Um estudo pioneiro está prestes a transformar o conhecimento sobre a vegetação nativa do Cerrado em Goiás. Trata-se do “Atlas de Remanescentes de Vegetação Nativa de Goiás”, o mapeamento mais detalhado já realizado para uma área tão extensa quanto a de um estado. O projeto, liderado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) em parceria com o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG), marca um avanço na conservação ambiental e no planejamento sustentável.

Com o uso de imagens de satélite de alta resolução fornecidas pelo programa CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), o estudo está mapeando, com um nível de detalhamento até 20 vezes maior que os mapas atualmente disponíveis, as áreas remanescentes de vegetação nativa no estado. A análise combina tecnologia de ponta com validação de campo, garantindo precisão inédita nos dados levantados. Segundo o gerente de Geoprocessamento e Monitoramento Remoto da Semad, Murilo Cardoso, esse é o maior projeto nesse nível de detalhe já conduzido no Cerrado. 

“Desde os anos 1980 existem projetos de mapeamento de uso e cobertura do solo em grandes áreas no Brasil, como o RadamBrasil, mas esse é o maior, nesse nível de detalhe, já feito no Cerrado.  Para um estado inteiro, nunca se mapeou com esse nível de detalhamento. No máximo, em uma propriedade ou outra”, afirmou Cardoso.

Como o estudo está sendo realizado

O ‘Atlas de Remanescentes’ será apresentado em seis etapas, cada uma cobrindo diferentes bacias hidrográficas do estado. A primeira entrega, marcada para esta terça-feira, 10, abrange as bacias do Meia Ponte e dos Bois. As etapas seguintes, a serem realizadas em intervalos trimestrais, contemplarão as bacias do Médio Tocantins e Paranã, Alto Araguaia e Rio Vermelho, Paranaíba, Médio Araguaia e, finalmente, Almas, São Francisco e Corumbá.

A execução do projeto envolve cerca de dez profissionais do Lapig e três analistas da Semad, que monitoram a coleta e análise dos dados. A validação de campo, considerada essencial para garantir a qualidade das informações, foi definida após um amplo debate acadêmico em 2022. “A Semad abriu uma consulta pública em 2022, em forma de seminário e com a participação de vários professores universitários, em que se debateu a metodologia da pesquisa e um dos pontos estabelecidos é a de que a validação de campo seria indispensável para dar precisão e refinamento aos dados”, destacou Cardoso.

Além disso, o mapeamento está catalogando diferentes tipos de vegetação do Cerrado, incluindo as formações campestres, savânicas e florestais, com subdivisões que variam entre úmidas e secas. O inventário promete fornecer uma visão abrangente da biodiversidade do bioma no estado de Goiás.

Impactos do Atlas para o desenvolvimento sustentável

O ‘Atlas de Remanescentes’ não é apenas um avanço científico, mas também uma ferramenta estratégica para a gestão ambiental e o desenvolvimento sustentável em Goiás. De acordo com a secretária da Semad, Andréa Vulcanis, o estudo permitirá agilizar processos como licenciamento ambiental, além de orientar políticas públicas. “Esse banco de dados vai, por exemplo, acelerar a análise de pedidos de licenciamento para supressão, tendo em vista que a Semad já terá em mãos os dados que o empreendedor informa no ato da solicitação”, explicou.

Outra aplicação importante do Atlas será no cálculo da contribuição de Goiás para o sequestro de gases de efeito estufa. A vegetação nativa desempenha um papel importante nesse processo, e o levantamento trará informações detalhadas sobre a capacidade de cada tipo de vegetação para mitigar os impactos climáticos. Segundo Vulcanis, esses dados abrirão caminho para políticas mais efetivas na área ambiental.

Além disso, o mapeamento fornecerá informações detalhadas sobre Áreas de Preservação Permanente (APPs) e reservas legais no estado, auxiliando na recuperação de áreas degradadas. Com a identificação de corredores ecológicos, será possível tomar decisões mais assertivas para garantir a conectividade entre fragmentos de vegetação, promovendo a preservação da biodiversidade.

O ‘Atlas de Remanescentes’ também será mais um passo para o fortalecimento do programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) de Goiás. Criado recentemente, o PSA visa preservar remanescentes de vegetação nativa e incentivar práticas sustentáveis em áreas prioritárias. 

Com a conclusão do “Atlas de Remanescentes de Vegetação Nativa de Goiás”, prevista para o fim de 2025, a Semad prevê que suas informações possam direcionar melhor os recursos e esforços para municípios que mais necessitam de apoio.

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