Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção Online, vítima de estupro coletivo confirma a violência sexual sofrida e confessa que mudou seu discurso porque a repercussão do caso está “prejudicando” sua vida

O delegado responsável pelas investigações do suposto estupro coletivo em desfavor de uma adolescente de 17 anos, Queops Barreto, virá a Goiânia nesta sexta-feira (12/12) para falar das conclusões do inquérito. O caso ocorreu em Indiara no dia 9 de novembro e, segundo os primeiros depoimentos da vítima M.X.L., cinco homens, incluindo o vereador Jean de Castro (DEM), teriam abusado sexualmente dela.

acusado de estupro
M.X.L. ao lado de Leandro de Castro | Foto: Reprodução / Facebook

No início da semana passada, a jovem compareceu à delegacia de Indiara acompanhada do comerciante Leandro de Castro — irmão do vereador e um dos suspeitos de cometer o crime — e relatou que a violência sexual não aconteceu, que sempre foi amiga dos envolvidos e que agora está namorando Leandro.

Diante disso, foi divulgado nesta quinta-feira (11) que o delegado vai sugerir, por meio de relatório, o arquivamento do caso à Justiça. Entretanto, em entrevista ao Jornal Opção Online, o delegado não confirmou a informação.

Procurada pela reportagem, a adolescente confessou que após a denúncia e a grande repercussão do caso, não conseguiu mais retomar o rumo de sua vida. “Eu não saio mais de casa. Pessoas próximas a mim estão contrariadas, pois os envolvidos são bastante conhecidos. E, além disso, toda a cidade está me julgando e me pressionando, como se eu fosse culpada por tudo o que houve”, disse.

Nesta semana, o delegado disse que M. poderia estar sendo coagida a mudar de versão. Indagada sobre essa possibilidade, a jovem afirmou com a voz embargada: “o abuso ocorreu sim, mas mudei meu depoimento porque não aguento mais viver isto”. E completou: “não houve suborno por parte de nenhum deles, ninguém me ofereceu terreno nem dinheiro. Apenas quero que essa situação chegue ao fim”.

Em seguida, a jovem chegou até a sugerir um título para a matéria: “menor que foi vítima de estupro coletivo inocenta os acusados e diz que o fato está prejudicando a sua vida pessoal”.

Sugestão de Arquivamento

Caso haja a sugestão do arquivamento do inquérito ao Poder Judiciário, o Ministério Público de Goiás (MPGO), por meio da comarca de Jandaia, ficará a cargo de avaliar a solicitação e procurar elementos que justifiquem o pedido.

O Jornal Opção Online tentou entrar em contato com o promotor que atua em Jandaia, Milton Marcolino, mas ele estava a serviço na comarca de Aparecida de Goiânia. O assessor do promotor, Edilson Vieira Lopes, disse que o arquivamento depende do parecer e da análise do MPGO e que a ação é pública e incondicionada, ou seja, independe da vontade vítima.

A prisão e laudos

Os suspeitos de praticarem o crime foram presos preventivamente no último dia 4. De acordo com o delegado Queops Barreto, os cinco homens estavam “atrapalhando e tumultuando” o trabalho da Polícia Civil.

Na terça-feira (9), a Justiça revogou a prisão preventiva dos acusados e aplicou a medida de prisão domiciliar. Segundo o assessor Edilson Vieira, os suspeitos não poderiam continuar presos na Cadeia Pública de Indiara porque a estrutura do local é “precária e insalubre”.

Laudos técnicos do Instituto Médico Legal (IML) comprovam o abuso. No primeiro, foi constatado marcas de agressão física pelo corpo da adolescente. Posteriormente, o IML confirmou que foi encontrado no material biológico colhido da adolescente semêm de mais de uma pessoa.

 Quando a vítima se torna a culpada

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Foto: Reprodução / WhatsApp

A psicóloga clínica Luana Jorge, que já trabalhou Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) e acompanhou dezenas de casos de estupro, assegura que em algumas situações a vítima da prática não consensual de sexo, imposta geralmente por meio de violência, tende a mudar a versão do que viveram e sentiram na própria pele.

“Para afirmarmos isso, devemos analisar todo o contexto da vítima e da agressão. Percebemos, muitas vezes, que não há nenhum tipo de apoio para com o indivíduo que foi violentado. Em outros casos, quando a investigação demora e a pessoa fica exposta a comentários e chacotas, o discurso muda totalmente”, disse.

Ainda de acordo Luana Jorge, existe na sociedade uma cultura machista onde a vítima se torna a culpada pela violência — exatamente como está acontecendo com M. “Acusam as mulheres pelas roupas, pelo comportamento e, absurdamente, culpam-nas por terem denunciado o delito. E mais: a sociedade prefere acreditar nas versões dos autores e que o crime, que por si só já é vergonhoso, é uma circunstância arquitetada e inventada pela vítima”, explicou.