Imprensa

Encontramos 5517 resultados
Livro analisa a literatura de escritores que, fugindo do nazismo, vieram para o Brasil

“Exílio e Literatura — Escritores de Fala Alemã Durante a Época do Nazismo” (Edusp, 296 páginas, tradução de Karola Zimber), de Izabela Maria Furtado Kestler, revela que dezesseis mil exilados da Alemanha nazista e da Áustria vieram para o Brasil. Vários eram intelectuais e escritores. O período discutido pela autora é de 1933, ano da ascensão de Adolf Hitler, a 1945, ano de sua queda. A obra apresenta o que escritores e jornalistas exilados publicaram e analisa a literatura escrita no exílio, especialmente obras de autores como Stefan Zweig, Ulrich Becher e Hugo Simon.

Livro conta a história de Alexandre Vannucchi Lemes, morto pela ditadura civil-militar

Layout 1Aldo Vannucchi conta, no livro “Alexandre Vannucchi Lemes — Jovem, Estudante, Morto Pela Ditadura” (Contexto, 176 páginas), a história do líder estudantil na USP e militante da esquerda. Aldo é seu tio e biógrafo. O livro é apresentado como um testemunho pessoal, dolorido. Não é uma vingança, e sim uma espécie de esclarecimento.

O Pintassilgo é uma catedral do século 19 com “frequentadores” do século 21

[caption id="attachment_16266" align="alignright" width="350"]O Pintassilgo é um livro belo e estranho, com misturas de tempo, em termos de narrativas, personagens e hábitos O Pintassilgo é um livro belo e estranho, com misturas de tempo, em termos de narrativas, personagens e hábitos[/caption] O cartapácio “O Pintassilgo” (Companhia das Letras, 719 páginas, tradução de Sara Grünhagen), da escritora americana Donna Tartt, desconcerta a crítica, mesmo um especialista como James Wood, da “New Yorker”, que não soube apreciá-lo. Os motivos? Aponto um: o romance é uma catedral do século 19 com frequentadores (com hábitos) do século 21. Há um cruzamento hábil, com movimentos rápidos e lentos — simulando um jogo ardiloso, nem sempre visível numa leitura apressada —, da prosa mais convencional do século 19, mais lenta e discursiva, com a prosa experimental do século 20, mais rápida e contida. Donna Tartt escreve muitíssimo bem, arquiteta e amarra sua história à perfeição, mas deixando que as ambiguidades da vida frequentem suas linhas, com pontos não muito bem esclarecidos, e, ao final, faz um discurso filosófico, à moda mais de Fiódor Dostoiévski filtrado por Nietzsche e, quem sabe, Tho­mas Bernhard (que não a influencia, diga-se). As influências literárias de Don­na Tartt são espraiadas no romance, às vezes às claras, às vezes de maneira subterrânea. Dickens e Dos­toiévski são as influências mais perceptíveis, e em vários trechos. A autora escreveu um romance americano que é filho das literaturas russa e inglesa. O estilo é meio lerdo, como o da prosa russa do século 19, e com personagens (dois meninos, seus pais e um restaurador de móveis) meio dickensianos. A história é intrincada, às vezes parece não correr, com aparente enrolação (meia russa). Theo Decker visita um museu, nos Estados Unidos, com sua mãe. Há uma explosão, provocada por um ato terrorista, e ela morre. Theo leva do museu o quadro “O Pintassilgo”, do holandês Carel Fabritius (1622-1654) — o pintor morreu na explosão de um paiol —, e recebe de um moribundo um estranho anel. Inicialmente, Theo vive com uma família rica, em Nova York, e, depois, vai morar com o pai, um escroque, em Las Vegas. Quando o pai morre, num acidente, o garoto volta para Nova York e vai morar com James Hobart, um personagem tipicamente dickensiano, ligeiramente modificado. Há, até, uma espécie de Raskólnikov, o criminoso Boris, um garoto de origem russo-ucraniana. Boris é quase uma Sônia, de “Crime e Castigo”, de calça? Quase é o termo. Porque Sônia, religiosa, não tem uma visão cínica do mundo, ao contrário de Boris. Agora, sem tirar nem pôr, Theo é um “filho” de Dickens plantado por Donna Tartt na América. É uma história policial? Também. Na prática, uma história literária refinada. A relativamente reclusa Donna Tartt é autora de mais dois romances de alta qualidade.

Livro de Anne Applebaum mostra resistência do indivíduo ao totalitarismo

[caption id="attachment_16256" align="alignleft" width="350"]Layout 1 Livro de pesquisadora norte-americana revolve a crise que levou à falência total do socialismo no Leste Europeu[/caption] Trecho do excelente livro “A Cortina de Ferro — O Fim da Europa de Leste” (Civilização Editora, 697 páginas, tradução de Miguel Freitas da Costa), da historiadora e jornalista Anne Apple­baum, ex-professora de Yale e Columbia: “Num epílogo posterior a ‘As Origens do Tota­li­tarismo’, Hannah Arendt escreveu que a Revolução Húngara ‘foi totalmente inesperada e apanhou toda a gente de surpresa’. “Como a CIA, o KGB, Kru­chev e Dulles, Arendt tinha chegado a acreditar que os regimes totalitários uma vez que se infiltrassem na alma de uma nação eram praticamente invencíveis. “Estavam todos enganados. Os seres humanos não adquirem ‘personalidades totalitárias’ com essa facilidade toda. Mesmo quando parecem enfeitiçados pelo culto do chefe ou do partido, as aparências podem ser enganadoras. E mesmo quando parece que estão totalmente de acordo com a mais absurda propaganda — mesmo quando estão a marchar em paradas, a entoar slogans, a cantar que o partido tem sempre razão —, o feitiço pode repentinamente, inesperadamente, dramaticamente, ser quebrado” (página 584).

Senador Canedo ganha diário popular

O jornalista Alexandre Braga lançou, na semana passada, o jornal “Diário Ca­nedense” (www.diariocanedense.com.br). O “DC” cobre bem a ci­dade, faz um jornalismo popular, mas não é inteiramente popularesco.

Repórter da CBN Goiânia gagueja ao ler notícias

Uma jornalista da CBN Goiânia gagueja, com frequência, ao ler notícias do dia. O editor da rádio deveria encaminhá-la para um fonoaudiólogo. A CBN Goiânia precisa também investir mais em jornalismo e evitar, pelo menos em parte, o popular “gilete press”.

Revista Veja revela que campanha de Dilma Rousseff em 2010 pediu dinheiro da corrupção na Petrobrás

A “Veja” publica uma reportagem exclusiva revelando que o porão dos governos do PT é mais sujo do que se imaginava. Na capa, a revista posta o título: “Exclusivo — O núcleo atômico da delação”. Acrescentando a informação: “Paulo Roberto Costa diz à Polícia Federal que em 2010 a campanha de Dilma Rousseff pediu dinheiro ao esquema de corrupção da Petrobrás”. Os depoimentos de Paulo Roberto Costa, como ele prometeu, pode mesmo derrubar a República, ainda que seja feita a eleição. Até agora, a presidente Dilma Rousseff “passeava” incólume, mas as denúncias começam a colar na petista, que, breve, pode deixar de ser teflon.

Possível erro sobre intenção de voto de Weslei Garcia leva Ibope a fazer nova pesquisa em Goiás

[caption id="attachment_16174" align="alignleft" width="620"]destaque ibope Professor Weslei (à esquerda) ultrapassou Antônio Gomide na última rodada Ibope | Fotos: Reprodução[/caption] Devido ao possível erro na pesquisa divulgada na quinta-feira, 25 — que apontou o professor Weslei Garcia, candidato do PSOL a governador de Goiás, com 5% (o dado provável é de 0,5%) —, o Ibope dará uma nova pesquisa para a TV Anhanguera, a ser divulgada na quarta-feira, 1º. A nova pesquisa sugere que, indiretamente, o Ibope sinaliza que errou na intenção de voto de Weslei Garcia. Não se trata de um erro com intenção de elevar um candidato ou prejudicar outros candidatos, como o do PT, Antônio Gomide, que caiu de quarto para quinto lugar. Provavelmente, trata-se menos de um erro de tabulação que de digitação.

Morre Elsa Mangue, a Cesária Évora de Moçambique

Morreu diva da canção moçambicana Elsa Mangue Se Cabo Verde é Cesária Évora, Moçambique é Elsa Mangue. A cantora moçambicana, de bela voz, morreu na segunda-feira, 22. O jornal “Notícias”, o mais importante do país, disse que a causa da morte não foi revelada pelos médicos do Hospital Central de Maputo e pela família. Ela estava internada “há alguns dias”. Elsa Mangue era uma das principais estrelas da música de Moçambique e, em 1987, ganhou o Prêmio de Música Rádio França Internacional (RFI). Foi a primeira cantora do país a ganhar um prêmio mundial de música. Naquele ano, foi consagrada como “cantora revelação africana”. Ela também ganhou prêmios da Rádio Moçambique, a mais ouvida do país. “Fim de estrada”, “Tindjombo”, “Ma original” e “Xindzekwana” estão entre as músicas mais conhecidas do público moçambicano, como ampla repercussão na África de Língua Portuguesa e em Portugal. Elsa Mangue era uma artista engajada, preocupada em discutir questões sociais em seu trabalho musical. “A violência, discriminação e marginalização da mulher são os principais temas da obra musical da artista, que, apesar da longa carreira, continuava a atuar em casas de pasto da capital moçambicana e arredores, mas de forma intermitente, devido à doença”, publicou a agência de notícias Lusa. O jornal português "Diário de Notícias" chama Elsa Mangue de "a diva da música de Moçambique". Confira a música de Elsa Mangue no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=A9xPbJKisEA

Editora portuguesa lança romance inédito e inacabado de José Saramago

Portugal está em festa, ao menos na imprensa: a Porto Editora lança na terça-feira, 23, “Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas” (136 páginas), romance inédito de José Saramago. O Nobel de Literatura de 1998 não concluiu o romance. O editor Manuel Alberto Valente disse à imprensa portuguesa que o livro mostra o “testemunho empenhado” de Saramago. A presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río, sugere que a obra é “uma forma de repúdio à violência. São poucos capítulos, mas o tema fica claro, o texto tem unidade. Nas notas que escreveu a respeito do romance, “Saramago antecipa o andamento e o desenlace da história que pretendia contar”, afirma Pilar del Río. O livro, cujo título do livro é inspirado em versos de Gil Vicente, “tem como protagonista o funcionário de uma fábrica de armas que vive um conflito moral decorrente de seu trabalho”, diz o jornal “Diário de Notícias”. Gavetas limpas e oportunismo editorial O romance certamente será avaliado por críticos literários especializados, acadêmicos ou não — que explicarão se a obra tem qualidade —, mas há sempre o risco de, por interesse financeiro, herdeiros e editores “limparem” as gavetas de escritores famosos, como Saramago, e publicarem tudo que encontrarem. Lançaram há pouco tempo um livro inacabado de Vladimir Nabokov. Como curiosidade, tudo bem. Mas, em termos literários, o livro é de uma fragilidade que seria condenada prontamente pelo exigente crítico Nabokov.

Só mesmo o humor para tolerar a trapalhada do IBGE

charge O governo do PT estaria avacalhando institutos de pesquisas como o IBGE? Pode ser que não. Pode ter sido um equívoco do próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sem manipulação do petismo, a pesquisa sobre desigualdade social no país. Na dúvida, fiquemos com o humor, como o de Sinfrônio, do “Diário do Nordeste”.

Globo deve criar programa para Patrícia Poeta nas tardes de sábado

[Amauri Soares e Patrícia Poeta, da Globo] Patrícia Poeta foi demitida ou demitiu-se do “Jornal Nacional”. Depois do disse-me-disse, parece que a apresentadora não foi afastada e que vai mesmo fazer um programa de variedade. O colunista da “Veja” Lauro Jardim, que havia publicado a informação de que ela havia adquirido um apartamento por 23 milhões de reais, em Ipanema, publicou na terça-feira, 23, que a Globo deve criar um programa para Poeta nas “tardes de sábado”. Recentemente, Poeta, seu marido, Amauri Soares, e Ali Kamel, chefão do jornalismo da Globo, assinaram um carta coletiva a um colunista do UOL esclarecendo que, ao contrário do que este publicou, não são “brigados” nem estão em “guerra permanente”. Kamel e William Bonner não teriam puxado o tapete da apresentadora. Uma irmã de Poeta garante ela só quer ser “feliz”.

Pesquisa é séria mas Pop não percebe que Marconi superou Iris em Goiânia e pode ganhar no 1º turno

Admitindo a margem de erro do levantamento do Serpes, de 3,46%, é praticamente impossível garantir que Vanderlan Cardoso “avançou” e que Iris Rezende “caiu” [A 14 dias das eleições, se tiver segundo turno, a tendência é que seja disputado por Marconi Perillo e Iris Rezende] Ao lado de Fortiori, Grupom, Datafolha, Vox Populi, Ibope, o Serpes é um dos mais qualificados institutos de pesquisa do país. Em Goiás, Estado no qual se especializou, tem como principais concorrentes o Fortiori e o Grupom, ambos respeitáveis e com históricos de acertos impressionantes. Porém, as pesquisas rigorosas do Serpes nem sempre são bem interpretadas por alguns repórteres inexperientes de “O Popular”, como Caio Henrique Salgado. É provável que o diretor técnico do instituto, Antonio Lorenzo, tenha apresentado uma interpretação para servir de baliza para Salgado, que, no entanto, deve tê-la ignorado, por motivos não conhecidos. Vamos apresentar uma série de questionamentos não sobre a pesquisa em si – a divulgada na edição de domingo, 21, pelo diário “O Popular” –, e sim a respeito da interpretação feita pelo repórter, com anuência (e responsabilidade), acredita-se, da editora-chefe, Cileide Alves. Pop, e não o Serpes, sugere que Vanderlan “avançou” 1 – Na pesquisa divulgada em “O Popular”, o Serpes informa que sua margem de erros, “para mais ou para menos”, é de 3,46%. O repórter Salgado, porém, não levou em consideração a margem de erro ao sugerir que Vanderlan Cardoso, candidato a governador de Goiás pelo PSB, “avançou” e que Iris Rezende, candidato pelo PMDB, “caiu”. Informa o título da capa: “Vanderlan avança, Iris cai e Marconi fica estável”. Se Vanderlan, registra o Serpes, cresceu 2,8%, saltando de 7,2% para 10%, mas a margem de erro é de 3,46%, a interpretação do jornal está, possivelmente, equivocada. O “crescimento” do socialista, estando dentro da margem de erro, não deve ser considerado, como foi, “avanço”. A rigor, ele tanto pode ter 10% (ou 10,66%) quanto 6,54%. Não se pode dizer que Iris “caiu”, ao contrário do que frisa “O Popular”. O peemedebista tinha 25,1% e “caiu” para 22,4%, quer dizer, perdeu 2,9%. Considerada a margem de erro, de 3,46%, não se pode dizer, ao menos não com precisão, que houve um recuo. Tanto que, numa próxima pesquisa, poderá voltar a ter os mesmos 25,1%. “O Popular” também menciona o “crescimento” do candidato do PT, Antônio Gomide – de 5,9% para 7,2%, ou seja, um “avanço” de 1,3%. Nem é preciso mencionar a margem de erro, de 3,46%, para observar que o dado não pode ser considerado, tecnicamente, crescimento. Curiosa mas estranhamente, “O Popular”, ou Salgado, só acertou mesmo ao dizer que o candidato do PSDB, Marconi Perillo, estabilizou-se, crescendo de 39,3% para 40,4%. Mas não ressaltou um ponto que será apontado por nós na nota 3. 2 – No título interno, o jornal diz: “Iris perde terreno, mostra Serpes”. Será que o instituto mostra exatamente isto? Ora, a diferença entre o peemedebista e o candidato do PSB ainda é de 12,2%, quer dizer, um número considerável e muito difícil (mas não impossível) de ser superado – a 14 dias das eleições. Tucano pode ganhar no primeiro turno 3 – A pesquisa Serpes forneceu um dado relevante, talvez decisivo, mas “O Popular” não o ressaltou na primeira página nem no título da página 19. O Serpes apurou que todos os candidatos, juntos, têm 40,4% das intenções de voto. Marconi, sozinho, tem os mesmos 40,4%. Noutras palavras, a possibilidade de o tucano-chefe ganhar no primeiro turno não é nada pequena. No entanto, “O Popular”, ou Salgado, afirma que se trata de uma incógnita. Ignorar os próprios números, que estão sugerindo o contrário, aí, sim, é uma incógnita, até uma grande incógnita. “O Popular” desmereceu tanto a informação que só lhe deu espaço no sexto parágrafo da reportagem, em módicas três linhas. Jornais apreciam títulos de impacto, mas “O Popular” parece que fez questão de ignorar uma informação, crucial, que poderia ter resultado num título que, além de verdadeiro, provocaria mais interesse nos leitores, provavelmente. Um título mais ou menos assim: “40,4% a 40,4%: Juntos, todos os candidatos têm o mesmo número de pontos de Marconi Perillo”. Marconi supera Iris em Goiânia 4 – O jornal também não deu destaque a uma informação nova apontada pela pesquisa Serpes. No oitavo parágrafo, quase no fim da reportagem, Salgado publica: “... a nova rodada mostra, pela primeira vez, Marconi à frente de Iris em Goiânia”. Ora, se é a primeira vez, “O Popular” deveria ter destacado o dado, altamente importante e inteiramente fora da margem de erro. Iris caiu – e agora caiu mesmo – de 36,9% para 25,3%. Uma queda de 11,6%! A exclamação, mesmo num texto analítico, é inevitável. Por três motivos: 1 – Iris caiu em Goiânia, a capital na qual foi prefeito – apontado como bem-sucedido –, deixando o poder em 2010, e conseguindo eleger o sucessor, o petista Paulo Garcia. 2 – Marconi tinha 30% e passou para 30,1%, isto é, manteve-se estável, mas agora à frente de Iris. 3 – Marconi agora está em primeiro lugar em todas as regiões do Estado, mas nem assim “O Popular” ousou, ou melhor, não quis ousar, aparentemente. “O Popular” comete o erro de, com base na pesquisa, não explicar o suposto “crescimento” de Vanderlan. O motivo? Não se sabe. Talvez seja possível arriscar uma explicação: o “crescimento” de Vanderlan, barrado pela margem de erro, não foi visto como considerável pelo Serpes, e sim apenas pelo jornal. Salgado, ante um dado espetacular – a queda de Iris em Goiânia, cidade onde é uma espécie de ícone –, deveria ter perguntado a Antonio Lorenzo (já que parece não ter lido a pesquisa com a devida atenção e interesse): os votos que Iris perdeu foram “transferidos” para quais candidatos? Para Marconi, não foi. Para tanto, Salgado deveria ter observado a pesquisa com mais interesse em busca dos dados que, quem sabe, poderiam explicar o suposto “crescimento” de Vanderlan e Gomide. Seriam votos de Goiânia? Vanderlan estaria “tomando” votos do peemedebista-chefe na capital? É uma informação importante – se verdadeira –, mas os leitores de “O Popular” não tiveram acesso a ela. 5 – Na pesquisa espontânea, Marconi aparece com 32,5% e os demais candidatos, somados, têm 30,2. O tucano supera todos, com 2,3% de dianteira. “O Popular” não deu nenhum destaque à informação. Pesquisa não mostra “alta de rejeição” de tucano 6 – Ao tratar a rejeição dos candidatos, Salgado e “O Popular” novamente ignoraram a margem de erro. A rigor, nem se pode dizer que a rejeição de Marconi subiu. Pois, se a margem de erro é de 3,46%, e a rejeição “subiu” 2,5%, não se pode, como sabem os pesquisadores Antonio Lorenzo, Gean Carvalho (Fortiori) e Mário Rodrigues (Grupom), falar em “alta”. No caso de Iris Rezende, é aceitável sugerir que a rejeição subiu, pois o crescimento foi de 4,1%, quer dizer, 0,64% acima da margem de erro. Ainda assim, não se trata, em comparação com a rejeição anterior, e aceitando-se o peso da margem de erro, de um crescimento forte. Portanto, o título da matéria correlata, “Líderes têm maior alta de rejeição”, é impreciso, como, de resto, praticamente toda a reportagem (Salgado parece ignorar a lógica). Há outras impropriedades, mas as apontadas bastam para que o leitor, examinando por si, a partir de nossas indicações, tire suas próprias conclusões. Dada a seriedade de “O Popular” – seus repórteres e proprietários não têm histórico algum de manipulação de dados –, é muito difícil concluir, ou meramente insinuar, que há uma tentativa de forçar a realização do segundo turno, daí o “incentivo” a Vanderlan. É mais provável que a pesquisa foi entregue para um repórter sério mas inexperiente, caso de Salgado, interpretar e ele não soube perceber a qualidade e nuances do levantamento, tecnicamente perfeito, do Serpes.

Uma seleção de biografias de qualidade de políticos e intelectuais liberais e conservadores

San Tiago Dantas e Sobral Pinto ganham novas biografias. Memórias de Pio Corrêa e Roberto Campos são do balacobaco. Há um estudo lacunar mas de qualidade sobre Milton Campos. Falta pesquisar Petrônio Portella

Se a Justiça deixar, Brasil vai ganhar duas traduções do maior romance cubano, Paradiso, de Lezama Lima

[caption id="attachment_15655" align="alignleft" width="300"]“Paradiso”, romance de Lezama Lima, é o “Grande Sertão: Veredas” de Cuba, uma obra-prima universal “Paradiso”, romance de Lezama Lima, é o “Grande Sertão: Veredas” de Cuba, uma obra-prima universal[/caption] A Alemanha tem uma tradução respeitada de “Grande Sertão: Veredas”, romance de Guimarães Rosa. O escritor mineiro, que sabia alemão — foi cônsul em Ham­bur­go —, dialogou com o tradutor e aprovou seu trabalho. Mas uma editora encomendou outra tradução (para 2015), que está sendo feita por Berthold Zilly, professor universitário na Alemanha. Zilly está dando aulas em Florianópolis, mas sobretudo está se inteirando das coisas do Brasil, do uso da língua no cotidiano e não formalmente, para traduzir Guima­rães Rosa com menos imprecisão. A complicada teia que envolve erudito e coloquial na sua prosa às vezes confunde até leitores brasileiros, mesmo especialistas. Zilly quer capturar a riqueza linguística e a língua viva, oralizada. O romance “Ulysses”, de James Joyce, recebeu três traduções no Brasil, grandes empreendimentos culturais de Antônio Houaiss, o pioneiro, de Bernardina Pinheiro (tida como autora da versão mais pedestre, o que não significa baixa qualidade) e, a mais recente, de Caetano Galindo. Uma tradução melhora a outra e torna o livro mais legível. Agora, o Brasil terá duas traduções de “Paradiso”, de Lezama Li­ma (1910-1976), o Guimarães Ro­sa cu­bano. Havia a tradução de Josely Vi­anna Baptista, de excelente qualidade, publicada pela Editora Bra­siliense. Porém, sondada pela Es­tação Liberdade, Josely Vianna de­cidiu retraduzir o livro, resgatando ainda mais a sua relevância literária. Porém, a Editora Martins garante ter os direitos autorais da obra no Brasil, adquirida do Es­tado cubano (que, por sinal, não costuma pagar direitos autorais para escritores estrangeiros) e está ameaçando processar a Estação Liberdade para impedir a circulação da tradução de Josely Vianna. A Martins encomendou sua própria tradução à poeta Olga Savary. A briga judicial pode retirar pelo menos uma tradução do mercado — talvez até as duas. Para os leitores, o que importa mesmo é ter duas edições que possam ser comparadas. Li a primeira tradução feita por Josely Vianna. É de uma excelência rara. O leitor certamente fica com a impressão de que Lezama Lima, um artífice da palavra, escrevia em português, não em espanhol, tal a perícia da tradutora. É provável que a Justiça decida pela circulação da tradução da Martins, a de Olga Savary, o que será uma infelicidade para o leitor — dada a alta qualidade do trabalho tradutório de Josely Vianna.