O território do Quilombo Kalunga preserva 83% do bioma nativo do Cerrado, aponta análise do MapBiomas. A rede colaborativa formada por organizações não governamentais, universidades e empresas de tecnologia aponta ainda que em quase 40 anos, a utilização do território por humanos cresceu apenas 7%.

A área ocupada pelos Kalungas só foi reconhecida oficialmente pelo governo do Estado a partir do ano 1991, como um sítio histórico.

Aos 69 anos, Sirilo dos Santos Rosa, é uma liderança anciã da comunidade. À Agência Brasil, ele explica que a preservação do bioma é uma condição necessária para o modo de vida do quilombo. “Nós dependemos muito do Cerrado em pé, do Cerrado vivo. Ele protege a água, tem as frutas que são fonte de renda para sociedade. Assim, a gente não tem como não preservar o Cerrado. Esse é um trabalho que nossos antepassados deixaram pra nós e nós queremos deixar para as futuras gerações”, afirmou.

A maior parte do território é utilizado para roça com plantação de arroz, feijão, mandioca, legumes e verduras que alimentam cerca de 3,5 mil pessoas espalhadas pelas 39 comunidades num território de 261 mil hectares.

“A gente faz nossas roças, mas não prejudica a natureza em volta. A gente sempre deixa uma parte de reserva. Além disso, depois de dois ou três anos fazendo a roça a gente muda o local da plantação e a mata volta a se recuperar de novo depois de sete ou oito anos. Quanto mais rápido a roça é abandonada, mais rápido a vegetação do Cerrado volta”, diz Sirilo.

Preservação e economia

A coordenadora do Programa de Cerrado e Caatinga do Instituto Sociedade, da População e Natureza (ISPN), Isabel Figueiredo, aponta que a preservação do cerrado é fundamental para a economia do povo kalunga.

“Elas utilizam o Cerrado em pé e a vegetação nativa conservada para extrair remédios diversos, alimentos, madeira e fibras. São produtos que fazem parte da economia dessas comunidades e, portanto, é interessante para elas manter o Cerrado em pé”, explica.

Maior parte do Cerrado nativo está em propriedades privadas

Cerca de 62% do Cerrado nativo do País estão em propriedades privadas, aponta levantamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Isso preocupa as autoridades ambientais devido a permissão que o Código Florestal dá aos donos de terra. É permitido desmatar até 80% do Cerrado.

Relatório do MapBiomas mostra que 85% do desmatamento do Cerrado de 1985 a 2022 ocorreram em terras privadas. Atualmente, estima-se que o bioma tenha apenas 48% da sua vegetação nativa original.

O desmatamento deve continuar em alta com o avanço do agronegócio nos principais Estados onde o Cerrado é predominante. Tocantins, Bahia, Maranhão e Piauí ampliaram a área de pecuária e agricultura entre 1985 e 2022.

Outros 13% do Cerrado nativo foram identificados como “vazios fundiários”, que são áreas sem informação disponível. Esses dados foram sistematizados pelo Ipam a partir do Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) e do Cadastro Ambiental Rural (CAR).

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