Italiana abandona luta contra atleta intersexo e gera uma das maiores polêmicas das Olimpíadas

02 agosto 2024 às 09h11

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A luta de boxe entre as representantes femininas da Argélia e Itália gerou um dos momentos mais polêmicos dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Isso porque a italiana Angela Carini abandonou o combate nesta quinta-feira, 1º, em meio a um debate sobre critérios em relação ao gênero no esporte.
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A boxeadora argelina Imane Khelif, de 25 anos, se classificou para as quartas de final da Olimpíada na categoria feminina de até 66 kg, depois que Carini, também de 25 anos, saiu do ringue aos 46 segundos de luta. A italiana recebeu uma pancada no rosto depois de apenas 30 segundos de luta.
Assim que recebeu o golpe, ela foi até o corner pedir apoio do treinador. No momento em que a luta foi retomada, Carini pediu para deixar o ringue. No boxe olímpico, os atletas usam obrigatoriamente um capacete de proteção que cobre basicamente a cabeça, o que deixa o rosto dos lutadores expostos.
No ano passado, Khelif foi desqualificada pela Associação Internacional de Boxe após um teste indicar que ela, segundo a entidade, não atendia “critérios de elegibilidade”. Junto com a taiwanesa Lin Yu-ting, ela é uma das duas boxeadoras submetidas a um longo processo para competir no boxe feminino em Paris.
Não é a primeira participação delas em Olimpíadas. Em Tóquio, elas disputaram os jogos e foram derrotadas. Desde o ano passado, porém, foi iniciado um questionamento sobre o gênero delas, agora reavivado com a participação nos Jogos Olímpicos de Paris. O porta-voz do Comitê Olímpico Internacional (COI), Mark Adams, se pronunciou sobre a polêmica e afirmou que a confusão se deu devido a “rumores” já conhecidos.
“Isso deveria ficar absolutamente claro para todos. Esta não é uma questão de transgêneros. Eu sei que você sabe disso, mas acho que houve alguns relatos errôneos sobre isso. E acho que é muito, muito importante dizer que isso não é uma questão sobre transgêneros”, explicou Adams.
Desqualificação no campeonato mundial
Grande parte da polêmica que surgiu após o anúncio da participação de Khelif e Lin em Paris 2024 começou com a desclassificação de ambas no Campeonato Mundial Feminino, na Índia, em 2023. A Associação Internacional de Boxe (IBA), que não é reconhecida pelo COI desde 2019, as retirou da competição depois de realizar testes que determinaram que “não atendiam aos critérios de elegibilidade” por conta de “altos níveis de testosterona”.
Mas comentários posteriores do presidente da IBA são citados como sugestão de que Khelif e Lin não tinham os cromossomos XX do gênero biológico feminino, mas sim os cromossomos XY do masculino. Após a luta de quinta-feira, a IBA divulgou um comunicado dizendo que as boxeadoras “não foram submetidas a um teste de testosterona, mas sim a um teste independente e reconhecido, cujos detalhes são confidenciais”.
“Este teste indicou conclusivamente que ambas as atletas não atendiam aos critérios de elegibilidade necessários e que tinham vantagens competitivas sobre outras candidatas”, acrescentou a agência.
Khelif já havia participado das Olimpíadas de Tóquio, onde foi eliminada na primeira fase. E na segunda-feira, 29, quando a polêmica sobre o assunto começou a ressurgir, o COI disse em comunicado:
“Todos os atletas participantes do torneio de boxe nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 cumprem as regras de elegibilidade e inscrição da competição, assim como todas as regras médicas aplicáveis”.
Khelif é acusada de não ser mulher de nascimento ou de ter mudado de identidade para competir como mulher. Mas na Argélia, um país muçulmano, a comunidade LGBTIQ+ é amplamente reprimida. A mudança de identidade não é permitida e a homossexualidade é punida socialmente. As autoridades têm até o poder de aplicar castigos corporais.
“Isso envolve pessoas reais e estamos falando da vida de pessoas reais aqui. Elas competiram e continuam competindo em competições femininas. Elas perderam e venceram outras mulheres ao longo dos anos”, enfatizou o porta-voz Mark Adams.
Forte dor no nariz
A italiana Carini disse que decidiu abandonar a luta para proteger sua integridade, já que nunca havia recebido um golpe como aquele. Ela afirmou à BBC Sport que nunca havia sentido uma dor tão forte no nariz, como a provocada pelo golpe da adversária.
“Espero que meu país não leve a mal, espero que meu pai não leve a mal, mas parei. Poderia ter sido o encontro da minha vida, mas naquele momento eu também tive que preservar minha vida. Não tive medo, não tenho medo do ringue. Não tenho medo de receber os golpes. Mas tudo tem um fim, e desta vez eu pus fim a essa luta porque não fui capaz”, desabafou.