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Um relato sobre saudade, amor e a urgência de viver escrevendo

O evento contará com uma mesa redonda com a participação do professor Dráulio Carvalho, do Professor Hélder Modesto e da Professora Meire Viana, todos especialistas na obra de Morrison. O professor explica que Helder é da filosofia, Meire é da literatura e ele é da história.

No programa da CBN, o poema “Voa”, musicalizado por Ivan Lins, é o gancho para resgate do acervo da escritora

“Os frutos da lobeira” leva título de melhor prosa, e “O livro dos amores a mais” vence na categoria poesia

Há versos excelentes construídos com palavras simples, porém palavras bem escolhidas dentro do campo da simplicidade. Em seu romance “A Hora da Estrela”, Clarice Lispector disse que a obtenção da simplicidade só é possível “através de muito trabalho”

A sofrência lésbica em seu estado nu e cru é sopro de vitalidade no mercado goiano e brasileiro

Goiano que concorreu a vaga na ABL, ele simboliza o raro ramo humilde da humanidade, que sabe chorar e que nunca buscou presunção nem vaidades

por Gabriel Nascente*
Nós também temos algo a dizer sobre o amor;
NAZIM HIKMET
I
Acorda, mãe do céu…
e acode nós cá do mundo!
Anda insuportavelmente esquisito vivermos
neste planeta de esquizofrênicos (onde a
tecnologia consagrou-se deus- o Deus -
desta humanidade tresloucada, sem
coração. E que muge,
baba,
urra,
diante dos monitores.
A terra ficou doente. E párem, pelo amor de Deus,
de judiar da
terra. A terra é a mãe das águas.
E a água é a mãe da vida.
No lugar de Cristo, pregaram o senhor Computador,
todo magestoso, imponente e tietado
pelas turbas do delírio coletivo.
Por favor, mãe, não deixes que esta
caterva de blogueiros obstrua a
luz dos meus olhos.
As estrelas estão fugindo de mim.
E não há como sonhar que somos felizes.
A matança triunfou entre maridos e mulheres.
E a dignidade dos homens foi pro lixo.
E tudo isso é infernal e
apoteótico, eu sei.
Hoje é dia das Mães.
Festim de flores em
nossas almas.
II
Mãe, acode! Cadê
o teu verbo
de ternura e de látego?
Me mande, urgentemente, um
exército de querubins, para expulsarmos
este enxame de taturanas psicopatas,
que atordoam os nossos espíritos!
Essas metamorfoses das engrenagens magnéticas
assombram o ritmo cerebral de
nossas emoções.
E é por demais desconsertante para mim,
mãe, viver, sobreviver e conviver, com estes tempos
de podriqueiras dejetórias escorrendo pelos túneis
fantasmagóricos da infernet (onde estão instalados
todos os rendez- vous do mundo, sodômicamente).
Já entregarmos as nossas pobres cabeças a esta
cozinha de carniceiros tecnológicos.
Coitados desses crótalos imbecis parindo
robôs ( que engolirão eles mesmos).
Repito: eu não sou deste mundo.
A minha ferramenta de viver tem cheiro
de mãos descascando batatas, ou ceifando
talos de canos.
As máquinas choram
vinagres.
A treva incha.
A lua de maio amanhece em teus sedentos
desejos de prata.
E eu balbucio o teu nome , bem baixinho,
num ninho de passarinhos,
para não acordar as chuvas.
III
É o amanhecer da humanidade indo
pro matadouro (feito tropa de saguis
teleguiados pelas sirenes do Apocalipse).
Não, mãe, não. Não quero ver
a natureza esmagada pelo aço das
indústrias.
Se preciso for, eu farei brandir
até as tripas das minhas palavras,
para evitar o massacre sanguinário
dessas atrocidades.
IV
Ó juízo! Por que tu refugias
entre demônios? Por que?
Minha consciência não entra nisso.
Por isso, humildemente eu te peço, mãe,
não repares este meu vocabulário
à base de querosene. Assim tão ácido, lacrimoso.
O Sol de maio não tem culta.
O Sol é fraterno. Não cobra
impostos de seus usuários.
É dadivoso. É dadivoso.
Perdão. Eu me sinto aos trapos
para escrever coisas bonitas.
Nem tenho poderes para brecar
o mundo.
Eu sou a vida que veio
do ventre de tua luz.
E tu, o girassol
que se abre sobre as mãos do meu destino.
Não dou conta, mãe, de sofisticar
os adjetivos desta mensagem. Mas
o dia de hoje (14 de maio) é zenital,
em pujança de beijos e de mimos.. E numa
delas, aí estou eu mãe, umectado de amor,
e doidão de alegrias para dizer-te:
mãe, por que não eternizas
a ternura entre os homens?

Ilustrações, poesias e ancestralidade afro religiosa se encontram no mais novo trabalho da goiana Raquel Rocha.

Segundo livro escrito pela médica e poetisa carioca Thelma Miguel reúne coleção de poemas sobre a pluralidade da vida e empoderamento da mulher

“Luminosa redoma/ pétala a pétala/ cresceu a tua formosura/ escamas de cristal te acrescentaram/ e no segredo da terra escura/ se foi arredondando o teu ventre de orvalho”

Áurea Denise é performer conhecida dos saraus realizados em Goiânia nas décadas de 1980 e 1990, um tempo de grande efervescência cultural

Evento será realizado dia 16 de outubro e contará com a participação virtual de artistas dos 26 estados brasileiros e Distrito Federal, como Alice Spíndola, de Goiás

Eis o poeta das causas possíveis. Mostra que, independentemente da língua e da formação, o homem é sempre o mesmo em todos os quadrantes do planeta
João Carlos Taveira
Especial para o Jornal Opção
[caption id="attachment_263566" align="aligncenter" width="500"] Ático Vilas-Boas da Mota: professor, tradutor, filólogo, linguista, ensaísta, dicionarista, folclorista e poeta | Foto: Reprodução[/caption]
Em todas as artes podem ser encontradas com certa facilidade duas vertentes categóricas: a de jovens gênios que, numa idade mais avançada, se apagam completamente para a criação, e a de artistas maduros que ignoram o passar do tempo e continuam criando obras de grande vigor estético — talvez até mais transgressoras do que aquelas do tempo de juventude. Os exemplos são muitos. E em todos os segmentos. A título de ilustração, tome-se como exemplo apenas um nome da história da música: Giuseppe Verdi, o gênio da ópera italiana que viveu 88 anos e construiu uma das obras mais altas e coerentes de que se tem notícia, produzindo verdadeiras filigranas da música lírica até o fim de sua vida.
Essas abstrações me vêm à mente a propósito de um fato e de um nome singular no campo da literatura brasileira: Ático Vilas-Boas da Mota (1928-2016), professor, tradutor, filólogo, linguista, ensaísta, dicionarista, folclorista e poeta dos mais sérios, que tive a honra de conhecer em Brasília, na década de 1980, e o privilégio de poder privar de sua amizade fraterna em mais de trinta anos de convivência. Pois bem, esse homem culto e cordial, já na casa dos 80 anos, continuava escrevendo e publicando com o mesmo ímpeto dos primeiros tempos. Aliás, em alguns casos, até com mais ousadia e coragem.
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Ático Vilas-Boas da Mota: reconhecimento na Romênia | Foto: Reprodução[/caption]
Depois de suas passagens por universidades brasileiras (foi um dos fundadores da Universidade Federal de Goiás, em que desenvolveu praticamente todas as suas atividades literárias e científicas) e pela Universidade de Bucareste, na Romênia, tendo residido nas capitais de alguns dos principais Estados brasileiros, este baiano de Macaúbas resolveu voltar às origens e fixar-se de vez no oeste da Bahia, mais precisamente na Chapada Diamantina Meridional, na bacia do Rio São Francisco. E ali, no aconchego do solar da família, ao lado de dona Alzira, de parentes, de fiéis assistentes e de muitos amigos, Ático Vilas-Boas viveu entre livros, discos, fitas, quadros, objetos de arte, arquivos e documentos raros da cultura brasileira, dando vazão às inquietações pessoais na criação de obras cada vez mais sérias e indispensáveis à compreensão da nossa brasilidade. E ali viveu também seus últimos dias, pois sua trajetória luminosa teve fim em 26 de março de 2016, quando contava 87 anos de vida.
O professor Ático, como foi conhecido d’aquém e d’além mar, também dirigiu com mão firme a Fundação Cultural Professor Mota, criada há mais de 40 anos para resgatar e perpetuar as ideias e iniciativas de seu pai em Macaúbas, cidade que tem sido um baluarte da baianidade e centro de apoio para diversos pesquisadores nacionais e estrangeiros. A fundação abriga biblioteca, galeria de arte, salas de pesquisas, arquivos de referência e museu.
Em 2011, o governo da Romênia, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados àquele país de língua latina pelo autor do livro “Brasil-Romênia — Pontes Culturais”, concedeu ao intelectual Ático Vilas-Boas uma alta condecoração: Ordem Nacional Romena “Serviço dedicado” em grau de comendador, que lhe foi entregue na Embaixada da Romênia em Brasília, em cerimônia presidida pelo embaixador Mihai Zamfir, com a presença do editor Victor Alegria, de quatro embaixadores, diversos representantes diplomáticos, jornalistas, professores universitários, escritores e artistas de várias outras áreas.
Pois bem. Hoje, o que motiva estas linhas acerca do autor de “Alpondras: Travessia de Bucareste” e “Ciganos” é outro livro de poesia: “Romênia, Poemário Telúrico”, edição bilíngue português/romeno, de 2010, na tradução primorosa de Micaela Ghitescu, talvez a maior especialista na língua e na cultura brasileiras e portuguesas, que assina também o prefácio “Pontes entre dois mundos”. Os poemas da coleção, todos de temática romena, descrevem lugares, paisagens e locais muito caros a Ático Vilas-Boas, que, além de ter sido “o mais romeno dos brasileiros”, conheceu bem não só a geografia do país amigo, como também os modos de ser, de ver e de sentir de sua gente. Foi um “expert” nas culturas que contribuíram para a formação daquele povo. E que, mesmo antes da chegada dos romanos, são tantas e das mais variadas etnias.
“Romênia, Poemário Telúrico” enfeixa criações as mais diversas dentro de um universo irrestrito: o olhar de sabedoria de um homem cuja espiritualidade transcendeu fronteiras físicas e culturais entre os povos. E esse olhar magnânimo percorre, no dizer de Antônio Olinto, ruas estreitas e largas avenidas com o mesmo desvelo e a mesma ternura com que vagueia pelas veredas da terra natal. É, em suma, um documento valiosíssimo de um livre-pensador que teve o coração tão grande quanto o gênio. Ático Vilas-Boas, neste livro precioso, mostra que é o poeta das causas possíveis. Mostra que, independentemente da língua, dos costumes e da formação social e política, o homem é sempre o mesmo em todos os quadrantes do planeta. A única diferença perceptível fica por conta do grau de evolução espiritual a que teve acesso e que varia de acordo com as possibilidades do meio em que está inserido. E esta lição de humanismo se circunscreve — “ad infinitum” — em cada poema do presente volume. Senão, vejamos na versão original:
Hospício
Visitando o Hospital n.º 9, de Bucareste Os sonhos dos loucos são pássaros assustados. Ninguém achará os seus rastros nem o bater de suas asas. Os sonhos dos loucos não são de ouro, nem sequer de prata: ferrugem que assusta, fuligem que sufoca e mata. Os sonhos dos loucos são a sombra da saliva e o cheiro dos remédios que não curam, mas insistem. Os sonhos dos loucos são os passos na calçada, cartas sem endereços, jornada sem retorno, gesto pela metade. Por isso mesmo, agora, no giz desta parede torta, todas as palavras foram ceifadas pela guilhotina da indiferença. Nos mostradores dos relógios dormem sorrisos postergados, visitas que nunca chegam, respostas de fantasmas. Sonho é sonho, neste delírio de navalhas. Os loucos moram neste mundo carregado de feridas abertas, em todos os lados, sem depois, sem amanhã, sem aviso prévio, sem recado, sem o anúncio da felicidade nem de sua chegada. Só o abraço de urtigas, pesadelo que nunca se desfaz…” Após a leitura desse poema, a vontade que se tem é de transcrever outros e mais outros. Mas a tentação é contida. Afinal, os espaços de publicação estão cada vez mais exíguos e não permitem veleidades nem excessos por parte de ninguém. Dito isso, voltemos ao livro e seu conteúdo concentrado. A presente edição de “Romênia: Poemário Telúrico” saiu em Bucareste, em 2010, pela Editura Fundatiei Culturale Memoria e traz na quarta-capa uma curiosidade: a Baía de Guanabara, sobreposta a um ramo amarelo em que um beija-flor passeia sua majestosa mestria de voo, é contemplada pelo olhar sempiterno do Cristo Redentor do alto do Corcovado. Mas por que o Cristo Redentor na capa de um livro traduzido para o romeno? É que a cabeça do Cristo foi esculpida por um romeno chamado Gheorghe Leonida (1892-1942), que trabalhou no atelier do escultor francês de origem polonesa Paul Landowski (1875-1961), responsável pela execução do trabalho que foi doado ao Brasil pelo governo da França. O monumento foi inaugurado em 12 de outubro de 1931, dia de Nossa Senhora Aparecida e fica no bairro de Santa Teresa. Essas informações preciosas de Ático Vilas-Boas encontram-se, entre outras, no já citado livro “Brasil-Romênia — Pontes Culturais”, publicado pela Thesaurus Editora também em 2010 e cuja segunda edição, revista e ampliada, continua na dependência da vontade de familiares e principalmente do editor.