Vila Boa de Goyaz: a poesia fotográfica de Rafael Perini
12 setembro 2015 às 16h03

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Atualmente residindo no Canadá, o escritor e médico volta a Goiás para registrar sua saudade

“Meu umbigo/é preso inteiro
na placenta verde de seus morros.
E lânguida de amores/repouso
no regaço/de suas sombras morenas.
Nesse bailado/das ruas estreitas
entra e sai/meu coração.
E respondem meus olhos-cetim/cerzidos
de saudades e canções.”
Augusta Faro Fleury de Melo
Yago Rodrigues Alvim
“O livro do Rafael naturalmente se autoapresenta”, inicia J.L Galvão Jr. Nas linhas seguintes, o escritor bem diz das imagens poesia e poesias escritas, que compõem um “pas-de-deux” –– expressão francesa do ballet clássico para os duos, um “passo de dois”. De fato, benditas as palavras do autor da apresentação do livro fotográfico “Villa Boa de Goyaz”, de Rafael Fleury Perini. Também médico, o fotógrafo que, descompromissado, concebeu o livro, alcançou o “voo literário, tremendamente maior que a simples soma de fotos e textos”, como escreve Galvão.
Atualmente residente no Canadá, Perini voltou à sua casa e, de férias inesquecíveis com a família, frutificou a obra, que tem os cuidados da professora Maria das Graças Fleury. Nas palavra do artista, cá na orelha do livro, as fotografias lhe revelaram “paixão e saudade imensas”. Primeiro idealizado apenas como um presente para os pais, o livro ganhou forma pelo incentivo e trabalho de Graça. As poesias escritas, que o compõem, foram escolhidas por Perini. “Escolhi os textos que me ajudaram a compor um registro não somente fotográfico, mas também emocional da Cidade de Goiás”, diz o artista que também assina o projeto gráfico da obra.
O parágrafo-último da orelha, com dedicações à companheira de sempre, Milena, aos filhos Isabella e Luca, e aos avós Ivany e Augusto, se finda com a seguinte frase: “especialmente ao meu Vô Augusto, que não me deixou cair da árvore”. E muitas colorem o livro –– até mesmo uma em preto e branco, em que ambos, avó e neto, cá no alto estão pendurados, ilustra o apêndice.
A primeira parte da obra traz fotografias coloridas. Chácara Baumann e o poema de dona Augusta Fleury (relembrado na abertura desta matéria); a Igreja do Rosário e a de S. Francisco de Paula, junto do poema “Sempre no Coração” de João Caetano e Nasr Chaul; e, dentre outras, o Hospital de Caridade S. Pedro de Alcântara, que a encerra.
Já nas páginas em preto e branco que se seguem, o anoitecer em Goiás; a casa de Cora Coralina, com poema de Marcelo Barra e Rinaldo Barra –– “Coralina coragem/Coralina coração/Flor do tempo/Força e vontade/Pedra por pedra/Ana por Ana” ––; a igreja de S. Miguel; o Cine Teatro São Joaquim; a Ponte da Lapa; o Cemitério S. Miguel; o Coreto; e, dentre outras, as bonecas namoradeiras vão cosendo o fim e despedida da obra de arte de Perini.