Em uma (e só uma) coisa Fidelix está certo: aparelho excretor não reproduz mesmo
02 outubro 2014 às 15h32
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Não dá para explicar o que Levy Fidelix vomitou no Brasil inteiro no debate da TV Record. O homem se agarrou a uma verdade que fere o próximo, mas para ele não importa: é a sua verdade
Em defesa da família, da moral e dos bons costumes. Essa é a frase que sai a cada cinco minutos da boca dos políticos conservadores que pensam ser deuses na terra, capazes de dizer o que pode e o que não pode. E melhor: condenar aqueles que não seguem o padrão estipulado por eles que se enquadram no conceito de “família” e dos “bons costumes”. A comunidade LGBT, claro, não está inserida nesse campo, e não só estão condenados ao tal do fogo eterno, como também devem ser banidos da sociedade, na visão pequena de mundo que possuem.
Ao menos é isso que Levy Fidelix defende: a violência contra essa “minoria” que, segundo nosso presidenciável, deve fazer tratamento psicológico, mas que seja longe, “bem longe dele”. Como avô, pai, homem de família, ele não pode “liberar geral”, deixar que uma “anomalia” seja difundida e aceita com facilidade. Francamente, entendam o homem! E como garantem vários comentários em defesa de Fidelix em redes sociais ou em plataformas de notícia, “isso é democracia”. Afinal, é a opinião dele, que inclusive é compactuada pela maioria dos brasileiros (de acordo com ele).
Não dá para explicar o que Levy Fidelix vomitou no Brasil inteiro no debate da TV Record. Não, a não ser a explicação de que se trata de um homofóbico que gosta de pregar a violência. Não sei se Levy é religioso, se segue uma doutrina que condena homossexuais por serem quem são, mas ainda que seja cristão, por exemplo, como explicar essa conduta? Segundo consta, o messias dos cristão acolhia as minorias excluídas pela sociedade. Citar os cristãos aqui não significa relacionar este tipo de preconceito estritamente com a conduta cristã, mas relembrar que várias figuras públicas e políticos de nosso país que são cristãos divulgam constantemente grandes absurdos, como o pastor Silas Malafaia ou o nosso querido Marco Feliciano. De qualquer forma, Levy mostrou ser um preconceituoso que não admite ver amor entre dois iguais.
Quem utiliza de métodos anticonceptivos também deveriam ser expulsos da sociedade, segundo o raciocínio do Fidelix. O que importa é procriar, né? Então nada de camisinha. Façamos filhos de forma indiscriminada; utilizemos somente métodos anticonceptivos naturais. A tabelinha, por exemplo, é permitido. Afinal, quando tivermos vários filhos e não quisermos criá-los, sempre existem gays para criarem para a gente. Isso me conforta. De qualquer forma, se for para ser como Fidelix, melhor mesmo é que nem procrie.
Quanto ódio! Ódio que, inclusive, não consegue ser explicados pelos “odiadores”. Claro. Preconceito não faz sentido. Violência gratuita. Pior que a opinião do Fidelix são os comentários daqueles que concordam. Várias postagens nas redes sociais, blogs, plataformas de notícia, deixam estarrecido o resto dos brasileiros que respeitam o próximo. “Tudo não se passa de opinião. Estamos em uma democracia”; “Engraçado: o Brasil se diz democrático, mas assim que uma opinião diferente chega, ninguém aceita ouvi-la”; além, é claro, da tal “ditadura gay” tão falada. Bom, opinião é como o “aparelho excretor” de Fidelix: cada um tem o seu. Mas só o de Fidelix mesmo, já que, na verdade, o ânus (se é que ele se referia a isso) nem faz parte do sistema excretor, que é o responsável por eliminar substâncias que estão em excesso em nosso corpo. Ou seja, o ânus, que elimina o excremento, nem parte desse sistema faz.
Falar de democracia é interessante, já que essas pessoas que defendem que qualquer tipo de opinião absurda pode ser divulgada esquecem que a sua liberdade encerra quando começa a do outro. A parte da democracia ser um sistema que coloca todos em um patamar de igualdade foi esquecido. O ponto em que se garante educação, lazer, saúde, enfim, vida, também foi deixado de lado. É desimportante, afinal.
“Me enoja ver dois gays se beijando”, vi um comentário em um blog. Frase esta que explica a quantidade absurda de violência contra LGBTs. O relatório Anual de Assassinato de Homossexuais no Brasil (LGBT) do Grupo Gay da Bahia (GGB) relativo a 2013 apontou que foram documentados 312 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil, incluindo uma transexual brasileira morta no Reino Unido e um gay morto na Espanha. Segundo o grupo, esse número equivale a um assassinato a cada 28 horas. O documento apontou ainda que houve um decréscimo de 7,7% em relação a 2012, quando houve 338 mortes. O grupo divulgou no relatório que o Brasil continua sendo o campeão mundial de crimes homo-transfóbicos, afirmando que segundo agências internacionais, 40% dos assassinatos de transexuais e travestis em 2012 foram cometidos no Brasil.
Interessante mesmo são algumas respostas do Fidelix, como as vistas na entrevista ao blog Terra Magazine. “O senhor acha que homossexualismo [sic] é um problema psicológico, é isso?”, perguntou o jornalista. Já Fidelix, respondeu com outra pergunta: “Meu amigo, você é gay?”, dizendo em seguida: “Então vamos parar com isso. Chega desse negócio que está me enchendo o saco. Chega desse assunto. Tenho tantos assuntos para falar sobre o meu país. Não vamos tentar fazer disso um tema, como antes tentaram me ridicularizar com a história de partido nanico. Vamos parar com isso. Tem que ter respeito com a minha biografia de vida. Tenho 62 anos…” Respeitemos o homem, então! Afinal, ele tem 62 anos. Outra resposta também foi bastante esclarecedora. “Não estou querendo estimular quem é a favor dos homossexuais. Agora, eu tenho que constatar que isso existe. Como pai de família, como avô, como homem que defende a família, tenho certeza que as minhas colocações atenderam a maioria do povo brasileiro, que não é exatamente a favor dos LGBTs.”
Mesmo com tudo isso, talvez ainda a intenção de Fidelix não seja ver gays sendo mortos; talvez ele não queira disseminar violência. Entretanto, o homem se agarrou a uma verdade que fere o próximo, mas para ele não importa: é a sua verdade. Um mito construído por ele e outros que compartilham das mesmas ideias. Sabemos que essas criações são para regular a ação humana, como por exemplo a ideia de um inferno, usado para amedrontar cristãos a fim de condicionar o comportamento. Só que o Brasil tem que entender que deve haver punição para este tipo de conduta violenta, como de Fidelix. Se a imagem construída por ele é essa, e é ainda divulgada, uma ação deve ser feita para reverter isso e mostrar não apenas para ele, mas para toda a população que preconceitos não têm fundamento, e são passíveis de punição.
De qualquer forma, é como disse o próprio Cristo: “Pai, perdoai-vos. Eles não sabem o que fazem”.
Para quem não viu, aí está a resposta do pai de família e avô de 62 anos:
https://www.youtube.com/watch?v=oPNs7owXs60