André Naves

A vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas representa, de fato, uma oportunidade para reflexões profundas sobre as práticas e ideologias que moldam o governo brasileiro. Nesse sentido, é fundamental observar como a vitória de Trump pode servir de alerta para a exaustão de um discurso e de práticas que, ao longo dos anos, vêm tentando impor uma tutela rígida sobre as individualidades, diluindo-as sob o manto de um coletivismo quase anulador. Essa crítica ao coletivismo reflete uma preocupação com a crescente interferência governamental que limita a autonomia individual e que, em vez de promover a diversidade real – aquela que envolve ideias, perspectivas e a riqueza da identidade pessoal –, parece preocupar-se apenas com a aparência superficial.

É essencial aqui distinguir coletivismo de coletividade. No coletivismo, a individualidade é sacrificada em prol de um conceito abstrato de unidade, o que acaba por sufocar a diversidade genuína e engessar as liberdades pessoais. Já a coletividade, ao contrário, é o resultado de uma coalizão sinérgica de individualidades; um espaço onde cada indivíduo pode expressar suas singularidades em harmonia com os outros, potencializando o bem-estar e o crescimento comum. Em outras palavras, a coletividade preserva e celebra a identidade do indivíduo, criando um ambiente propício ao florescimento de suas capacidades únicas.

A vitória de Trump, com sua ênfase na emancipação do indivíduo frente ao poder estatal, oferece um sinal claro: as pessoas querem assumir o protagonismo de suas vidas. Nesse cenário, a valorização do indivíduo é essencial, e medidas como a redução da tributação, o incentivo ao empreendedorismo e a defesa da liberdade econômica aparecem como pilares para essa emancipação. Esses princípios refletem o desejo de desburocratizar, de limitar a interferência estatal e de dar ao cidadão mais autonomia para conduzir seu próprio destino.

No Brasil, a revalorização da individualidade e o fortalecimento da responsabilidade fiscal, inspirados por este momento político, podem ajudar a fomentar uma sociedade mais justa e inclusiva. Em tempos de instabilidade financeira global, refletida nas flutuações do dólar e nas incertezas quanto aos juros, torna-se imprescindível que o Brasil adote medidas que contemplem a racionalização de gastos e a contenção da expansão desenfreada das despesas públicas. Sugestões como a desvinculação do salário-mínimo de alguns benefícios sociais, a otimização das políticas de proteção social e a reestruturação das responsabilidades entre União, estados e municípios (“mais Brasil e menos Brasília”) são medidas que podem não apenas garantir maior eficiência governamental, mas também proporcionar uma melhor aplicação dos recursos públicos em prol do bem comum.

Alerta para os analistas políticos

Por fim, a vitória de Trump serve como um alerta importante para os analistas políticos. Muitas vezes, as preferências pessoais e os vieses ideológicos turvam as análises e dificultam uma avaliação crítica e imparcial. A necessidade de análises sólidas, livres de preferências subjetivas, é imperativa para que o debate público possa florescer e para que o cidadão possa confiar nas avaliações oferecidas pelos especialistas.

Em suma, a lição que Trump traz, independentemente das polêmicas que o cercam, é a de que a verdadeira inclusão só é possível quando o indivíduo tem a liberdade de ser o guia de sua própria vida. O Brasil, ao refletir sobre essa vitória, tem a chance de aprimorar seu modelo de governança, fortalecendo a liberdade individual e a responsabilidade fiscal, rumo a uma sociedade mais plural, justa e autônoma.

André Naves é defensor público federal formado em Direito pela USP. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social e Mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista Político pela Hillsdale College. Doutor em Economia pela Princeton University. Comendador cultural, escritor e professor.