Com informações de Guilherme Andrade

Esta é a quarta reportagem de uma série especial intitulada “Mês Orgulho LGBT+”, que celebra as conquistas, a diversidade e os direitos das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer e demais identidades, orientações sexuais e de gênero.

Em 2014, há pouco mais de 10 anos, a delega de Polícia Civil Laura de Castro Teixeira, 43 anos, anunciava ao mundo que havia passado pela cirurgia de redesignação de sexo. Nascida em Goiânia, em 1981, ela já se identificava como mulher desde a mais tenra idade. Hoje, consolidada como uma das principais delegadas do Estado de Goiás, Laura diz ao Jornal Opção que no começo enfrentou situações desagradáveis, intolerância e recusa em ser tratada no feminino, o que acabou resultado em três inquéritos policiais por causa das intolerância, mas hoje é difícil passar por algum transtorno.

Laura ingressou na Polícia Civil em 2010 e iniciou processo de transição em 2012 | Foto: Reprodução

Laura passou parte da sua infância na Itália, após sua mãe se mudar para lá. Retornou ao Brasil em 1994, aos 13 anos, onde continuou seus estudos e se formou no ensino médio. Em 2000, ingressou na faculdade de Direito, tendo se formado em 2005. Durante a adolescência, começou a trabalhar como office boy no 7º Tabelionato de Notas, além de realizar trabalhos na área de advocacia civil, especialmente no mercado imobiliário.

Em 2008, Laura prestou concurso público para a Polícia Civil, tomando posse como delegada em 2010. Sua carreira na polícia é extensa, tendo atuado em diferentes delegacia em diversos municípios goianos. Após uma breve passagem por Goiânia, começou, de fato, em Mara Rosa e logo foi transferida para Porangatu, onde integrou o Grupo Especializado no Combate aos Narcóticos (Genarc).

Depois, trabalhou em Senador Canedo por um trimestre, onde atuou em um dos casos mais marcantes da sua carreira.Uma jovem, apaixonada por um rapaz, matou a namorada dele e tentou queimar o casal, resultando em um trágico assassinato. “Foi um caso de abalo muito grande. Foi um assassinato em que uma menina ateou fogo no casal de namorados.”

Transição

O processo de se identificar como uma mulher começou ainda cedo, mas o início do tratamento hormonal só teve início no final de 2012, quando era titular na delegacia de Trindade, a 27 km da Capital. A cirurgia de redesignação, segundo Laura, foi feito na Tailândia em setembro de 2013. “Em janeiro de 2014 eu já estava assumindo minha identidade com a minha documentação já corrigida.”, lembra Laura.

Ela conta que a escolha por fazer o procedimento foi tomada por causa da demora para que a intervenção fosse iniciada e concluída, mas que também optou por financiar com recursos próprios para evitar críticas e especulações. “Foi uma loucura, uma dificuldade na família, mas em grande parte as pessoas mais próximas da família todas me apoiaram”, lembra.

Nessa época, Laura era casada com uma mulher heterossexual. Romper os laços da união, ainda que de forma consensual, foi um momento doloroso, especialmente por conta dos dois filhos. “Foi o período de maior dificuldade, todas as mágoas da separação. Passamos por uma barra pesada nesse período, mas depois a gente se reconciliou e hoje eu e minha ex somos melhores amigas”, revela.

O filho mais velho, fruto do casamento, à época, era adolescente. “Ele ficou um tempo sem falar comigo e se mudou para morar com a mãe. Mas hoje, a gente conseguiu superar isso. Meus filhos são meus principais advogados, estão sempre comigo, moram comigo e são terminalmente contrários a qualquer agressão”, relata.

Atuação na Deacri e paixão pela escrita

Atualmente, Laura atua na Delegacia Estadual de Atendimento a Vítimas de Crimes Raciais e de Intolerância (Deacri) de Goiás. “Eu estou gostando muito de trabalhar no Deacri, estou encontrando muitos parceiros e muitos apoios nos lugares onde eu passei. São pessoas muito boas, tive sorte de estar em locais muito bons e com profissionais excelentes.”

Prestes a se aposentar, a delegada também tem se dedicado a escrita. Ela lançou o romance de ficção/fantasia chamado ‘A profecia de Meia-Lua: a mulher, o mentalista e o aprendiz’. Em “Profecia de Meia-Lua”, a humanidade enfrenta as consequências de um evento conhecido por alguns como o Cataclismo, e por outros como a Batalha do Apocalipse. Este acontecimento devastador reconfigurou o mundo, encerrando uma era sem deixar vencedores. Kapithau, um dos poucos lugares remanescentes, é habitado por pessoas que pouco sabem sobre os detalhes do cataclismo ou sobre os versos enigmáticos da Profecia de Meia-Lua

A trama apresenta três protagonistas cujas vidas estão intrinsecamente ligadas aos eventos da profecia: uma mulher sem memórias, um jovem fidalgo e um competente mentalista. Estes personagens, inicialmente desconhecedores de seu papel na profecia, vivenciam eventos que desencadeiam a primeira parte de um conflito ancestral.

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