Carta de um visionário ao dias das mães

14 maio 2023 às 00h00


COMPARTILHAR
por Gabriel Nascente*
Nós também temos algo a dizer sobre o amor;
NAZIM HIKMET
I
Acorda, mãe do céu…
e acode nós cá do mundo!
Anda insuportavelmente esquisito vivermos
neste planeta de esquizofrênicos (onde a
tecnologia consagrou-se deus- o Deus –
desta humanidade tresloucada, sem
coração. E que muge,
baba,
urra,
diante dos monitores.
A terra ficou doente. E párem, pelo amor de Deus,
de judiar da
terra. A terra é a mãe das águas.
E a água é a mãe da vida.
No lugar de Cristo, pregaram o senhor Computador,
todo magestoso, imponente e tietado
pelas turbas do delírio coletivo.
Por favor, mãe, não deixes que esta
caterva de blogueiros obstrua a
luz dos meus olhos.
As estrelas estão fugindo de mim.
E não há como sonhar que somos felizes.
A matança triunfou entre maridos e mulheres.
E a dignidade dos homens foi pro lixo.
E tudo isso é infernal e
apoteótico, eu sei.
Hoje é dia das Mães.
Festim de flores em
nossas almas.
II
Mãe, acode! Cadê
o teu verbo
de ternura e de látego?
Me mande, urgentemente, um
exército de querubins, para expulsarmos
este enxame de taturanas psicopatas,
que atordoam os nossos espíritos!
Essas metamorfoses das engrenagens magnéticas
assombram o ritmo cerebral de
nossas emoções.
E é por demais desconsertante para mim,
mãe, viver, sobreviver e conviver, com estes tempos
de podriqueiras dejetórias escorrendo pelos túneis
fantasmagóricos da infernet (onde estão instalados
todos os rendez- vous do mundo, sodômicamente).
Já entregarmos as nossas pobres cabeças a esta
cozinha de carniceiros tecnológicos.
Coitados desses crótalos imbecis parindo
robôs ( que engolirão eles mesmos).
Repito: eu não sou deste mundo.
A minha ferramenta de viver tem cheiro
de mãos descascando batatas, ou ceifando
talos de canos.
As máquinas choram
vinagres.
A treva incha.
A lua de maio amanhece em teus sedentos
desejos de prata.
E eu balbucio o teu nome , bem baixinho,
num ninho de passarinhos,
para não acordar as chuvas.
III
É o amanhecer da humanidade indo
pro matadouro (feito tropa de saguis
teleguiados pelas sirenes do Apocalipse).
Não, mãe, não. Não quero ver
a natureza esmagada pelo aço das
indústrias.
Se preciso for, eu farei brandir
até as tripas das minhas palavras,
para evitar o massacre sanguinário
dessas atrocidades.
IV
Ó juízo! Por que tu refugias
entre demônios? Por que?
Minha consciência não entra nisso.
Por isso, humildemente eu te peço, mãe,
não repares este meu vocabulário
à base de querosene. Assim tão ácido, lacrimoso.
O Sol de maio não tem culta.
O Sol é fraterno. Não cobra
impostos de seus usuários.
É dadivoso. É dadivoso.
Perdão. Eu me sinto aos trapos
para escrever coisas bonitas.
Nem tenho poderes para brecar
o mundo.
Eu sou a vida que veio
do ventre de tua luz.
E tu, o girassol
que se abre sobre as mãos do meu destino.
Não dou conta, mãe, de sofisticar
os adjetivos desta mensagem. Mas
o dia de hoje (14 de maio) é zenital,
em pujança de beijos e de mimos.. E numa
delas, aí estou eu mãe, umectado de amor,
e doidão de alegrias para dizer-te:
mãe, por que não eternizas
a ternura entre os homens?