Deputado Beto Albuquerque: escalado para vice de Marina, mas já esvaziado | Foto:  Fernando Frazão/Agência Brasil
Deputado Beto Albuquerque: escalado para vice de Marina, mas já esvaziado | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

“Ela que vá mandar na Rede dela, não no PSB”, a frase nervosa com que o socialista histórico Carlos Siqueira excomungou a intervenção da presidenciável Marina Silva no comando da campanha eleitoral revela a explosão do choque cultural latente no partido desde que recebeu, mas ainda não absorveu, o desembarque da Rede marineira em outubro do ano passado.

A mudança que Marina impôs no comando da campanha e levou Siqueira a afastar-se da coordenação eleitoral representa a contraintervenção. Trata-se de uma reação à intervenção do PSB, que, dono da casa, montou com a sua gente o comando da campanha desde a candidatura de Eduardo Campos e escolheu Beto Albuquerque, agora diminuído pela presidenciável.

A candidata marinou a chefia da campanha. Na coordenação, onde Siqueira reinava sozinho, Marina colocou em sua companhia o marineiro Walter Feldman como adjunto, reforçado depois pela companhia da deputada paulista Luiza Erundina. Na tesouraria, onde brota o dinheiro para a campanha, instalou Bazileu Margarido no lugar do socialista Henrique Costa.

Outro socialista histórico, Milton Coelho, avisou ao PSB que se afastaria da coordenação de mobilização e articulação na campanha. O sociólogo Diego Brandy, que cuida da análise de pesquisas de opinião examina o que fará de seu trabalho sob a nova ordem marineira. Está no PSB desde 2006. Veio para a primeira campanha de Campos pelo governo de Pernambuco.

As mudanças não agradaram Siqueira, sempre prestigiado no PSB desde os papéis políticos que desempenhou há mais de 30 anos junto ao ex-governador Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos. Com esse prestígio, foi chefe de gabinete do ministro da Saúde nos anos 90, quando o então presidente Itamar Franco brindou o PSB do amigo Jamil Haddad com o ministério.

Agora desprestigiado por Marina Silva, Carlos Siqueira afastou-se também do segundo posto na hierarquia do PSB, a secretaria, onde reinou historicamente com a bênção e os serviços da família Arraes. Ao se retirar da campanha e da secretaria, alertou os repórteres quando perguntaram sobre a reação da viúva de Campos, Renata:

— Não falou comigo e não deve saber o que está se passando. Mas ela é uma mulher inteligente e capaz, e vai saber que não podemos oferecer uma candidatura que procede dessa maneira.

Com esse ímpeto de dominação, Marina chegou a dispensar o vice Beto Albuquerque de coletar dinheiro para a campanha junto aos ruralistas. Se não tem a obrigação de arrecadar fundos junto ao seu próprio meio, o agronegócio, qual será o valor das ações do líder do PSB na Câmara como negociador político em nome do partido? Nem se diga em nome da candidata.

Ao acenar ao mercado, a presidenciável indicou dois ambientalistas para os negócios na área ruralista João Paulo Capobianco e o vereador paulistano Ricardo Young, também empresário. Outro autorizado a negociar dinheiro é Guilherme Leal, sócio da empresa Natura e candidato a vice na chapa presidencial de Marina em 2010.