Cobiçado e usado como ponto de escoamento por organizações criminosas devido à localização geográfica, o Estado de Goiás transferiu pelo menos 10 líderes regionais do Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), além da Amigos do Estado (ADE) para presídios federais. As ações que envolvem alto grau de sigilo, preparação e segurança foram realizadas pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) com o auxílio das forças de segurança pública estaduais e federais.

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Como mostrado pelo Jornal Opção, a criminalidade praticada em solo goiano é exercida quase que de forma unânime pelas facções mencionadas – com destaque para o PCC – tido como uma máfia. As mudanças de cárcere levam em consideração uma série de requisitos, como a periculosidade do preso e até um possível plano de fuga. 

“Geralmente, lideranças de facções criminosas estão encarceradas. São pessoas que têm penas de 40, 50 anos de prisão. Em Goiás, temos pessoas que possuem dezenas de anos de prisão e, sendo bem monitoradas, isso afeta até a criminalidade nas ruas porque as mensagens não são repassadas”, explica o promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Marcelo Borges.

A profissionalização da Polícia Penal (PP) e a cooperação entre o MPGO e Gaecos de outros estados fez com que Goiás impossibilite o domínio de grandes regiões por parte das organizações – cenário que não é observado em outros estados da federação, como Rio de Janeiro (pelo CV) e São Paulo (pelo PCC). 

Plano de guerrilha 

A fortificação e a ampliação da segurança, no entanto, não são bem vistos pelos criminosos, de acordo com Marcelo. Buscando se livrar do cárcere, uma das lideranças do PCC, em Goiás, arquitetou um plano de fuga ousado: usar táticas de guerrilha para ser resgatado do Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia – considerado um dos dois presídios de segurança máxima do estado. 

Usando advogados, núcleo conhecido como “Sintonia dos Gravatas”, a liderança da maior organização criminosa do Brasil articulou o resgate, que iria contar com fuzis .50 – armas de guerra usadas para derrubar aeronaves e perfurar blindados. Casas ao redor do presídio também seriam alugadas para armazenar os recursos destinados à ofensiva.

“O custodiado transmitiu o recado à advogada, que foi interceptado pela Polícia Penal. O plano foi abortado devido a Operação Família no final de 2023. Em 2024, dois advogados foram condenados em relação a esse caso. O preso acabou sendo transferido para a Penitenciária Federal de Mossoró”, afirmou o promotor.

Presídios de segurança máxima 

Conforme Marcelo, o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia e o Presídio de Planaltina, no Entorno do Distrito Federal, são consideradas as unidades de segurança máxima de Goiás – equiparadas às penitenciárias federais. 

As duas unidades são responsáveis por abrigar faccionados e lideranças ligadas ao PCC, CV e ADE. A forma como os presos são divididos e o convívio entre eles não foram revelados pelo promotor por questões de segurança. 

O próprio líder máximo da máfia paulista, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, já esteve preso em Aparecida de Goiânia. O chefe da organização criminosa, que está atrás das grades desde 1999, chegou à unidade no dia 9 de fevereiro de 2002, mesmo ano em que assumiu o comando do PCC após uma briga interna contra os fundadores da organização. 

No complexo aparecidense, o chefão ficou por 16 dias totalmente incomunicável – não chegando a receber visitas – até ser novamente transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda no dia 15 do mesmo mês. A Papuda, em Brasília, atualmente é um dos cinco presídios federais de segurança máxima do país.

A vinda do traficante para Goiás, de acordo com a Diretoria-Geral de Polícia Penal (DGPP), foi realizada sem o conhecimento do judiciário ou com autorização diversa do juízo da Execução Penal de Brasília. Quando o órgão tomou conhecimento do paradeiro de Marcola, determinou a devolução imediata para a Papuda. 

O líder do PCC já passou por outras 15 prisões e, atualmente, se encontra detido na unidade penitenciária do DF desde de 2023, após ser remanejado do Presídio de Porto Velho, em Rondônia, por conta de um plano de fuga frustrado. Já é a terceira vez que ele cumpre pena na capital federal.

“[Esses presídios] possuem uma estrutura muito profissional, que proporciona ao mesmo tempo isolamento dessas pessoas e também o cumprimento digno da pena. As autoridades não devem nada se comparado às unidades federais dados ao números da atuação das forças de segurança. Há sempre o constante monitoramento das ações de violência e ameaça, que são características destas facções criminosas”, concluiu o promotor.