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Entre a filosofia e o velho e bom papo furado, o projeto da casAcorpO segue com programação até agosto deste ano
[caption id="attachment_63593" align="alignnone" width="620"] Foto: Silvia Patrícia/Divulgação[/caption]
No sábado, 16 de abril, a casAcorpO realiza o primeiro Encontro Com(versado) de 1026. Desta vez, o bate-papo é com a coreógrafa e diretora da “Companhia da Arte Andanças”, a cearense Andréa Bardawil. A questão “Como permanecer fortes?” é o fio condutor do descontraído encontro que trata de assuntos sérios, estes que permeiam o universo das artes e que são emergenciais a classe.
No total, serão cinco encontros, onde convidados artistas da dança, do teatro e da performance dialogarão com o público variadas questões. Todos os bate-papos serão mediados pela artista, pesquisadora e professora de dança Luciana Ribeiro. A programação vai até o mês de agosto. Aberto ao público, o primeiro encontro começa às 19h. É só se achegar.
Bardawil
Andréa Bardawil é uma das fundadoras da ONG Alpendre — Casa de Arte, Pesquisa e Produção, onde desenvolveu pesquisas na área de vídeo-dança, junto com o videomaker Alexandre Veras. Ela atuou como coordenadora pedagógica da Bienal Internacional de Dança do Ceará e foi conselheira/curadora do Festival Nacional de Dança de Joinville.
Segundo Luciana, Andréa é uma artista especial, uma militante, provocativa e sensível. Isso tudo não apenas em relação ao universo da dança, mas sim relacionado a um engajamento propositivo sobre questões políticas mais amplas e fundamentais, direcionadas a uma vida pública e democrática.
Serviço
Encontro Con(versado)
Data: 16 de abril
Horário: das 19h às 21h
Local: Casa Corpo
Entrada gratuita

[gallery type="slideshow" size="full" ids="63586,63587,63588,63589"] Na quinta-feira, 14 de abril, o Ateliê Eleonora Hsiung realiza uma live performance de artistas goianos, das artes visuais e da música, e o lançamento da pocket colleciton “Éden”. Além disto, o evento, que conta com o apoio do shopping Flamboyant, contará com a exposição de fotografias da mais recente coleção lançada pela marca Paú. Afixadas em painéis, as imagens sofrerão a intervenção dos artistas Lucas Ruiz, Luciano Drehmer e Beatriz Perini, que têm se destacado no cenário cultural do estado e do País. São técnicas de colagem, pintura com canetas, tinta e spray, que fazem parte do processo criativo/produtivo dos artistas e que serão realizadas ao vivo, permitindo maior conhecimento por parte do público. Os respeitados músicos Frederico Valle e Evaldo Robson se apresentam na ocasião. Ambos têm um extenso currículo de colaboração com relevantes músicos do cenário nacional. Será um set de bateria eletrônica e instrumentos de sopro, o que se intitulou de “jazz naïf” — uma sonoridade moldada pelo ambiente e pela situação, em que se mesclam, de maneira orgânica, as influências do jazz, do funk, do fusion e do rock. Mini-caipirinhas e quitutes do Botequim Mercatto, também parceiro do evento, serão servidos no evento, que começa às 18h, em frente ao ateliê do Flamboyant. Éden Alegre e otimista, a pocket collection “Éden” traz elementos de uma floresta de costelas de adão e flamingos. São três brincos, um colar e uma pulseira em metal com detalhes em couro. Leves, as versáteis peças se contrastam no habitual impacto visual das peças de Hsiung. No dia, estarão expostos também os portfolios dos artistas visuais convidados, permitindo assim uma maior aproximação entre o público e obra destes fazedores de cultura da cidade. Serviço Live performance + Éden Local: Flamboyant Shopping, em frente ao Ateliê Eleonora Hsiung Data: 14 de abril Horário: das 18h às 22h

Brincar com o tempo é algo comum no cinema, sobretudo no hollywoodiano, mas muitos escritores provaram que isso também é possível na literatura

Ainda pouco conhecida de grande parte da população de Goiânia, a Vila Cultural Cora Coralina tem se revelado um espaço importante para a cultura em Goiânia. Com eventos simultâneos acontecendo durante todos os fins de semana, a Vila precisa ser “encontrada” pela população da capital goiana. Neste mês de março, por exemplo, acontecem lá: a Mostra de Arte Urbana no Brasil Central; o Festival Todas as Tribos; e as aberturas das exposições “20 anos Teatro Ritual” e “O Dobro”. Além disso, ainda ocorrem eventos paralelos, como o ciclo de cinema. A Vila Cultural fica ao lado do Teatro Goiânia, entre a Rua 3 e a Avenida Tocantins, no Centro da capital.

[caption id="attachment_48381" align="alignnone" width="620"] Reprodução[/caption]
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Já estava com saudades, pode falar! Parece mesmo que há séculos foi realizada a última edição da jam session Por Acaso. Mas nem foi há tanto tempo assim, só no primeiro semestre, ou seja, o milénio passado. Bem, pois, a tarde de improvisos na dança e música está de volta. Você pode botar aquela roupa leve, encher a garrafinha d’água e colar na Casa Corpo, na Rua Sem Saída, que os grupos ¿por quá? e Vida Seca te esperam com um tatame prontinho para uma tarde de intervenção que visa o inesperado. É no sábado, 17. Free, free.

Atores e produtores no Rio de Janeiro, eles propõem a realização de um projeto cultural No sábado, 26, os atores e produtores Anna Sant´Ana e Rogério Garcia ministram o Workshop de Produção Cultural, no Sesc Centro. Com duração de 4 horas, o objetivo do encontro é introduzir conhecimentos para a realização de um projeto cultural, incentivando artistas a terem autonomia na produção e realização de seus projetos, para que possam colocar em prática as suas ideias. Dentre os temas abordados estão a criação e o desenvolvimento de uma ideia; passo a passo na produção de um projeto; introdução a leis de incentivo e editais; produção e realização de um espetáculo entre outros assuntos relacionados a proposta do workshop. O curso é direcionado para atores, estudantes, artistas em geral e produtores. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas na Central de Atendimentos do Sesc Centro. As vagas são limitadas. Serviço Workshop de Produção Cultural Data: sábado, 26 de setembro Horário: 13h30 às 18h30 Inscrição gratuita no Sesc Centro Emissão de certificado

Atualmente residindo no Canadá, o escritor e médico volta a Goiás para registrar sua saudade

[gallery size="large" type="slideshow" ids="44399,44398,44397,44396"] As cidades de Anápolis, Caldas Novas, Goiânia e Jataí recebem neste mês de setembro os concertos do “Sonora Brasil”, que tem como tema “Sonoros ofícios — cantos de trabalho”. Entre os grupos que se apresentam, três representam formas tradicionais relacionadas a trabalhos rurais: Destaladeiras de Fumo de Arapiraca (AL); Cantadeiras do Sisal e Aboiadores de Valente (BA) e Quebradeiras de Coco Babaçu (MA); e o Grupo Ilumiara (MG), que é formado por músicos pesquisadores e apresenta repertório recolhido em pesquisas sobre diversas vertentes do tema. “Sonoros ofícios — cantos de trabalho” representa o canto como expressão musical relacionada às atividades laborais, fato social presente na cultura brasileira, tanto no ambiente rural quanto no urbano, com registros que confirmam a sua existência já no século 18. Na maioria das vezes uma prática coletiva, os cantos de trabalho podem cumprir funções diferenciadas, de acordo com as características do trabalho ao qual estão relacionados e com os determinantes culturais e sociais de cada região ou localidade. Normalmente entende-se que o papel de aliviar o desgaste físico e aumentar a produtividade é preponderante, mas também pode servir como modo de externar o lamento e a crítica. As apresentações tem entrada franca. Serviço Grupo Ilumiara (MG) Jataí Data: 03 de setemrbo, às 20h Local: Pátio da UFG/Unidade Riachuelo Goiânia Data: 05 de setembro, às 20h Local: Teatro Sesc Centro Anápolis Data: 06 de setembro, às 20h Local: Auditório do Sesc Anápolis Cantadeiras do Sisal e Aboiadores de Valente (BA) Goiânia Data: 02 de setembro, às 20h Local: Teatro Sesc Centro Anápolis Data: 03 de setembro, às 20h Local: Auditório do Sesc Anápolis Caldas Novas Data: 04 de setembro, às 21h Local: Anfiteatro Odorico Nery no Sesc Caldas Novas Jataí Data: 06 de setembro, às 20h Local: Pátio da UFG/Unidade Riachuelo Quebradeiras de Coco Babaçu (MA) Goiânia Data: 03 de setembro, às 20h Local: Teatro Sesc Centro Anápolis Data: 04 de setembro, às 20h Local: Auditório do Sesc Anápolis Caldas Novas Data: 05 de setembro, às 21h Local: Anfiteatro Odorico Nery no Sesc Caldas Novas Jataí Data: 07 de setembro, às 20h Local: Pátio da UFG/Unidade Riachuelo Destaladeiras de Fumo de Arapiraca e Mestre Nelson Rosa (AL) Goiânia Data: 04 de setembro, às 20h Local: Teatro Sesc Centro Anápolis Data: 05 de setembro, às 20h Local: Auditório do Sesc Anápolis Caldas Novas Data: 06 de setembro, às 21h Local: Anfiteatro Odorico Nery no Sesc Caldas Novas Jataí Data: 08 de setembro, às 20h Local: Pátio da UFG/Unidade Riachuelo

O goiano J.C. Guimarães bate um papo sobre seu novo livro, “Uma idade para ser eterno” –– obra em que dá um mergulho na crítica e nas facetas do labor literário
[caption id="attachment_26864" align="aligncenter" width="620"] J.C. Guimarães | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption]
Ademir Luiz
Especial para o Jornal Opção
José Carlos Guimarães (conhecido como J. C. Guimarães) é um dos melhores ensaístas que atuam em Goiás. Nascido em 1971 na cidade de Pires do Rio, interior de Goiás, é designer gráfico por profissão e, após publicar na imprensa diversos textos sobre política, literatura e artes plásticas, está lançando seu primeiro livro, dedicado ao exercício da crítica literária: “Uma idade para ser eterno”.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, J. C. Guimarães fala de sua antipatia pelas ortodoxias intelectuais, seu interesse pelas artes plásticas e sobre sua verdadeira vocação, a produção literária.
Nas páginas de apresentação de “Uma idade para ser eterno”, o sr. lamenta que “não se lê interpretação literária de primeira mão por¬que o gênero, condenado ao papel de coadjuvante da arte, serve ape¬nas de subsídio ao leitor”. Este desinteresse pela interpretação crítica é um fenômeno da era da internet ou figuras como Edmund Wilson e, no Brasil, Otto Maria Carpeaux, verdadeiras vedetes intelectuais festejadas na imprensa e muito lidos pelo chamado “leitor médio” de suas épocas, foram exceções?
Como deve ter notado, eu não associei esse desinteresse à época em que estamos vivendo. Apesar disso, o fenômeno tecnológico da internet tem um impacto cultural gigantesco, capaz de prejudicar nossos hábitos de leitura. Estou convencido de que ela estimula a preguiça mental porque é um instrumento adaptado ao ritmo desumano da vida contemporânea. Infelizmente, o interesse primário da engrenagem social é a produtividade, não o pensamento. A reflexão é perigosa e demanda um tempo imponderável para o capital.
Mas creio que o desinteresse alegado é geral e sempre existiu. Ensaio — em particular ensaios de interpretação literária, como os meus — interessa a quem deve mesmo interessar. Acho perfeitamente normal. Eu, por exemplo, nunca vou ler livros de medicina ou química, apesar de sua importância. A cultura é segmentada, os seres humanos têm interesses diversos — às vezes muito diferentes entre si — e é assim que funciona. Textos de interpretação literária só atingem muitos leitores quando o ensaísta em questão torna-se uma referência para a cultura. Posso citar Vargas Llosa e Octavio Paz.
Mesmo assim, normalmente, esses “muitos leitores” não significam leitores difusos: continuam sendo pessoas do círculo acadêmico, como professores e estudantes. Além, é claro, dos próprios escritores. O desinteresse de que falo não é de quem escreve, como Wilson e Carpeaux: é do público em geral.
O sr. parece não apreciar a figura do crítico, sobretudo o crítico acadêmico. Chega a classificá-los como “intermediá¬rios inconvenientes”. Procura se afastar o máximo possível dessa categoria intelectual, frisando que é basicamente um leitor. O sr. acha que a análise crítica com pretensões científicas é nociva, empobrece ou engessa a relação com a literatura?
Em a “Outra voz”, Octavio Paz defende que a crítica é um dos dínamos fundamentais da história moderna, desencadeando a Revolução Francesa, em 1789. Eu, portanto, seria estúpido, além de muito ingênuo, se desprezasse o papel da crítica como fenômeno basilar da consciência, nos últimos 200 anos.
Ela foi um dos instrumentos usados pelos escritores iluministas — Voltaire, Diderot, Rousseau etc. — para derrubar o Estado absolutista. Resguarda, portanto, um sentido político da maior relevância. Estritamente, nosso querido Gilberto Mendonça Teles — um dos melhores críticos desse país, além de poeta — deve ficar com a pulga atrás da orelha diante de opiniões contrárias à crítica, enquanto intermediária entre livros e leitores.
Menciono Gilberto porque ele é um dos que defendem que a Poética (a arte de interpretar textos literários) é uma ciência, conferindo-lhe um status altamente discutível. Essa certeza não é unânime entre os próprios críticos, e citei exemplos desse desacordo em meu livro. Quanto a ser nociva, empobrecer ou engessar, isso é relativo. Para mim, a questão é menos ideológica que gnosiológica.
De fato, não acredito que a crítica possa se apropriar do significado das obras literárias, sugerindo que o leitor que vai às livrarias não tem competência para ler e entender o que lê, ainda que à sua maneira e de acordo com a própria sensibilidade. Essa apropriação intelectualista do sentido me incomoda. A ciência tornou-se capaz de explicar tudo, e isso evidentemente é outra mistificação.
O sr. se coloca frontalmente contra qualquer tipo de ortodoxia no trato com a obra literária. Ao mesmo tempo, no ensaio “Harold Bloom contra os ‘lemmings’”, mostra-se bastante simpático aos métodos e concepções de Bloom, autor do polêmico “O Cânone Ocidental”, conhecido justamente por sua defesa dos clássicos. É um paradoxo em sua perspectiva crítica ou o sr. acredita que encontrou um meio termo?
Disse bem quando fala que me coloco contra qualquer tipo de ortodoxia. Portanto, também não faria muito sentido ungir Harold Bloom.
Pode soar paradoxal confrontar os críticos e, ao mesmo tempo, eleger alguns deles como referência de qualidade: o próprio Bloom, Carpeaux e George Steiner. É uma questão de perspectiva. Primeiro, eu me simpatizo com tais nomes porque acho os textos deles particularmente agradáveis. Ou seja, escrevem bem; não são chatos.
A segunda coisa que na minha avaliação é possível conciliar pontos de vistas diferentes sem a obrigação de filiar-se a uma corrente interpretativa. Aí, é importante dizer por que me identifico com Carpeaux e com Bloom. Em minha opinião, Carpeaux é bem mais complexo que Bloom, porque seu arcabouço teórico, apesar da base historicista, abrange até conceitos do “New Criticism”, que é formalista.
Então, ele transige com a história ao mesmo tempo em que afirma a supremacia da estética, conciliando os extremos, [Wilhelm] Dilthey com [Benedetto] Croce. A respeito de Bloom, eu posso ter reservas quanto ao seu culto por Shakespeare ou restrições ao seu radicalismo estético. Mas, fundamentalmente, reverencio sua defesa intransigente dos clássicos, em particular nas instituições de ensino, escolas e universidades.
Tanto ele quanto Carpeaux, neste aspecto, escrevem como paladinos e traduzem um elevado padrão de cultura, oposto à superficialidade dominante. Quanto aos paradoxos, eu não os temo, porque seria negar a tessitura da realidade. E, se eu confrontasse o universo, eu estaria perdido, não é mesmo?
O sr. dividiu o livro em três partes: autores Brasileiros, Estrangeiros e, por último, Conterrâneos. Note que não é uma escalada espacial, Goiás, Brasil, mundo. Ou mesmo uma panorâmica do macro para o micro, mundo, Brasil, Goiás. Temos primeiro a literatura brasileira, depois a “universal” e em seguida a produção local. Certamente, é uma forma legitima de ordenar seu trabalho. Mas, não pode gerar a impressão de que o sr. deliberadamente, ou inconscientemente, diminuiu, ou mesmo auto-sabotou, o alcance de sua obra, estabelecendo-a como um livro de crítica feita por um goiano para goianos que, obviamente, sofrem influência da literatura universal, mas que não possuem fôlego estético para se identificarem como tal, estando relegados ao status de “escritores goianos”?
Para mim, a ideia de “escritor goiano” é uma ficção. A solução que dei foi estritamente prática; uma maneira de estruturar o livro. Todos os ensaios reunidos já haviam sido publicados na imprensa, então, eu percebi que era possível combiná-los dessa forma. Foi um critério exclusivo de organização. Aliás, eu não utilizei o termo “universal”, que você cita. Não fui eu quem inventou que “universais” são os autores clássicos, normalmente estrangeiros, europeus, brancos e cristãos.
Sou avesso a essa ideia e provo isso ao dedicar um estudo sobre a “História da literatura ocidental”, de Otto Maria Carpeaux –– talvez o melhor ensaio contido no meu livro. Carpeaux demonstra que fazemos parte do mesmo mundo que os estrangeiros e bebemos todos na mesma fonte. Então, porque acharia que não temos competência para ser universais? Seria, no mínimo, contraditório.
A única vantagem que, de fato, conta em favor dos escritores europeus é a longevidade da cultura do Velho Mundo. No entanto, os norte-americanos são mais novos do que os brasileiros em cem anos (os primeiros colonos fundaram Jamestown em 1607) e, mesmo assim, há entre eles autores da eminência de Emily Dickinson e William Faulkner.
Por outro lado, temos Machado de Assis. Portanto, o que determina a qualidade é, em último caso, o talento. Se em Goiás existem escritores de talento, podem perfeitamente se tornar universais, por que não?
O ensaio que dá nome ao livro, “Uma idade para ser eterno”, trata de talentos que afloraram na juventude em paralelo com outros que tiveram que esperar a maturidade. O sr. é conhecido por ser exigente com sua produção escrita em geral e com a literária em particular. Reescreve o mesmo texto muitas vezes. Em sua falta de pressa, na busca pela palavra exata, qual sua idade para ser eterno?
Eu sou um autor bissexto, pouco imaginativo e reescrevo muito. Nada disso ajuda. Mas qualquer artista gostaria de já ter sido reconhecido e feito sucesso entre os vinte e os trinta anos de idade. Essa é a tendência.
Sendo assim, eu já estou atrasado em pelo menos uma década e meia. Para meu consolo, um dos maiores escritores do século XX, José Saramago, só foi reconhecido depois dos cinquenta, quando também intensificou sua produção.
Cito ele porque, sem titubear, penso como Newton: precisamos ter como referência os gigantes. Mesmo assim, me contento se publicar mais uns dois ou três livros, desta vez de ficção (lembro que dois já estão quase prontos). Vou trabalhar para isto acontecer daqui até o final de 2016. Portanto, se eu tiver que ser eterno, deve ser na casa dos quarenta.
Em quais projetos literários o sr. está trabalhando?
Há um ano eu comecei a escrever um romance, cujo título provisório é “Dois passos, apenas”. Estou na fase de reescrita e pretendo publicá-lo ainda este ano. Trata de amor e de desilusão política, misturando os dramas dos personagens com a história recente do país.
Faz referência às jornadas de junho de 2013. Tenho ainda um livro de contos, que deve se chamar “Vida ordinária”. É uma coletânea que eu venho reescrevendo há vários anos. Já poesia e teatro não são gêneros do meu interesse direto.
Aliás, poesia é a mais livre e, ao mesmo tempo, a mais exigente forma de expressão literária: criar metáforas memoráveis é dificílimo. É muito fácil escrever bobagem e acreditar que é o suprassumo.
O sr. é militante do PT. Como avalia a atual situação do partido, já há mais de uma década no poder e envolvido em muitos escândalos de corrupção?
O PT foi o partido mais consistente criado no Brasil, desde o império. Não há saquaremas, republicanos ou peessedebistas que o ombreie. Foi o único projeto que nasceu de baixo e se projetou nacionalmente, com condições de assumir o poder de Estado.
Tem ligações orgânicas com a classe trabalhadora e por esse motivo distribuiu renda de forma inédita no país. Mas o PT se degenerou, nesse processo. Os “companheiros” gostam apenas de fazer elogios, mas ignorar as críticas é altamente prejudicial.
É preciso virar para a sociedade e ter a humildade de reconhecer os erros, também. Importante lembrar que há o PT da cúpula e o PT da base. Na base, ainda há pessoas idealistas e talvez ingênuas.
Na cúpula, a maioria é de pragmáticos convertidos ao sistema. Têm status, altos salários e acúmulo de gratificações que permitem levar uma vida financeira tranquila. Tornaram-se excessivamente pragmáticos e conservadores, por isso.
O escândalo da Petrobrás sugere, até agora, o envolvimento de oito parlamentares do PT, além de dirigentes importantes, que tinham cargos chave na administração federal. Isso é péssimo.
Confirmaria o fato de que o critério de alianças, que era programático, tornou-se eleitoreiro desde a vitória de Lula em 2000, e que este critério se submete à nefasta lógica do poder econômica sobre as campanhas. A essa concepção poderemos atribuir a derrota do partido amanhã. A alternativa? Defender a reforma eleitoral e dialogar com os movimentos sociais, sem retirar-lhes a autonomia e independência.
Como avalia a atuação do PT na área da cultura, tanto na esfera federal quanto na municipal? É possível traçar uma comparação com o Estado, sob o comando do PSDB?
Não acompanho de perto as políticas culturais em qualquer nível da federação, mas acho que somos carentes de gestores nessa área.
Costuma-se colocar à frente dessas pastas quadros com trânsito político, mas não pessoas que realmente sabem o que é a arte. Cultura abrange muitos aspectos e creio que o aspecto “arte” é o mais ignorado. Por outro lado, você pode ter um gestor com bagagem, mas não um prefeito ou governador interessado em cultura.
Sem essa combinação, aliada a recursos financeiros, ficamos sem condições de pensar, planejar e executar. O resultado é a mediocridade. Uma coisa que eu gostaria de ver em Goiânia, e que a Secretaria de Cultura deveria priorizar, é a restauração do nosso acervo em Art Déco. Já se falou muito nisso, mas quase nada saiu do papel, à exceção da Avenida Goiás, durante a gestão do prefeito Pedro Wilson [PT].
Mas os prédios permanecem esquecidos e escondidos. A perspectiva não é boa, tendo em vista a evolução urbana da capital, cujo aspecto mais visível é justamente a pauperização do Centro Histórico. É um fenômeno sociocultural importante.
No que se refere ao Estado, o governo Marconi deixará um legado: o FICA, que se tornou política de Estado, ampliou e assegurou o Fundo Estadual de Cultura e construiu o Centro Cultural Oscar Niemeyer. A meu ver, Goiás deveria ambicionar exposições e apresentações de porte nacional e, eventualmente, até internacional, o que requer um planejamento rigoroso, poder de articulação e conhecimento. Mas, aí, precisamos de gestores locais de visão, como Gilberto Gil e Juca Ferreira.