Gerente vendeu pacotes de viagens falsos e grande quantidade de moeda estrangeira, que nunca foi entregue aos clientes

Fachada da empresa | Foto: reprodução/ Facebook

Pelo menos 24 famílias foram lesadas em um golpe de estelionato praticado em uma agência de viagens de Goiânia, a Família do Turismo.

Desde a semana passada, clientes procuraram o Procon e a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor do Estado de Goiás (Decon-GO) para denunciar Bruno Campos de Oliveira, de 32 anos. Segundo as vítimas, que preferiram não se identificar, o suspeito, que era tido como sócio da empresa, vendeu pacotes de viagens falsos e moeda estrangeira, que nunca lhes foi entregue.

“Brunão”, como era conhecido por alguns, sempre teve uma boa relação com os clientes e nunca havia tido qualquer problema desde a fundação da empresa, em 2012. No entanto, relatam as vítimas, desde o meio do ano começou a atrasar a entrega de moeda e de vouchers de viagens. Em outubro, a situação foi piorando até que no dia 1º de novembro, ele desapareceu.

A reportagem teve acesso a conversas pelo aplicativo WhatsApp em que é possível ver o suspeito, por vários dias, dizendo a uma das pessoas lesadas que não poderia lhe entregar os dólares porque seu carro havia estragado em uma cidade do interior, ou porque o fornecedor de moeda estrangeira teria atrasado e até que não estaria em Goiânia.

Sem resposta desde o dia 1º, vários clientes procuraram a Família do Turismo para então descobrirem que Bruno Campos de Oliveira havia realmente sumido. Ninguém da agência sabia de seu paradeiro e a empresa garante que o suspeito jamais foi sócio, era apenas um funcionário. O sócio-proprietário, André Salvador Soares, que mora nos Estados Unidos, já voltou ao Brasil e tem tentado resolver a situação dos mais de 20 afetados.

O gerente Bruno Campos de Oliveira, em um foto postada no Facebook da agência

No começo da semana, em uma reunião com as vítimas, o advogado da empresa, Ademar Pereira, garantiu que todas as pessoas vão receber o dinheiro de volta, tanto os que adquiriram pacotes de viagens quanto os que compraram moeda estrangeira. “A família [de André Salvador] está disposta a acertar, tem dinheiro para pagar todo esse prejuízo, tem outras empresas, não vive de turismo, mas pedem paciência”, disse na ocasião.

Ainda no encontro, o representante garantiu que até esta sexta-feira (10/11) todos serão contatados para negociarem as situações individualmente. Nos casos em que clientes têm viagem marcada para os próximos dias, novos voos e pacotes estão sendo organizados. “Sei que ficou ruim por conta de um funcionário, mas quem gere a empresa tem índole, tem responsabilidade, é uma pessoa honesta e está muito triste com o que aconteceu, pois era um sonho”, completou.

Um inquérito já foi aberto e está sob investigação conjunta dos delegados Webert Leonardo Lopes (titular da Decon) e Alexandre Bruno Barros (adjunto da 8º Delegacia de Polícia). Em entrevista, ambos explicaram que a apuração ainda está em andamento, mas o crime de estelionato já foi configurado e resta saber, agora, se houve ou não participação da agência.

Esclarecimentos 

O advogado Ademar Pereira recebeu o Jornal Opção na tarde desta quinta-feira (9/11), quando asseverou que André Salvador é o único dono da agência e conheceu Bruno quando era sócio de uma outra empresa.

“Os dois eram sim amigos, tanto é que André foi morar na Califórnia e deixou o Bruno como gerente, à frente dos negócios pela amizade e segurança que sentia nele”, explicou.

De acordo com ele, o proprietário nunca desconfiou do então funcionário, a não ser quando a situação começou a ficar insustentável. Um dos pontos que facilitou a aplicação dos golpes foi que os clientes depositavam e faziam transferência diretamente para a conta do suspeito e da esposa (que também é investigada).

“Bruno chegou a fraudar a maquineta do PagSeguro para poder desviar dinheiro da empresa”, revelou.

Apesar das investigações estarem em fase inicial, há a suspeita de que os desvios tanto da agência quanto dos clientes tenham começado há apenas dois meses. Um balanço não oficial sugere que o rombo ultrapassa a casa do R$ 1 milhão.

O representante reiterou que o acordo é apresentar aos clientes lesados um cronograma de ressarcimento nesta sexta-feira (10/11), mesmo que ainda estejam sendo feitos os levantamentos.

“Não temos ainda noção do montante. Mas, até segunda ordem, que não existe até então, o compromisso é devolver tudo. Até a moeda comprada por Bruno, que não foi vendida pela agência”, completou.

Câmbio

Uma das controvérsias do caso diz respeito à venda de moeda estrangeira. Segundo o advogado, a Família do Turismo jamais trabalhou com câmbio.

“A pessoa que vai comprar uma viagem internacional, logicamente precisa de uma moeda, o que a agência faz é indicar parceiros. Tanto é assim que a agência não tem nem estrutura, por exemplo, para ter dólar em estoque. Não faz sentido, é aberta ao público e seria um risco muito grande”, argumenta.

Controvérsia

Apesar de já ter sido provado pela defesa da Família do Turismo, os clientes da empresa garantiram ao Jornal Opção que Bruno Campos se apresentava como sócio-proprietário.

Uma matéria no site do Sebrae Goiás, datada de 10 de dezembro de 2013, conta a história da agência e corrobora com a versão de que os dois seriam, na verdade, sócios: “Inserida num mercado concorrido que sofre bastante com as vendas pela internet, os amigos Bruno Campos de Oliveira e André Salvador Soares, ambos de 28 anos abriram, um ano atrás, a agência de viagens Família do Turismo, em Goiânia (GO). Para alcançar o negócio próprio, a dupla investiu R$ 50 mil.”

Àquela época, o faturamento mensal da empresa giraria em torno de R$ 150 a R$ 200 mil, como mostra a reportagem.

O advogado garante que a matéria foi feita de forma “unilateral” e que jamais teve o suspeito como sócio.