Onda de violência com semelhança entre os casos se tornou uma incógnita ao cidadão goianiense e às autoridades policiais, que intensificaram as investigações em busca de respostas

Assim como os mais de 40 casos de assassinatos de moradores de rua de Goiânia e região metropolitana entre agosto de 2013 e início deste ano, as mortes de mulheres na capital, em situações muito semelhantes, chamou a atenção da imprensa nacional. Todos os meios de comunicação têm informado sobre o assunto, que vem se alastrando como informação e também como espetacularização. Nessa onda informativa (comum em casos de grande repercussão), são difundidas opiniões e suposições de especialistas na área de segurança pública que cogitam da possibilidade de um único autor a uma organização criminosa — como veiculado na manhã desta quarta-feira (6/8) em uma rádio nacional. São listados, oficialmente, 13 homicídios, iniciados, possivelmente, no começo de fevereiro, com a morte de Lilian Sissi Mesquita, de 28 anos, no Setor Cidade Jardim. A última morte envolvida na polêmica de um suposto assassino em série que usa uma moto de cor escura e capacete ocorreu no sábado (2/8), quando a estudante Ana Lídia Souza, de 14 anos, foi morta a tiros num ponto de ônibus do Conjunto Morada Nova.

[relacionadas artigos=”11723,11761,7269,6201,6668″]

Nos assassinatos envoltos na investigação que passou a contar com uma força-tarefa no início desta semana, com a vinda de delegados do interior goiano, os pertences das vítimas não são levados pelo criminoso, que às vezes, segundo testemunhas, pede o celular, mas dispara fatalmente sem levar o aparelho. Caso emblemático foi o que vitimou Isadora Cândido, de 15 anos, em 2 maio. O namorado da menor informou na época que o assassino teria as mesmas feições do retrato falado do suspeito de matar a assessora parlamentar Ana Maria Duarte, em março, o que reforçou rumores da atuação de um serial killer. Novamente, a possibilidade foi refutada pela Polícia Civil.

As 13 mulheres mortas nessas condições não têm antecedentes criminais ou envolvimento com drogas, o que as diferencia dos outros cerca de 30 casos, dos quais 11 são tidos como solucionados pela Polícia Civil. Como primeira medida do grupo que atuará especificamente neste caso está a inclusão de outros três casos de morte (incluindo um homem como vítima) e duas tentativas de homicídio, cujo modus operandi se diferencia, mas que, segundo o superintendente de Polícia Judiciária de Goiás, Deusny Aparecido da Silva, pode levar a esclarecimentos sobre essas 13 mortes que levaram a sociedade a cobrar por uma resposta quanto à existência ou não de um assassino em série na capital.

Embora o temor da sociedade goianiense tenha começado em abril, com o compartilhamento de um áudio no aplicativo para celulares WhatsApp em que uma jovem alerta sobre um serial killer de moto e capacetes pretos — o que foi imediatamente negado pela Polícia Civil à época —, a repercussão nacional se intensificou a partir da morte de Ana Lídia, com manchetes e enfoques os mais variados, alguns deles de cunho sensacionalista (a ponto de afirmar a existência de um matador em série que teria assassinado mais de 30 mulheres em Goiânia). Este tipo de informação, que também circula nas redes sociais, não condiz com o que tem sido repassado à imprensa local pelas autoridades policiais, que, após o caso do dia 2 último, passou a admitir, mesmo que cautelosamente, todas as possibilidades. Pode ser um único assassino, como também pode não ser, como indica declaração do titular da Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH) no domingo (3), delegado Murilo Polati: “Nós temos a convicção de que não é uma única pessoa, mas também não podemos excluir a possibilidade”.

Não bastasse o desencontro de informações e o viés de alguns veículos que aumenta a apreensão da sociedade, também está ocorrendo na internet proliferação de boatos. Mulheres têm sido “assassinadas” a todo o momento em diversos pontos da cidade conforme alardes no Facebook (só na terça-feira cinco boatos foram desmentidos pelas polícias Civil e Militar), além de homens que teriam sido presos como sendo o suposto psicopata, com divulgação por um programa de TV local afirmando ter recebido até o endereço do suspeito. A morte de uma estudante, atropelada em frente a uma universidade na noite de segunda-feira (4), foi inicialmente informada pela web, para muitas pessoas, como sendo homicídio cometido por motoqueiro. Com base na boataria sobre o assunto, delicado por si só, o Jornal Opção Online publicou na terça-feira (5) a matéria “Internautas desconhecem potencial do pânico gerado por boatos em Goiânia, diz mestre em comunicação”, com vistas a alertar a população sobre os perigos de aumentar a polêmica a ponto de influenciar negativamente no trabalho policial. Outros veículos locais também se prontificaram a ressaltar a negatividade da geração de boatos e denúncias falsas.

Neste contexto de dúvidas e medo, uma busca rápida com palavras-chaves sobre o assunto incluindo o nome de Goiânia demonstra a amplitude da repercussão. Todos os principais portais têm divulgado informações sobre a situação de insegurança que aflige mulheres que vivam ou estejam na capital goiana. Na lista podem ser citados UOL, G1 (nacional), R7, “Estadão”, “O Globo”, Terra, CBN nacional, Globo News, dentre outros sites, menores e regionais. Na TV e no rádio a repercussão é a mesma. Na segunda-feira (4), o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, abriu a edição abordando o assunto, o que indica que naquele dia as mortes de mulheres de Goiânia teve cobertura especial. Os recortes da realidade para enquadramento em notícias, necessários aos meios devido questões técnicas como tempo de programação (sobretudo impresso, TV e rádio), leva a informação ao cidadão, muitas vezes, sem a devida contextualização.

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook

Outro exemplo da amplitude com que tem se dado a divulgação do suposto serial killer é a manchete da versão impressa desta quarta-feira (6) do jornal “Correio Braziliense”, o mais importante de Brasília e também com cobertura em âmbito nacional: “Goiânia entra em pânico e polícia caça serial killer”. O texto da notícia trata a informação com cuidado, mas quem ficar só no título (o que muitos leitores fazem, infelizmente), a impressão que dá é que de fato se trata de um assassino em série, o que não foi, em nenhum momento, afirmado pelas autoridades policiais. No site “CB” a matéria também apareceu com destaque, na parte de cima do portal, mas com o título “Enquanto polícia busca respostas, Goiânia exige fim da morte de mulheres”, mais conivente com o momento, que se encontra na etapa de investigação.