Agronegócio: golpe contra produtores rurais de Rio Verde é o maior já registrado no Brasil
09 dezembro 2024 às 09h54
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Principais alvos da operação que pediu o bloqueio de R$ 19 bilhões, Vinícius de Mello e a esposa, Camila Rosa Melo, protagonizaram o maior golpe contra o agronegócio já registrado no Brasil, de acordo com a Polícia Civil de Goiás (PC-GO). O casal, com o auxílio de empresas que foram criadas com a finalidade de sonegar impostos e lavar dinheiro, movimentou R$ 1,2 bilhão entre 2021 e 2024 – cerca de R$ 400 milhões ao ano.
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Os suspeitos atuavam como corretores de grãos comprando e vendendo produtos agrícolas em Rio Verde – cidade goiana que ocupa o 5º lugar na lista dos 100 municípios brasileiros mais ricos do agronegócio.
Na prática, após receber as produções, não pagavam ou pagavam menos que o valor negociado com os produtores, e também não entregavam toda a carga para os clientes. Em seguida, vendiam os produtos e transferiam os valores para empresas-fantasmas, em nomes de laranjas, para ocultar e lavar o dinheiro.
Até o momento, 13 pessoas procuraram a PCGO para denunciar o crime. Entretanto, a corporação acredita que o número possa ser ainda maior, visto que Vinicius não fazia contratos, firmando acordos apenas na base da confiança. Ou seja, “no papo”, como dito na linguagem popular.
“São chamadas de empresas noteiras. São empresas que servem apenas para emissão do documento fiscal, das notas fiscais, e não havia o recolhimento dos tributos devidos”, afirmou ao Fantástico o delegado Márcio Marques.
Conhecido no ramo
Vinícius, que é gaúcho, ficou milionário em poucos anos e agora é procurado pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) desde a semana passada, assim como a esposa Camila. A PCGO acredita que os dois fugiram para os Estados Unidos para evitar a prisão.
O empresário, de 40 anos, se mudou para Rio Verde na década de 1990. Bom de papo, simpático, foi fazendo nome no meio rural. Comprava soja, milho e algodão dos produtores rurais pra revender no mercado. Porém, em junho deste ano, ele e a mulher desapareceram misteriosamente, deixando para trás um rastro de prejuízo – cerca de R$ 38 milhões em golpes.
“Acho que uns oito anos que ele tava negociando com o pessoal e sempre deu certo, sempre deu certo. Ele foi lá no armazém e combinou comigo para embarcar em 30 dias, e ele embarcou muito rápido, achei até estranho, colocou muito caminhão grande, de nove eixo, rapidão, e retirou o produto ”, disse o produtor rural Carlos Freitas de Paula Filho, ao dominical da Globo.
O negócio foi fechado em março e Vinícius faria o pagamento em 90 dias, o que não aconteceu. “O sentimento é desespero, porque a gente contava com esse dinheiro, com esse valor pra cumprir nossos compromissos futuros”, conta o também produtor rural, Paulo Ricardo Sousa Freitas.
Ainda em junho, Vinícius escreveu um e-mail pros produtores, em que dizia que, “devido a algumas ameaças recebidas, o ambiente não é seguro pra minha família. Portanto, preservando a nossa integridade física, resolvi não retornar a cidade”.
Operação
A PCGO realizou uma operação para desarticular a quadrilha especializada em golpes contra produtores rurais e sonegação fiscal. Os agentes apreenderam 468 veículos, duas aeronaves, sete imóveis e pediram o bloqueio de R$ 19 bilhões.
A ação aconteceu nos dias 28 e 29 de novembro nas cidades de Rio Verde, Morrinhos, Goiânia, Santo Antônio da Barra, Montividiu e também nos Estados Unidos. Ao todo, quatro pessoas foram presas e 18 mandados de busca e apreensão foram cumpridos.