livro demorou mais de um mês para chegar. Entrei em contato por e-mail e recebi a seguinte explicação: “Referente ao pedido 5412340, informamos que houve um atraso no processo logístico ao faturar o item. Porém o item se encontra em posse de nosso prestado que estará efetuado a entrega em breve. Por esse motivo nós lhe devolveremos o valor pago no frete de R$ 6,15” (transcrevo sem corrigir os erros de português). Ressalvo que a Cultura é a livraria que trata o cliente com mais respeito no Brasil e tem um dos maiores acervos, inclusive comercializa livros de editoras menores que não são colocados nas estantes das demais livrarias. A livraria virtual Amazon, recém-instalada no País, promete atender o cliente rapidamente e com preços mais baixos. “A habilidade da Amazon de entregar produtos com eficiência e dentro de prazos precisos lhe deu uma clara vantagem competitiva sobre seus rivais”, afirma o jornalista Brad Stone, no livro “A Loja de Tudo — Jeff Bezos e a Era da Amazon” (Intrínseca, 398 páginas, tradução de Andrea Gottlieb). A empresa, que faturou 62 bilhões de dólares em 2012 — seu 17º ano de operação —, foi financiada, inicialmente, com 10 mil dólares de Bezos. A Amazon é um vírus insidioso que, depois de penetrar no sistema de defesa do mercado, não sai mais, contaminando tudo. Livrarias e editoras brasileiras que fiquem muitas atentas com uma empresa que se considera “missionária”, mas é apontada como “mercenária”. Seus dirigentes não têm pudor algum de destruir concorrentes.
O romance “O Pintassilgo” (Companhia das Letras, 719 páginas, tradução de Sara Grünhagen), de Donna Tartt, custa R$ 36,90 na Amazon (o preço varia durante a semana). Na Livraria Cultura, em São Paulo, e nas livrarias de Goiânia custa R$ 49,50. São R$ 12,60 a menos no site da Amazon (o qual informa, errado, que o livro é de Donna Tartt e de Sara Grünhagen, mas esta não é a autora, e sim a tradutora).
No Brasil, por enquanto, a Amazon é “apenas” uma livraria virtual, mas, nos Estados Unidos, vende quase tudo, como DVDs, músicas, roupas, equipamentos eletrônicos. “Queremos ser o lugar onde uma pessoa encontra e descobre tudo que quer comprar”, afirma Bezos (sobrenome cubano, pronuncia-se “Bei-zos”, e não “Bi-zos”). Sobretudo, é uma empresa guerreira, selvagem, predadora. É uma espécie de Al-Qaeda das livrarias. Onde se instala deixa um rastro de destruição, com livrarias quebradas e funcionários desempregados. Sob sua hegemonia, várias livrarias físicas fecharam as portas nos Estados Unidos. “Durante os anos 1990, a Borders fundou livrarias imensas em shopping centers por todo o território norte-americano e em Cingapura, na Austrália e no Reino Unido, entre outros países, passando de 224,8 milhões de dólares em vendas em 1992 para 3,4 bilhões em 2002. A rede fechou em 2011, demitindo 10.700 funcionários”, afirma Brad Stone. Culpa só da empresa de Bezos? Não. A Borders não soube investir no comércio virtual, perdendo novos e sendo abandonada por velhos consumidores de livros.
Como empresário, Bezos é de uma agressividade que espanta capitalistas ortodoxos, como os dirigentes do hipermercado Walmart, que chegaram a processá-lo. Quando o romance “Harry Potter e o Cálice de Fogo” foi lançado, “a Amazon ofereceu 40% de desconto na compra do livro e entrega expressa [mais rápida], para que os consumidores o recebessem no sábado, 8 de julho [de 2000] — dia do lançamento —, pelo mesmo custo da entrega comum. A Amazon perdeu alguns dólares em cada um dos 255 mil pedidos. Mas Bezos se recusou a ver essa ‘jogada’ como qualquer outra coisa que não uma forma de conquistar fidelidade do consumidor”.
No Brasil, a Amazon está comprando livros patrocinados pelas livrarias Cultura e Saraiva por um preço mais elevado e vendendo por preços menores, com prejuízo. Alega que está conquistando e fidelizando clientes. Onde comprar mais barato? Aos poucos, os consumidores, no lugar de consultar outros sites, irão direto ao site da Amazon. A tese de Bezos, segundo Brad Stone, é ter “preços baixos todos os dias”. A palavra do empresário: “Existem dois tipos de vendedores: os que trabalham para descobrir como cobrar mais e os que trabalham para descobrir como cobrar menos, e nós seremos o segundo, ponto final”. Ao executivo Steve Kessel, Bezos recomendou: “Quero que você aja como se sua meta fosse deixar todos aqueles que vendem livros físicos desempregados”. O consumidor aprova suas táticas de vender mais barato a qualquer custo e sua entrega de produtos, em geral, veloz.
Dois “segredos” da Amazon são contratar os melhores profissionais do mercado, pagando-os bem, e exigir agressividade extrema e otimismo realista em tempo integral. Quem hesita, ante metas ambiciosas, é expurgado da empresa, sem dó, piedade ou agradecimento. Bezos considera que a Amazon, mais do que uma livraria, é uma empresa de tecnologia. Tanto que, em 2007, lançou o Kindle, mudando a forma de se ler e ter acesso a livros. Antes disso, no final dos anos 1990, ele vaticinou: “Acredito firmemente que em algum momento a grande maioria dos livros será publicada em formatos eletrônicos”. E sugeriu que era fundamental “dominar o negocio dos e-books”. “Não queremos ser a Kodak”, sublinhou.
Qual o título adequado para Bezos? O empresário aprecia ser qualificado de “rei do comércio eletrônico” e a Amazon é vista como “a loja de tudo” ou “a superloja que domina a internet”.
Por que, exatamente, a Amazon derrotou gigantes como a Barnes & Noble e a Borders? Seus adversários citam a “agressividade”, táticas antes vistas como suicidas — vender com prejuízo, num primeiro momento — e atos que consideram “ilegais”, mas, na prática, típicos do capitalismo, que é predatório em qualquer época e lugar. Eles têm razão, mas não podem ignorar a competência e a disposição de Bezos para criar novas áreas de atuação. “A página da empresa continha milhões de títulos, e não apenas os cerca de 150 mil encontrados nas prateleiras de megalojas da Barnes & Noble. Ao contrário dos varejistas tradicionais, ela devolvia poucos livros não vendidos — muitas vezes menos de 5%. As grandes redes de livrarias regularmente devolviam 40% dos livros que haviam adquirido das editoras e obtinham um ressarcimento total, um acordo único no varejo.”
Paralelamente à batalha contra as livrarias físicas, que perderam terreno, a Amazon passou a cutucar as principais editoras. “A Amazon usou uma abordagem agressiva com as editoras. Ela exigiu ajustes com descontos maiores em compras grandes, períodos mais longos para pagar suas contas e acordos de envio que serviriam para aumentar os descontos da Amazon. As editoras que não aceitavam essas condições eram ameaçadas de ter seus livros retirados do sistema automático de personalização e recomendação do site, o que significava que eles não seriam mais sugeridos aos clientes”, relata Brad Stone. Aí as vendas das editoras caíam, porque a Amazon era e é a maior vendedora de livros dos Estados Unidos. “As editoras ficaram chocadas. A empresa, antes vista como um contraponto bem-recebido pelas redes, agora representava constantemente novas exigências.” Uma delas, a principal, eram preços mais baixos. As livrarias e editoras brasileiras vão sentir o poder de pressão da Amazon aos poucos. Por enquanto, seus dirigentes, interessados num mercado gigante, estão tateando o terreno. Depois, conhecida a área, com o time inteiramente em campo, as pressões vão ser intensas e, até, monopolistas. Os preços mais baixos, com diferenças que impressionam, começam a incomodar sobretudo as livrarias físicas, como Cultura, Saraiva e Fnac (que é mais uma loja de departamentos do que livraria; em Goiás, na área de livros, seu atendimento é o pior, muito atrás da Leitura e da Saraiva). Editoras como Record e Companhia das Letras, gigantes locais, certamente vão “sofrer”, a médio prazo, nas mãos da Amazon. São empresas físicas, com despesas físicas, disputando com uma empresa que, apesar de ter parte de seu empreendimento físico, é, no geral, virtual, com custo de manutenção menor.
A primeira grande guerra da Amazon foi com as divisões europeias da Random House, da Hachette e da Bloomsbury. A empresa de Bezos decidiu boicotá-las. O executivo Randy Miller admite: “Fiz tudo que pude para acabar com o desempenho delas”. “Ele aumentou o valor de alguns livros do catálogo para o preço integral e os retirou do mecanismo de recomendações do site; em alguns casos, como no dos guias de viagem, ele passou a promover títulos semelhantes de concorrentes”, conta Brad Stone.
A “briga de facas”, no dizer de Sloan Harris, com a Macmillan deixou o mercado estupefato com a virulência da Amazon. Como a Macmillan não aceitou os termos do negócio de e-books, Bezos mandou retirar o anúncio de seus livros do site. A Amazon só cedeu, algumas vezes, sob pressão, sobretudo quanto processada judicialmente (na Europa — Alemanha e Franca — enfrenta uma verdadeira batalha jurídica com editoras e livrarias). A própria empresa processou editoras e a Apple, acusando-as de estarem “envolvidas numa conspiração ilegal para fixar os preços dos e-books”. Porém, antes do acordo com a Apple, algumas editoras já atrasavam a entrega de livros para a Amazon.
O jogo era e é brutal, sem meias medidas. “As sessões de persuasão da Amazon às editoras eram seguidas por ameaças. Editoras que não digitalizassem um parcela aceitável de seus catálogos ou não o fizessem rápido o bastante eram informadas de que corriam o risco de perder sua posição de destaque nos resultados de busca do site e nas recomendações da companha para os clientes”, assinala Brad Stone. A Amazon passou até a publicar best sellers para tentar reduzir o poder das editoras.
Com os livros digitais, a Amazon partiu, de vez, para cima das editoras. Sem nenhuma pesquisa, apostando puramente na intuição, Bezos definiu um preço — 9,99 dólares — para os livros digitais e lançamentos. As editoras estrilaram e as livrarias não puderam, de imediato, competir em igualdade de condições. “Os consumidores são inteligentes, e achamos que eles esperariam e mereceriam livros digitais com preços inferiores aos dos livros físicos”, diz Steve Kessel.
Chegada do Kindle
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Livro mostra que Jeff Bezos, o chefão, faz investimentos que darão prejuízo mas pensando
em fidelizar o consumidor[/caption]
Bezos, para quem o Céu é o limite, quer sempre mais (investe até em pesquisa espacial e comprou, há pouco, o “Washington Post”, o jornal que contribuiu, de maneira decisiva, para a renúncia do presidente Richard Nixon, dos Estados Unidos, em 1974), e investe pesado em tecnologia, sem receio de a empresa ter de lidar com prejuízos.
Em novembro de 2007, depois de investir milhões de dólares e contratando cientistas das melhores universidades e de empresas de criação tecnológica, Bezos apresentou o Kindle. Brad Stone frisa que “a concorrência foi pega de surpresa pelo sucesso do Kindle”, que facilitava a leitura dos livros digitais. A livraria Barnes & Noble avaliou que seria um fracasso e deu-se mal. “A inovação tecnológica causou problemas terríveis à companhia e à indústria como um todo. Ninguém foi mais afetado do que as editoras”, destaca Brad Stone.
As livrarias foram brutalmente atingidas. Em 2007, enquanto a rede gigante de livrarias Barnes & Noble faturou 5,4 bilhões, a Amazon faturou 14,8 bilhões.
Ao final das guerras entre o capitalismo supersônico da Amazon e o capitalismo retardatário de editoras e livrarias, quem for competente, especialmente se não ficar criando e fortalecendo a figura do bicho-papão, vai sobreviver. A excelente Cultura, a mais qualificada livraria do País, dificilmente sucumbirá.
Do ponto de vista dos consumidores, dos leitores, o Kindle foi uma revolução. “O Kindle 2” pode “facilmente ser considerado o dispositivo que revolucionou o ramo de publicação e modificou a forma como as pessoas do mundo inteiro leem livros. A Amazon tinha 90% do mercado de leitura digital.” Caiu, em 2012, para 60%.
Rio Amazonas
Bezos não aprecia estabelecer vínculos pessoais com seus profissionais, mas procura motivá-los para render o máximo possível. Grita, berra e demite a rodo. Funcionários que erram com frequência são demitidos porque o empresário avalia que continuarão errando. Ele sustenta a tese de que seus funcionários estão na Amazon para contribuir para o seu desenvolvimento e expansão — não para aprender, não para estagiar. Uma empresa de ponta, altamente competitiva, não é um centro de filantropia. O critério para conquistar os melhores profissionais do mercado? Pagar bem. Ele detesta “bonzinhos” e “medíocres”. Quando está se repetindo, quando não está criando, tira um período sabático e volta revigorado. Ele praticamente obriga seus melhores executivos a lerem e a ficarem atentos aos bons livros.
O nome Amazon naturalmente tem a ver com o Brasil. “No ano de 1994, Bezos procurou no dicionário todas as palavras que começavam com a letra A e teve uma epifania ao chegar à palavra ‘Amazon’. O maior rio da Terra; a maior livraria da Terra.” O site entrou no ar em julho de 1995. Bezos tem uma fortuna avaliada em 25 bilhões de dólares. A empresa faz 20 anos em 2015.

[caption id="attachment_16311" align="alignright" width="620"] Kim Phuc, vietnamita de 9 anos, corre, queimada por Napalm: a foto chocou e comoveu o mundo e ajudou a pôr um fim à Guerra do Vietnã[/caption]
Leitores perguntam, com certa insistência, se aprovo a divulgação de vídeos escandalosos e de vídeos que chamam de “sádicos”.
Entre os escandalosos estão os que expõem pessoas nuas, famosas ou não, ou, às vezes, mantendo relações sexuais.
Se o próprio indivíduo expõe os vídeos, não faço nenhum reparo. É seu direito. Porém, se o vídeo foi “roubado” e é exibido contra a vontade da pessoa, aí oponho-me à sua divulgação. Trata-se, a vulgarização, de um crime.
No caso dos vídeos que os leitores denominam de “sádicos” — as imagens de um tigre matando um jovem e de um terrorista decapitando um jornalista —, nada tenho contra a divulgação.
O vídeo do tigre, comecei a ver e, rapidamente, desisti. Sugiro, portanto, que as pessoas façam suas escolhas, como fiz a minha, mas não proponho qualquer censura. Um alerta — “este vídeo contém cenas fortes” — talvez seja apropriado. A ressalva é que um aviso deste tipo serve mais como incentivo.
O vídeo de um jornalista sendo decapitado, por lamentável e chocante que seja, é informação, um fato. É importante, mesmo para quem não queira vê-lo, saber o que os terroristas do Estado Islâmico fazem com inocentes. É possível sugerir que sua divulgação maciça contribui para que seja aceita a violência americana no Iraque, e não apenas contra terroristas. Quando militares dos Estados Unidos atacam esconderijos terroristas, no Iraque ou em outros países, eventualmente centenas de inocentes também morrem. A maioria não está envolvida diretamente na guerra, embora muitos sejam usados como “escudos” por terroristas.
A foto da menina vietnamita Kim Phuc, de 9 anos, correndo nua e queimada, na Guerra do Vietnã (militares americanos jogaram napalm), contribuiu, em larga medida, para que o mundo condenasse a ação dos Estados Unidos e para acelerar o fim da batalha. A foto é chocante, permanece explosiva, mas quem pode sublinhar que sua publicação não foi relevante?
Veja vídeo com cenas de jornalistas que foram decapitados:
https://www.youtube.com/watch?v=9soEUzx-Q5A
[caption id="attachment_16302" align="alignright" width="250"] Jornalistas como William Bonner e Fátima Bernardes se tornaram capitalistas[/caption]
O economista francês Thomas Piketty, autor do livro “O Capital no Século XXI” (Intrínseca, 768, tradução de Monica Baumgarten de Bolle), diz que alguns indivíduos que são vistos como trabalhadores deveriam ser percebidos como capitalistas. É o caso dos executivos de algumas empresas e mesmo jornalistas. O apresentador e editor-chefe do “Jornal Nacional”, William Bonner, recebe 1,5 milhão de salário (18 milhões por ano) — valor que extrapola a ideia de salário e pode ser considerado praticamente participação nos lucros —, um rendimento mensal que muitas empresas de médio porte não obtêm.
Na semana passada, a “Folha de S. Paulo” revelou que, além de um salário de 1,5 milhão de reais, a jornalista Fátima Bernardes, apresentadora de um programa matutino na Globo, está se tornando uma das garotas-propaganda mais bem pagas do País. Seu cachê saltou de 5 milhões para 10 milhões. Ela faturou 5 milhões da Seara, segundo o jornal.
É provável que Piketty tenha razão: alguns executivos e jornalistas se tornaram neocapitalistas. Dizer isto nada tem de pejorativo. É uma constatação de como o capitalismo se tornou mais “absorvente” — transformando setores das classes médias em, para usar uma linguagem antiquada, burgueses.
O Jornalistas&Cia e o Maxpress, por meio de votação, listaram os 100 jornalistas mais admirados do Brasil. Observando a lista, sobretudo dos dez mais admirados, é possível concluir que o País resume-se a São Paulo e Rio de Janeiro. Não há jornalistas do Rio Grande do Sul, do Paraná, de Minas Gerais, de Goiás, da Bahia, de Pernambuco. É provável que os mais admirados sejam, na verdade, os mais conhecidos. Tanto que, do chamado top 10, sete são profissionais de redes de televisão, que são os mais vistos e lembráveis. Eis o chamado top 10: 1 — Ricardo Boechat — Apresentador da TV Bandeirantes. 2 — Miriam Leitão — Comentarista da Globo News e colunista de “O Globo”. 3 — Elio Gaspari — Colunista e articulista da “Folha de S. Paulo” e de “O Globo”. 4 — Caco Barcellos — Repórter da Rede Globo. 5 — William Waack — Apresentador do “Jornal da Globo”. 6 — William Bonner — Apresentador e editor-chefe do “Jornal Nacional”. 7 — Carlos Alberto Sardenberg — Comentarista do Globo News. 8 — Mino Carta — Diretor de redação da revista “CartaCapital”. 9 — Eliane Brum — Colunista do jornal “El País” e repórter. 10 — José Hamilton Ribeiro — Repórter do “Globo Rural”, da TV Globo.
Autor de livros importantes, como “Cachorros de Palha”, “A Anatomia de Gray”, “Missa Negra”, “Al-Qaeda e o Que Significa Ser Moderno”, “Falso Amanhecer”, o filósofo John Gray lança mais um livro polêmico, “A Busca Pela Imortalidade — A Obsessão Humana em Ludibriar a Morte” (Record, 251 páginas, tradução de José Gradel).
Gray, filósofo que desagrada a esquerda e a direita, dadas suas críticas contundentes a ambas, diz, no livro mais recente, que, “durante o final do século 19 e o começo do século 20, a ciência transformou-se em um instrumento investido contra a morte. O poder do conhecimento foi convocado para libertar os seres humanos de sua mortalidade. A ciência foi lançada contra a ciência e tornou-se um canal para a magia”.
Muitos, afirma Gray, “voltaram-se para a ciência para escapar ao mundo que a própria ciência havia revelado”. O filósofo frisa que, “na Rússia, assim como na Grã-Bretanha, a ciência era usada como uma forma de não aceitar a lição de Darwin de que os seres humanos são animais, sem nenhum destino especial que lhes assegure um futuro além de seu lar terreno”.
Gray deu aulas na London School of Economics, Oxford, Harvard e Yale.
Na terça-feira, 23, “O Popular” publicou uma extensa reportagem, “Saída de Walter Paulo reduz grupo ligado a Cachoeira”, na capa de seu caderno de política. Fica-se com a impressão de que o jornal está perdendo tempo com temas, na verdade, de pouco interesse para a população. Há um problema técnico. “O Popular” não percebeu que, se não tem mandato e se não foi eleito — pelo contrário, desistiu de disputar cargo na Câmara dos Deputados —, como se pode sugerir que, com sua saída, Walter Paulo reduz grupo ligado a Cachoeira? Será possível dizer que, se uma jornalista “x” sair de um diário local, o grupo de Cachoeira ficará menor na redação?
O Serpes é um instituto de pesquisa de nível nacional. No entanto, algumas reportagens do “Pop” que interpretam seus dados, como uma do jornalista Caio Salgado (Fabiana Pulcineli, embora às vezes idiossincrática, interpreta-os de maneira muito mais qualificada), são de um primarismo atípico. Algumas vezes, o levantamento diz uma coisa e a reportagem, outra.
Ao entrevistar o governador Marconi Perillo, na Rádio 730, o jornalista Vassil Oliveira, um profissional correto e competente, insistiu num ponto: o blog Goiás 24 Horas conta com a anuência do tucano-chefe? Marconi disse que, se o repórter tiver provas de que “orienta” o blog, que apresente-as e, se necessário, que recorra à Justiça. O blog é editado por Cristiano Silva. Não seria o caso de Vassil Oliveira perguntar diretamente ao jornalista e escritor quais são os autores dos textos? Aos que querem saber sobre supostos colaboradores anônimos do Goiás 24 Horas, deixo a pergunta: quem escreve os editoriais do “Estadão”, da “Folha de S. Paulo” e de “O Globo”? Não se sabe. Certamente são várias pessoas. Nós, jornalistas, apreciamos criticar, porém, se criticados, ficamos “revoltados”. Recentemente, a apresentadora do “Jornal Nacional”, Patrícia Poeta, irritou-se com a publicação de uma nota, na coluna “Radar”, da revista “Veja”, que revelou que havia adquirido um apartamento, em Ipanema, por 23 milhões de reais. Todos os dias, jornalistas escarafuncham a vida das pessoas e fazem revelações, às vezes explosivas, sobre aquisições de bens, separações, namoros. Então, por que não podem ter suas notícias divulgadas? Com um salário de 1 milhão de reais, menos apenas do que o de William Bonner no telejornalismo global, Poeta comprou o apartamento legalmente. Talvez seja mais apropriado, no lugar de vasculhar os nomes dos “autores” do blog, Vassil criar um blog para criticar seus críticos.
O historiador Antonio Pedro Tota lança um livro de qualidade sobre o povo da terra de Thomas Jefferson, Abraham Lincoln e Barack Obama: “Os Americanos” (Contexto, 304 páginas). É um belo livro de história e de interpretação de um povo. A pesquisa é rigorosa, o texto é delicioso e os americanos são examinados sem preconceito. Uma obra nuançada.
Sinopse da editora: “Quem são os verdadeiros americanos? Sofisticados moradores de Nova York ou jecas da ‘América profunda’? Intelectuais vencedores do prêmio Nobel ou truculentos senhores da guerra?
“Para uns, os Estados Unidos da América são um paradigma da modernidade, para outros, um monstro tentacular imperialista. Gostemos ou não, os americanos são importantes. E muito. Todos os dias eles bombardeiam o mundo com filmes, séries de tv, hambúrgueres e Coca-Cola. Suas músicas são ouvidas em todos os continentes. Seus ícones transformaram-se em símbolos mundiais e o inglês é uma espécie de língua franca universal.
“Qual a origem da autoconfiança e soberba dos americanos? E mais: como esse gigantesco vizinho do norte se tornou o que é, rico e poderoso? Com texto denso, brilhante e provocativo, o historiador Antonio Pedro Tota rastreia origens, costumes e paradoxos desse povo, desde o início até a eleição do primeiro presidente negro. Fala também de expansionismo, anos dourados, guerras, escândalos, jazz, cinema e muito mais.”
“Exílio e Literatura — Escritores de Fala Alemã Durante a Época do Nazismo” (Edusp, 296 páginas, tradução de Karola Zimber), de Izabela Maria Furtado Kestler, revela que dezesseis mil exilados da Alemanha nazista e da Áustria vieram para o Brasil. Vários eram intelectuais e escritores. O período discutido pela autora é de 1933, ano da ascensão de Adolf Hitler, a 1945, ano de sua queda. A obra apresenta o que escritores e jornalistas exilados publicaram e analisa a literatura escrita no exílio, especialmente obras de autores como Stefan Zweig, Ulrich Becher e Hugo Simon.
Aldo Vannucchi conta, no livro “Alexandre Vannucchi Lemes — Jovem, Estudante, Morto Pela Ditadura” (Contexto, 176 páginas), a história do líder estudantil na USP e militante da esquerda. Aldo é seu tio e biógrafo. O livro é apresentado como um testemunho pessoal, dolorido. Não é uma vingança, e sim uma espécie de esclarecimento.

[caption id="attachment_16266" align="alignright" width="350"] O Pintassilgo é um livro belo e estranho, com misturas de tempo, em termos de narrativas, personagens e hábitos[/caption]
O cartapácio “O Pintassilgo” (Companhia das Letras, 719 páginas, tradução de Sara Grünhagen), da escritora americana Donna Tartt, desconcerta a crítica, mesmo um especialista como James Wood, da “New Yorker”, que não soube apreciá-lo. Os motivos? Aponto um: o romance é uma catedral do século 19 com frequentadores (com hábitos) do século 21. Há um cruzamento hábil, com movimentos rápidos e lentos — simulando um jogo ardiloso, nem sempre visível numa leitura apressada —, da prosa mais convencional do século 19, mais lenta e discursiva, com a prosa experimental do século 20, mais rápida e contida.
Donna Tartt escreve muitíssimo bem, arquiteta e amarra sua história à perfeição, mas deixando que as ambiguidades da vida frequentem suas linhas, com pontos não muito bem esclarecidos, e, ao final, faz um discurso filosófico, à moda mais de Fiódor Dostoiévski filtrado por Nietzsche e, quem sabe, Thomas Bernhard (que não a influencia, diga-se).
As influências literárias de Donna Tartt são espraiadas no romance, às vezes às claras, às vezes de maneira subterrânea. Dickens e Dostoiévski são as influências mais perceptíveis, e em vários trechos. A autora escreveu um romance americano que é filho das literaturas russa e inglesa. O estilo é meio lerdo, como o da prosa russa do século 19, e com personagens (dois meninos, seus pais e um restaurador de móveis) meio dickensianos.
A história é intrincada, às vezes parece não correr, com aparente enrolação (meia russa). Theo Decker visita um museu, nos Estados Unidos, com sua mãe. Há uma explosão, provocada por um ato terrorista, e ela morre. Theo leva do museu o quadro “O Pintassilgo”, do holandês Carel Fabritius (1622-1654) — o pintor morreu na explosão de um paiol —, e recebe de um moribundo um estranho anel.
Inicialmente, Theo vive com uma família rica, em Nova York, e, depois, vai morar com o pai, um escroque, em Las Vegas. Quando o pai morre, num acidente, o garoto volta para Nova York e vai morar com James Hobart, um personagem tipicamente dickensiano, ligeiramente modificado. Há, até, uma espécie de Raskólnikov, o criminoso Boris, um garoto de origem russo-ucraniana. Boris é quase uma Sônia, de “Crime e Castigo”, de calça? Quase é o termo. Porque Sônia, religiosa, não tem uma visão cínica do mundo, ao contrário de Boris. Agora, sem tirar nem pôr, Theo é um “filho” de Dickens plantado por Donna Tartt na América. É uma história policial? Também. Na prática, uma história literária refinada. A relativamente reclusa Donna Tartt é autora de mais dois romances de alta qualidade.

[caption id="attachment_16256" align="alignleft" width="350"] Livro de pesquisadora norte-americana revolve a crise que levou à falência total do socialismo no Leste Europeu[/caption]
Trecho do excelente livro “A Cortina de Ferro — O Fim da Europa de Leste” (Civilização Editora, 697 páginas, tradução de Miguel Freitas da Costa), da historiadora e jornalista Anne Applebaum, ex-professora de Yale e Columbia: “Num epílogo posterior a ‘As Origens do Totalitarismo’, Hannah Arendt escreveu que a Revolução Húngara ‘foi totalmente inesperada e apanhou toda a gente de surpresa’.
“Como a CIA, o KGB, Kruchev e Dulles, Arendt tinha chegado a acreditar que os regimes totalitários uma vez que se infiltrassem na alma de uma nação eram praticamente invencíveis.
“Estavam todos enganados. Os seres humanos não adquirem ‘personalidades totalitárias’ com essa facilidade toda. Mesmo quando parecem enfeitiçados pelo culto do chefe ou do partido, as aparências podem ser enganadoras. E mesmo quando parece que estão totalmente de acordo com a mais absurda propaganda — mesmo quando estão a marchar em paradas, a entoar slogans, a cantar que o partido tem sempre razão —, o feitiço pode repentinamente, inesperadamente, dramaticamente, ser quebrado” (página 584).
O jornalista Alexandre Braga lançou, na semana passada, o jornal “Diário Canedense” (www.diariocanedense.com.br). O “DC” cobre bem a cidade, faz um jornalismo popular, mas não é inteiramente popularesco.