Justiça goiana teria expedido oito mandados de prisão contra assassinos de mulheres
07 agosto 2014 às 12h54

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Determinações, feitas por juízes das Varas dos Crimes Contra a Vida, podem ou não ter ligação com a polêmica de um suposto serial killer. Somente em 2014 a SSP-GO registrou 45 homicídios contra mulheres, e já se fala em feminicídio
Após apurações desenvolvidas pela Polícia Civil em relação aos diversos assassinatos de mulheres na capital, juízes do Tribunal de Justiça (TJGO) expediram nesta quarta-feira (7/8) oito mandados de prisão preventiva contra suspeitos de alguns desses crimes (que podem ou não ter ligação com a polêmica do suposto assassino em série). Os mandados já estão nas mãos dos delegados da Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH). O secretário de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), Joaquim Mesquita, já havia informado, no começo da semana, que existiam linhas de investigações que apontavam para autores distintos na morte de mulheres. Os números dos sete primeiros meses de 2014 já se equiparam ao número contabilizado durante todo o ano passado, quando 46 mulheres foram vitimadas pela violência urbana.
A polêmica de um suporto assassino em série, que atua de forma parecida nas ruas da capital, iniciou no dia 19 de janeiro deste ano com a morte de Beatriz Oliveira, de 23 anos, no Setor Nova Suíça. Na última semana, os crimes ganharam repercussão da mídia nacional e, geralmente, são descritos como feminicídio.

O número de mulheres vítimas de um suposto assassino em série, chegou a 13 no último sábado (2/8) com a morte de Ana Lídia, de 14 anos, executada por um homem enquanto esperava um ônibus no Setor Cidade Jardim. O suspeito se aproximou da menina em uma motocicleta e efetuou três disparos. Ela foi atingida no tórax e em um dos braços e morreu ainda no local.
Entre Beatriz Oliveira e Ana Lídia, a sociedade goianiense acompanhou 11 execuções de mulheres, entre 14 e 26 anos, que ainda não foram elucidados pela polícia. Agora, após a morte de Ana Lídia, o governador Marconi Perillo (PSDB) determinou que a SSP-GO e a Delegacia Geral da Polícia Civil montassem uma força-tarefa para dar celeridade na explicação dos crimes contra mulheres na capital.
A intenção da força-tarefa, segundo o delegado-geral da PC, João Carlos Gorski, é a de encerrar a polêmica de um suposto serial killer. “O deslocamento desses policiais estão dando maior celeridade às apurações de homicídios. Queremos encerrar a discussão por meio de investigações e provas robustas, mostrando que existem criminosos distintos nestes casos”, disse João Carlos Gorski.
Uma pista que pode ajudar a descobrir o assassino é o exame de balística, que revela o tipo de arma usada. Os resultados dos exames balísticos feitos por peritos do Instituto de Criminalística já foram entregues para os policiais da DIH, que mantém as informações em sigilo.
Debate que se estende

O governador Marconi Perillo havia dito no dia 7 do mês passado que a onda de violência no Estado o preocupava. Dados divulgados pela SSP-GO apontam que o mês de junho foi o mais violento do ano em Goiás, com 233 homicídios, 77 apenas na capital. Nos primeiros seis meses deste ano 1.254 pessoas foram mortas, um crescimento de 4,1% comparado com o mesmo período do ano passado.
Dois meses antes do pleito eleitoral, os índices de criminalidade e a segurança pública pautam os debates dos candidatos ao governo de Goiás. Nesta quarta-feira (6/8), a coordenação de campanha do candidato ao governo Iris Rezende (PMDB) apresentou um panorama do setor entre os anos de 1998 a 2013, período em que Marconi Perillo, principal adversário do peemedebista, esteve à frente da gestão estadual. Em 1998, segundo os dados, foram registrados 636 homicídios em Goiás contra 2.725 em 2013, o que representa um aumento de mais de 320%.
Nesta semana, o prefeito da capital Paulo Garcia (PT) disse ser “inconcebível conviver com os altos níveis de criminalidade”. O petista salientou que o Estado deve ficar atento às obrigações referentes à segurança dos cidadãos. “Esta questão preocupa a sociedade de sobremaneira. Homens e mulheres de Goiás vivem momentos de ansiedade e revolta, vidas jovens são ceifadas pela onda de crimes”, disse.

Já a deputada federal e candidata ao senado Marina Sant’Anna (PT) disse ao Jornal Opção Online que sugeriu ao secretário Joaquim Mesquita a elaboração de boletins para informar a população. Assim, segundo ela, os boatos que vêm surgindo diariamente sobre o caso seriam reduzidos. “Alguns municípios do Estado de Goiás e até o próprio Estado, estão à frente nos índices de violência no Brasil. Como o município de Formosa, que tem o maior índice de assassinatos de mulheres do país, 15 assassinatos para 100 mil mulheres, de acordo com os dados do Ministério da Justiça”, disse.
MPGO e Câmara Municipal acompanham investigações
O Ministério Público de Goiás (MPGO) acompanha o andamento das investigações e trabalha analisando os inquéritos feitos pela polícia. O delegado Murilo Polati, titular da DIH, se reuniu nesta quinta-feira (6) com o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal e da Segurança Pública do MPGO, Vinícius Marçal Vieira, onde informou sobre o andamento das investigações das mortes das mulheres e apresentou um relatório das apurações feitas pela polícia. Maiores detalhes sobre a conversa foram não repassados à imprensa.
A vereadora e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, Cristina Lopes (PSDB), se reuniu na quarta-feira (6/8) com o secretário, Joaquim Mesquita, e outros representantes dos direitos humanos em Goiás para se inteirarem das investigações sobre o possível assassino em série.
Dados em Goiás
A taxa de homicídios no Estado, segundo o Mapa da Violência 2014, está acima do nível tido por especialistas como epidêmico (10 mortes para cada 100 mil habitantes). Em Santa Helena de Goiás a taxa de assassinatos é de 76,5 para 100 mil habitantes, já em Luziânia, no Entorno de Brasília a taxa sobe para 105,8, em Nerópolis 67,8.
A capital goiana figura entre as cidades mais violentas do país. Segundo levantamento da Organização não-governamental Conselho Cidadão pela Seguridade Social Pública e Justiça Penal, Goiânia é 28ª cidade mais violenta do mundo. Nos anos de 2011 e 2012, o número de homicídios dolosos (com intenção de matar) subiu de 738 para 764 nos 20 municípios goianos que cercam a capital federal, aumento de 3,52%.