UFG desenvolve controle biológico do mosquito transmissor da dengue
20 março 2022 às 14h02
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Estudo produz um sistema onde o mosquito é atraído para um dispositivo por causa da semelhança com um criadouro ou local de descanso
Em meio ao surto de doenças provocadas pelo Aedes aegypti, um método para o controle biológico do mosquito, que é o principal transmissor dos vírus da dengue, zika e chikungunya, foi desenvolvido por um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG). A descoberta pode ajudar a conter o avanço da dengue este ano. Só na Capital goiana, frente ao ano passado, houve aumento de mais de 925% nos casos de dengue, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, e há pelo menos dois óbitos confirmados.
Por meio do método criado pela UFG, o mosquito é atraído para um dispositivo semelhante a um criadouro ou local de descanso. A ideia da universidade é deixar esse dispositivo em toda área onde há presença de mosquito, em um raio de até 50 metros em torno de um domicílio. No estudo, realizado no Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (LPI/IPTSP), foram desenvolvidas formulações granulares que carregam conídios e microescleródios do fungo Metarhizium humberi. Isto é, estruturas resistentes com reservas nutritivas que produzem novos conídios deste fungo, que é capaz de infectar e causar a morte de adultos, larvas e ovos do Aedes. No dispositivo desenvolvido, o mosquito terá contato com o tecido que contém grânulos com fungo. Nesses grânulos, há microescleródios que, em ambientes com umidade elevada, produzem conídios, que são infectantes para os mosquitos. “A formulação é aplicada dentro dos dispositivos, que não são armadilhas, pois os mosquitos não ficam presos: entram, ficam contaminados e saem”, explica o pesquisador Wolf Christian Luz, professor que liderou o grupo de pesquisa.
O objetivo dos estudos em andamento é melhorar a atividade do fungo através de métodos de produção, formulação e aplicação de fungos para controle do Aedes aegypti. O Metarhizium humberi é uma espécie nova e foi isolado pela primeira vez em 2001 pelo grupo liderado pelo professor Christian a partir de amostras de solo coletadas no Cerrado. “A linhagem Metarhizium humberi IP 46 utilizada na nossa pesquisa já foi estudada intensamente em Aedes aegypti em condições de laboratório e apresenta atividade inseticida em ovos, larvas e adultos desse vetor”, disse o professor.
Os dados da pesquisa demonstram a importância da umidade relativa do ar para a produção de conídios sobre os grânulos. A eficácia da formulação granulada para controle biológico de Aedes aegypti fazem parte de artigos publicados em 2021 na revista Applied Microbiology and Biotechnology. O pesquisador explica que os microescleródios precisam de condições de umidade elevada para produzir micélio e conídios na superfície dos grânulos. O estudo sobre o efeito da umidade no desenvolvimento de Metarhizium humberi nos grânulos e pellets foi uma etapa importante do processo, ressalta o pesquisador. Sem esses conídios, a formulação preparada com microescleródios não afeta os mosquitos.
Até o momento, já foram realizadas três etapas da pesquisa: estudos in vitro com preparações diferentes de formulação granulada para melhoramento da produção de conídios sobre os grânulos ou pellets após a aplicação; estudos em condições de laboratório com adultos de Aedes aegypti; e estudos em condições de semi-campo e de campo com um dispositivo protótipo e grânulos para controle de Aedes aegypti. Os experimentos foram realizados em laboratório sob condições controladas, mas o professor já vislumbra bons resultados nas próximas etapas da pesquisa. Após testes em semi-campo e de campo com um dispositivo, os resultados forma promissores, finaliza o professor.
Na UFG, os estudos são concentrados no LPI/IPTSP em colaboração com o Laboratório de Nanosistemas e Dispositivos de Liberação de Fármacos (NanoSYS) da Faculdade de Farmácia. A participação de estudantes de graduação e de pós-graduação esteve envolvida durante todo o processo. O projeto, que foi apoiado na Chamada MCTI-CNPq/ MEC-CAPES/ MS-Decit Nº 14/2016, Prevenção e Combate ao vírus zika, conta ainda com a colaboração de um pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e de um pesquisador do Robert W Holley Center for Agriculture and Health, USDA, EUA. Os dois contribuíram em discussões durante a elaboração e execução do projeto.