por Gabriel Nascente*

Nós também temos algo a dizer sobre o amor;

                                                                                                                NAZIM HIKMET

I

Acorda, mãe do céu…

e acode nós cá do mundo!

Anda insuportavelmente esquisito vivermos

neste planeta de esquizofrênicos (onde a

tecnologia consagrou-se deus- o Deus –

desta humanidade tresloucada, sem

coração. E que muge,

                      baba,

                         urra,

diante dos monitores.

A terra ficou doente. E párem, pelo amor de Deus,

 de judiar da

terra. A terra é a mãe das  águas.

E a água é a mãe da vida.

No lugar de Cristo, pregaram o senhor Computador,

todo magestoso, imponente e tietado

pelas turbas do delírio coletivo.

Por favor, mãe, não deixes que esta

caterva de blogueiros obstrua a

luz dos meus olhos.

As estrelas estão fugindo de mim.

E não há como sonhar que somos felizes.

A matança triunfou entre maridos e mulheres.

E a dignidade dos homens foi pro lixo.

E tudo isso é infernal e

apoteótico, eu sei.

Hoje é dia das Mães.

Festim de flores em

nossas almas.

II

Mãe, acode! Cadê

 o teu verbo

de ternura e de látego?

Me mande, urgentemente, um

exército de querubins, para expulsarmos

este enxame de taturanas psicopatas,

que atordoam os nossos espíritos!

Essas metamorfoses das engrenagens magnéticas

assombram o ritmo cerebral de

nossas emoções.

E é por demais desconsertante para mim,

mãe, viver, sobreviver e conviver, com estes tempos

de podriqueiras dejetórias escorrendo pelos túneis

fantasmagóricos da infernet (onde estão instalados

todos os rendez- vous do mundo, sodômicamente).

Já entregarmos as nossas pobres cabeças a esta

cozinha de carniceiros tecnológicos.

Coitados desses crótalos imbecis parindo

robôs ( que  engolirão eles mesmos).

Repito: eu não sou deste mundo.

A minha ferramenta de viver tem cheiro

de mãos descascando batatas, ou ceifando

talos de canos.

As máquinas choram

vinagres.

A treva incha.

A lua de maio amanhece em teus sedentos

desejos de prata.

E eu balbucio o teu nome , bem baixinho,

num ninho de passarinhos,

para não acordar as chuvas.

III

É o amanhecer da humanidade indo

pro matadouro (feito tropa de saguis

teleguiados pelas sirenes do Apocalipse).

Não, mãe, não. Não quero ver

a natureza esmagada pelo aço das

indústrias.

Se preciso for, eu farei brandir

até as tripas das minhas palavras,

para evitar o massacre sanguinário

dessas atrocidades.

IV

Ó juízo! Por que tu refugias

entre demônios? Por que?

Minha consciência não entra nisso.

Por isso, humildemente eu te peço, mãe,

não repares este meu vocabulário

à base de querosene. Assim tão ácido, lacrimoso.

O Sol de maio não tem culta.

O Sol é fraterno. Não cobra

impostos de seus usuários.

É dadivoso. É dadivoso.

Perdão. Eu me sinto aos trapos

 para escrever coisas bonitas.

Nem tenho poderes para brecar

o mundo.

Eu sou a vida que veio

do ventre de tua luz.

E tu, o girassol

que se abre sobre as mãos do meu destino.

Não dou conta, mãe, de sofisticar

os adjetivos desta mensagem. Mas

o dia de hoje (14 de maio) é zenital,

em pujança de beijos e de mimos.. E numa

delas, aí estou eu mãe, umectado de amor,

e doidão de alegrias para dizer-te:

mãe, por que não eternizas

 a ternura entre os homens?