Justiça recebe denúncia contra responsáveis por rompimento de rampa em festival de Rap
30 julho 2024 às 16h12
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O Ministério Público de Goiás (MPGO) denunciou os responsáveis pela queda de uma rampa durante o evento Rap Mix Festival, em julho do ano passado. Na ocasião, a rampa rompeu e feriu dezenas de pessoas. A Justiça definiu quatro réus pelo caso.
Enio Gonçalves Lois, Alex José de Rezende, Deives Rogério Vono e José Miguel Miranda Gomes vão responder pelos crimes de lesão corporal culposa por insobservância de regra técnica e omissão. O promotor Rodrigo César Bolleli Faria, da 55ª Promotoria de Justiça de Goiânia, explica que foram identificadas 77 vítimas.
De acordo com o laudo pericial, as ocorrências foram motivadas pela montagem inadequada da estrutura, que seria destinada como rota de fuga para as saídas de emergência do festival e pela permanência de muitas pessoas no local.
Para o promotor, a polícia havia dividido a responsabilidade pelo acidente em dois grupos: engenharia e arquitetura (grupo ao qual pertencem os denunciados) e segurança e vigilância. Porém, a equipe de segurança e vigilância, foramado por quatro pessoas, foi desconsiderado pelo Ministério Público. O MP entendeu que ainda que houvesse falha nos serviços de segurança, a estrutura colapsada deveria ter suportado a aglomeração de pessoas.
Saiba pelo que os denunciados eram responsáveis:
• Enio Gonçalves Lois: arquiteto que emitiu o Registro de Responsabilidade Técnica (RRT) e responsável pela mão de obra empregada na execução e montagem – responde por lesão corporal culposa, na modalidade de imperícia, agravada por estar no exercício da profissão;
• Alex José de Rezende: engenheiro responsável pela Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) das estruturas – responde por lesão corporal culposa, na modalidade de imperícia, agravada por estar no exercício da profissão;
• Deivis Rogério Vono: encarregado da montagem e responsável por orientar o engenheiro “sem ter capacitação técnica”, destacou a polícia – responde por lesão corporal culposa, na modalidade imprudência;
• José Miguel Miranda Gomes: projetista dos locais de montagem e responsável por direcionar a instalação da estrutura – responde por lesão corporal culposa, na modalidade de imprudência, agravada por estar no exercício da profissão.
A denúncia foi recebida pelo juiz Luciano Borges da Silva, que acredita haver indícios suficientes para a instauração do processo penal. O juiz acredita que, a primeira vista, a denúncia apresente indícios de delitos.
Vítimas
Uma das vítimas do acidente foi a estudante Giovanna Moreira Salerno, de 21 anos. Giovanna teve um trauma cranioencefálico provocado pela queda da rampa, perdendo os movimentos e a capacidade de falar. A jovem foi a vítima mais grave entre os 77 feridos no acidente ocorrido no dia 9 de julho do ano passado.
Giovanna passou por uma cirurgia de reconstrução craniana, a cranioplastia, em novembro. Porém, mesmo com a pouca idade que, em tese aceleraria a recuperação, o progresso da estudante tem caminhado a passos lentos, conforme o pai dela, Tércio Jullian Salerno.
“Não por conta do quadro, mas por conta de uma depressão profunda. Isso impactou bastante, ela estava se recusando a fazer as sessões de fisioterapia, fono. Ela estava se recusando a comer via bucal, o que gerou um atraso grande”, afirmou.
Tércio diz que a filha começou a responder o tratamento após começar a ser medicada com antidepressivos, o que gerou um progresso emocional em Giovanna. Ele descreve os últimos 12 meses como momentos de angústia, tristeza, mas também de alegria e luta.
Segundo ele, cada “pequena melhora” foi motivo de comemoração por parte da família. Atualmente, o cotidiano da estudante se limita a idas aos tratamentos de fisioterapia e pausas para descanso na cama e na cadeira de rodas, que ocorrem entre medicações e a alimentação.
“Ele teve um quadro de tetraparesia espástica, onde perdeu o controle total dos membros. Devido aos tratamentos, ela se encontra em um estado de tetraplegia, que é a paralisação total dos membros do lado direito do corpo. Ela compreende o que a gente fala, mas na hora de responder as informações saem de forma desconexa”, explicou.
O acidente
O acidente aconteceu na noite do dia 9 de julho, por volta das 23h16. Imagens divulgadas na época mostraram a correria dos socorristas para resgatar os feridos no local. Tércio conta que estava em uma viagem com a família no Rio de Janeiro quando soube do acidente e do estado grave em que se encontrava Giovanna após receber uma ligação da ex-sogra da filha.
A estudante, que costumava viajar com a família, teria ficado em casa devido ao trabalho, mas acabou indo ao show na companhia do então namorado, que também ficou ferido no festival. O jovem, na época, foi socorrido, mas teria se separado da companheira durante o resgate do público.
“Fiquei em choque, eles não sabiam onde a Giovanna estava. Ninguém sabia se ela ainda estava no show, se tinha sido socorrida. Foi a primeira vez na minha vida que minutos viraram semanas, não tinha como eu deixar as minhas filhas menores com a minha esposa”, conta o pai.
Conforme Tércio, a família só teve notícias de Giovanna cerca de três horas depois do acidente, quando foram informados que ela estava no centro cirúrgico devido ao traumatismo craniano. A informação foi repassada, desta vez, pelo ex-sogro da estudante via aplicativo de mensagens.
“Todo mundo está suscetível a passar por isso, mas ninguém pensa que vai passar. Só consegui chegar em Goiânia dois dias após o acidente. Foram os momentos mais angustiantes da minha vida”, concluiu.
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