A advogada Juliana Bierrenbach, ex-defensora do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sobre a suspeita de rachadinha enquanto ele era deputado estadual no Rio de Janeiro, detalhou a reunião que teve com o então presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem e o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno. A entrevista ocorreu à Globonews.

De acordo com a advogada, ela não sabia que Bolsonaro iria participar do encontro e que ficou “em choque” ao vê-lo. Flávio Bolsonaro, no entanto, não estava presente na reunião que aconteceu em setembro de 2020. Juliana deixou o caso em 2022.

Segundo a advogada, sua ex-sócia, Luciana Pires, marcou o encontro com Augusto Heleno no Planalto para discutir o caso das rachadinhas de Flávio Bolsonaro para protocolar petição no GSI sobre suspeitas de irregularidades na Receita Federal. Ao chegar ao Palácio do Planalto, a defensora chamou uma pessoa que a levaria para a reunião.

Antes de entrar na sala, ela relata que teve que deixar seu celular do lado de fora do local. Segundo ela, isso preveniria possíveis gravações. Na sala estava Jair Bolsonaro, Augusto Heleno e Alexandre Ramagem.

Após alguns minutos, entendendo onde e com quem estava, Juliana disse que realizou seu trabalho e apresentou a investigação que havia feito sobre o caso das rachadinhas de Flávio Bolsonaro. “Fiz o que eu fui lá fazer. Falamos de uma possibilidade de o Flávio ter sido alvo de um esquema dentro da Receita Federal”.

Juliana afirmou que Ramagem não determinou ou fez pedidos sobre o caso das rachadinhas. “Não fazia ideia do que ele estava fazendo lá [na reunião]. Nunca tinha tido contato com ele. Foi a primeira vez que vi o Ramagem. Ele jamais orientou nada. Não havia nenhuma orientação do Ramagem. É um equívoco dizer que ele tivesse feito alguma investigação”, disse.

Por fim, ela informou que não sabia que estava sendo gravada.

Gravação

O Supremo Tribunal Federal (STF), publicou decisão que quebra sigilo de reunião gravada por Alexandre Ramagem, pré-candidato a Prefeito do Rio de Janeiro, e o ex-presidente Jair Bolsonaro. O teor da reunião, de acordo com a gravação, são medidas de proteção ao senador e filho do ex-presidente, Flávio Bolsonaro, suspeito de ‘rachadinha’. O sigilo foi derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes.

As gravações foram encontradas durante investigação da Polícia Federal sobre suposto esquema de espionagem ilegal por meio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ramagem foi diretor da Abin durante o mandato de Bolsonaro e teria gravado a reunião sem o conhecimento de outros participantes.

A reunião teria ocorrido no dia 25 de agosto de 2020 e teve como participantes as advogadas Juliana Bierrenbach, o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, o então diretor da Abin Alexandre Ramagem e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com a PF, a conversa está relacionada ao uso ilegal da Abin para conseguir informações sobre a investigação da qual o senador Flávio Bolsonaro foi alvo pelo suposto crime de ‘rachadinha’, quando ele ainda era deputado estadual. A advogada de Flávio, que não teve o nome citado, também teria participado da conversa. Porém, no ano de 2021, a apuração foi anulada pela Justiça. 

“Neste áudio, é possível identificar a atuação de Alexandre Ramagem indicando, em suma, que seria necessário a instauração de procedimento administrativo contra os auditores da Receita com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar os auditores de seus respectivos cargos”, aponta o relatório.

O áudio é uma das provas usadas pelos agentes como justificativa para as diligências da última quinta-feira, 11, que resultou na prisão de cinco investigados, entre eles: Mateus de Carvalho Sposito, ex-funcionário da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, o empresário Richards Dyer Pozzer, o influencer digital Rogério Beraldo de Almeida, Marcelo Araújo Bormevet, policial federal, e Giancarlo Gomes Rodrigues, militar do Exército.

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