Geddel deixa cargo de ministro após agravamento do escândalo envolvendo o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero

O ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, decidiu deixar o cargo nesta sexta-feira (25/11), após agravamento do escândalo envolvendo seu nome à frente de um das posições mais importantes do governo Michel Temer (PMDB). O Palácio do Planalto confirma a entrega de uma carta de Geddel endereçada ao presidente, pedindo demissão do cargo.

Na semana passada, o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, que pediu exoneração do cargo, acusou Geddel de tê-lo pressionado para que fizesse uma intervenção junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para a liberação de construção de um edifício em uma área tombada da capital da Bahia.

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As acusações feitas por Calero, publicadas pela imprensa no último domingo (20/11), foram teor de depoimento do ex-ministro à Polícia Federal, divulgado na íntegra pela imprensa na última quinta-feira (24/11), o que culminou no agravamento da crise.

Em depoimento à PF, Calero disse que durante uma audiência no Palácio do Planalto no último dia 17, o próprio presidente Michel Temer interveio em favor dos interesses pessoais de Geddel. “Que nesta reunião o presidente disse ao depoente que a decisão do Iphan havia criado ‘dificuldades operacionais’ em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado; que então o presidente disse ao depoente que construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU [Advocacia-Geral da União] porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução”, diz a transcrição do depoimento de Calero.

O centro da polêmica

Geddel afirmou em entrevista ao Jornal Folha de S. Paulo, é proprietário de um dos 24 apartamentos de luxo do edifício La Vue, empreendimento imobiliário localizado em área tombada como patrimônio cultural da União em Salvador. Foi apurado também que familiares de Geddel atuam como representantes do empreendimento

A obra está embargada por decisão da quarta-feira (23/11), da juíza substituta da 19ª Vara Federal de Salvador, Roberta Dias Nascimento que também proibiu a comercialização de novos imóveis até que seja feita ua adequação do projeto arquitetônico, um estudo de Impacto de Vizinhança e a uma adequação à declaração de nulidade das autorizações concedidas pelo Iphan e pela Secretaria Municipal de Urbanismo de Salvador (Sucom).

Pela localização privilegiada, com vista para a Baía de Todos-os-Santos, o projeto inicial previa a construção de um edifício de 31 andares, mas o Iphan autorizou que o prédio tenha no máximo 13 pavimentos.

Veja a íntegra da carta:

Salvador, 25 de novembro de 2016

Meu fraterno amigo Presidente Michel Temer,

Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair.
Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas aos que estão sendo por elas alcançados, mas o Brasil é maior do que tudo isso.

Fiz minha mais profunda reflexão e fruto dela apresento aqui este meu pedido de exoneração do honroso cargo que com dedicação venho exercendo.

Retornado a Bahia, sigo como ardoroso torcedor do nosso governo, capitaneado por um Presidente sério, ético e afável no trato com todos, rogando que, sob seus contínuos esforços, tenhamos a cada dia um país melhor.

Aos Congressistas, o meu sincero agradecimento pelo apoio e colaboração que deram na aprovação de importantes medidas para o Brasil.

Um forte abraço, meu querido amigo.

Geddel Vieira Lima