A artista plástica Ailema Bianchetti, um ícone das gravuras realistas no Brasil, morreu na madrugada desta quinta-feira, 31, aos 98 anos, em decorrência de uma pneumonia. Pioneira no cenário artístico de Brasília, Ailema deixou um legado marcante ao fundar o Centro de Realização Criadora em Brasília, consolidando seu papel na história cultural da capital federal.

Nascida em Lavras do Sul, no Rio Grande do Sul, Ailema transferiu-se para Brasília em 1962 a convite de Darcy Ribeiro, então responsável por reunir a equipe inaugural da recém-criada Universidade de Brasília (UnB). Em sua mudança para a cidade, foi acompanhada pelo marido, o também artista Glênio Bianchetti, e pelos seis filhos do casal, sendo o mais velho deles com apenas nove anos à época.

A trajetória de Ailema e Glênio no Planalto Central foi marcada não só pela dedicação à arte, mas também pela resistência em um período conturbado da história do país, a ditadura militar. Em 1964, Glênio foi preso por 27 dias junto a outros professores da UnB, em uma ofensiva do regime militar contra intelectuais. No ano seguinte, em protesto contra a repressão, Glênio e mais de 200 docentes da universidade realizaram uma demissão coletiva, desafiando a perseguição política que ameaçava a liberdade acadêmica.

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Diante das dificuldades, o casal decidiu concentrar-se exclusivamente nas artes plásticas, embora Glênio tenha retornado ao ensino mais tarde. A parceria durou até o falecimento de Glênio, em 2014. Ailema manteve-se ativa no cenário artístico brasileiro até os últimos anos. Em 2018, participou do documentário Grupo de Bagé, que explorou o movimento artístico gaúcho voltado para gravuras realistas e seu compromisso com as questões sociais.

Ailema Bianchetti, com seu exemplo e dedicação, permanece uma referência insubstituível para o mundo das artes, especialmente no âmbito das gravuras realistas e na valorização da expressão crítica por meio da arte.