Sharath Jois, renomado guru do Ashtanga Yoga e herdeiro do legado de K. Pattabhi Jois, faleceu no último dia 11, aos 53 anos, durante uma turnê de ensino na Virgínia, Estados Unidos. Figura central na popularização da prática de ioga pelo mundo, ele conquistou uma legião de seguidores, incluindo celebridades como Madonna e Gwyneth Paltrow. Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Roberta Rodrigues, de 40 anos, é uma aluna autorizada por Jois e uma das poucas praticantes de alto nível no Brasil. Nascida em Ipameri, Goiás, a aluna atua como mentora em Goiânia e compartilha experiências únicas que revelam a essência do mestre e a profundidade de seu impacto.

Para Roberta, praticar com Sharath era mais do que uma rotina física; era uma experiência de transformação. “As aulas começavam cedo, em horários divididos, e refletiam a dedicação do aluno. Quanto mais cedo você entrava, mais experiente era. Eu me lembro de chegar para as aulas às 6h30, ansiosa para aprender. Era uma prática individual em grupo. Mesmo com tantos alunos, ele conseguia focar em cada um de maneira única”, recorda Roberta.

Sharath seguia um cronograma rígido. De terça a sexta-feira, os alunos realizavam práticas individuais. Já aos sábados e segundas-feiras, aconteciam as aulas guiadas, que reuniam todos os praticantes em uma mesma prática restaurativa ou mais avançada. Após as aulas, Sharath promovia conferências e sessões de chanting (canto), momentos em que compartilhava ensinamentos filosóficos e de vida.

“Ele tinha uma presença incrível. Só o olhar já nos fazia sentir acolhidos. Havia muita amorosidade em suas palavras. Ele nos ensinava sobre surrender, a entrega. Fazemos o nosso melhor e aceitamos o resultado, porque naquele momento aquilo é o que podemos oferecer. Essa lição ficou comigo”, revela Roberta.

Sharath Jois era conhecido por sua habilidade de motivar. Segundo Roberta, ele acreditava nos alunos mais do que eles próprios. “Ele sempre dizia: ‘You can do it, I’m watching you’ (Você consegue, estou observando). Isso nos fazia superar nossos próprios limites. A forma como ele conduzia as práticas nos ensinava não só a fazer as posturas, mas também a encarar desafios da vida com resiliência e autoconfiança.”

Além da técnica impecável, Sharath tinha um jeito leve de lidar com os alunos. Embora fosse firme, ele usava o humor para aliviar a tensão. “Ele era rígido, mas ao mesmo tempo muito brincalhão. Sempre tinha uma piada para nos acalmar. Isso mostrava o quanto ele se importava. A disciplina dele era uma forma de amor”, relembra Roberta.

Lições de vida que vão além do tapete de ioga

Mais do que um professor de posturas, Sharath era um mentor de vida. “Ele falava muito sobre a impermanência. Que nada na vida é permanente e tudo muda. Essa visão nos ajuda a lidar com os altos e baixos da vida. Ele nos ensinava a ver o amor em tudo, até nas dificuldades, porque elas também passam”, reflete Roberta.

Para ela, o impacto de Sharath não se limitava às aulas. A experiência de estar perto dele, seja em conferências ou até mesmo em encontros casuais, como no supermercado em Mysore, era transformadora. “Um dia, encontrei Sharath e a esposa dele enquanto comprava óleos de massagem. Fiquei tão emocionada que nem consegui terminar as compras. Ele tinha essa energia que preenchia qualquer espaço”, conta, rindo.

O legado de Sharath Jois e a continuidade do Ashtanga Yoga

Sharath Jois assumiu a liderança do Instituto K. Pattabhi Jois Ashtanga Yoga, na índia, após a morte do avô. Desde então, ele continuou expandindo o alcance do estilo Ashtanga, reconhecido por sua fluidez e disciplina. Sua dedicação inspirou milhões de praticantes ao redor do mundo, consolidando o instituto como uma referência global.

Para Roberta, que foi uma das últimas alunas autorizadas por Sharath, o legado do mestre é imensurável. “Ele viveu uma vida de muita devoção, sempre focado no próximo. Mesmo com tanto a ensinar, nunca deixou de ser humilde. Ele acreditava que o yoga era para todos, independentemente de idade, habilidade ou condição física. Isso é algo que levarei para sempre.”

Hoje, Roberta é uma das poucas praticantes de nível avançado no Brasil, sendo a primeira do Centro-Oeste a receber autorização oficial para ensinar o método. “Sinto uma enorme responsabilidade em levar adiante os ensinamentos dele. Foi um privilégio ter aprendido com Sharath, e agora é minha missão honrar esse legado.”

A morte de Sharath causou comoção na comunidade global de ioga. Alunos e mestres se uniram em homenagens, destacando a contribuição do guru para a preservação da tradição do Ashtanga Yoga.

Para Roberta, a perda de Sharath é imensurável. “Ele nos deixou cedo demais, mas o impacto que teve em nossas vidas é eterno. O mundo perdeu um mestre, mas seu legado permanecerá em cada postura, em cada respiração e em cada lição que ele nos transmitiu.”

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