Rede privada de educação infantil em Goiânia registra até 100% de matrículas canceladas e gestores pedem socorro
29 agosto 2020 às 10h02
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Enquanto isso, pais se dividem entre medo de contaminação e necessidade de deixar filhos em local seguro para trabalharem
Atendendo crianças entre 0 e 6 anos, as escolas privadas de educação infantil estão sendo as mais impactadas do setor durante a crise gerada pelo novo coronavírus. Em Goiânia, a média de cancelamento de matrículas estaria girando em torno de 80%, fazendo gestores fecharem as portas de forma permanente. Na sexta-feira, 28, os empresários fizeram manifestação que pede maior diálogo com o poder público.
Balanço repassado ao Jornal Opção pelo Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Goiânia (Sepe) revela que, ainda em julho, as escolas já tinham perdido entre 60 e 80% dos alunos da Educação Infantil, chegando a 100% nas creches. A diretora do Sepe, Marselha Cristina de Oliveira, conta que diariamente a entidade vem recebendo comunicado sobre fechamento de instituições.
“A educação infantil não é um segmento rentável. Os grandes grupos não se interessam em atuar nessa área. Portanto pode ser que o mercado demore bastante para se equilibrar”, afirma Marselha, que diz ainda temer sobre a capacidade da rede pública de atender todo o quantitativo que pode buscar migração imediata.
“A rede pública não terá capacidade de atender, na educação infantil sempre teve listas de espera, e na rede privada não terá vagas em virtude das falências”
Apesar de também apontar crise nos outros níveis de ensino, Marselha diz que eles estão sofrendo menos com a evasão. A explicação para este quadro seria o fato de que para os maiores de seis anos é possível adotar práticas mais efetivas de atividades remotas, método complexo para os pequenos.
Crise para gestores
Proprietária da Escola Vila Lume, Vanessa Vieira destaca justamente a dificuldade no modelo de atividades à distância para os menores de 6 anos. “Não é possível dar o mesmo tratamento para um aluno de 15 anos e para os de 0 a 6. Presencialmente já é necessário adotar técnicas para prender a atenção, porque eles não se prendem mais de 10 minutos a uma mesma atividade”, explica a gestora.
Para Vanessa, há uma série de questões problemáticas na forma como está se dando a suspensão das aulas para essa faixa etária. “Os pais não tem com quem deixar”, conta, afirmando observar que está em curso ações consideradas irregulares, como a inauguração de locais chamados de “centros recreativos” e “hoteizinhos”, espaços onde as crianças passam o dia, mas não são chamados de escola.
“Estão aglomerando crianças para os pais poderem trabalhar. Como o decreto impede apenas o funcionamento de escolas, eles colocam outro nome no CNPJ. Eu penso que isso é tanto irregular como irresponsável”, afirma Vanessa, que conta já ter adaptado sua escola conforme as orientações sanitárias e que por isso gostaria de flexibilização para um modelo hibrido.
“Um modelo em que os pais que precisem deixar os filhos possam fazer a opção ao mesmo tempo que continuaremos a oferecer as atividades online aos demais”
Manifestação
Manifestação organizada pela Associação das Instituições Particulares de Ensino de Goiás (Aipeg) na sexta-feira, 28, levou ao Paço Municipal solicitação para que a Prefeitura considere flexibilizar as regras que impedem a retomada das aulas.
As faixas e cartazes destacavam o risco de falência dos estabelecimentos de educação. De acordo com a organização, a expectativa é de que o diálogo comece a ser ampliado. Segundo eles, a educação deve ser considerada atividade essencial, já que os pais precisam das unidades para manter suas rotinas de trabalho.
Pais se dividem
Mãe de duas crianças, um garoto de três e uma menina de 10 anos, Ludmila Machado fala sobre as preocupações que passam pelos prejuízos pedagógicos sofridos pelos filhos a até a ausência de interação com outras crianças. Ambos os filhos iniciaram o período de pandemia recebendo conteúdo de forma virtual, mas não houve adaptação por parte do menor, conta a mãe.
“Ele não adaptou de forma alguma às atividades remotas. Ele não tem paciência, porque quer interagir, quer conversar com a professora, quer muito ser ouvido. Então com ele já desistimos de assistir as aulas remotamente”, conta Ludmila. A mãe do casal afirma que mesmo com a mais velha, há dificuldades com o modelo de ensino à distância: “Teve uma perda substancial no aprendizado, inclusive em relação ao que ela já sabia”.
Levando em consideração as características do colégio em que os filhos estudam, que segundo ela consegue atender todas as exigências sanitárias, Ludmila fala sobre a possibilidade de retorno de forma escalonada. “Poderia ser dinâmica de aulas duas vezes por semana por turma, que fosse uma vez por semana”, propõe a mãe, que diz acreditar que dessa forma o prejuízo pedagógico seria menor.
Medo da contaminação
Do lado de quem discorda da retomada, Márcia Pires, mãe de uma menina de quatro anos e que também estuda na rede privada, fala que este é um momento desafiador na educação da filha, mas pondera: “Foi um período difícil referente a aprendizagem escolar,mas essa foi a melhor maneira para não espalhar o vírus”.
No processo de aprendizagem com atividades remotas, a mãe aponta a maior dificuldade: tirar as crianças da internet para ensinar tarefas. “Eu acredito que as aulas presenciais são mais aproveitadas”, afirma a mãe, que se posiciona, porém, contra a volta, em razão da pandemia.
“Crianças não ficam de máscara e é difícil para elas manterem distanciamento social. Eu não levarei a minha neste ano ou até termos a vacina”