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Renan Calheiros e Henrique Alves, ilustres do PMDB envolvidos no novo “mensalão” que logo correram para Michel Temer l Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Renan Calheiros e Henrique Alves, ilustres do PMDB envolvidos no novo “mensalão” que logo correram para Michel Temer l Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Quando deseja esmiuçar os mistérios e caminhos da política, o PT da presidente Dilma se reúne no Palácio da Alvorada. Na mesma circunstância, o PMDB do vice-presidente Michel Temer se recolhe à residência oficial do vice, o Palácio do Jaburu, a cinco quilômetros e meio do Alvorada, quase em linha reta.

Nessa distância, Dilma reuniu a sua turma na noite da segunda-feira, 8, para discutir a repercussão eleitoral do vazamento do novo escândalo da Petrobras, no Alvorada. Duas noites mais tarde, Temer se reuniu com os seus, no Jaburu, para examinar porque o vazamento de uma dúzia de nomes de políticos beneficiados pelo novo mensalão tinha mais peemedebistas do que petistas.

Os peemedebistas entenderam que foi manipulado o vazamento de nomes de políticos que teriam sido mencionados por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, em sua delação premiada — feita em troca de redução da pena do próprio. A manipulação atribuiria mais culpa ao PMDB do que ao PT. A ideia poderia ser do próprio Costa, preso no Paraná.

Em torno da mesa da vice-presidência, estavam nomes ilustres que, três dias antes, preferiram não comparecer ao palanque da parada de Sete de Setembro, no domingo. Au­sentes, eles escaparam da pressão pa­ra comentarem a nova compra de apoio político ao governo – em ope­ra­ções assim, sempre sobra uma ver­ba também para o patrocinador, o PT.

Faltaram ao desfile, mas foram ao Jaburu, para começar, os presidentes do Senado e da Câmara, senador Renan Calheiros e deputado Henrique Alves. Por coincidência, Calheiros é pai do deputado Renan Filho, candidato ao governo de Alagoas – pelo PMDB, é claro. O próprio Alves é candidato a governador do Rio Grande do Norte. As campanhas são caras.

Também esteve na vice o senador José Sarney, em fim de carreira como candidato e pai de Roseana, governadora do Maranhão. Eles estão de saída, mas o PMDB maranhense apoia o senador Lobão Filho como candidato ao governo. O pai de Lobãozinho é o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ausente na parada, cria de Sarney e, em tese, responsável pela Petrobras.

Outro que perdeu o desfile, mas compareceu ao palácio de Temer é o líder do PMDB da Câmara, Eduardo Cunha (Rio), candidato à sucessão de Henrique Alves na presidência dos 513 deputados, atualmente espalhados por 22 partidos.

Eles tentaram entender se houve malandragem no fato de que o vazamento incluiu seis peemedebistas e apenas três petistas como vendedores de apoio. Sendo que os do PMDB são politicamente mais ilustres do que os do PT. Entre os petistas, dois deputados: Candido Vaccarezza (São Paulo) e João Pizzolatto (Santa Catarina).

O outro petista é gente de Lula e, sintomaticamente, tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que tem origem no sindicalismo bancário de São Paulo. Vaccari, membro do conselho da usina Itaipu Binacional, carrega no currículo o antigo escândalo da Bancoop — cooperativa habitacional dos bancários paulistas. Dali saíram R$ 70 milhões para o caixa dois do PT. Além disso, deixou o prejuízo de R$ 100 milhões para bancários que ficaram sem a casa própria.

O PP contribuiu com dois nomes: o presidente do partido e senador Ciro Nogueira (Piauí); e o ex-deputado baiano Mário Negro­monte, ex-ministro das Cidades, demitido por Dilma durante a época da faxina. O PSB contribuiu com um morto, o ex-governador Eduar­do Campos. Sintomaticamente, Marina Silva ocupa a vaga dele, há um mês, como presidenciável.

A meia dúzia de peemedebistas começa pelo ministro Edison Lobão, responsável pela petroleira, e os presidentes do Congresso, Calheiros e Henrique Alves. Juntam-se a eles a governadora Roseana Sarney, o ex-governador Sérgio Cabral (Rio) e o senador Romero Jucá (Roraima), com passado de líder de vários governos no Senado — agora à disposição de outros.