“Os laudos apresentados atestaram que ele não oferecia risco”, diz juíza sobre o assassino do cartunista Glauco
02 setembro 2014 às 19h52

COMPARTILHAR
Cadu estave em liberdade desde agosto do ano passado, após ter sido considerado inimputável e ter recebido alta de uma clínica psiquiátrica
A juíza Telma Aparecida Alves Marques, da 1ª Vara de Execução Penal (VEP) de Goiânia, prestou esclarecimentos nesta terça-feira (2/9) sobre a soltura de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, conhecido como Cadu, assassino confesso do cartunista Glauco Vilas Boas e do filho dele, Raoni Vilas Boas. Cadu estava em liberdade desde agosto do ano passado, após ter sido considerado inimputável e ter recebido alta de uma clínica psiquiátrica. No entanto, ele foi preso novamente nesta segunda-feira (1º) suspeito de latrocínio e tentativa de latrocínio.
Segundo a juíza que expediu a decisão de sua soltura, Cadu é acompanhado mensalmente pela Justiça. Ela ressaltou que foram feitos vários laudos, inclusive pela junta médica do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) e, todo mês, é apresentado um relatório. “Cadu vai mensalmente ao psiquiatra e ao psicólogo, que enviam um relatório. Inclusive, o último que eu tenho é de julho, e atestou que ele sofre esquizofrenia. Ninguém pode dizer que nenhum dos senhores estão livres de cometer qualquer delito. Isso não tem como atestar. Porém, os laudos apresentados atestaram que ele não oferecia risco e foi com base neles que eu o coloquei em liberdade”, enfatizou.
De acordo com Telma, por meio dos laudos, foi constatado que ele fazia tratamento ambulatorial e comparecia todo mês no Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator (Paili) e no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Ele também cursava Psicologia e trabalhou em um call center na capital. No entanto, acabou demitido depois que descobriram seus antecedentes criminais. Por isso, Cadu trabalhava desde então como limpador de piscina.
A magistrada pontuou que no caso de Cadu foi aplicada a Lei 10.216 de 2001, conhecida como a Lei Antimanicomial, uma lei federal que acaba com o manicômio judicial para que a pessoa que possui a doença mental seja tratada na rede pública de saúde. “Em Goiás, não temos manicômio, o que temos é o Programa de Atenção ao Louco Infrator (Paili), que faz o acompanhamento mensal”.
[relacionadas artigos=”14303,14295,14276″]
Com as novas acusações, Cadu deverá ser indiciado como criminoso comum e o juiz para quem for distribuído o processo possivelmente pedirá um novo laudo sobre ele, uma vez que já é paciente de medida de segurança. “Se, por acaso, o laudo atestar que naquele momento (do crime), ele tinha condições de perceber o que ele estava fazendo, o juiz pode condená-lo. Já se ficar atestado que ele, no momento do crime, estava com algum distúrbio, poderá ser aplicada medida de segurança novamente”, afirmou. “O meu processo (relativo a Glauco), por medida de segurança, fica suspenso e aguardando a decisão do juiz da condenação.”
Telma não descarta a possibilidade de que Cadu seja absolvido novamente, mas frisa que o Judiciário deve cumprir as leis atualmente estabelecidas. “Nós [juízes] não podemos criar uma lei, nós não podemos criar uma forma de atuar. Senão quem estaria contra a lei é o próprio juiz”, ponderou.
Para ela, esse é momento de o Congresso pensar na reforma do Código Penal e de uma série de outras leis. “É preciso entender que o Judiciário toma atitudes de acordo com a legislação. Não somos nós que fazemos as leis. Se o juiz criminal, lá na frente, entender que o Cadu ainda tem as mesmas condições de antes, pode ser que ele aplique a medida de segurança novamente”, finalizou.
Por fim, ela apontou que o caso de Cadu foi uma exceção entre os pacientes que atualmente cumprem medida de segurança. De 306 nessa condição, apenas dois reincidiram. “A reincidência por medida de segurança é mínima em relação a reincidência de quem sai do fechado para o semiaberto”, destacou.
Assassinato de Glauco
Em 2010, o assassinato do cartunista Glauco Vilas Boas e do filho dele, Raoni Vila Boas, ganhou repercussão nacional. Cadu, confessou ter praticado o duplo homícidio no sítio da vítima, na cidade de Osasco, em São Paulo. Na época, o acusado frequentava uma igreja de doutrina religiosa baseada no Santo Daime, fundada pelo próprio cartunista. Segundo os autos do processo, no dia do crime Cadu estava sob efeito de maconha e haxixe.
Após confessar o crime, Cadu chegou a ficar preso no presídio de Catanduvas, no Paraná, mas foi diagnosticado com esquizofrenia e transferido para uma unidade de saúde de Curitiba. A Justiça então o considerou inimputável, ou seja, incapaz de responder criminalmente pelos seus atos. Depois disso, a família do acusado, que mora em Goiânia, conseguiu transferi-lo para uma clínica da capital.
Em agosto do ano passado, a juíza Telma Aparecida Alves, da 4ª Vara de Execuções Penais, decidiu que o assassino confesso do duplo homicídio poderia receber alta da clínica psiquiátrica onde estava internado em Goiânia. No entanto, deveria continuar tendo acompanhando psiquiátrico.
Prisão em Goiânia
Nesta segunda-feira (3/9), Cadu foi preso junto com Ricardo Pimenta Júnior, em Goiânia, pelo latrocínio de Mateus Morais Pinheiro, de 21 anos, pela tentativa de latrocínio de Marcos Vinícius Lemes D’Abadia, de 28, e assalto a mão armada a uma farmácia. Os suspeitos estavam em dois carros roubados. Um dos automóveis pertencia à vítima de latrocínio.
A polícia identificou os dois suspeitos após um delegado flagrar os veículos em atitude suspeita. De acordo com informações da Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH), houve perseguição e troca de tiros. Ricardo se entregou e Cadu, mesmo ferido, conseguiu fugir. A polícia conseguiu prendê-lo durante tentativa de assalto a uma farmácia, logo depois da perseguição.
A PM informou que há a suspeita de que o segundo automóvel roubado, um Honda City, seja o mesmo utilizado durante tentativa de latrocínio de Marcos D’Abadia. O crime ocorreu na última quinta-feira (28), no setor Bueno, e o profissional segue em estado grave.
Nesta terça-feira, o delegado responsável pelo caso, Thiago Damaceno, afirmou que a dupla pode integrar uma organização criminosa especializada em roubos de veículos que atua em Goiânia.