Por A.C. Scartezini

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O PMDB com a pulga atrás da orelha: o vazamento incluiu mais gente sua do que do PT

[caption id="attachment_15057" align="alignleft" width="620"]Renan Calheiros e Henrique Alves, ilustres do PMDB envolvidos no novo “mensalão” que logo correram para Michel Temer l Foto: Wilson Dias/Agência Brasil Renan Calheiros e Henrique Alves, ilustres do PMDB envolvidos no novo “mensalão” que logo correram para Michel Temer l Foto: Wilson Dias/Agência Brasil[/caption] Quando deseja esmiuçar os mistérios e caminhos da política, o PT da presidente Dilma se reúne no Palácio da Alvorada. Na mesma circunstância, o PMDB do vice-presidente Michel Temer se recolhe à residência oficial do vice, o Palácio do Jaburu, a cinco quilômetros e meio do Alvorada, quase em linha reta. Nessa distância, Dilma reuniu a sua turma na noite da segunda-feira, 8, para discutir a repercussão eleitoral do vazamento do novo escândalo da Petrobras, no Alvorada. Duas noites mais tarde, Temer se reuniu com os seus, no Jaburu, para examinar porque o vazamento de uma dúzia de nomes de políticos beneficiados pelo novo mensalão tinha mais peemedebistas do que petistas. Os peemedebistas entenderam que foi manipulado o vazamento de nomes de políticos que teriam sido mencionados por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, em sua delação premiada — feita em troca de redução da pena do próprio. A manipulação atribuiria mais culpa ao PMDB do que ao PT. A ideia poderia ser do próprio Costa, preso no Paraná. Em torno da mesa da vice-presidência, estavam nomes ilustres que, três dias antes, preferiram não comparecer ao palanque da parada de Sete de Setembro, no domingo. Au­sentes, eles escaparam da pressão pa­ra comentarem a nova compra de apoio político ao governo – em ope­ra­ções assim, sempre sobra uma ver­ba também para o patrocinador, o PT. Faltaram ao desfile, mas foram ao Jaburu, para começar, os presidentes do Senado e da Câmara, senador Renan Calheiros e deputado Henrique Alves. Por coincidência, Calheiros é pai do deputado Renan Filho, candidato ao governo de Alagoas – pelo PMDB, é claro. O próprio Alves é candidato a governador do Rio Grande do Norte. As campanhas são caras. Também esteve na vice o senador José Sarney, em fim de carreira como candidato e pai de Roseana, governadora do Maranhão. Eles estão de saída, mas o PMDB maranhense apoia o senador Lobão Filho como candidato ao governo. O pai de Lobãozinho é o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ausente na parada, cria de Sarney e, em tese, responsável pela Petrobras. Outro que perdeu o desfile, mas compareceu ao palácio de Temer é o líder do PMDB da Câmara, Eduardo Cunha (Rio), candidato à sucessão de Henrique Alves na presidência dos 513 deputados, atualmente espalhados por 22 partidos. Eles tentaram entender se houve malandragem no fato de que o vazamento incluiu seis peemedebistas e apenas três petistas como vendedores de apoio. Sendo que os do PMDB são politicamente mais ilustres do que os do PT. Entre os petistas, dois deputados: Candido Vaccarezza (São Paulo) e João Pizzolatto (Santa Catarina). O outro petista é gente de Lula e, sintomaticamente, tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que tem origem no sindicalismo bancário de São Paulo. Vaccari, membro do conselho da usina Itaipu Binacional, carrega no currículo o antigo escândalo da Bancoop — cooperativa habitacional dos bancários paulistas. Dali saíram R$ 70 milhões para o caixa dois do PT. Além disso, deixou o prejuízo de R$ 100 milhões para bancários que ficaram sem a casa própria. O PP contribuiu com dois nomes: o presidente do partido e senador Ciro Nogueira (Piauí); e o ex-deputado baiano Mário Negro­monte, ex-ministro das Cidades, demitido por Dilma durante a época da faxina. O PSB contribuiu com um morto, o ex-governador Eduar­do Campos. Sintomaticamente, Marina Silva ocupa a vaga dele, há um mês, como presidenciável. A meia dúzia de peemedebistas começa pelo ministro Edison Lobão, responsável pela petroleira, e os presidentes do Congresso, Calheiros e Henrique Alves. Juntam-se a eles a governadora Roseana Sarney, o ex-governador Sérgio Cabral (Rio) e o senador Romero Jucá (Roraima), com passado de líder de vários governos no Senado — agora à disposição de outros.

A ascensão de Marina pode ter parado no teto, mas ainda há um mês de bombardeio

[caption id="attachment_15055" align="alignleft" width="620"]Marina Silva entrou no páreo e números relembram que a campanha não acabou l Foto: Vagner Campos / MSILVA Online Marina Silva entrou no páreo e números relembram que a campanha não acabou l Foto: Vagner Campos / MSILVA Online[/caption] “Tudo o que é sólido desmancha no ar, tudo o que é sagrado é profanado”, escreveram os amigos Karl Marx e Friedrich Engels, há 166 anos, no Manifesto Comunista. Há um mês, Marina Silva (PSB/Rede) surgiu como o elemento novo na sucessão presidencial e marcou 21% em pesquisa do Datafolha. Dilma Rouseff (PT) tinha 36%. Aécio Neves (PSDB), 20%. Depois de oscilações para baixo no percurso, a reeleição da presidente Dilma voltou aos 36% que tinha há um mês, agora em nova rodada do Datafolha. Marina subiu e caiu, para chegar a 33%. Aécio não resistiu ao impacto da nova concorrente, perdeu eleitores que marinaram e apresentou-se com 15% na pesquisa fechada na quarta-feira, 10. Porém, a vantagem de três pontos para Dilma sobre Marina é quase três vezes maior em outra pesquisa, feita pelo Ibope para a Confederação Nacional da Indús­tria e distribuída na sexta-feira, 12. Seriam oito pontos de diferença. No início do mês, Dilma tinha 37% no Ibope e agora foi a 39%. Marina estava com 33% e desceu para 31%. Aécio manteve os 15% nas amostras. A nova pesquisa do Ibope foi à rua entre os dias 5 e 8 de setembro. A do Datafolha, entre os dias 8 e 9. No dia 6, sábado, passou a ser divulgado o novo escândalo da Petro­bras, com o desvio de bilhões de reais para uma nova edição de compra de apoio político ao governo. Assim, o Ibope iniciou a pesquisa antes do escândalo e terminou depois. O Datafolha, sempre depois. Outra diferença: a data de divulgação. O Datafolha terminou a coleta de dados na terça-feira, 9, e divulgou o resultado no dia seguinte. O Ibope terminou a coleta um dia antes, segunda, e divulgou os números quatro dias mais tarde, sexta. Como pagou pela pesquisa do Ibope, a CNI teria preferido mostrar os resultados apenas depois do Datafolha. Antes das pesquisas havia o questionamento sobre o limite de crescimento possível a Marina, onde se ponderava a candidata pelo fato de ser a novidade na disputa, mais a circunstância de beneficiar-se com a comoção popular pela morte inesperada do presidenciável Eduardo Campos, a quem substituiu no PSB. Acrescente-se o peso com que o PT de Lula e Dilma se dedicou ao bombardeio da ex-companheira Marina para removê-la da concorrência e impedir que interrompa a irresistível vocação histórica que destina os petistas ao poder absoluto vida a fora. Mesmo assim, no Datafolha, Dilma não ascendeu naquele período, que o Ibope não pesquisou. Marina parou de crescer e Aécio perdeu o que tinha a perder. Com os três estáveis, as duas estão no empate técnico previsível porque a amostra do Datafolha prevê a margem de erro de 2% acima ou abaixo. No segundo turno, Marina teria 47 pontos contra 43 de Dilma, com o empate no limite. Com a mesma margem de erro, o Ibope aponta empate técnico para ambas na segunda rodada, Marina, com 43 pontos. Dilma, 42. A diferença é que a vantagem de Marina seria de quatro pontos sobre Dilma. No Ibope, um ponto. Até a segunda votação, em 26 de outubro, faltam seis semanas. É o prazo à disposição do PT para avançar na campanha de ódio, sabendo que a rejeição a Marina cresceu no Datafolha: era de 15% no fim de agosto e chegou a 18%. Dilma ainda é a campeã, com 33% — um terço dos eleitores. Aécio é o vice, com 23%. Abaixo, Pastor Everaldo (PSC), com 22%. Depois, Marina. No Ibope, a rejeição a Marina é maior do que no Datafolha em oito pontos, com 26%. Dilma continua campeã, com 42% — nove pontos a mais do que no outro instituto. Aécio ainda é o vice, rejeitado por 35% — 12 pontos a mais do que no Datafolha. O discurso de campanha do PT ganha em eficácia na base da pirâmide salarial, onde está a clientela dos programas sociais do governo. Por faixa de renda, o maior apoio a Dilma está na po­pulação com até dois salários mí­ni­mos, R$ 1.448: 43%, con­tra 29% de Marina e 10% de Aécio. Acima da base, Dilma perde fôlego e chega à outra ponta (mais de 10 salários - R$ 7.240), com 26%. Marina sobe nas faixas intermediárias para 38%, até desembarcar no topo como campeã, com 32%. Aécio é o menos votado na base, com 10%. a seguir sobe conforme aumenta a renda e chega ao topo em segundo lugar, com 31%.

A campanha do medo é para valer, mas Dilma é oportunista ao admitir trocas na equipe

As duas mudanças introduzidas no esforço a favor da reeleição devem continuar até a votação como sintoma de crise na candidatura do PT

A presidente tem o comando da economia do País, mas evita analisar a questão industrial

[caption id="attachment_14677" align="alignleft" width="350"]Em encontro de empresários, apenas Robson Andrade enalteceu Dilma / Foto: Wilson Dias/ABr Em encontro de empresários, apenas Robson Andrade enalteceu Dilma / Foto: Wilson Dias/ABr[/caption] Ainda em seu discurso para representantes da indústria em BH, a presidente Dilma Rous­seff considerou que “vivemos uma situação bastante complexa na indústria”. Trata-se de um jogo com sete palavras que não dizem nada, sequer se a situação é de crise. Muito menos atribui a pessoas ou fatos a razão dessa complexidade. Uma coisa, porém, é clara: Dilma não tem nada a ver com o fenômeno, seja positivo ou não. Talvez nem entenda. “Eu gostaria que o Brasil estivesse crescendo em ritmo muito mais a­celerado”, discursou que o país avança celeremente, mas ela apreciaria ver mais força nisso. Porém, o problema não seria nosso, mas do planeta: “É possível que alguns de vocês, na atual conjuntura, quando a incerteza do cenário internacional se mistura com o debate eleitoral, questionem a eficácia de nossa política”, mostrou-se compreensível com as críticas que recebe do setor industrial, que poderia se valer da eleição presidencial para resolver suas pendências com o governo. Porém, seria pior se ela não estivesse no Planalto. “Me (sic) pergunto o que seria de nós se não tivéssemos tomado medidas na área industrial e no reconhecimento (de) que a indústria é estratégica para o país”, defendeu-se e enalteceu o apoio dos bancos estatais ao financiamento industrial em condições mais favoráveis do que os privados. O auditório não se entusiasmou com a fala da presidente. Assim como não reagiu quando a candidata repetiu uma promessa feita nos últimos anos: a criação de um conselho de desenvolvimento industrial ligado diretamente ao Planalto. A exceção foi o presidente da Con­federação Nacional da Indústria, mineiro Robson Andrade, que tratou Dilma como reeleita. “Aproveito a oportunidade para con­vidar a presidente Dilma para fa­zer a abertura do WorldSkills no ano que vem, em 2015”, referiu-se An­dra­de, diante do auditório, à principal competição mundial na área de for­mação de profissionais para em­presas e que se realizará em São Paulo. A incursão da candidata em Belo Horizonte não pareceu proveitosa no sentido de que sua fala deveria enfatizar duas coisas: a aproximação com empresários, como Lula sempre manda; e contrastar com a proposta de governo apresentada há uma semana pela concorrente Marina Silva (PSB/Rede). Dilma apenas reiterou a ideia de criar o conselho de desenvolvimento industrial. A presidente Dilma ainda não reconhece a existência de erros em seu governo, mas já admite que há falhas em pessoas da equipe e nas políticas. Talvez ela não saiba exatamente o que deve ser mudado nas políticas, porém demonstrou realismo ao aceitar mudança, além de exibir uma dose de humildade que vem da aprendizagem no sufoco com a reeleição.

A intimidação chega no exato momento que se esperava, a hora de desespero do PT
[caption id="attachment_14676" align="alignleft" width="300"]artigo_scartesini.qxd Marina Silva, se vencer, governará com a profecia de não completar o mandato / Foto: Léo Cabral/ MSilva Online[/caption] A campanha do medo foi ensaiada pelos marqueteiros da presidente Dilma Rousseff em maio, mas logo os filmetes foram retirados do ar como uma espécie de ejaculação precoce. O próprio PT considerou a munição muito forte para aquele momento, quando o prestígio da reeleição já vinha em queda, mas os dois principais concorrentes não incomodavam. A realização do segundo turno ainda não era certa. Dilma tinha 37% na pesquisa do Datafolha, o tucano Aécio Neves estava com 20% e Eduardo Campos (PSB) tinha 11%. Não se imaginava a morte de Campos na queda do jatinho três meses depois. Marina Silva (Rede) era uma hipótese remota como substituta do socialista. Agora, ressurgiu a intimidação de forma mais ampla, não apenas em filmetes de propaganda do PT na televisão. Antes a campanha Fantas­mas do Passado focava a disseminação nas classes sociais mais modestas do medo de a oposição conquistar o poder e eliminar os programas sociais clientelísticos. Naquele momento, o PT retirava a alegria de cena e introduzia o temor. No novo formato do medo, a campanha de Dilma na televisão acusa Marina de falta de tato na negociação com políticos, o que desestabilizaria o governo no Congresso - como se a presidente soubesse se entender com alguém sem imposições. Sem base parlamentar, Marina renunciaria como Jânio Quadros há mais de 50 anos ou seria deposta como Fernando Collor em 1992. Como Lula, em sua intimidade, corrigiu a denúncia, Collor foi deposto por corrupção. Se lhe faltou maioria no Congresso foi para evitar a investigação parlamentar das acusações de corrupto. Numa intimidade ainda mais profunda, Lula poderia se lembrar de que ele próprio usou o mensalão para comprar maioria na Câmara. No Senado, o PT acusou Ma­ri­na de ser “FHC de saias” por cau­sa do programa de governo que a candidata divulgou e cujo conteúdo seria neoliberal – a mesma qualidade que os petistas atribuem à era Fernando Hen­ri­que Cardoso, a quem combateram com outro terrorismo, as acusações falsas de desejar privatizar estatais como a Petrobras e o Banco do Brasil. Outra diferença é que a campanha do medo incluiu uma ameaça golpista do aliado e governador do Ceará, Cid Gomes (Pros). Em entrevista a um jornal de Fortaleza, ele afirmou que Marina, se for eleita, não concluirá o mandato porque será deposta. “Eu não dou dois anos de governo para Marina. Ela será deposta, pode escrever”, ditou ao repórter. A inspiração de Cid Gomes vem, historicamente, de outro político mais poderoso e dotado intelectualmente, Carlos Lacerda, golpista da velha UDN. Em 1950, Lacerda advertiu que Getúlio Vargas não deveria ser candidato a presidente. “Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”, avisou. Quatro anos depois, Lacerda repetiu a verve golpista e ajustou a advertência ao candidato presidencial Juscelino Kubitschek, afinal eleito e empossado sob ameaças da aliança entre a UDN de Lacerda e militares: — Juscelino não será eleito. Se for eleito, não tomará posse. Se tomar posse, não governará. Sem mergulhar tão longe no tempo, Cid Gomes poderia encontrar em casa um exemplo de abuso com palavras absurdas de políticos sem decoro. Em 2002, o mano Ciro Gomes concorreu a presidente pelo PPS. Era cotado para disputar o segundo turno contra Lula (PT) ou José Serra (PSDB), mas tropeçou em palavras impulsivas e não foi além da primeira rodada. A derrapada final começou quando Ciro, em entrevista a uma rádio, no ar, chamou de “burro” um ouvinte que o interpelou. A seguir, a derrota se consumou quando lhe perguntaram sobre a função na campanha de sua mulher na época, a atriz Patrícia Pillar, com quem percorria o país em busca de votos. A resposta foi fulminante nos dois sentidos: — A minha companheira tem um papel fundamental. Ela dorme comigo. Naquela época, o presidente do PPS já era o deputado paulista Roberto Freire, que agora apoia Marina com esperança de que a candidata suporte a pressão sem dar um passo em falso. “Vivi isso com o Ciro Gomes”, recordou. “Ciro não reagiu da melhor forma quando a pressão veio. A Marina está muito segura para enfrentar a desconstrução”, confia Freire.

O agronegócio confia: se Marina mudou o programa sobre gays, pode mudar outra vez

[caption id="attachment_14686" align="alignleft" width="400"]Em encontro de empresários, apenas Robson Andrade enalteceu Dilma / Foto: Wilson Dias/ABr Em encontro de empresários, apenas Robson Andrade enalteceu Dilma / Foto: Wilson Dias/ABr[/caption] Uma multidão envolveu a presidenciável Marina Silva (PSB/Rede) com simpatia quando ela desfilou na feira de agronegócio Expointer na gaúcha Esteio, na quinta-feira. A candidata negou que estivesse ali para “quebrar resistência.” de ruralistas ao seu nome. Alegou que trabalha para “progressivamente, construir convergências naquilo que interessa, como o fato de que todos desejamos um país socialmente justo, politicamente democrático e ambientalmente sustentável.” As lideranças do agronegócio foram mais objetivas em Esteio com a confiança que possuem no candidato a vice-presidente de Marina, deputado gaúcho Beto Albuquerque (PSB), com origem no meio. Elas sugerem que, se a presidenciável, por pressão evangélica, recuou quanto aos direitos gays em seu programa de governo, pode mudar novamente quanto à reforma agrária. O agronegócio não assimilou o item do programa que, para facilitar a desapropriação de terra para reforma agrária, promete a exigência de indicadores de produtividade agrícola. “Essa questão causou espanto porque é ultrapassada”, explicou a reação ruralista o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, Luiz Carlos Carvalho, que a comparou ao bode na sala: - Parece a história do bode que colocaram na sala para retirar em seguida, quando a situação se tornou insuportável. Ex-ministro da Agricultura de Lula, Roberto Rodrigues concordou. “O próprio Lula, ao chegar ao governo com essa bandeira do PT, viu que não tinha o menor sentido”, recordou Rodrigues, coordenador do Centro de Agro­negócio da Fundação Getúlio Vargas. “Ele viu que o produtor rural quebra quando a produtividade fica abaixo da média. É o mercado que desapropria.” “Em nenhum outro setor da economia se questiona a propriedade baseada em índice de produtividade”, protestou o presidente da Federação de Agri­cultura de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel. “Isso gera insegurança jurídica, que combatemos há muito tempo”, lembrou que a exigência de produtividade rural é antiga na fala de Marina. Também de olho na queda de prestígio do tucano Aécio Neves nas pesquisas presidenciais, o PT da presidente Dilma iniciou a cata de contatos com o agronegócio para advertir sobre os compromissos de Marina com a rigidez do Código Florestal e quanto a inovações da biotecnologia. Mas Lula recomenda ao partido que não maltrate Marina. Sempre com oportunismo, a presidente aproveita também o desgaste de Marina com a causa gay para entrar na área, só que a favor da comunidade, é clara. A candidata se prepara para lançar nas próximas semanas, em São Paulo, seu programa de governo LGBT. A ideia é propor no papel uma futura programação sobre aquilo que não realizou desde que assumiu o Planalto em janeiro de 2010.

Aécio Neves continua a pagar os pecados de sua campanha desde a eclosão marineira

A divulgação das duas principais pesquisas de opinião, na mesma quarta-feira, permite uma comparação entre os números do Ibope e do Datafolha onde se verifica que a situação de equilíbrio na cotação de votos para a presidente Dilma e a presidenciável Marina Silva (PSB/Rede), se existe, corre por conta da margem de erro de 2% em cada amostra. Quanto ao presidenciável Aécio Neves (PSDB) não há dúvida. A erosão da candidatura é convincente nos números simples, que dispensam a consideração dos limites da margem de desvios estatísticos e com isso dispersa alianças, expele companheiros tucanos e inibe financiadores de ocasião. No Ibope, Aécio, que já vinha em queda, desceu de 19% para 15% numa semana. A primeira pesquisa foi a campo entre 23 e 25 de agosto. A segunda, entre domingo e terça-feira da semana que se encerrou. No Datafolha, Aécio caiu de 20% para 14% em duas semanas e meia, entre 14 e 15 de agosto aos dias primeiro e três de setembro. O tucano, que sofria dificuldade para decolar no meio de quedas e escândalos em torno do governo Dilma despencou, como se sabe, com o surgimento da alternativa Marina na vaga de Eduardo Campos (PSB). A candidata entrou em campo com a vantagem de ser mais conhecida do que Aécio além de oferecer uma opção ao duelo de sempre entre tucanos e petistas. Naturalmente, aqueles dois pontos a favor de Marina realçavam duas desvantagens de Aécio, outra vítima da fatalidade que atingiu Campos. Como se acreditasse que a polarização entre PSDB e PT viria naturalmente pela força da gravidade histórica, a campanha de Aécio corria placidamente, em clima de paz e amor. Quando se tornou agressiva, era tarde. O tucanato também sugou energia de Aécio na medida em que se desgastou para se impor como candidato perante companheiros de São Paulo, que o viam com desconfiança desde a sucessão presidencial em 2010. Agora, quando o mineiro Aécio poderia demonstrar ser uma alternativa competitiva aos tucanos de São Paulo, veio a fatalidade se somar aos pecados. Margem de erro à parte, no Ibope a ascensão de Dilma foi ligeiramente menor à de Marina, cuja entrada em cena como herdeira inesperada de Campos deixa de subir na escala impetuosa de antes porque a comoção social chega ao limite de impacto. Dilma passou de 34% para 37%. Marina subiu um ponto a mais, foi de 29% a 33%. No Datafolha, entre aquelas duas semanas e meia de pesquisas, Dilma perdeu um ponto, desceu de 36% para 35%. Marina ainda subiu de 21% para 34%, patamar onde estacionou durante a metade do período.

A recessão pegou Dilma distante da sala de trabalho, sem saber se vence o primeiro turno

Em busca da garantia de vitória no primeiro turno antes de ir ao segundo, a presidente deixou de lado o Planalto, onde esteve apenas por um momento da semana [caption id="attachment_14001" align="alignleft" width="350"]Marina Silva, candidata do PSB/Rede: um furacão na sucessão presidencial Marina Silva, candidata do PSB/Rede: um furacão na sucessão presidencial[/caption] A. C. Scartezini A presidente Dilma Rous­seff se preparava para uma viagem eleitoral a Salvador quando o IBGE comunicou, na sexta-feira, que o país entrou em recessão com a queda do PIB em 0,6 no segundo trimestre do ano em comparação aos três meses anteriores. No primeiro trimestre, o governo anunciou o avanço de 0,2 por cento, depois passado a limpo como um tombo no mesmo valor de 0,2. A queda do PIB durante dois trimestres seguidos configura recessão técnica, segundo o manual de economia. Mas a economista Dilma tinha outro plano para aquela véspera do fim de semana: vencer o primeiro turno da eleição presidencial e depois, se for o caso, ir à segunda rodada. A situação se tornou mais do que dramática naquela sexta, quando a nova pesquisa Datafolha colocou Dilma e Marina Silva (PSB/Rede) com 34 por cento das preferencias cada uma. Abaixo da metade delas, veio o tucano Aécio Neves com 15 por cento. Rebaixado do Ibope, onde ele tinha 19 por cento três dias antes. Quando Eduardo Campo (PSDB) morreu na queda do avião e abriu vaga a Marina no dia 13, Aécio tinha 23. Conforme a pesquisa do Ibope anunciada na terça-feira, se o segundo turno fosse hoje, a concorrente Marina Silva (PSB/Rede) seria consagrada como nova presidente com nove por cento de diferença: 45 por cento a 36. Três dias depois, o Datafolha ampliou para 10 pontos a vantagem de Marina sobre Dilma: 50 por cento a 40. A amostragem do Ibope revelou que, hoje, Dilma venceria o primeiro turno com 34 por cento dos votos contra 29 de Marina, numa pesquisa onde a margem de erro é de dois pontos acima ou abaixo. Portanto, para não fazer feio, a presidente precisava garantir o primeiro, No segundo, Marina venceria com 45 por cento das preferências contra 36 da reeleição de Dilma. Depois, veio o Da­tafolha e revirou as contas. Quem pagou o pato foram os despachos no outro palácio, o Planalto. A única vez em que a presidente esteve ali durante a semana ocorreu no fim da segunda-feira. Dilma foi ao palácio para uma audiência inesperada com dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, às cinco da tarde. Saiu do palácio e pegou o caminho direto do aeroporto, rumo a São Paulo no avião presidencial para o de­bate de televisão, na noite do dia seguinte com outros candidatos a presidente - a mais de 24 horas de­pois de se retirar do Planalto. Voltou de São Paulo e concentrou-se novamente no Alvorada, de onde saiu para campanhas no Rio e Salvador.

O sucesso de Marina na pesquisa, onde a rejeição dilmista derrotou o apoio à presidente

As promessas de voto que elevaram Marina Silva desde a pesquisa do Ibope estão contaminadas pela comoção face à circunstância com que irrompeu na cabeça da chapa presidencial do PSB/Rede ao substituir Eduardo Campos em sua morte trágica. Agora, a cinco semanas da eleição, a questão é saber se a onda marineira se esvairá ou se consolidará até 5 de outubro. Numa forma correlata, surgiu o impasse com a reeleição da presidente Dilma. Na pesquisa, divulgada na terça-feira, a taxa de rejeição à candidata superou em dois pontos as promessas de voto na petista, com 36% a 34. Se o prestígio de Ma­rina se esvaziar até as urnas, a sobra se somará positivamente a Dilma? Sem outro caso de comoção coletiva, os rumos da psicologia de massa de eleitores tendem a imprevisíveis. Mas a presidente se meteu em brios e foi à luta agressivamente com os recursos do governo, como o simpático anúncio da promessa de elevação do salário-mínimo a partir de janeiro – dois me­ses depois do praticamente inevitável segundo turno da eleição a presidente. Mais fácil é constatar a dedicação extrema de Dilma à campanha eleitoral nos últimos dias, desde que, no fim de semana anterior, generalizou-se nos partidos a constatação de que Marina vinha por aí com força nos braços do povo. O PT, por exemplo, reconheceu publicamente que a rival surgia a atropelar por fora. Antes do Ibope, o PT já mandava Dilma sair mais do Alvorada, a residência oficial que se transformou em comitê da reeleição, onde passou a oferecer entrevistas à imprensa, a gravar propaganda política e a promover reuniões com petistas, que incluem Lula distante do público. Então aceitou e saiu mais de casa em campanha.

Entre os principais candidatos, apenas a ex-senadora melhorou de vida com a pesquisa

[caption id="attachment_13994" align="alignleft" width="300"]Pastor Everaldo: perda de votos com entrada em cena de Marina Pastor Everaldo: perda de votos com entrada em cena de Marina[/caption] O mais recente levantamento do Ibope causou estragos maiores nas duas pontas do eixo formado pelos quatro presidenciáveis mais votados até então. Em cima, pegou a presidente Dilma com a rejeição de 36%, mais alta do que o apoio de 34% dos eleitores, que já não se entusiasmavam com a reeleição. As duas taxas vinham se aproximando uma da outra na série de pesquisas em relação à reeleição de Dilma. Mas a rejeição passou à frente apenas depois que a ex-senadora Marina Silva entrou em cena como candidata a presidente pelo PSB/Rede. Mais conhecida do que o tucano Aécio Neves, Marina o superou e assumiu a segunda posição. Se Dilma pagou mico na ponta de cima do eixo, na parte de baixo surgiu o drama do quarto candidato mais bem cotado, Pastor E­ve­raldo (PSC), representante dos evangélicos. Seria cômico se não fosse trágico. Com Marina na concorrência, Everaldo perdeu dois terços dos virtuais eleitores que nutriam sua posição privilegiada. Também evangélica, Marina chegou como uma opção mais popular nas urnas e na fé religiosa. Antes, Everaldo tinha 3% da cotação geral de votos medida pelo Ibope e caiu para um ponto na última pesquisa. Não é nada, não é nada, o pastor foi rebaixado. Não tem mais o prestígio de quem estava sozinho em quarto lugar na classificação. Ganhou a companhia de Luciana Genro (PSol), que se manteve com 1% de promessa de voto. A propósito, segundo o Ibope, mais da metade de evangélicos e pentecostais apoiam Marina, 53%, contra 27 de Dilma, candidata vacilante em demonstração de religiosidade. Entre católicos, a religiosa Marina supera a concorrente por pouco, mas supera: 42% a 40. Nas outras religiões, a vitória marineira sobre a reeleição é folgada, com 45% a 27. O impacto mais dramático, porém, está na ponta de cima do eixo. O PT da reeleição de Dilma em 2014 e eleição de Lula 2018 tenta reaproximar os dois líderes a tempo de evitar a quebra da continuidade de poder no segundo turno da atual disputa, daqui a dois meses, no fim de outubro. Se Dilma se reeleger, o PT completa 16 anos no poder e espera Lula para chegar a 20. A pesquisa do Ibope pós-Marina, apurada entre 23 e 26 de agosto, prognosticou a vitória de Dilma no primeiro turno, dentro de cinco semanas, com 34% de apoio, contra 29 da ex-colega de ministério no governo Lula, mais 19 pontos do tucano Aécio Neves. No segundo turno, Marina bateria Dilma por 45% a 36. E a rejeição? Dilma tem 36% contra 10 de Marina e 18 de Aécio. Depois do choque do Ibope-Marina, Lula e Dilma devem deixar de estar juntos apenas nas imagens e falas gravadas separadamente para propaganda na televisão e rádio. Até a pesquisa, persistia o isolamento ao vivo entre ambos porque Dilma desejava se apresentar ao público como autônoma. O comando do partido entende que também precisa ir às ruas e empurrar a militância consigo. A prioridade são as cidades com até 50 mil habitantes, nas quais o Ibope apurou a cotação de 43% para Dilma contra 24 de Marina. Ou seja, o PT vislumbra o interior como a saída do impasse da reeleição.

Onde estavam os votos marineiros que não vieram prestigiar quando Campos estava vivo?

[caption id="attachment_13990" align="alignleft" width="620"]O líder do PSB Eduardo Campos tinha apenas 9% das intenções de voto quando morreu na queda do avião O líder do PSB Eduardo Campos tinha apenas 9% das intenções de voto quando morreu na queda do avião[/caption] Se Marina Silva chegou como presidenciável e atropelou a reeleição com a perspectiva de vitória marineira no segundo turno, como é que ela não transferiu votos para Eduardo Campos, o presidenciável do PSB que morreu no dia 13 na queda do avião, enquanto ele esteve vivo? Ela não era a candidata a vice-presidente da chapa? Cinco dias antes do acidente, a pesquisa do Ibope atribuiu a Campos 9% da preferência dos eleitores – na rodada anterior, eram 8%. A reeleição da presidente Dilma sofria sustos, mas liderava com 38%. A cotação do tucano Aécio Neves subia penosamente e chegava a 23%. Aí, veio o furacão Marina (PSB/Rede) e agora ostenta a preferência de 29%, mais de três vezes o índice final de Campos. Reduz Dilma a 34 pontos e rebaixa Aécio a 19 – igualitariamente, cada um deles perdeu quatro pontos. Não se fale do Pastor Everaldo (PSC), que perdeu dois terços de seus eleitores depois do vendaval. Não bastava a Marina ser candidata a vice de Campos para transferir votos ao companheiro. Era necessária a comoção social depois da queda do avião. Veio o abalo e a figura de Marina ressurgiu na mente popular como a viúva e herdeira de Campos. O povo despertou e recordou-se de Marina, a quem conheceu e tornou a terceira mais votada na sucessão presidencial de 2010. Agora, é esperar o tempo passar apara verificar se Marina é um fenômeno passageiro ou veio para ficar com toda a força que lhe promete a vitória no segundo turno. A favor da consolidação de sua posição, a candidata oferece a perspectiva de poder que atrai eleitores, apoio político em outros partidos e financiadores de campanha. Tudo aquilo que Aécio tende a perder.

Ex-presidente seria a bala de ouro do PT para garantir a manutenção do poder?

[caption id="attachment_13988" align="alignleft" width="620"]Lula da Silva: desepero vai levá-lo a substituir Dilma como candidato? Lula da Silva: desepero vai levá-lo a substituir Dilma como candidato?[/caption] Os resultados negativos para a reeleição da presidente Dilma nas pesquisas de opinião podem renovar nas duas próximas semanas a pressão sempre latente sobre o PT para trocar a candidatura e trazer Lula de volta e garantir a vitória, num prazo para substituição que termina em 15 de setembro, 16 dias antes do primeiro turno. Porém, seria um gasto arriscado de energia do partido e de poder político de Lula. Em primeiro lugar, no embalo com que irrompe a candidatura de Marina Silva com base numa comoção popular, o carisma de Lula pode ser derrotado numa configuração histórica onde o candidato apressado passaria por oportunista, senão golpista. A mesma consciência popular na qual viceja a candidatura de Marina depois de brotar nas circunstâncias da morte do candidato original do PSB, Eduardo Campos, pode sufocar a pretensão lulista. Mesmo a clientela petista do Bolsa Família teria condições de assumir a consciência a respeito do desespero e do casuísmo em causa. Apesar de tudo, é possível que a pressão interna no PT se acentue. A estrutura de mobilização so­cial e política que formou o PT e o levou a dominar o aparelho de Es­tado em nome da instalação de um projeto partidário de poder infinito pode, depois de 12 anos de êxito, recusar-se a apear sem luta. A consciência de que tudo é válido em favor do projeto de poder alimentou o financiamento da construção do aparelho com dinheiro público. Em nome da causa, irrigou-se o mensalão para comprar apoio ao governo. Assim surgiram os escândalos nas estatais, como a Petrobrás. A diferença é que, a certa altura, perdeu-se a noção de limite entre a causa e o bolso pessoal.

Depois de cortejar FHC e Lula, o PSB/Rede busca apoio político para administrar o poder

[caption id="attachment_13985" align="alignleft" width="620"]Fernando Henrique: no mandato de Aécio, Marina é bem-vinda l Foto: Valéria Gonçalves/AE Fernando Henrique: no mandato de Aécio, Marina é bem-vinda l Foto: Valéria Gonçalves/AE[/caption] Antes que se conhecesse a pesquisa do Ibope, o economista Eduardo Gianetti, conselheiro de Marina Silva em seu programa de governo, ofereceu um recado à praça política. Afirmou em entrevista que a presidenciável do PSB/Rede gostaria ter como aliados os ex-presidentes FHC e Lula. A entrevista de Gianetti quis dizer com isso que um futuro governo Marina apreciaria uma composição política com o PSDB e PT estabelecida por entendimentos da nova presidente com os dois líderes, cada um em nome do seu partido. O silêncio da candidata a respeito da proposta expressou a concordância com a fala do porta-voz informal. Conhecida a pesquisa do Ibope, Gianetti renovou o recado. Disse que ele próprio, economista, aceitaria trabalhar na companhia de Fernando Henrique Cardoso num governo tucano. Foi uma maneira de reforçar a mensagem anterior. Se Marina poderia colaborar com um governo Aécio Neves, os tucanos seriam bem aceitos numa presidência marineira. Respondeu FHC, com ironia, que “no mandato do Aécio, eu gostaria muito de ter a aliança da Marina”. Completou com a afirmação de que a “recíproca é verdadeira”. Estava feito o convite para a candidata se integrar a um futuro governo tucano. O próprio Aécio entendeu a troca de recados como um reconhecimento de que o esquema de Marina não dispõe de quadros nem de apoio político suficiente para governar. Gabou-se de uma superioridade tucana. “Ninguém tem propostas em condições melhores do que as nossas”, tripudiou. “Quem vai governar é o PSDB com figuras qualificadas.” O fato prático é que o núcleo dirigente do PSB, a partir dos números do Ibope, já busca alianças em nome da governabilidade numa gestão Marina com a Rede e os socialistas. O presidente do PSB, Roberto Amaral, programa se entender com líderes de outros partidos para a participação de todos num futuro governo. A preocupação faz sentido. Até porque o esquema PSB/Rede iniciou uma aproximação com empresários para vender as suas ideias de governo baseado em alianças políticas e sociais, o que inclui empresas e setores produtivos, como o agronegócio. Além da conquista de confiança da economia privada, trata-se de explorar um canal de financiamento eleitoral – urgente, pois a pouco mais de um mês da eleição.

Com frieza, Marina aceitou as novas regras com o PSB num dia e virou a mesa no outro

Em seguida ao golpe que desnorteou o partido, a candidata desautorizou o vice e acenou ao mercado sem testar a confiabilidade da proposta

A contraintervenção da Rede desautoriza o vice Beto Albuquerque junto ao agronegócio

[caption id="attachment_13423" align="alignright" width="620"]Deputado Beto Albuquerque: escalado para vice de Marina, mas já esvaziado | Foto:  Fernando Frazão/Agência Brasil Deputado Beto Albuquerque: escalado para vice de Marina, mas já esvaziado | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil[/caption] “Ela que vá mandar na Rede dela, não no PSB”, a frase nervosa com que o socialista histórico Carlos Siqueira excomungou a intervenção da presidenciável Marina Silva no comando da campanha eleitoral revela a explosão do choque cultural latente no partido desde que recebeu, mas ainda não absorveu, o desembarque da Rede marineira em outubro do ano passado. A mudança que Marina impôs no comando da campanha e levou Siqueira a afastar-se da coordenação eleitoral representa a contraintervenção. Trata-se de uma reação à intervenção do PSB, que, dono da casa, montou com a sua gente o comando da campanha desde a candidatura de Eduardo Campos e escolheu Beto Albuquerque, agora diminuído pela presidenciável. A candidata marinou a chefia da campanha. Na coordenação, onde Siqueira reinava sozinho, Marina colocou em sua companhia o marineiro Walter Feldman como adjunto, reforçado depois pela companhia da deputada paulista Luiza Erundina. Na tesouraria, onde brota o dinheiro para a campanha, instalou Bazileu Margarido no lugar do socialista Henrique Costa. Outro socialista histórico, Milton Coelho, avisou ao PSB que se afastaria da coordenação de mobilização e articulação na campanha. O sociólogo Diego Brandy, que cuida da análise de pesquisas de opinião examina o que fará de seu trabalho sob a nova ordem marineira. Está no PSB desde 2006. Veio para a primeira campanha de Campos pelo governo de Pernambuco. As mudanças não agradaram Siqueira, sempre prestigiado no PSB desde os papéis políticos que desempenhou há mais de 30 anos junto ao ex-governador Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos. Com esse prestígio, foi chefe de gabinete do ministro da Saúde nos anos 90, quando o então presidente Itamar Franco brindou o PSB do amigo Jamil Haddad com o ministério. Agora desprestigiado por Marina Silva, Carlos Siqueira afastou-se também do segundo posto na hierarquia do PSB, a secretaria, onde reinou historicamente com a bênção e os serviços da família Arraes. Ao se retirar da campanha e da secretaria, alertou os repórteres quando perguntaram sobre a reação da viúva de Campos, Renata: — Não falou comigo e não deve saber o que está se passando. Mas ela é uma mulher inteligente e capaz, e vai saber que não podemos oferecer uma candidatura que procede dessa maneira. Com esse ímpeto de dominação, Marina chegou a dispensar o vice Beto Albuquerque de coletar dinheiro para a campanha junto aos ruralistas. Se não tem a obrigação de arrecadar fundos junto ao seu próprio meio, o agronegócio, qual será o valor das ações do líder do PSB na Câmara como negociador político em nome do partido? Nem se diga em nome da candidata. Ao acenar ao mercado, a presidenciável indicou dois ambientalistas para os negócios na área ruralista João Paulo Capobianco e o vereador paulistano Ricardo Young, também empresário. Outro autorizado a negociar dinheiro é Guilherme Leal, sócio da empresa Natura e candidato a vice na chapa presidencial de Marina em 2010.

A candidata chamada para salvar os socialistas revelou-se um anjo exterminador no PSB

[caption id="attachment_13416" align="alignright" width="620"]Marina Silva, candidata à Presidência: passasgem temporária no PSB antes de embarcar na sua Rede Sustentabilidade | Fotos: PSB/Divulgação Marina Silva, candidata à Presidência: passasgem temporária no PSB antes de embarcar na sua Rede Sustentabilidade | Fotos: PSB/Divulgação[/caption] No mesmo dia em que moldou o comando da campanha presidencial à sua feição, Marina Silva confirmou que está no PSB de passagem à espera da construção jurídica de sua casa, a Rede Sustenta­bilidade. Numa reunião forçada por dirigentes dos partidos nanicos, nervosos porque se aliaram ao PSB de Campos, mas ainda não receberam ajuda eleitoral em dinheiro, ela abriu o jogo: — Eu espero que, em 2018, o PSB eleja um nome do partido para presidir o Brasil. A confissão espantou os dirigentes aliados. Ao manifestar a sua transitoriedade socialista, Marina induz ao entendimento de que seus compromissos, sendo passageiros, não são sólidos. E os quadros do PSB, ressentidos pela perda das certezas de Eduardo Campos, podem se tornar ainda mais inseguros, a seis semanas do primeiro turno federal e estaduais. A franqueza messiânica de Ma­ri­na pode atingir, por exemplo, os can­didatos socialistas a governador. Sem sentir firmeza na companhia ma­rineira, eles podem estabelecer alianças paralelas com o PSDB de Aé­cio Neves ou o PT de Dilma Rous­seff. O fenômeno pode se irradiar pelos candidatos a senadores e deputados. Foi um tiro no pé marineiro. Porém, não é nada, pode se dizer que, num intervalo de quatro dias, Marina Silva derrotou a essência do PSB, o orgulho pessebista três vezes. Impôs primeira derrota socialista, digamos, ao desembarcar em Recife na véspera do enterro do líder abatido na queda de avião. Como messias, ela declarou: — Tenho senso de responsabilidade e compromisso com o que a perda de Eduardo nos impõe. Com as 15 palavras da frase, Ma­rina aceitava a missão de substituir o presidenciável morto. A aceitação derrotava o PSB ao expor a im­potência do partido pós-Cam­pos por não ter alguém em seu próprio quadro à altura da tarefa sucessória. A segunda derrota do PSB veio na última quarta-feira, quando Marina desfechou o golpe com que chamou a si o controle da campanha, trocou quadros antigos do partido por gente de confiança recrutada na Rede. Em seguida, derrotou novamente na declaração que fez aos dirigentes dos partidos aliados, no mesmo dia. Consolidado como hotel de trânsito de uma candidata, o PSB sofrerá mais uma derrota quando Marina se mudar para a casa real, a Rede. Se for eleita presidente, a mudança se tornará uma marca histórica capaz de sobrepujar os feitos até agora registrados na história do partido. Os socialistas ficariam órfãos de condutores da legenda. Ainda na área messiânica, quando chegou ao velório em Recife, Marina atribuiu à providência divina a decisão, três dias antes, de não embarcar naquele voo da morte para seis pessoas que acompanharam Campos até o fim do fim. “Existe uma providência divina em relação a mim, a Renata, ao Miguel e ao Molina”, referiu-se a quatro pessoas que poderiam estar no mesmo voo. Em matéria de pressentimentos, a viúva de Campos, Renata, recomendou ao PSB a escalação da vice Marina na vaga do marido. Res­sa­bia­dos, socialistas traquejados vacilavam por causa da desconfiança quanto à candidata que chegava de fora e estava ali em trânsito. Ren­de­ram-se, no entanto. Mesmo assim, Renata pressentiu que deveria trabalhar duas vezes na campanha: — Como participei a vida toda de campanhas, não será diferente nesta. Pelo contrário, eu tenho a sensação de que tenho que participar por dois.