Categoria reage à declaração de Caiado sobre diferença entre professores e militância do PSTU
16 fevereiro 2019 às 10h20
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Associação de professores divulga carta resposta e diz que “nosso partido é o dos aposentados que foram deixados de lado”
A declaração do governador Ronaldo Caiado (DEM) sobre os professores que protestaram nas galerias da Assembleia Legislativa do estado de Goiás (Alego), na sexta-feira, 15, contra o atraso no pagamento do salário de dezembro e outras medidas relativas à Educação ganharam repercussão entre a classe. Caiado disse, em entrevista coletiva, que “existe uma diferença entre professores e militância do PSTU. Não vamos confundir. Os professores estão trabalhando, educando e lutando para que Goiás seja referência no cenário nacional”.
Nas redes sociais, o comentário do governador foi respondido por educadores e pela Associação Mobilização dos Professores (AMPG), que pediu direito à réplica após a divulgação da fala de Ronaldo Caiado. O professor de História da UFG, Rafael Saddi, pontuou que o discurso do governador “normatiza, limita, censura o modo de agir do professor em geral”. Já o professor Thiago Martins, da AMPG, afirma que a maioria dos seus associados não são filiados a partidos políticos. Segundo ele, Caiado ainda não percebeu que, “professores do Estado inteiro estão gritando de desespero por não terem recebido dezembro”.
Confira as manifestações na íntegra:
Caro Governador Ronaldo Caiado, o senhor falou que os professores que protestaram contra sua política de desestruturação da Educação Pública são militantes do PSTU, nós da AMPG, queremos deixar claro que a associação é horizontal, sendo que a maioria dos seus membros não são filiados a partidos. Portanto o senhor está mal assessorado, e mais ainda não percebeu que professores do Estado inteiro estão gritando de desespero por não terem recebido Dezembro que é o principal salário para a categoria, pois nele está embutido o décimo terceiro salário dos contratos. Mais ainda, estão protestando contra uma “reforma” que aumenta o trabalho e diminui o salário. Nosso partido é o dos Aposentados que foram deixados de lado, desconsiderados, e vivem hoje uma situação humilhante, sem o mínimo necessário para sobreviver. Entendemos que o senhor não está acostumado a lidar com trabalhadores livres dos cabrestos, nosso grito não é de partido é de pessoas partidas, dilaceradas por um Estado que não nos respeita. Para finalizar, queremos respostas simples qual o interesse do senhor nas demissões que estão ocorrendo na educação, cadê o FUNDEB, quando vão pagar todos os aposentados, o restante do salário de Dezembro dos da ativa? Enfim, queremos respostas concretas não a velha enrolação, dessa já estamos cansados.
Associação Mobilização dos Professores (AMPG)
O governador Ronaldo Caiado disse que os professores que protestavam não eram professores de verdade, mas militantes do PSTU. Quando se funda um discurso, separando professores de verdade dos professores de mentira, se cria uma cisão no seio da categoria, que parece salvar os professores de verdade, porque, afinal, nada temos contra ele. Entretanto, parecendo se voltar somente contra uma parte dos professores, o discurso normatiza, limita, censura o modo de agir do professor em geral. Ele diz exatamente como você deve agir, especialmente o que você não deve fazer, se quiser entrar na categoria de professor de verdade. O governador Marconi Perillo tinha iniciado seu último governo fazendo o mesmo tipo de discurso contra os professores que protestavam contra ele. E deu no que deu, porque em tempos de grande agitação na categoria de professores, e de estudantes (que se levantam agora mesmo, mais uma vez, em apoio aos professores em várias escolas de todo o estado), este tipo de arrogância contra quem está lutando por uma causa necessária e justa é tomado como uma ofensa pessoal a toda a categoria. Obrigado governador, por botar mais lenha nesta fogueira. Mal começou e já tão perto de uma explosão social.
Prof.Rafael Saddi, da Faculdade de História da UFG.