Investigações da Polícia Federal (PF) apontaram que Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs) treinaram integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), a fim de ensiná-los a como manusear e atirar com armas de fogo com alto poder de destruição. O processo de capacitação, de acordo com a corporação, foi administrado com o intuito de realizar ataques conhecidos como “novo cangaço” e “domínio de cidades”.

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Nesse tipo de ação, os criminosos usam de extrema violência e armamento pesado para fazer roubos a bancos, caixas eletrônicos, carros-forte e transportadoras de valores, normalmente acompanhados de terror social. Além do treinamento, os CACs se tornaram fornecedores de armas e munições para facções criminosas no país, de acordo com levantamento da PF, que contou com o auxílio do Ministério Público de São Paulo e da Bahia.

Em 2019, o governo de Jair Bolsonaro (PL) flexibilizou as regras dos CACs, o que permitiu que mais pessoas tivessem acesso a armas por meio dessa modalidade. Com as mudanças, o número de novas armas registradas por ano saltou de 59 mil, em 2018, para 431 mil em 2022 – último do mandato do ex-presidente. Ou sejam um aumento de 630,5%.

Vídeo flagrou CAC

Um vídeo obtido por delegados e promotores mostra quando o investigado Otávio de Magalhães, que tem registro como CAC, explica para dois membros do PCC a usarem um fuzil. Os faccionados foram identificados como o casal Elaine Garcia e Delvane Lacerda, mais conhecido como Pantera.

Otávio, de acordo com a PF e o MP, responde por porte irregular de arma de uso restrito e tinha a função de comprar e vender de maneira ilegal armamento e munição para a facção criminosa. Os CACs podem comprar armas e munições legalmente desde que seja de uso permitido, mas não revendê-las.

Na casa de Otávio Magalhães, os investigadores relatam terem encontrado “verdadeiro arsenal bélico, como dezenas de armas de fogo com e sem registro, milhares de munições, acessórios, pólvora, artefatos explosivos de fabricação caseira e acionador, “objetos comumente empregados na prática de roubos na modalidade “domínio de cidade”.

Na última terça-feira, 10, a PF e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP deflagraram a segunda fase da Operação Baal e prenderam três pessoas ligadas a ataques do “novo cangaço”. Foram presos:

  • Jakson Oliveira Santos (Dako): integrante do PCC que permaneceu foragido de 2005 até 2024, quando foi preso em outra investigação feita pelo Gaeco de Campinas (SP). Na ocasião, foram apreendidas armas de fogo, acessórios, munições, roupas camufladas e outros objetos usados na prática de crimes violentos (alvo já estava preso e foi cumprido novo mandado de prisão preventiva na cadeia).
  • Laine Souza Garcia: segundo a investigação, fez o treinamento com o fuzil, e também tinha a função de coordenar o tráfico de drogas, a execução de rivais, o comércio ilegal de armas de fogo e munição.
  • Diogo Ernesto Nascimento Santos: segundo a investigação, ele foi preso pelo crime de receptação em Rondonópolis (MT). Obteve a liberdade provisória, mas deixou de cumprir as medidas cautelares judiciais e por isso teve o pedido de prisão preventiva deferido. A apuração indica que além de exercer papel fundamental no núcleo financeiro da organização criminosa, estava ligado inclusive à prática de execuções.

Desde o começo do ano, 18 pessoas já foram denunciadas pelo Ministério Público. Na primeira fase da operação, os investigadores prenderam quatro CACs que forneceram armas e munições para o PCC. Esse núcleo da facção financiou pelo menos quatro “domínios de cidade”: Criciúma (SC) (2020), Guarapuava (PR) (2022), Araçatuba (SP) (2021) e Confresa (MT) (2023).

No ataque em Confresa, foi identificado que um dos acusados morava em São Paulo e integrava o PCC. Os elementos colhidos revelaram que essa e outras ações semelhantes foram financiadas por integrantes da facção, que também atuam no tráfico de drogas e na lavagem de dinheiro.

A partir da investigação de Mato Grosso, a PF e os promotores também descobriram outros ataques com financiamento de CACs. Os criminosos são ainda investigados por execuções em Avelino Lopes (PI) e disputa de ponto de venda de drogas em Osasco, na Grande São Paulo, além de outras relações com o crime organizado na lavagem de dinheiro.