Ao insistir que não será candidato, o ex-presidente impôs contrapartida à sucessora

16 abril 2014 às 16h50

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A afirmação de Lula de que, se fosse possível, iria a cartório registrar que não será candidato a presidente impôs à sucessora Dilma Rousseff a obrigação de seguir a orientação do padrinho, anotada pelos blogueiros que o entrevistaram. “Temos que retomar com muita força essa questão da regulação dos meios de comunicação do país”, determinou o ex.
Retomar? Sim, porque a presidente Dilma engavetou o projeto de controle da mídia que herdou de Lula ao assumir o Planalto há mais de três anos. Projeto elaborado pelo jornalista Franklin Martins quando era secretário de Comunicação Social do governo Lula. Incorporado agora ao comando da campanha da reeleição da presidente, Martins está à mão para tocar o projeto.
Em defesa do controle, Lula acusou a mídia de não respeitar a presidente e de mentir. “Quando vejo, o tratamento a Dilma, é de falta de respeito e de compromisso com a verdade”, denunciou e justificou a censura de conteúdo do noticiário:
“Se a imprensa, nos editoriais, batesse e discordasse do governo seria ótimo. Agora, na cobertura normal, que fosse um pouco mais séria, neutra. Acho que perdemos um tempo precioso em não fazer discussão sobre marco regulatório da imprensa nesse (sic) país. Espero que, em algum momento, a gente retome essa discussão.”
A defesa que o ex fez do controle da mídia foi uma das afirmações que os nove jornalistas da entrevista poderiam contestar, mas ficaram em silêncio para não incomodar o companheiro. Outro momento da fala de Lula em que poderiam pedir ao entrevistado que se explicasse melhor: a recomendação à sucessora para adotar “uma política agressiva de comunicação”.
A mais dramática instrução de Lula a Dilma ocorreu na economia. “Nós poderíamos estar melhor, e a Dilma vai ter que explicar isso (sic) na campanha claramente: como é que a gente vai melhorar a economia brasileira”, ensinou que a questão econômica, com inflação em alta será cobrada na campanha, mas o melhor seria a presidente se antecipar com mudanças na área.
O ex disse que poderíamos estar melhor, ou seja, não estamos bem. Ele também está descontente. Tem mais. A frase deixou claro quem manda no governo. Se Lula afirmou aquilo em entrevista para divulgação, imagine-se o que não deve ter dito à afilhada na conversa a portas fechadas que mantiveram quatro dias antes em São Paulo.
Os custos dos alimentos dispararam em março. Tomate, batata, leite e carnes… As passagens aéreas e combustíveis também. Foi a maior alta mensal registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos 11 anos de governo com o PT: 0,92%. O IPCA mede a inflação oficial, que em 12 meses chegou a 6,5%.