Os planos de saúde no Brasil acumulam uma dívida de mais de R$ 2,3 bilhões com os hospitais privados do país. Segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), que fez um levantamento em 48 hospitais, as instituições estão com R$ 2,3 bilhões retidos em pagamentos por serviços já prestados a operadoras de saúde.

São recursos devidos por atendimentos prestados entre janeiro e julho a pacientes em emergência ou em procedimentos autorizados pelas operadoras, mas os hospitais estão com dificuldade de efetuar a cobrança por obstáculos criados pelas próprias operadoras, segundo a Anahp.

“Estamos diante de uma crise que não é só de um segmento do setor de saúde. É do sistema. E essa crise não vai se resolver com um segmento tentando ajustar seus problemas às custas do outro. Precisamos de um grande diálogo setorial com a ANS [Agência Nacional de Saúde Suplementar]. É uma situação sem precedentes”, afirmou Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp.

O diretor da Associação sugere que seja feita uma negociação de prazos e entendimentos comerciais para evitar burocracias que dificultam o andamento das cobranças pelos serviços prestados. Segundo ele, um dos obstáculos impostos por operadoras é a restrição de datas para a apresentação das contas. Outra estratégia nesse foi a fixação de um limite de pagamento por mês. “Não importa quantas pessoas foram atendidas, elas só lançam contas até certo valor”, afirma Britto.

Mesmo que os planos tenham dado autorização prévia para determinado procedimento, depois ocorrem questionamentos sobre o que foi feito, a chamada glosa das contas. A glosa é uma prática comum no setor e ocorre quando as operadoras fazem algum questionamento ou pedem mais detalhes sobre as cobranças.

A reportagem procurou a Associação Brasileira de Planos de Saúde, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.

Prejuízo

Embora a Anahp tenha ouvido 48 instituições, a entidade representa, no total, 120 instituições. Mas o Brasil conta com mais de 3 500 hospitais privados. Isso significa que a crise pode ser ainda maior do que a Anahp conseguiu registrar no levantamento.

De acordo com a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), as operadoras registraram em 2022 prejuízo operacional de R$ 10,7 bilhões. O valor corresponde ao pior resultado desde o início da série histórica, em 2001. De janeiro a junho de 2023, a conta já está negativada em R$ 4,3 bilhões, e a perspectiva é que, até o final deste ano, o valor chegue de novo à casa dos R$ 10 bilhões.

Especialistas no setor atribuem o cenário a fatores como inflação médica, flexibilização do rol de procedimentos com cobertura obrigatória dos planos e a chegada de medicamentos de alto custo.

Entre os motivos apontados para o rombo nas contas, as operadoras costumam citar as fraudes, a chegada de terapias com custo na casa dos milhões, o aumento de idosos na carteira de clientes, a regra que permite número ilimitado de terapias e a judicialização.