CNI critica alta da taxa de juros e diz que Selic nas alturas vai sufocar a economia

20 junho 2025 às 15h27

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A Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de aumentar a taxa básica de juros, a Selic, é “injustificada” e vai agravar as condições de competitividade do setor produtivo. Presidente da CNI, Ricardo Alban lembra que o país não lidava com um patamar da Selic tão alto desde 2006. “É um contrassenso o Banco Central se manifestar contra o aumento do IOF enquanto decide aumentar a taxa de juros. Aonde se quer chegar?”, questiona.
Alban diz que é preciso pensar em políticas de Estado, de longo prazo e sistêmicas e que a reconfiguração geopolítica em curso são oportunidades abertas para o país. Para a CNI, a nova alta da Selic não condiz com o cenário atual e prospectivo da economia que já manifesta os efeitos da política monetária constritiva, como a desaceleração da inflação. “Sem o início da redução da Selic, seguiremos penalizando a economia e os brasileiros. O cenário torna o investimento produtivo muito difícil no Brasil, com consequências graves para a economia”, reitera.
A CNI listou cinto motivos que justificariam a interrupção do ciclo de alta da taxa Selic: taxa de juros real crescente; crédito caro; economia em desaceleração; menor impulso fiscal e sinais positivos da inflação.
Taxa de juros real crescente e em patamar excessivo
Com a decisão do Copom, a taxa de juros real subiu para 9,8% a.a., 4,8 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, aquela que não estimula nem desestimula a econômica, estimada em 5% a.a. pelo Banco Central. A Selic em 15% a.a. implica, portanto, em uma política monetária ainda mais contracionista e que confirma o Brasil na terceira posição entre as maiores taxas de juros real do mundo, atrás apenas de Turquia e Rússia. Não custa lembrar: a Selic está em campo contracionista há 41 meses.
Crédito cada vez mais caro
Segundo o Banco Central, a taxa de juros média cobrada das empresas nas concessões de crédito, considerando as linhas com recursos livres, subiu de 20,6% a.a. em setembro de 2024, quando se iniciou o atual ciclo de altas na Selic, para 26% a.a., em abril de 2025. No mesmo período, a taxa média cobrada dos consumidores passou de 52,3% a.a. para 57,4% a.a.
“Do lado das empresas, os juros mais altos inviabilizam diversos projetos de investimento, essenciais para ampliar e modernizar a estrutura produtiva do país, e também aumentam o custo do capital de giro, essencial para o cotidiano das empresas”, avalia Alban. Do lado dos consumidores, os juros mais altos limitam a compra de diversos bens, sobretudo os de maior valor, que dependem mais de financiamento.
Atividade econômica em desaceleração
Com o crédito cada vez mais caro e menos acessível, a economia dá sinais de desaceleração, o que justifica as previsões de crescimento do PIB menores em 2025. Chama atenção a queda de 0,1% no PIB da indústria no primeiro trimestre de 2025 frente ao quarto trimestre de 2024, após oito trimestres de crescimento. Cabe destacar que a produção industrial cresceu apenas 0,1% em abril, segundo o IBGE, e que isso não foi suficiente para indicar reversão do quadro negativo do primeiro trimestre.
Menor impulso fiscal também favorece controle da inflação
Vale pontuar que a desaceleração da atividade econômica deve se intensificar em razão do menor impulso fiscal este ano. Afinal, a CNI estima que as despesas federais terão crescimento real de 2,8% em 2025, abaixo do crescimento registrado em 2024, que foi de 3,7%. Boa parte dessa redução se deve às políticas de contenção de despesas anunciadas desde o fim de 2024. “Essas medidas são positivas para equilibrar as políticas monetária e fiscal e precisam ser ampliadas”, defende Alban.
Inflação de maio com sinais positivos
Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) desacelerou. Com o resultado, a inflação acumula alta de 5,32% nos últimos 12 meses, abaixo dos 5,53% observados no mesmo recorte, até abril. Parte da melhora no quadro inflacionário se deve à desaceleração dos preços de alimentos. As perspectivas desse grupo seguem favoráveis, uma vez que a previsão de safra em 2025 melhorou, passando de crescimento de 12,2% para 13,6%, segundo o IBGE.
Outro grupo que ajudou na melhora da inflação em maio foi o de preços de bens industriais, que também perderam ritmo entre abril e maio. Justamente por conta do dado do IPCA de maio, as expectativas para a inflação no final de 2025, que já vinham sendo revistas para baixo há oito semanas, foram consideravelmente reduzidas na última publicação do Relatório Focus, do Banco Central, de 5,44% para 5,25%, fortalecendo a percepção de melhora no horizonte.
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