Redução do desmatamento no Cerrado é registrado pela primeira vez em cinco anos
07 novembro 2024 às 14h31
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O desmatamento do Cerrado, segundo maior bioma brasileiro, apresentou redução pela primeira vez em cinco anos, conforme dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na quarta-feira, 6. Entre agosto de 2023 e julho de 2024, a supressão da vegetação nativa na região foi de 8.174 quilômetros quadrados (km²), marcando uma reversão no aumento contínuo do desmatamento observado desde 2018.
A queda, atribuída a intensas ações de fiscalização e a um pacto entre o governo federal e estados da região, evitou a emissão de aproximadamente 41,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂), um dos gases mais poluentes e mais agressivos para o aquecimento global.
O levantamento que indicou a queda foi realizado pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento no Cerrado por Satélite (Prodes Cerrado), do Inpe, que utiliza imagens de satélite com precisão de até 10 metros para identificar áreas de corte raso e degradação por processos como incêndios. Esse monitoramento ocorre anualmente, entre agosto e julho, período seco do bioma, permitindo uma análise detalhada da evolução do desmatamento.
Apesar da boa notícia, os números ainda preocupam, especialmente considerando a pressão que a expansão agrícola exerce sobre o Cerrado. O desmatamento se concentra, em grande parte, nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, conhecidos como Matopiba — região que representa a principal fronteira agrícola do Cerrado e responde por 76% da supressão de vegetação nativa no período analisado. No entanto, esses estados apresentaram reduções em relação ao ano anterior: a Bahia registrou uma queda expressiva de 63,3% no desmatamento, seguida pelo Maranhão, com 15,1%, Piauí com 10,1% e Tocantins com 9,6%.
Medidas para a preservação
Para fortalecer o combate ao desmatamento no Cerrado, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, anunciou um pacto firmado entre o governo federal e as administrações estaduais de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A colaboração, que vem sendo discutida desde março, visa reforçar as medidas de prevenção e combate ao desmatamento ilegal e às queimadas na região.
O pacto tem como objetivo não apenas combater o desmatamento, mas também promover a transparência, o compartilhamento de dados e a criação de estratégias para a conservação dos recursos hídricos e da vegetação nativa. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a meta é aprimorar a atuação dos órgãos ambientais na identificação e aplicação de sanções contra práticas ilegais em propriedades rurais, ao mesmo tempo em que se fomenta a proteção dos ecossistemas e da biodiversidade do Cerrado.
Fiscalização
O governo federal atribui a redução do desmatamento no Cerrado e na Amazônia à intensificação das ações de fiscalização por meio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Entre janeiro de 2023 e outubro de 2024, a média de multas aplicadas por desmatamento e queimadas ilegais aumentou 98% em comparação com o período de janeiro de 2019 a dezembro de 2022. No Cerrado, especificamente, o crescimento na aplicação de multas foi de 20% ao ano.
Além do Cerrado, o Inpe também registrou uma queda de 30,6% no desmatamento da Amazônia Legal no mesmo período de monitoramento, o que resultou no menor índice de desmatamento em 15 anos.
Entretanto, apesar da redução registrada, entidades da sociedade civil alertam que o patamar do desmatamento no Cerrado ainda é alarmante. O especialista em conservação do WWF-Brasil, Daniel Silva, chamou a atenção para o fato de que, embora os dados indiquem uma tendência de queda, o volume de desmatamento permanece elevado em comparação com a série histórica.
Silva ressalta que grande parte dessa degradação ocorre em propriedades privadas, o que evidencia a necessidade de um engajamento mais forte do setor produtivo na preservação ambiental. “A pressão econômica sobre o Cerrado, especialmente pela expansão das commodities, somada a uma legislação ambiental ainda fragilizada, torna a situação crítica”, comentou.