A Polícia Federal (PF) apontou o servidor do Ministério Público Federal (MPF), Wagner Vinicius de Oliveira Miranda, lotado na Procuradoria-Geral da República (PGR), como membro de um poderoso esquema de tráfico internacional de drogas e armas ligado às principais facções brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).

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Miranda, conforme a PF, integra o núcleo financeiro da quadrilha e tem conexão com outro investigado, Angel Antônio Flecha Barrios, considerado o intermediário da organização criminosa que operava na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. O servidor acabou sendo afastado das funções por 30 dias.

A investigação apura supostas transações entre a empresa Bravoshop Plataformas de Vendas Online, da qual o analista é sócio, e a Bravo Brasil — iPhones Ltda, usada para receber pagamentos relacionados ao tráfico de armas e drogas. Angel Antônio é o controlador desta última. Para os investigadores, Wagner Vinicius fez transações financeiras com contas bancárias dele para receber pagamentos de armas e drogas, o que caracteriza o crime de lavagem de dinheiro.

Além do afastamento cautelar de Wagner Vinicius das funções, a Justiça Federal da Bahia autorizou buscas na casa do servidor e suspendeu o acesso dele a sistemas internos ou externos relacionados ao cargo que exerce na cúpula do MPF. O Portal da Transparência mostra que o salário líquido do servidor, em outubro, foi de R$ 16.057,24.

O orgão informou que as investigações são conduzidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da instituição na Bahia e seguem sob sigilo. O MPF destacou não ter havido qualquer denúncia criminal apresentada em relação ao caso, mas que foram tomadas todas as medidas cabíveis, tanto na esfera criminal quanto na administrativa.

O esquema 

O esquema que movimentou mais de 43 mil armas trazidas da Europa foi revelado em operação feita pela PF junto a autoridades paraguaias, deflagrada no dia 5 de novembro. O principal alvo da PF era o empresário argentino Diego Hernan Dirisio, dono de uma empresa no Paraguai que importava armas de países europeus e vendia a chefes do PCC e CV. Considerado o maior contrabandista da América do Sul, ele está foragido.

As investigações apontam que as armas eram fabricadas na Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia e importadas pela empresa de fachada comandada por Dirisio no Paraguai. Lá, os armamentos tinham a numeração raspada e a logomarca da fabricante alterada, para serem revendidos no mercado ilegal.

Dividido em camadas

A corporação detalhou que o esquema era dividido entre diversas camadas, desde a compra das armas na Europa até a chegada delas às facções. Além da empresa paraguaia que revendia os equipamentos para dois intermediários na fronteira com o Brasil, havia um núcleo de logística, para as armas serem transportadas pelas rodovias brasileiras, e um de vendedores.

Os criminosos também tinham um braço financeiro e de doleiros para lavar o dinheiro recebido pelo tráfico. Empresas de fachada, que não tiveram os nomes divulgados, também foram abertas em Miami para poder declarar o dinheiro de origem ilícita.